Monumentos 34: Património de origem portuguesa na Europa
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Monumentos 34: Património de origem portuguesa na Europa
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Dezembro 2016, 24x32 cm, 176 pp.
À venda online.
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Uma reflexão sobre o património português no mundo
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Rafael Moreira
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Existirá um “património português no mundo”? A bem dizer, não.
O mundo português — esse “império” que não ousou usar o nome — foi construído a partir de um encontro de culturas estranhas, de que resultou um hibridismo estético. Parece-nos, assim, preferível falar apenas num património “de participação” portuguesa — para o qual “alguém” ou “alguma coisa” oriunda desse país, Portugal, teve um qualquer papel no sempre complexo processo da sua conceção, execução e do seu uso. Um património em que algum elemento português — espiritual, modelar, ou pessoal — desempenhou um lugar de maior ou menor relevo na sua génese inspiradora, na sua realização, ou nas múltiplas modalidades de utilização que teve. Para lá do debate jurídico, que se afigura insolúvel, o que conta são os aspetos morais e históricos, à luz dos quais, a partir de uma dinâmica internacional de diálogo fraterno e de colaboração frutuosa, entre o Portugal europeu e o resto do mundo, será possível um futuro em que a partilha do património como herança comum sirva de agente catalisador.
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A "Grande Fronteira": património oliventino
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Vítor Serrão, Luis limpo, Servando Rodriguez
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Oito séculos de história de Olivença conformaram uma povoação de fronteira condicionada pelo seu pendor de praça militar. Esta caraterística condicionou a sua estruturação urbana, dependente do traçado que foram impondo as suas sucessivas muralhas. O seu passado fez com que nela se avolumasse um património artístico e arquitetónico relevante.
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Portuguese Jews in Early Modern Amsterdam
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Tirtsah Levi Bernfeld
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Os judeus portugueses no início da Idade Moderna, em Amesterdão, deixaram uma forte impressão, não só na sociedade holandesa, como na Europa, sendo admirados pelo seu estilo aristocrático, pela sua riqueza e benevolência/bondade. O seu sistema de assistência social era elaborado, tanto no setor público, como no privado, atraindo muitas comunidades de imigrantes, judeus ou não. O propósito da fundação desta comunidade judaica era o de servir os conversos expulsos da Península Ibérica pela Inquisição, oferecendo-lhes segurança e assistência na “passagem” do Catolicismo para os princípios normativos da fé judaica dos seus ancestrais.
Atualmente, Amesterdão ainda conserva edifícios, como a Sinagoga Portuguesa, a Mansão De Pinto, ao longo dos canais, testemunhos de um passado glorioso desse notável grupo de portugueses.
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"Esnoga": The Portuguese Synagogue of Amsterdam (1671-1675)
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Pieter Vlaardingerbroek
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A sinagoga portuguesa de Amesterdão — Esnoga — foi projetada e construída entre 1671 e 1675 pelo mestre Elias Bouman. A sua construção foi encomendada pelos judeus sefarditas, refugiados da Península Ibérica, devido às perseguições da Inquisição nos séculos XV e XVI.
É uma das sinagogas mais monumentais do mundo, marcando a emancipação dos judeus na Europa Ocidental. Exteriormente, parece uma igreja holandesa do século XVII, havendo referência a Mount Temple. A disposição arquitetónica no seu interior é típica de uma sinagoga sefardita, com o tebah, ou estante de leitura, junto da entrada e o heichal, ou arca da Torah, do lado oposto. O heichal é feito de madeira de jacarandá, um tipo de madeira nobre, vinda do Brasil. O valioso tesouro da comunidade judaica portuguesa inclui muitos objetos de arte pagãos, que eram utilizados para embelezar os serviços litúrgicos, especialmente em celebrações religiosas especiais
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O Palácio Magisterial de António Manoel de Vilhena em Mdina, Malta
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João Campos
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Evoca-se a figura e o significado, pouco conhecidos, de uma personagem portuguesa política e culturalmente relevante na Europa do século XVIII, a propósito dos trabalhos de restauro levados a cabo pela Fundação Gulbenkian no início dos anos 2000, com projecto de reabilitação e acompanhamento da obra do autor. O Palácio do Grão-mestre António Manoel de Vilhena, em Mdina, Malta, é um exemplar de grande interesse do apogeu do barroco, fazendo parte de vasta e notável acção empreendida no quadro da participação de Portugal na Ordem dos Cavaleiros de São João.
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Da veneração das relíquias e da presença da palavra: os conjuntos de relicários e de sacras da Igreja de Santo António dos Portugueses, Roma
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Teresa Leonor M. Vale
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Neste artigo abordam-se dois conjuntos específicos de peças no âmbito da colecção de ourivesaria da Igreja de Santo António dos Portugueses de Roma. A nossa eleição destes conjuntos de relicários e de sacras pertencentes à Igreja de Santo António dos Portugueses como tema deste artigo se ficou a dever não ao seu carácter excepcional, do ponto de vista da qualidade artística, pois os objectos em questão são correntes no âmbito da produção de ourivesaria romana de Setecentos. O seu carácter excepcional prende-se antes com a circunstância de serem conjuntos abundantes, 39 relicários e 15 sacras, todos pertença de uma mesma igreja de Roma, sendo que o património argênteo desta cidade se viu devastado pelas consequências do Tratado de Tolentino (1796). Estas peças são assim, e antes de mais, testemunhos de um património hoje em grande parte desaparecido.
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O neomanuelino palacete Morozov em Moscovo
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Rafael Moreira
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Na última esquina da Rua Vozdvizhenka, no número 16, no coração de Moscovo, ergue-se um singular edifício que chama a atenção dos próprios moscovitas pelo aspeto inteiramente exótico a contrastar com o contexto arquitetónico da capital russa e dessa curta rua. Como dizem os guias turísticos: (...) that building looks like it does not belong to Moscow at all (...).
Trata-se da mansão mandada construir por Arseny Morózov, um excêntrico e riquíssimo herdeiro. Com projeto de Viktor Mazyrin, o Palacete Morozov tem como principal fonte de inspiração o Palácio da Pena, um palácio de sonho erguido por D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, a partir de 1843 no alto da serra de Sintra, no extremo ocidental da Europa e assim transplantado para o centro da capital do país no seu extremo oposto — um exemplo do essencial destino europeu que sempre coube a Portugal.
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Paisagem, património, arquitectura: a obra de Alfredo de Andrade em Itália
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Teresa Cunha Ferreira
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Alfredo de Andrade (1839-1915), pintor e arquiteto português, foi uma personagem de relevo na cultura artística e patrimonial em Itália, onde desempenhou cargos públicos e deixou uma obra numerosa, dispersa pelo Norte do país. O artigo centra-se, principalmente, sobre a sua obra em Itália, apresentando também algumas reflexões sobre o seu legado, entre Itália e Portugal.
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A capela de Nossa Senhora de Fátima na Igreja de Santo Eugénio em Roma: uma obra decisiva no percurso de Luís Benavente
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Vera Félix Mariz
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A capela de Nossa Senhora de Fátima, obra erguida na Igreja de Santo Eugénio em Roma integra-se numa campanha pensada pela Santa Sé a partir de 1942 como forma de comemorar o jubileu episcopal do papa Pio XII. A capela portuguesa foi projectada por Luís Benavente, acabando por revelar-se uma obra determinante no rumo seguido por este arquitecto que viria a ser director do serviço de Monumentos Nacionais.
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Legação de Portugal em Berlim, com projecto por Raul Lino, 1941-1945
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José Manuel Fernandes
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O tema deste artigo foi suscitado inicialmente pelo pequeno texto de Raul Lino (1879-1974) contido no catálogo da famosa e polémica exposição retrospectiva da sua obra realizada pela Fundação Gulbenkian em 1970, em Lisboa, onde o autor referia ter gozado, no projeto de instalação da Legação de Portugal em Berlim, da mesma autonomia que conhecera no arranjo dos palácios nacionais, e que lhe permitiu a utilização das artes decorativas para afirmar a “portugalidade” de um ambiente a criar internacionalmente num tempo de máxima significação nacionalista. Tendo por fonte o espólio documental do arquiteto guardado na Biblioteca de Arte da FCG, este estudo procura dar a conhecer os ambientes criados, e contextualizar essa produção, entendendo-a como expressiva de uma “visão do mundo” de Raul Lino. Acresce o interesse cripto-histórico que toda esta resultante decorativa e ambiental ganhou após a sua destruição total pelos bombardeamentos aliados, pouco tempo depois da instalação da legação.
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A delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em França. Paris: 51, Avenue d’Iéna e 39, Boulevard de La Tour Maubourg
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Teresa Nunes da Ponte
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Em 1922, Calouste Sarkis Gulbenkian adquire, na Avenue d’Iéna, número 51, em Paris, um hôtel particulier para aí instalar a sua colecção de arte e a residência da sua família. O edifício é, então, objecto de uma rigorosa campanha de obras, acompanhada de perto pelo novo proprietário, que, cuidadosamente, zelou pela criação de ambientes propícios para a instalação do seu acervo artístico. Anos mais tarde, em 1965, a Fundação Calouste Gulbenkian inaugura aí a sua delegação em França, abrindo ao público a antiga residência particular, e aí instalando um centro cultural com o objectivo de promover a divulgação da cultura portuguesa. Em 2011, a delegação é transferida para um outro imóvel, um hôtel particulier no número 39 do Boulevard de la Tour Maubourg, na margem esquerda do Sena, numa área da cidade mais propícia às suas actividades, na proximidade de vários outros centros culturais. As duas instalações, as intervenções que receberam e o seu acervo são o tema deste texto.
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Instituto Português de Santo António de Roma: conservação de um complexo arquitectónico na Cidade Eterna
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João Mascarenhas Mateus
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As intervenções do Instituto Português de Santo António no centro histórico de Roma permitiram valorizar espaços devolutos e restaurar outros de grande valor histórico e artístico. A metodologia da conservação histórico-crítica foram elementos estruturantes na fase de projecto e obra.
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O Pontifício Colégio Português, em Roma: intervenções recentes
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João Mascarenhas Mateus
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Apesar de inaugurada em 1975, a nova sede do Pontifício Colégio Português incorpora as camadas histórico-artísticas que sintetizam a sua presença secular em Roma. Depois da contextualização do projecto e da construção são analisadas as intervenções recentes no edifício.
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1929 / 1992. "Quién no vió á Sevilla, no vió maravilla"
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João Paulo Martins
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As duas grandes exposições de Sevilha — Ibero-Americana em 1929, Universal em 1992 — nasceram com o propósito principal de marcar a posição de Espanha no mundo, em contextos (políticos, culturais…) diametralmente opostos. Em ambas as ocasiões, Portugal vivia uma situação paralela à do país vizinho. E, de modo semelhante, usou essas oportunidades para fazer importantes investimentos na construção e na representação de uma identidade colectiva, tanto no plano nacional como no internacional.
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A mágica tristeza do "Bonjour Tristesse"
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Alexandre Alves Costa
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O Bonjour Tristesse, em Berlim, como noutros projectos construídos ou não, Siza concilia a exigência de individualidade com as qualidades próprias do lugar, desde a utilização de plantas baseadas em esquemas-tipo usuais, ao esforço de adequação que inclui e legitima temas correntes do “vernacular berlinense”, contendo, ainda, uma espécie de ética da construção de massa, fazendo irromper momentos plásticos excepcionais nos planos tratados com o tema da repetição.
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O registo de (grandes) aglomerados urbanos: Inventário do Património Urbanístico de Lisboa
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Margarida Tavares da Conceição e Rita Vale
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No contexto do inventário de conjuntos urbanos do Sistema de Informação para o Património Arquitectónico explorou-se um método de inventário para grandes aglomerados urbanos, apoiando essa experiência na realidade da cidade de Lisboa e na identificação do seu património urbanístico. A abordagem à totalidade do aglomerado, para além do seu núcleo antigo e das áreas ditas históricas, envolveu o tratamento conjugado de duas principais questões, mantendo o recurso a uma base de dados georreferenciada. Por um lado, o problema da extensão efectiva da cidade definida por via do perímetro legal, implicando uma operação coerente mas flexível de divisão e classificação das áreas urbanas. Por outro lado, o problema da complexidade e densidade dos tecidos urbanos, obrigando à sistematização dos traços essenciais que unem as diferentes áreas, portanto, ao reconhecimento dos elementos de agregação que sustentam a estrutura urbana. Apoiada numa análise morfológica minimamente padronizada, a grelha de leitura proposta será adaptável ao inventário de outros aglomerados urbanos.
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