Monumentos 25: Coimbra, da Rua da Sofia à Baixa
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Dossiê: Coimbra, da Rua da Sofia à Baixa
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Setembro 2006, 24x32cm, 240 pp. (<2Kg.)
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Onde pára a Sabedoria? Propostas estratégicas para a candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial
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Nuno Ribeiro Lopes
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Inserida na candidatura da Universidade a Património Mundial, a Rua da Sofia não alberga actualmente nenhum edifício universitário. Podemos então perguntar porquê e como se candidata uma área que perdeu aquelas funções e que objetivamente a Universidade não controla. A candidatura, enquanto história da Universidade, tem expressão física ao nível do património construído e da organização da cidade, consubstanciada em duas unidades morfológicas, em duas áreas distintas. Estes dois campus universitários, histórica e culturalmente interligados, estão representados nas duas áreas objeto da candidatura. Se na Alta é fundamentalmente a Universidade de Coimbra o principal actor da transformação, já na Rua da Sofia os colégios são a memória viva dos séculos XVI e XVII, perdida na Alta pela ação reorganizadora do Marquês de Pombal e do Estado Novo. São a possibilidade real de na mesma artéria e no mesmo lugar construir uma comunhão entre a comunidade estudantil e a cidade.
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A “Sofia”: primeiro episódio da reinstalação moderna da Universidade portuguesa
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Walter Rossa
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A Rua de Santa Sofia — vulgo a Sofia — foi pensada e conformada a partir de 1535 com vista a acolher a Universidade Portuguesa refundada em Coimbra na sequência da sua transferência de Lisboa na data simbólica de 1 de março de 1537 (247 anos após a sua fundação por D. Dinis). As vicissitudes do processo e o precoce abandono do programa original — colégio maior, cinco colégios menores e residências para a corte universitária — motivado pelo inesperado sucesso da reforma, votaram-na a um destino e a uma situação atual pouco digna em relação ao plano que a determinou e, essencialmente, à valia patrimonial que encerra. Porém mantém ainda intacta a sua condição de símbolo não meramente toponímico, mas essencialmente urbanístico, cultural e ideológico de uma reforma que determinou a fixação e refundação moderna para o Mundo da Universidade Portuguesa.
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Rua da Sofia: um “campus” universitário em linha
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Rui Lobo
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Pretende-se traçar a permanência dos modelos organizativos em “linha” e em “grelha”, nas ações de urbanização destinadas a acomodar novos programas universitários, partindo da sua ocorrência paralela em Coimbra. Com efeito, a Rua da Sofia abriu-se, a partir de 1535, de forma a suportar uma série de colégios que deveriam ser estabelecidos ao longo da sua frente nascente. Já com a universidade na Alta, estabeleceu-se uma quadrícula, centrada no projeto do edifício das escolas, como base para o novo bairro universitário. Ambas as situações se podem integrar em dois modos distintos de construção da universidade na cidade, que têm marcado presença desde o século XVI até à contemporaneidade.
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Os colégios universitários de Coimbra: enquadramento na arquitetura universitária europeia e seriação tipológica
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Rui Lobo
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Os colégios universitários de Coimbra não definem uma tipologia arquitetónica clara, mas duas. Uma, com origem em modelos conventuais, em que se evidencia uma igreja externa adjacente a um claustro. Outra, de colégios dotados de capela interna e organizados em torno de um pátio, que tem como referência a arquitetura civil e palaciana. Esta distinção tem correspondência na inserção urbana. Os colégios das ordens religiosas desenvolvem-se na Rua da Sofia para depois se implantarem, após a instalação da universidade na cidade alta, preferencialmente fora de portas. Já os colégios “palacianos”, de natureza institucional variada, se adaptam melhor aos quarteirões do novo bairro universitário da Alta e à necessidade de corresponder a várias frentes edificadas de caráter público.
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O Colégio das Artes
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Maria de Lurdes Craveiro
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O Colégio das Artes apresenta-se como bandeira da renovada estrutura universitária, fruto da régia vontade de modernização das Escolas e da ação centralizadora que o entendeu como alicerce da organização científica dos Estudos. Um mecanismo que acompanha idênticos processos à escala da Europa culta do século XVI e que reclama para Coimbra a captação dos intelectuais do mais fino recorte humanista. A partir de 1548, o Colégio das Artes inicia o percurso académico da Rua da Sofia e estabelece um programa construtivo adequado à estrutura laica com acesso aos cursos maiores da universidade. Organizado na duplicação de dois pátios com funções distintas, o colégio defendeu um projeto racionalizado, com os vários blocos dispostos em galerias sobrepostas onde interferiram João de Ruão e Diogo de Castilho. Depois da rápida passagem pelo controlo jesuítico (1555-1565), todo o espaço seria entregue à Inquisição que o reformulou e marcou até hoje.
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Do Colégio das Artes, à Rua da Sofia: novas modernidades no espaço urbano de Coimbra
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José Manuel Fernandes
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Em Coimbra, no seu centro histórico, o arquiteto João Mendes Ribeiro lançou, com o projeto para o Centro de Artes Visuais — CAV (1997-2003), integrado no antigo “Pátio da Inquisição”, resíduo do antigo Colégio das Artes, uma autêntica “nova frente” de redesenho urbano-arquitetónico, de reutilização funcional e estética, e, sobretudo, de reapropriação inteligente e culta de uma vasta e degradada área “histórica” do centro de Coimbra. A delicadeza das intervenções arquitetónicas realizadas por João Mendes Ribeiro, característica da sua obra, revelou-se aqui como um aspeto especialmente adequado à intervenção neste espaço complexo e “dilacerado”. Permitiu cruzar as fronteiras entre “desenho de interiores”, “recuperação de edifícios em centros históricos” e “desenho urbano”, assente em conceitos de intervenção sólidos e tirando partido do sistema de pátios, internos e externos, existente.
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Arquitetura Judicial: o Palácio da Justiça de Coimbra
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Rute Figueiredo
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O Palácio da Justiça de Coimbra emerge, no panorama da arquitetura judicial portuguesa do século XX, como uma obra paradigmática, onde se dispuseram e prepararam, modelarmente, as circunstâncias tipológicas para o desenvolvimento das futuras estruturas judiciais. Primeira edificação do género, construída entre 1928 e 1934, funcionou como ponto nodal onde entroncaram quer as preocupações que se vinham tecendo, desde o século XIX, no que concerne à instalação dos equipamentos públicos e à sua imagem na sociedade, quer os pressupostos reformadores e ideológicos instauradas pelo Ministério da Justiça, durante a Ditadura Militar e início do Estado Novo.
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O Colégio da Sapiência, ou de Santo Agostinho, na Alta de Coimbra
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Maria de Lurdes Craveiro
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O Colégio de Santo Agostinho inscreve-se na longa tradição escolar montada no Mosteiro de Santa Cruz, articula-se com o processo de qualificação das ordens religiosas em torno da universidade e justifica a sua implantação no contexto da rivalidade sentida aos mais altos níveis dos poderes em Coimbra. Dos combates travados pela autoridade nasceria, em 1593, a imposição do espaço físico sobre a muralha da cidade, a marcação da visibilidade do colégio entre o mosteiro crúzio e a universidade e a aposta na modernidade da estrutura colegial. Com o recurso a uma estratégia cenográfica que falseia a verdade dos volumes, o colégio de Santo Agostinho integra um comportamento formal de base tratadística e serliana, novo na cidade, e explora uma dinâmica ornamental que interage com a versão mais contida e “triunfal” da arquitetura chã.
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Estuques maneiristas do Colégio de Santo Agostinho ou da Sapiência: apontamentos para o seu estudo
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Hélia Silva
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O estuque como arte decorativa tem vindo a ser utilizado ao longo dos séculos nas ornamentações de palácios e igrejas um pouco por todo o Portugal, não só como simples base de pintura, mas também como elemento principal, adaptando-se à diversidade de linguagens e de critérios decorativos que coexistem nos vários polos artísticos. Um dos programas que se salienta pela sua dimensão e qualidade é o existente no Colégio da Sapiência em Coimbra. Datado de inícios do século XVII, a sua decoração em estuque é utilizada na ornamentação das abóbadas da galeria do claustro principal e na igreja. O estudo do programa decorativo do Colégio da Sapiência aqui apresentado é uma interpretação baseada apenas na observação, pretendendo-se com o presente texto, sobretudo, levantar hipóteses de estudo e chamar a atenção para uma arte extremamente erudita mas pouco reconhecida em Portugal.
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Os retábulos de pedra dos colégios da Rua da Sofia
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Carla Alexandra Gonçalves
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Do espólio da retabulística pétrea dos colégios quinhentistas da Rua da Sofia remanescem poucos espécimes ainda íntegros contando-se, atualmente, apenas com as três obras que nos propomos revelar neste artigo: o retábulo da Imposição da Casula a Santo Ildefonso, na sacristia da igreja do Colégio da Graça, o retábulo do Caminho de Cristo para o Calvário, que foi incorporado nas coleções do Museu Machado de Castro mas que se executou para o Colégio da Graça, e o retábulo da Assunção de Nossa Senhora, feito para a capela do Tesoureiro da Sé de Coimbra instituída na cabeceira da igreja do Convento de São Domingos e doado ao Museu Machado de Castro durante o século XX.
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“Pittura senza” tempo em Coimbra, cerca de 1600: as tábuas de Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão na sacristia da Igreja do Carmo
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Vítor Serrão
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Desde há muito tempo que a história da arte portuguesa considera a cidade de Coimbra no século XVI como o centro por excelência da escultura de pedra, relegando para dimensão secundária outras atividades como a arte da pintura. Só em 1955, com a publicação de Simão Rodrigues e Seus Colaboradores, de Adriano de Gusmão, foi reconhecida a grande importância artística de certas obras de pintura deixadas em Coimbra na transição do século XVI para o século XVII. Passados que são cinquenta anos sobre esta edição, o conhecimento que temos sobre as obras de Simão Rodrigues e de Domingos Vieira Serrão ampliou-se de modo substancial, permitindo que a cidade de Coimbra possa ser hoje destacada como uma das capitais do Maneirismo reformado também no campo da grande pintura de cavalete, afinal um campo de insuspeitadas qualidades artísticas e, sobretudo, de plena atualidade no contexto da relação internacional possível.
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Um ciclo do profeta Elias no claustro do Colégio de Nossa Senhora do Carmo. Contributo para o estudo iconográfico
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Ana Paula Rebelo Correia
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Construído em 1600, o claustro da igreja do Colégio do Carmo recebe na segunda metade do século XVIII um interessantíssimo revestimento de azulejos de composição figurativa ilustrando vinte episódios da vida do profeta Elias, desde o seu nascimento até à sua morte e ascensão. Considerado o fundador da Ordem do Carmo, não é surpreendente que Elias tenha sido escolhido como tema para decorar as paredes da galeria inferior do claustro. Para a realização dos painéis, de fabrico Coimbrão, o pintor de azulejos utilizou como modelo um conjunto de gravuras provenientes de um dos livros mais relevantes da literatura carmelita: o Speculum Carmelitanum (…), da autoria de Daniel de la Vierge Marie, e publicado em Antuérpia em 1680. O conhecimento das fontes de inspiração é um precioso contributo para o estudo iconográfico deste conjunto de painéis, sem dúvida um dos mais interessantes e completos ciclos da vida de Elias aplicado como revestimento mural em Portugal.
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1131-1993, as duas datas de um projeto. Fernando Távora, Santa Cruz e o Largo de Sansão
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José António Bandeirinha
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Colocado em posição estratégica, à entrada do Vale da Ribela, o Mosteiro de Santa Cruz, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho pode ser considerado como o elemento catalisador do tecido urbano que se expande para poente. Sem nenhuma espécie de concessão à via tradicionalista, Távora parte para o projeto da Praça 8 de Maio — um dos mais “queridos”, nas suas próprias palavras — com a consciência plena de que a reposição histórica não é algo que se busque sob a poeira de mil e um circunstancialismos, não é algo maleável, que se possa moldar à ocasião, sob pena de perder o seu vínculo com a verdade. Com o projeto da Praça 8 de Maio, fica reposto o sentido primordial da História, reconstrói-se e aperfeiçoa-se a axialidade primeira que, a partir do valor intrínseco do edifício, organizou todo o espaço envolvente.
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No lugar da "Avenida Central"
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Jorge Figueira
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Apesar do clima de alguma contestação dir-se-ia que o prolongamento do fluxo da Avenida de Sá da Bandeira na direção do Mondego é um processo inelutável, por um lado, porque está fixado no imaginário da cidade — que paulatinamente foi construindo sinais nesse sentido —, por outro, porque de facto integra uma racionalidade muito forte em termos de mobilidade. Ironicamente, não é a “implementação” do metropolitano ligeiro de superfície mas um projeto de reabilitação urbana que pode finalmente resolver o processo da “Avenida Central”. A intervenção proposta pela equipa de Mealha/Oliveira para a área da Baixinha compreendida entre o Bota-Abaixo e o início da Rua da Sofia, na sua afeição ao que existe, sem negar o apelo da contemporaneidade, ocupa aquilo a que podemos chamar um centro metodológico: nem propõe a rotura “tipológica” e “linguística”, nem defende o pastiche historicista.
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A Rua da Sofia e os estudos urbanísticos para a Baixa de Coimbra
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José Santiago Faria
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A Baixa de Coimbra, entre as ruas da Sofia, Ferreira Borges, Visconde da Luz e o Rio Mondego, foi, sem dúvida, ao longo do século XX, a zona de cidade que mais estudos urbanísticos teve e que maior envolvimento técnico recebeu. Estudos que se prolongam ainda neste início de século. Muitos e prestigiados arquitetos e engenheiros produziram trabalhos para a parte baixa de Coimbra, a maior parte dos quais sem concretização, mas que são exemplo das preocupações e dos métodos de intervenção nos tecidos históricos vintecentistas.
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A conquista do terceiro espaço: uma abordagem ao ensanche oitocentista de Coimbra
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Marta Macedo
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Na transição para o século XX, Coimbra ganhara um terceiro espaço urbano para além da Alta e da Baixa. O projeto de Adolfo Loureiro para colonizar os terrenos do extinto Convento de Santa Cruz vem responder aos desejos da burguesia local que reclamara uma nova cidade projetada de acordo com os preceitos de salubridade modernos e capaz de responder às inovações tecnológicas oitocentistas. Apesar desta intervenção não ter sido isenta de hesitações e de persistirem inúmeras incógnitas historiográficas, pretende-se, com este texto, contextualizar o momento da intervenção, apontar as motivações do projeto, apresentar os principais agentes de mudança, os modelos que serviram de referência e descrever de forma breve o processo de construção do novo bairro de Santa Cruz.
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Núcleo Museológico da cidade muralhada: contributo para o estudo da muralha de Coimbra
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Berta Duarte
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Criado no âmbito do Museu Municipal de Coimbra, o Núcleo Museológico da Cidade Muralhada iniciou a sua atividade em julho de 2003, com a abertura de um Centro Interpretativo na Torre de Almedina e de um percurso pedonal que se estende ao longo do perímetro da antiga muralha medieval. O programa museológico pretende constituir um contributo para o estudo do sistema defensivo da cidade, revelando as principais estruturas militares que contribuíram para conferir a Coimbra um assinalável protagonismo no contexto histórico da época. Instalado na mais imponente torre da muralha, o projeto augurou afetar outras dependências que lhe ficam contíguas e que permitem o desenvolvimento de novas atividades complementares relacionadas com o trabalho de investigação e de campo que se têm desenvolvido ao longo dos últimos três anos. O principal parceiro do núcleo é a Universidade de Coimbra, particularmente através do Departamento de Arquitetura e do Instituto de Arqueologia.
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O museu do Edifício Chiado: coleção Maria Emília e José Carlos Telo de Morais
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Raquel Henriques da Silva
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O Edifício Chiado, na Rua Ferreira Borges, na Baixa de Coimbra, é emblemático de uma época de modernização da cidade que recua à primeira década do século XX. Inaugurado em 25 de Abril de 1910, ele é um elo do vasto potentado comercial que a Firma Nunes dos Santos & Cª vinha constituindo, desde 1899, a partir do seu centro nevrálgico instalado no Chiado de Lisboa. Nos anos de 1970, o Edifício Chiado encontrava-se devoluto, ameaçado de demolição, da qual foi salvo por um movimento cívico. Adquirido pela autarquia de Coimbra, numa atitude de preservação, encontrou a sua nova vocação no final da década de 1990, no contexto da definição de uma estratégia museológica municipal, como contentor da Coleção Maria Emília e José Carlos Telo de Morais, entretanto generosamente doada à Cidade de Coimbra.
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Duas obras do início do século XX na entrada de Coimbra: do Hotel Astória à Casa Ângelo da Fonseca
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José Manuel Fernandes
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O final do primeiro quartel do século XX ficou marcado, na área central de Coimbra, pela construção de dois edifícios inovadores, espacial e estilisticamente falando, que assinalaram, cada um ao seu modo, a vontade de uma “nova arquitetura” na entrada principal da cidade: o Hotel Astória, projetado em 1925-1929 por Francisco de Oliveira Ferreira, debruando a sul a malha medieva da antiga “Baixinha”; e a casa de Ângelo da Fonseca, desenhada por Raul Lino, em 1923-25, situada em plena encosta da Alta, na linha da antiga muralha, olhando o rio. Estes edifícios, opostos na sua linguagem arquitetónica, continuam hoje a perdurar na cidade, funcionando como “hotel de charme”, o Astória, e como Governo Civil, o de Raul Lino. O Astória é obra de desenho eclético, de gosto parisiense, com desejado efeito mundano ou cosmopolita, enquanto que a obra do Lino, autor com formação anglo-germânica, descende diretamente do tema da “Casa Portuguesa”, com vocação paisagística, e exprimindo a busca do pitoresco.
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Os jardins de Coimbra, um colar verde dentro da cidade
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Cristina Castel-Branco
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Os jardins de Coimbra, à exceção do Botânico da Universidade, são normalmente referidos como parte integrante ou complementar da arquitetura da cidade, como se não tivessem identidade autónoma. No entanto, se observarmos uma vista aérea de Coimbra verificamos como as formas arredondadas da acrópole são envoltas por uma mancha verde contínua e compacta, que se repete logo abaixo, numa fina renda de jardins que preenchem todos os vazios deixados pelos telhados de terra cota e pelas fachadas brancas. Coimbra dispõe de um continuum naturale formado por claustros, pátios, parques e praças, que vai de Santa Cruz ao Jardim Botânico, atravessa a ponte pedonal que liga as margens do Mondego e se estende pelas quintas e conventos da margem esquerda. São c. de 100 hectares de espaços verdes, para os quais foi criado o Programa Link, com o objetivo de consolidar as ligações entre os diversos proprietários e promover a valorização patrimonial e turística dos jardins de Coimbra.
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As igrejas de Misericórdia do distrito de Coimbra. Ensaio de classificação tipológica
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Paula Noé
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O levantamento sistemático do património arquitetónico das misericórdias, na sequência do protocolo estabelecido entre a Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e a União das Misericórdias Portuguesas, permitiu-nos iniciar um estudo comparativo e tipológico das igrejas de Misericórdia, dos imóveis mais significativos da instituição. A análise da planimetria, da organização das fachadas, e dos elementos estruturais e decorativos no interior das igrejas do distrito de Coimbra, demonstram a sua adaptação ao estilo e às tendências artísticas da região em que foram construídas, a evolução que sofreram em consonância com a consolidação financeira das irmandades, bem como o programa iconográfico característico da ação caritativa e assistencial das misericórdias no panorama nacional.
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Conservação e valorização em Conímbriga: projetos e obras
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Pedro Alarcão
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Fazendo um breve historial dos trabalhos de conservação e restauro efetuados pela Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais nas ruínas arqueológicas de Conímbriga, o artigo testemunha uma intensa relação de cooperação existente desde 1930 entre aquela direção geral e o Museu Monográfico de Conímbriga. O pretexto é dado pela recente intervenção de construção um posto de turismo em Conímbriga. Esta nova estrutura implantou-se no topo nordeste do pátio de receção do museu e permitiu concentrar num só espaço a informação turística da região e uma segunda bilheteira. Construído em estrutura metálica, com as suas paredes exteriores de tijolo revestidas a calcário e a cobertura em telha autoportante, teve como intenção a criação de um elemento neutro, que não interfisse com a linguagem arquitetónica existente.
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Um sedimento, uma ruína, um projeto: o Paço dos Vasconcelos em Santiago da Guarda
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Luísa Trindade, Rodrigo Marques e Luísa Cortesão
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No âmbito das iniciativas ligadas à salvaguarda e valorização do património natural e construído no Parque Ecológico Gramantinha/Ariques/Algorinho procedeu-se à reabilitação do Paço dos Vasconcelos. Do emblemático imóvel, classificado como Monumento Nacional, apenas restava a ruína da residência medieval erguida, segundo constava, sobre estruturas arqueológicas romanas, facto que lhe conferia um ainda maior significado no contexto patrimonial da região. A metodologia de trabalho definida para a intervenção assentou numa abordagem interdisciplinar ao imóvel, ao abrigo da qual foram realizadas sondagens arqueológicas, em simultâneo com a investigação histórica e com o projeto que procurou a integração das estruturas arqueológicas sem deturpar a leitura do antigo paço quinhentista, compatibilizando assim as exigências funcionais do programa com as novas áreas.
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Um retrato real nos jardins do Palácio Fronteira
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Ana Paula Rebelo Correia
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Nos anos sessenta do século XVII, D. João de Mascarenhas, primeiro marquês de Fronteira, general da Guerra da Restauração, manda construir, na periferia de Lisboa, uma casa de campo, rodeada por jardins e com quinta, onde os azulejos e a cerâmica relevada constituem um dos principais elementos decorativos. Entre os vários conjuntos de azulejos, destacam-se os da monumental parede que liga o lago e a galeria dos reis, representando doze cavaleiros (habitualmente identificados como sendo antepassados dos Mascarenhas) montando imponentes cavalos. A investigação desenvolvida mostra que os doze cavalos foram realizados a partir de três modelos de retrato equestre, galopando ora para a direita, ora para a esquerda, dando a ilusão de se tratar de doze cavalos diferentes. Um dos modelos utilizados foi uma gravura equestre do rei D. João IV, uma escolha que nos permite considerar tratar-se de uma homenagem aos principais heróis da Guerra da Restauração, encabeçados pelo rei D. João IV.
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