Dossiê: Cascais
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Abril 2011, 24x32cm, 208 pp. (<2Kg.)
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A Cascais, para nunca mais...?
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José C. Vasconcelos Quintão
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Da boutade que se tornou aforismo popular A Cascais, uma vez e nunca mais, tentei demonstrar, através da leitura dos seus predicados, a razão de ser desse aforismo. À época, as razões por que assim a alcunharam serviam a centenas de terras. Os predicados não só me certificaram quão errado era o aforismo, quanto me demonstraram que Cascais sabe cativar, discretamente e sem alarde. Procurei razões, sobraram-me emoções.
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Cascais no sistema defensivo do porto de Lisboa
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Joaquim M. F. Boiça
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O porto de Cascais e as margens adjacentes, da praia de Carcavelos à do Guincho, adquiriram uma importância assinalável no planeamento da defesa marítima da cidade de Lisboa. O expressivo conjunto de fortificações que se ergueu revela, de um modo notável, a evolução da arte de fortificar e as soluções estratégicas e balísticas desenvolvidas no amplo arco cronológico entre finais do século XV a meados do século XX.
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A defesa de Cascais
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Margarida de Magalhães Ramalho
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Durante séculos, Cascais foi o lugar onde, como referiu Damião de Góis, “os navios de carga, ancorados em porto amplo e abrigado, esperam a maré e a monção”. Para sua defesa, recebe, na Idade Média, um castelo junto à praia, a que se seguirá, em 1488, uma torre fortificada. Em 1580, e apesar de ter sido abaluartada, a torre cai nas mãos dos exércitos espanhóis. O arrojado desembarque do duque de Alba, junto a Sanchete, que permitiu o avanço vitorioso das tropas castelhanas sobre Lisboa, levou a que, com a Restauração, esta costa fosse reforçada por cerca de duas dezenas de fortalezas. Posteriormente, este sistema será reforçado com novas fortificações.
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Da “Casa dos Azulejos” aos azulejos de Cascais
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José Meco
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Entre os azulejos existentes na vila de Cascais têm sido mais divulgados os existentes na frontaria e no interior do edifício dos Paços do Concelho, mas muitos outros se destacam, como os dos séculos XVII e XVIII, existentes em várias igrejas (Matriz, Navegantes, Senhora da Nazaré, Senhora da Vitória), e o grande número de criações revivalistas, nos diversos chalets e palacetes da primeira metade do século XX.
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Apontamentos para o estudo iconográfico da azulejaria setecentista em Cascais. Antigo Testamento, Apocalipse e iconografia mariana
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Ana Paula Rebelo Correia
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Nas igrejas e capelas de Cascais encontramos um conjunto notável de revestimentos azulejares setecentistas que chegaram aos nossos dias praticamente intactos. As suas iconografias traduzem os cultos, as crenças e a vivência cristã da época. Destacam-se as cenas do Antigo Testamento na sacristia da Igreja Matriz, a tão curiosa representação de um trecho do Apocalipse, na nave da mesma igreja, ou, ainda, representações das atividades marítimas da região, através da ilustração de cenas de pesca ou da invocação de auxílio divino.
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Património artístico da Misericórdia de Cascais: as tábuas maneiristas do antigo retábulo
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Vítor Serrão
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As tábuas do antigo retábulo-mor da Igreja da Misericórdia de Cascais, executadas nos anos finais do século XVI, são obra de Cristóvão Vaz, um bom pintor de Lisboa, conquanto muito desconhecido, que serviu na casa da infanta D. Maria e foi discípulo de Diogo Teixeira. Constituem, em termos iconográficos e artísticos, um testemunho muito interessante da influência do Maneirismo italiano na arte portuguesa no último quartel de Quinhentos e valorizam, tal como o Museu da Misericórdia em que hoje se expõem, o património turístico-cultural de Cascais.
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A Igreja dos Navegantes, notável exercício de geometria
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Teresa de Campos Coelho
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Construída no início de Setecentos, a Igreja dos Navegantes é o vestígio mais importante do papel que desempenharam pescadores e mareantes na história da vila. Como uma caixa que se abre, o austero aspeto exterior esconde, no seu interior, um surpreendente espaço octogonal (projeto dentro do projeto), cuja clareza e racionalidade correspondem a uma intenção propositada do arquiteto em assegurar que a geometria fosse assumida como elemento fundamental na vivência desse mesmo espaço.
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Arquitetura de veraneio: alguns tópicos sobre o que é e algumas pistas para o que falta saber
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Raquel Henriques da Silva
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A arquitetura de veraneio foi uma marca distintiva da paisagem urbana de Cascais, na época entre dois séculos (XIX-XX), quando a vila se tornou a mais cosmopolita estância balneária, frequentada pela família real e pelos altos dignitários da Corte. Neste artigo, caracterizo as componentes estilísticas e estéticas da arquitetura de veraneio, relacionadas com os valores de uma cultura ainda romântica. Destaco um conjunto do que designei por casas excecionais que, ao longo dos anos, servirão de modelo, através de recriações criativas, a uma curiosa diversidade de soluções para representar, nas fachadas sobre as ruas, a heterotopia que a casa de férias sempre configura.
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O programa estético da Casa de Jorge O’Neill a partir dos contributos de Luigi Manini, Francisco Vilaça e Albrecht Haupt
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Denise Pereira e Gerald Luckhurst
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Em 1892, quando Jorge O’Neill se resolveu a construir a sua vila marítima, Cascais já era um local de vilegiatura afamado. O’Neill, um capitalista de íntimas relações com os mais proeminentes artistas e intelectuais da praça, decidiu construir uma casa que refletisse a sua ancestral linhagem de príncipe de Clanaboy e selecionou um trio de arquitetos para desenvolver o seu programa ideológico fundado no emotivo e cenográfico tema do castelo medieval. Os projetos de Manini e as inéditas contribuições de Haupt alargam, assim, a perspetiva usual de atribuição do risco do palacete a um único arquiteto: Francisco Vilaça. Em conjunto, desenvolveram um programa estético que especula sobre as possibilidades de uma imagem tradicional e moderna da arquitetura portuguesa, integrando, num único projeto, conceitos de naturalismo, de sensibilidade pictórica e de espírito luso. Nesta perspetiva, segundo os autores, a casa O’Neill antecipa o alento da arquitetura de Raul Lino.
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A perspetiva das coisas. Raul Lino em Cascais
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Rui Jorge Garcia Ramos
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O “regresso à terra” e a formação do jovem Raul Lino; a circunstância para um programa intelectual e arquitetónico; o picturesque e a transformação do espaço doméstico; a condensação de um particular modo de fazer arquitetura e a desvirtuação de um ideal constituem os principais tópicos deste artigo.
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Casal de Monserrate: a casa certa, o sítio exato
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Margarida Cunha Belém
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A Vila Monserrate projetada na estância de turismo por excelência, o Estoril, entre o mar e a serra de Sintra, da autoria dos arquitetos Pardal Monteiro e Cristino da Silva tem requinte, design e conforto. Uma arquitetura de excelência quer no projeto, quer na conceção paisagística.
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Hospital de Sant’Ana, antigo Sanatório de Sant’Ana, na Parede
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Luísa Arruda
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O Hospital de Sant’Ana na Parede é um edifício notável inaugurado em 1904, resultado do esforço conjunto de filantropos, de médicos, do presidente do Município de Cascais e da equipa de arquitetos liderada por Rosendo Carvalheira. Como arquitetura de equipamento constitui uma obra modelo, utilizando as novas técnicas disponíveis como a cozinha a vapor, a energia elétrica e a lavandaria mecânica, mas, sobretudo, a experimentação em sistemas de ventilação que se julgavam eficazes no tratamento da tuberculose óssea, doença a que se dedicava o antigo Sanatório de Sant’Ana. Em consonância com as vertentes funcionais os arquitetos desenvolveram uma linguagem estética apoiada no conceito estilístico do neorromântico. A azulejaria arte nova complementa funções higiénicas e simbólicas, enquanto a escultura de Costa Mota enobrece a fachada nobre e a decoração da capela.
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A reabilitação do Chalet Madalena. Adaptação a Conservatório de Música
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João Paulo Martins
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Este típico chalet do Monte Estoril foi convertido em pensão pela década de 1930 e, após um longo período de decadência e ruína, reabilitado para funcionar como Conservatório de Música. Uma intervenção de autor, culta e inteligente, a vários títulos excecional, assinala essa nova natureza cívica, contribuindo para a desejada reconquista de centralidade cultural dos estoris.
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Histórias da arquitetura na Casa das Histórias
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Jorge Figueira
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A Casa das Histórias Paula Rego, de Eduardo Souto Moura, situada em Cascais, alberga a coleção doada por Paula Rego à autarquia local. É uma construção em betão pigmentado de vermelho, que usa a cofragem para adquirir uma textura decorativa. A dimensão histórica surge aqui numa figuração — as duas chaminés-pirâmides — e já não na forma da ruína, como acontece noutras obras deste arquiteto. Mas o que significam, de facto, os dois volumes piramidais? São chaminés, por referência a Sintra e a Raul Lino, ou pirâmides por referência à casa dos lenhadores de Ledoux?
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Farol-Museu de Santa Marta: redesenhar um muro para revelar um sítio
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Helena Barranha
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Construído entre os séculos XVII e XIX e alterado no século XX, o Forte e Farol de Santa Marta constituiu um elemento marcante na frente marítima de Cascais. O projeto de requalificação, da autoria dos arquitetos Francisco e Manuel Aires Mateus, reabilitou as construções preexistentes e conferiu-lhes um sentido contemporâneo, através da adição de novos volumes, construídos como um muro que unifica o conjunto e materializa o programa museológico.
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Cascais: a vila, o espaço urbano e os equipamentos nos anos 1940-1960
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José Manuel Fernandes
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Analisa-se o enquadramento urbanístico da vila de Cascais, no quadro do Estado Novo e da nova legislação urbana pelo ministro Duarte Pacheco, nos anos 1930 — nomeadamente em relação ao Plano da Costa do Sol e da via Marginal, com as transformações práticas sofridas pela área litoral, central e urbana, de Cascais, na mesma época e na seguinte (anos 1940-1950) — quer na rede viária, quer na edificação. Refere-se depois a nova arquitetura que correspondeu a estas transformações urbanas, quer numa estética neotradicional (a "Arquitetura do Estado Novo", anos 1940-1950), quer já na conceção da emergente "Arquitetura Moderna", anos 1950-1960.
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Instrumentos de proteção e delimitação de centros históricos: o caso de Cascais
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António Carvalho, Conceição Santos, Mário Lisboa e Jacinta Bugalhão
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A salvaguarda do património histórico imóvel em Cascais formulou-se, nas últimas duas décadas, com base na legislação específica do património cultural português, recorrendo, nomeadamente, ao instrumento da classificação e, de forma muito própria, ao da inventariação. Este último, formalizado no Regulamento do Plano Diretor Municipal (1997), instituiu a figura do “catálogo-inventário”, obrigando à elaboração de inventários de património, atualizados em função do progressivo conhecimento do território, e à ratificação formal dos mesmos.
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A inventariação do património arquitetónico em Portugal no século XX: as experiências do IHRU, da ex-DGEMN e dos seus antecessores
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Paula Noé
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As primeiras iniciativas de inventariação do património arquitetónico em Portugal poderão recuar ao início do século XVIII e ao século XIX. No entanto, foi no século XX que se evoluiu em termos de inventariação do edificado, inicialmente em íntima ligação, ou subjacente, à sua classificação e/ou à sua conservação, e, depois, acompanhando a própria evolução do conceito de património. Neste percurso, o Sistema de Informação para o Património Arquitetónico (SIPA), nascido no âmbito da extinta Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) e, desde 2007, desenvolvido pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), tem um papel crucial e incontornável, que importa conhecer e divulgar.
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