Monumentos 08: Universidade de Coimbra
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Dossiê: Universidade de Coimbra
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Março 1998, 24x32cm, 152 pp.
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Coimbra: "cidade-universitária" ou "cidade (e) universidade"?
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Luís Reis Torgal
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Em Coimbra não se edificou, no Estado Novo, propriamente uma nova “cidade universitária”, pois Salazar, ao decidir construir novas faculdades na Alta de Coimbra, destruindo ruas, colégios universitários, igrejas, ou alterar a traça de edifícios existentes aniquilou a ideia de se construir uma verdadeira “cidade universitária”, tal como se concebia noutros países: um campus autónomo, como espaço de ensino, lazer e sociabilidade. Também não se criou uma verdadeira situação de união da Universidade à cidade. (Re)construindo uma Universidade na “colina sagrada” e destruindo nesta o seu espaço próprio de sociabilidade urbana criou-se uma situação ambígua e contraditória, que tem causado problemas à Universidade e à cidade, havendo por vezes dificuldade em conviver.
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Os colégios universitários na definição das tipologias dos claustros portugueses
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José Eduardo Horta Correia
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A reforma da Universidade por D. João III reflete o papel do Renascimento arquitetónico na mudança das mentalidades. Exemplo disto é a tentativa de impor novas estruturas espaciais no Colégio das Artes. Os colégios construídos em Coimbra a partir de 1640 estavam intimamente ligados à Universidade, e eram também utilizados pela população masculina das ordens religiosas locais. Como nos conventos, os claustros mantiveram o seu papel como espaços à volta dos quais os colégios universitários estavam organizados. Os claustros dos colégios foram influenciados pelos primeiros claustros do Renascimento português. O autor apresenta ainda as características entre as tipologias claustrais observadas nestes espaços, sob os cunhos de João de Castilho e Diogo de Castilho.
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A reforma joanina e a arquitetura dos colégios
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Maria de Lurdes Craveiro
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Com a transferência definitiva da Universidade para Coimbra, em 1537, as diversas ordens religiosas não se pouparam a esforços no sentido de acompanhar o investimento nas estruturas académicas. Pela via dos colégios universitários estabelecem-se duas vertentes do Renascimento arquitetónico em Coimbra: uma mais sóbria e alicerçada na pureza dos elementos, a outra desenvolvendo a expressividade decorativa. A construção dos colégios vai suplantar a anterior dominação cultural do Mosteiro de Santa Cruz, impor a consciência das ordens arquitetónicas na definição racionalizada dos espaços, moldar a cidade de acordo com as novas exigências urbanas do Renascimento e exaltar a imagem régia do poder na condução do processo de imposição dos valores.
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A Porta Férrea ou a "Joyeuse Entrée"
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Carlos Ruão
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Verdadeira entrada triunfal e símbolo minerviano do saber, a Porta Férrea da Universidade de Coimbra foi projetada pelo arquiteto António Tavares e edificada pelo mestre-de-obras de pedraria Isidro Manuel, contratado a 26 de Novembro de 1633. Substituiu a entrada medieval dos antigos Paços Reais e marca, juntamente com as obras da capela e a construção da Sala dos Atos da Universidade, a reforma maneirista da primeira metade do século XVII. Obra emblemática do reitorado de D. Álvaro da Costa (1633-1637), engloba um programa iconográfico previamente definido, que alude à fundação dionisíaca dos Estudos Gerais e à reforma quinhentista de D. João III. Promove a síntese do estado da arte coimbrã de então, reunindo elementos da Renascença, já estilizados morfologicamente, com a nova linguagem maneirista de raiz nórdica. Depois de um breve estudo da obra, seguem-se as biografias de António Tavares e Isidro Manuel.
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"Domus Sapientiae": o Paço das Escolas
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António Filipe Pimentel
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O edifício ou conjunto de edifícios hoje designado de Paço das Escolas é, na essência, a antiga Alcáçova de Coimbra, de remotíssimas origens. Definido, logo no período visigótico, como palácio-fortaleza, converter-se-ia, com as grandes obras realizadas por D. Manuel I, numa das mais interessantes residências reais portuguesas do início da Época Moderna. Enfim, com a instalação da Universidade em 1537, o antigo Paço Real inicia uma nova etapa da sua existência, dedicada a encenar o tema do Palácio da Sabedoria, porém em íntima e fascinante união com o poder real, do qual constitui, simultaneamente, a emanação e a secreta consciência.
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O teto da Sala dos Capelos
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João Miguel Lameiras Crisóstomo
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Procura-se analisar de que forma o teto da Sala dos Capelos, da Universidade de Coimbra, se enquadrou na orientação política e ideológica do restauro, de que o encomendante, o bispo D. Manuel Saldanha, era fervoroso. Procede-se, ainda, ao enquadramento do teto, sob a perspetiva mais vasta da decoração de grotescos, utilizada aqui de forma algo ingénua, mas extremamente inventiva, por Jacinto Pereira da Costa, modesto pintor de têmpera, que atinge aqui o ponto mais alto da sua carreira.
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Uma empresa esclarecida: a Biblioteca Joanina
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António Filipe Pimentel
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Construída de 1717 a 1728 sob a égide de D. João V, a Biblioteca da Universidade de Coimbra seria assumida pela Coroa como a guarda avançada de um projeto de reforma dos estudos universitários que faz parte do processo global do Iluminismo em Portugal. Donde a importância desse empreendimento e a sua estruturação em termos de “biblioteca falante”, à qual incumbiria transmitir um discurso de exaltação do monarca patrocinador, sob o qual se introduziria a apologia do saber e das ciências experimentais. Frustrado o intuito régio, a reforma deveria aguardar quase meio século; mas a biblioteca não deixaria de constituir o primeiro reduto das novas ideias no interior da velha cidadela da escolástica.
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A Reforma Pombalina
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Luísa Trindade
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A expulsão dos Jesuítas, em 1759, marca o início de uma profunda reforma do ensino público em Portugal que, iniciada ao nível dos estudos menores, culminará na Nova Fundação da Universidade de Coimbra, a partir de 1770. O corte com a tradição e a abertura à Europa das Luzes, principal vetor da ação do marquês de Pombal, não se limitará aos métodos de ensino e conteúdos programáticos. A procura da modernidade e do primado da razão são transpostas para a pedra numa opção clara e consciente pelas linhas sóbrias e depuradas do neoclassicismo. À nova mentalidade correspondia uma nova arquitetura. Coimbra, pela mão do inglês Guilherme Elsden, afastava-se precocemente de um Portugal ainda maioritariamente barroco, colocando-se a par da estética que então vigorava nas principais capitais europeias.
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O outro lado da Alta: projetos de reforma dos hospitais da Universidade de Coimbra na segunda metade de XIX
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João Paulo Providência
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A transferência do Hospital da Conceição para o Colégio das Artes, em 1855, dá início a um processo de reformulação dos hospitais da Universidade de Coimbra, consistindo este, em grande parte, na anexação e transformação de um conjunto de edifícios desocupados pela nacionalização dos bens das ordens religiosas, operada em 1834. O Prof. Doutor Costa Simões é o grande impulsionador dos projetos de reforma dos edifícios anexados, quer como docente e investigador, quer como administrador dos hospitais da Universidade de Coimbra.
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Azulejaria dos séculos XVII e XVIII
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Ana Goulão Machado
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Os edifícios da Universidade de Coimbra têm magníficos exemplares de azulejo dos séculos XVII e XVIII, sendo interessante verificar como foi evoluindo a técnica e a decoração destes painéis ao longo do tempo. Os principais núcleos encontram-se na Capela da Universidade, no Colégio de São Jerónimo, nas instalações da Reitoria e na Faculdade de Direito. Através da análise destes azulejos podemos conhecer o trabalho de três pintores conimbricenses: Agostinho de Paiva (início do século XVIII), Salvador de Sousa Carvalho e Manuel da Costa Brioso (último quartel do século XVIII).
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A Cidade Universitária de Coimbra no Estado Novo: o espaço indisponível
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Nuno Rosmaninho
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A cidade universitária, concebida inicialmente como um projeto de reaproveitamento e ampliação de antigos colégios, transformou-se, por ação de Duarte Pacheco e de Cottinelli Telmo, num plano ambicioso, alheio à realidade urbana preexistente. A manutenção da unidade física da Universidade provocou extensas demolições na zona superior da Alta. No entanto, a manifesta insuficiência do espaço, observada já em 1944, tornou-se um problema incontornável a partir dos anos de 1950. Para lhe fazer face, estudou-se, na década seguinte, uma área de reserva para ampliação da universidade, mas só a construção de dois novos complexos na periferia veio superar as dificuldades suscitadas pela localização da cidade universitária do Estado Novo.
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A escultura monumental
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Sandra Vaz Costa
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Assumida no governo de Salazar como obra de modernização cultural, a Cidade Universitária de Coimbra, projetada na década de 1920-1930 e executada entre os anos de 1940-1970, espelha plasticamente, os valores estanques duma obra de regime. O local escolhido polemizou e condenou, à partida, a aceitação e a eficácia dum complexo arquitetónico que visava a formação das gerações vindouras. A cidade universitária é, nos anos de 1990, uma galeria de arte moderna portuguesa. Passados mais de cinquenta anos sobre os primeiros momentos de intervenção urbanística e arquitetónica, permanece sobre a cidade universitária uma unânime e cómoda postura geracional que não consegue ultrapassar o discurso político, quando, passado meio século se pede urgentemente uma leitura estética, uma classificação dos imóveis e uma preservação da escultura monumental que a pontua decorativa e urbanisticamente.
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Do espaço da tese à aula de arquitetura
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Gonçalo Sousa Byrne
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O Anfiteatro da Faculdade de Direito, de Fernando Távora, construído em torno do Pátio das Escolas, como muitos outros edifícios, não é um banal auditório, mais ou menos equipado como um anfiteatro neutro, mas sim um quase arquétipo de “aula-magna”, onde a aula e os seus participantes são enquadrados no ritual da tese. Távora estrutura o projeto de um modo sereno, numa visão tectónica classicizante, no modo como implanta e articula o edifício, envolvendo o fragmento de arcaria manuelino existente, ou ainda na tripartição vertical do edifício (embasamento, corpo e cornija).
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Sala dos Capelos: remodelação e ampliação do número de doutorais
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Fernando Távora e José António Bandeirinha
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A ideia essencial do projeto consiste em resolver espacialmente a necessidade de aumento do número de lugares para professores na Sala Grande dos Atos da Universidade de Coimbra. Outra ideia importante do projeto diz respeito ao aproveitamento da oportunidade das obras para se restaurar grande parte dos elementos constitutivos da sala, atualmente já muito degradados. Como conclusão poder-se-á dizer que se trata de uma obra de adequação funcional às novas condicionantes universitárias, exaustivamente aproveitada para a oportunidade do necessário restauro desta sala, e, sobretudo, dos seus elementos compositivos mais degradados.
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Concurso para a requalificação dos espaços urbanos e dos edifícios: Plano Gonçalo Byrne
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Domingos Tavares
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A Universidade de Coimbra promoveu um concurso para a seleção de um plano programático geral com vista à transformação futura dos antigos hospitais da cidade. Foram convidados quatro professores de projeto do Departamento de Arquitetura e pretende-se que os trabalhos produzidos constituam matéria de debate sobre os critérios de reconstrução e reutilização dos antigos colégios de São Jerónimo e das Artes, entretanto já transformados aquando da sua integração nos hospitais, após a reforma pombalina do ensino médico e, agora, novamente desafetados para outras funções de ensino. Caracteriza-se o conceito de intervenção arquitetónica nestes monumentos, bem como as transformações urbanas dela decorrentes.
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Os edifícios da Associação Académica e o Teatro Gil Vicente
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José António Bandeirinha
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Os primeiros desenhos do conjunto edificado das instalações académicas de Coimbra remontam a 1954-1955; no entanto, Alberto Pessoa e o seu ateliê, com Abel Manta e, em algumas fases, com Norberto Correia, elaboram o projeto, na sua forma e conteúdo programáticos definitivos, entre 1957 e 1959. Se as primeiras perspetivas do conjunto revelam uma atitude titubeante entre um “estilo internacional” e laivos de cedência monumentalista, já a conclusão é, sem dúvida, madura e plena de intencionalidade. A história do percurso até ao desenho final é, assim, reveladora que o tempo de maturação do projeto foi de grande utilidade para o enriquecimento da obra, um marco na cidade dos inícios dos anos sessenta do século XX.
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A cidade e a acrópole
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Alexandre Alves Costa
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Enquanto na Baixa se fez cidade para albergar o saber, na Alta construiu-se uma acrópole com monumentos de grande valor objetual. Uma outra cidade, talvez também um outro saber. O Plano da Cidade Universitária, dos anos de 1940, teve isso em conta e extremou esse caminho, destruindo o que de espontâneo existia, estabelecendo uma malha concebida para sustentar grandes objetos individualizados. Dos antigos deixava apenas os que garantiam uma escala, principal elemento unificador do conjunto. O artigo trata assim de uma cidade de objetos monumentais, revistos não como rutura absoluta, mas como retoma de uma visão urbanística já tentada, parcialmente, no passado. É sobre a forma como a Rua da Sofia felizmente manteve o seu caráter fechado, entre os Agostinhos e Santa Justa; e como aos poucos foi sendo rejeitada pela cidade, tal como no passado com a reforma joanina. Como reserva de esperança para o destino urgente da Rua da Sofia e dos seus antigos e degradados colégios, talvez um dia a Lusa Atenas queira honrar, mais uma vez, a Sabedoria.
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Intervenções da DGEMN
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Emília Marques Pires, António Madeira Portugal, Afoso Mira, Luísa Cortesão, Júlio Teles Grilo, M. Manuela Malhoa Gomes
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Compilação de textos sobre as intervenções realizadas nos Paços da Universidade de Coimbra, objeto de intervenções de 1932 a 1997, resultado duma colaboração entre a DGEMN e a Universidade de Coimbra, com a atual incidência para os trabalhos de remodelação, conservação e restauro na Faculdade de Direito. Estes realizaram-se não apenas em função das condições de conservação e restauro do conjunto arquitetónico, mas também indo ao encontro das necessidades funcionais da Faculdade de Direito.
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Conservação de pedras calcárias: estudo de tratamentos de conservação
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Ana Paula Ferreira Pinto e José Delgado Rodrigues
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A degradação da pedra pode acarretar reduções substanciais das suas propriedades mecânicas cuja resolução exige procedimentos de conservação apropriados. Nestes casos, a aplicação de consolidantes, embora sempre controversa, surge, por vezes, como alternativa última de salvar o elemento. O uso de produtos hidrófugos é menos arriscado, mas também eles podem não ser inócuos, principalmente quando aplicados sobre elementos de valor intrínseco relevante. Neste artigo, são apresentadas diversas fases de um projeto desenvolvido pela DGEMN, o IST e o LNEC sobre o tema: “Metodologias de análise e critérios de seleção de tratamentos de conservação de pedras calcárias em edifícios de valor histórico e artístico”. Com este projeto, pretende-se abordar diversos aspetos que se apresentam como pioneiros ao nível nacional, nomeadamente quanto ao estudo de tratamentos de conservação in situ em situações de degradação a necessitar de intervenção.
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Um balcão na praça
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Júlio Teles Grilo
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O Torreão Oriental da Praça do Comércio, construído em meados de Setecentos, possui no piso térreo um conjunto de dezasseis colunas toscanas organizadas numa quadrícula de 3,5x3,5 metros assentes num quadrilátero de lioz. A intervenção efetuada constou de limpeza do espaço arquitetónico e da minimização dos elementos necessários a introduzir. Um balcão de 46 metros de comprido, formando um "U", abraça as colunas e esconde um estudo técnico de passagem de infra-estruturas. Sobre ele e em espaço aberto (entre o balcão e as paredes) estão os serviços de atendimento da Junta de Crédito Público. A iluminação foi distante na marcação dos elementos arquitetónicos, pesquisada e detalhada no setor funcional.
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Palácio Pombal, Rua do Século, Lisboa
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Carmen Olazabal Almada e Luís Tovar Figueira
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Os fabulosos estuques artísticos do Palácio Pombal foram mandados executar no século XVIII, pelo primeiro marquês de Pombal. Por se encontrar em acelerado estado de degradação, a estrutura em madeira foi tratada e, em algumas zonas, substituída devido ao apodrecimento. Grandes zonas de estuques foram retiradas, recolocadas na posição correta e refixadas ao suporte. O trabalho foi executado com a colaboração de mestres-artistas estucadores, paralelamente a trabalhos de conservação das madeiras portantes. As pinturas recentes foram removidas e procedeu-se à remoção de sujidades e tintas que cobriam o trabalho de filigrana dos estuques. Todas as fendas foram pintadas nas cores originais, que se encontravam escondidas.
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Igreja de São Pedro, Rubiães: restauro de pintura mural
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Mural da História
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A pintura mural encontrada atrás de um retábulo no alçado lateral esquerdo, junto ao arco triunfal, é constituída por dois fragmentos, representando o primeiro as figuras de Santo Antão e São Miguel (cerca do século XVII), sendo o segundo de execução anterior. Ambas as pinturas foram executadas segundo a técnica a fresco e a intervenção de restauro realizou-se em várias fases, designadamente o levantamento do seu estado de conservação, limpeza e reintegração. Concluído o tratamento da pintura mural, procedeu-se ao seu levantamento gráfico.
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