Castelo de Salvaterra do Extremo

IPA.00008483
Portugal, Castelo Branco, Idanha-a-Nova, União das freguesias de Monfortinho e Salvaterra do Extremo
 
Castelo construído provavelmente no séc. 13, pela Ordem do Templo, em local estratégico, para defesa da fronteira leste de Portugal, articulando-se com outros castelos Templários da Beira, reforçado, no séc. 15, por barbacã, e envolvido, juntamente com a vila, no séc. 17, por fortificação à moderna. O castelo, de que subsiste apenas a torre de menagem, tinha planta circular, regular, tipologia menos comum e denotando grande modernidade, rasgada por uma porta em arco, com adarve acedido por escadas, tendo no interior, muito próximo da muralha, a torre de menagem, com três pisos, à volta da qual se dispuseram várias dependências, uma delas contendo cisterna. Em meados do séc. 15, o castelo foi envolvido por barbacã extensa, reforçada por cubelos circulares ou retilíneos, individualizando a zona da porta, de modo que o acesso ao castelo fosse em cotovelo, e recebeu obras pontuais para uso de armas de fogo, com a abertura de troneiras. As estruturas, de paramentos aprumados, rematavam em parapeito ameado e estavam em bom estado no início do séc. 16, exceto o interior da torre de menagem, procedendo-se então a algumas modificações na zona das dependências, que num dos lados recebeu muro ou "cerca" com troneiras e cubelo no ângulo. A torre de menagem, na transição do séc. 19 / 20, foi adaptada a torre dos sinos e depois do relógio, adulterando-se a zona superior. No âmbito da Guerra da Restauração, o castelo e a vila, desenvolvida extramuros, foram envolvidos por ampla fortificação à moderna, composta por cinco baluartes ou meios baluartes, existindo desenho representando ainda uma obra corna de braços compridos, disposta à frente do baluarte que separava as duas portas de acesso. Estas estruturas foram igualmente demolidas ou absorvidas pela malha urbana a partir de finais do séc. 19. A defesa do castelo era reforçada por atalaias, de que ainda hoje subsiste uma, de provável construção medieval, junto à margem do rio Erges, e em frente do castelo de Peñafiel.
Número IPA Antigo: PT020505130069
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Do castelo subsiste a torre de menagem e pequenos troços de muralha, integradas nas habitações da vila. Torre de planta quadrangular, coberta por coruchéu facetado, em alvenaria rebocada e pintada de branco, coroada por cruz metálica. Apresenta fachadas aprumadas, em cantaria de granito, de aparelho irregular, dividida em dois registos por cornija reta e rematada em igual cornija, coroada por pináculos piramidais sobre acrotérios, nos cunhais, ladeadas por gárgulas. A fachada principal surge virada a oriente, rasgada no primeiro registo por portal, em arco de volta perfeita, de aduelas em cunha, e por duas seteiras sobrepostas, dispostas à direita, a abrir para o exterior; no segundo registo possui olho de boi, um relógio em cantaria, circular, e, superiormente, ventana, em arco deprimido, integrando relógio retilíneo. A fachada lateral esquerda possui pequeno orifício em cada um dos registos, abrindo-se no segundo uma seteira retilínea e uma ventana de arco deprimido, com pano de peito de cantaria, a qual se repete nas restantes fachadas, tendo na virada a norte sino; nesta fachada integra-se ainda brasão. No INTERIOR desenvolve-se escada de caracol.

Acessos

Salvaterra do Extremo, EN. 240 (Termas Monfortinho - Ladoeiro), desvio para Salvaterra do Extremo; Rua do Castelo; Largo da Praça; Rua de São João. WGS84 (graus décimais): lat.: 39,882494; long.: -6,914489

Protecção

Incluído na Zona de Proteção do Pelourinho de Salvaterra do Extremo (v. IPA.00000568)

Enquadramento

Urbano, adossado. Implanta-se numa colina com cerca de 370 m de altitude, constituindo a zona alta da vila, tendo adossado o edifício da Junta de Freguesia de Salvaterra do Extremo e o Posto da Guarda Nacional Republicana (v. IPA.00011303), erguendo-se no largo frontal o Pelourinho de Salvaterra do Extremo (v. IPA.00000568). O castelo erguia-se em posição dominante sobre margem direita do Rio Erges (ou Elgas), situado a cerca de situado a cerca de 1 Km, com vista sobre o Castelo de Peñafiel, implantado na margem esquerda do rio (Espanha), e amplo panorama para o território Espanhol, avistando-se ao longe Ceclavín e Alcântara, ou português, avistando-se para poente as serras da Estrela e da Gardunha. Em posição frontal ao castelo de Penãfiel, mas na marquem portuguesa, ergue-se atalaia, em ruína.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Comunicações: torre do relógio

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 13 / 15 / 16

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO MILITAR: Conde de Lippe (1762).

Cronologia

1114 - 1118 - D. Teresa doa Idanha-a-Velha aos irmãos Gozendo, para a deixarem, por sua morte, à Ordem do Templo; 1165, 30 novembro - D. Afonso Henriques doa ao mestre D. Gualdim Pais e à Ordem do Templo a terra de Idanha[-a-Velha] e Monsanto, limitada pelos rios Elga ou Erge, Tejo e Zêzere, com a condição da milícia servir ao monarca e ao seu filho; talvez devido à instabilidade do território, onde se inclui Salvaterra, os Templários não povoam Egitânia, pelo que volta à Coroa; 1157 - 1188 - Fernando II, de Leão e Galiza, manda erguer, na margem oposta do rio Erges, sobre as ruínas da posição muçulmana de Racha-Rachel, o castelo de Peñafiel; 1169, 30 novembro - D. Afonso Henriques doa Idanha-a-Velha e Monsanto à Ordem do Templo com a condição da mesma servir a si e ao seu filho; 1197, 23 janeiro - escambo entre D. Sancho I e a Ordem do Templo, sendo mestre D. Lopo Fernandes, confirmando a doação, feita por seu pai, de Idanha-a-Velha, com os seus termos, em atenção aos seus bons serviços prestados e à cedência, durante a sua vida, dos castelos de Mogadouro e de Penas Róis; 1206, 23 janeiro - D. Sancho I confirma a doação de Idanha-a-Velha à Ordem do Templo, feita por seu pai e, simultaneamente, doa também à mesma Ordem a vila de Egitânia Nova, ou seja, Idanha-a-Nova, sendo seu mestre D. Fernando Dias; 1211 - os almóadas atacam e conquistam os castelos de Salvaterra e de Peñafiel; 1218 - Afonso II confirma ao mestre e a todos os irmãos da Ordem do Templo, em honra a Deus e para remissão dos meus pecados, das vilas de Egitânia, a saber a Velha e a Nova, com seus termos novos e velhos, conforme seu pai lhes havia doado "(...) Ego (...) Portugaliae Rx (...) concedo et confirmo vobis (...) illas supradictas villas que vocantur Egitanies Vetus et Nova (...)"; 1226 - reconquista de Salvaterra; 1229, abril - D. Sancho II dá foral a Idanha-a-Velha fixando-lhes novos limites, cujo termo passa a ser mais pequeno, confinando a leste com Salvaterra; 02 maio - D. Sancho II concede foral a Salvaterra, seguindo o modelo de Ávila / Évora, visando incrementar o seu povoamento e assegurar a sua defesa; a povoação denomina-se então de Salvaterra da Beira; 1244, 16 dezembro - D. Sancho II doa à Ordem do Templo os direitos reais de Idanha-a-Velha e Salvaterra, com exceção da anúduva, exército, coleta (colheita e jantar) e moeda; 1248 - 1279 - durante o reinado de Afonso III procede-se a obras na fortificação; 1290 - no contexto das guerras com Castela, D. Dinis determina reconstruir e reforçar o castelo de Salvaterra e a sua muralha; 1300 - até esta data a vila é denominada apenas de Salvaterra, passando, a partir daí, a designar-se por Salvaterra da Beira; 1305 - referência documental ao castelo de Salvaterra; 1307 - D. Vasco Martins de Alvelos, bispo de Idanha-a-Velha, intenta ação contra a Ordem do Templo por causa da jurisdição das vilas e castelos de Idanha-a-Velha, Salvaterra do Extremo, Rosmaninhal, Segura e Proença, apresentando uma doação feita por D. Sancho II ao bispo D. Vicente, seu antecessor, afirmando que ela não poderia ter sido anulada pelo facto do referido monarca ter sido deposto pouco tempo depois; 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; pouco depois, pelas letras "Deus ultiorum dominus", dirigidas ao arcebispo de Braga e bispo do Porto, nomeia-os como administradores dos bens templários em Portugal; D. Dinis empreende uma série de medidas, internas e externas, para evitar que os bens dos Templários em Portugal integrassem o património da Ordem do Hospital; assim, ordena que seja tirada inquirição sobre o património da Ordem e exige a apresentação de documentos da posse de algumas terras, nomeadamente as de Idanha-a-Velha e Salvaterra do Extremo e respetivos termos; os Templários defendem-se dizendo que tal procedimento nunca fora necessário, mas o rei impõe um prazo de nove meses para cumprirem a determinação, acabando a Ordem por não conseguir demonstrar a posse das terras; 1310, 19 janeiro - sentença a favor do rei pela qual voltam para a coroa as vilas de Idanha-a-Velha e Salvaterra do Extremo e "porque achamos outrosi pera emquiriçom que o Rosmaninham e Segura e Proença eram termos das ditas vilas", fica determinado que também essas povoações pertencem ao rei; 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1318 - D. Dinis faz doação ao 1.º Grão-mestre da Ordem de Cristo, Frei Gil Martins, "(...) na Beyra, Eydanha a Velha e Eydanha a Nova e Segura e Salvaterra e Porença e o Rosmarinha"; quanto a Idanha-a-Nova refere tê-la povoado "quam ego populavi (...)"; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 1319, 20 novembro - documento do primeiro mestre da Ordem de Cristo, Frei Gil Martins regista as doações feitas por D. Dinis nas quais se inclui, na região da Beira, Idanha-a-Velha, Idanha-a-Nova, Segura, Salvaterra, Proença e Rosmaninhal, "as quaes vilas e logares el avia vençudos per sentença da ordem que foy do Templo e que tragia a ssa mão e a saa posse"; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários; 1335 - 1339 - o castelo de Salvaterra tem participação ativa na guerra com Castela; 1340 - D. Afonso IV manda reparar o castelo devido aos estragos causados no conflito; 1374, a partir - D. Fernando I (1367-1383) manda reconstruir o castelo; 1377, 28 setembro - carta régia de D. Fernando I, dada em Covilhã, para integração de Salvaterra da Beira na comenda da Ordem de Cristo, como termo com os seus limites administrativos à vila de Castelo Branco; 1383 - 1385 - durante a crise de sucessão, Salvaterra toma o partido por D. Beatriz de Portugal; 1385 - o concelho não está presente nas Cortes de Coimbra, que aclamam o Mestre de Avis como rei; séc. 15 - data provável da construção da barbacã; 1496 - data da Inquirição, referindo a existência de 136 habitantes em Salvaterra; 1505, 25 outubro - elaboração do Tombo dos bens pertencentes à comenda de Salvaterra, da Ordem de Cristo, feito pelo frei Francisco, capelão do rei, onde se faz a descrição do castelo *1; nesta data decorriam obras no interior do castelo, nomeadamente nos aposentos do alcaide e num muro junto ao mesmo; 1510, cerca - representação do castelo por Duarte de Armas *2; 1510, 01 julho - concessão de foral novo a Salvaterra por D. Manuel; 1515 - D. Manuel manda Mateus Fernandes vistoriar a obra da fortaleza; 1578 - a partir desta data Salvaterra da Beira passa a chamar-se Salvaterra do Extremo; 12 maio - por carta régia de D. Sebastião, sabe-se que é comendador Cristóvão de Távora, o qual, tendo renunciado à Comenda, a mesma é conferida a Álvaro Pires de Távora, cavaleiro professo da Ordem de Cristo e fidalgo da casa de El-rei; pela mesma carta, ordena-se a Pero Henriques, cavaleiro fidalgo da casa real e contador do Mitrado e Ordem de Cristo que lhe dê logo a posse da comenda e de todas as rendas, foros, direitos e pertenças que lhe pertencem, em atenção aos serviços prestados à Ordem e ao rei na guerra de África onde serviu; numa outra carta, com a mesma data, manda-se Pero Henriques dar posse ao dito Álvaro Pires de Távora, da alcaidaria mor do castelo e fortaleza de Salvaterra com todas as rendas, foros e direitos que pertenças que à dita alcaidaria mor pertencem; séc. 17 - durante a Guerra da Restauração, a praça rende-se ao assalto das tropas espanholas; 1643 - Salvaterra é conquistada por tropas portuguesas sob o comando de D. Sancho Manuel; 27 janeiro - portaria faz mercê ao conde de Castelo Melhor, João Rodrigues de Vasconcelos, da comenda de Santa Maria e da alcaidaria mor de Salvaterra; 1648 - a fortificação é guarnecida de tropas e de material de guerra; reconstrução das portas do Adro e de São José; 1675 - a fortificação é guarnecida de tropas e de material de guerra; 1675, 30 janeiro - na sequência da exposição apresenta por parte dos moradores da vila "a razão de que ficando destruídas por causa da guerra com a entrada do inimigo castelhano fizera na dita Vila, deixando-a queimada e arrasada não ficando dela mais que o Castelo, ficara despovoada dos moradores que nela estavam tratando cada um de se meter pela terra dentro buscando parte onde pudesse viver, deixando por esta causa as fazendas que nela possuíam, e tratando de a mandar fortificar e reformar, foram obrigados os moradores, que dela tinham saído a que tornassem a viver na dita Vila dando-lhe a cada um um pão de munição, pela grande pobreza em que se achavam, se não pudessem ajuntar mais de 60 moradores passando de 300 os que da dita Vila estavam na opulência, antes de ser destruída (...)", o Príncipe faz mercê aos ditos moradores, pelo prazo de dois anos, do "lançamento das eiras da dita Vila conforme os moradores que de presente nela houver e suas possibilidades (...)"; 1681, 20 maio - alvará de D. Afonso VI prorrogando por mais dois anos o lançamento da eira; 1683, 26 setembro - provisão de D. Pedro II recomendando ao Corregedor da comarca de Castelo Branco que nenhum indivíduo estranho ao termo de Salvaterra possa lançar nas ervagens do castelo sem que primeiro os seus moradores sejam providos das que fossem necessárias para os pastos dos seus gados, com declaração que não poderão lançar em mais ervagens do que as que precisar não podendo meter gado de fora em prejuízo do concelho nas que comprarem; 1693, 06 fevereiro - atendendo ao estado decadente em que se encontram ainda as vilas de Salvaterra, Rosmaninhal, Segura e Penha Garcia, devido aos prejuízos causados com as invasões castelhanas, D. Pedro II determina a diminuição do lançamento da eira em 70$000, cabendo a Penha Garcia 10$000 e a cada uma das outras vilas 20$000; 1704, 07 maio - no contexto da Guerra de Sucessão de Espanha, a praça é tomado pelas tropas do duque Berwich; 1705, 04 maio - reconquista da povoação pelas forças portuguesas, sob o comando do marquês de Minas; 1706, 04 setembro - Manuel Jacques de Magalhães, visconde de Fonte Arcada, a cujo cargo estava o governo das Armas da Província da Beira e do partido de Ciudad Rodrigo, manda o capitão major da vila de Proença Filipe da Cunha Robalo levantar gente na comarca de Castelo Branco para se forçar o terço para a guarnição das praças de Salvaterra e Segura; 1707, 07 maio - durante a crise sucessória espanhola, as tropas comandadas pelo Duque de Berwick, marechal de França, invadem Portugal e apoderam-se de Salvaterra do Extremo, Segura, Monsanto, Idanha e Castelo Branco; 1723, 25 junho - por carta régia de D. João V, a comenda de Santa Maria e alcaidaria mor de Salvaterra passam ao neto do conde de Castelo Melhor, o conde da Calheta, frei Afonso de Vasconcelos e Sousa, cavaleiro professo da Ordem e reporteiro-mor; 1751, 20 junho - provisão de D. José manda o conde de Castelo Melhor fazer Tombo dos bens e propriedades da comenda; 1758, 12 maio - segundo o pároco frei Sebastião Peres Moreira nas Memórias Paroquiais, a freguesia pertence à província da Beira Baixa, bispado da Guarda e comarca de Castelo Branco, sendo seu senhor o rei; tem 114 vizinhos e 235 pessoas maiores e 85 menores; a povoação implanta-se num monte não muito eminente e áspero, envolvida por fortificação, vendo-se, para o lado oriental, uma vila do reino de Castela *3; 1762 - ordem para em Castelo Branco ou lugares circunvizinhos da praça de Salvaterra em que se acharem ou souber que haja madeira com comprimento e grossura competente para a estacada da estrada coberta da praça, se mande aprontar e conduzir para Salvaterra, com toda a brevidade, devido à grande necessidade de defesa, por ser uma das principais para o inimigo enfrentar e quebrar os primeiros ímpetos das suas escaladas *4; 1762, depois - o conde de Lippe manda reparar e prover Salvaterra de uma fortificação à moderna; segundo as memórias do conde de Lippe, ali havia 10 peças, 300 homens, munições, víveres e água; constitui castelo importante para a entrada da Beira; o comandante do castelo, Grasiano Palha, teve ordem para "se defender ate à ultima extremidade, e ate que abrisse huma brecha praticavel"; contudo, face à aproximação das tropas inimigas e apesar das ordens, o comandante de Salvaterra entregou esta fortaleza à primeira intimidação, e antes que as tropas inimigas estivessem á vista da Praça"; a tomada desta fortaleza e da de Segura faziam do inimigo senhores do Erge e assegurava-lhes a comunicação direta com Alcântara, e vizinhanças de Castelo Branco, onde todo o exército franco-espanhol se reuniria a meados de setembro; 1764 - conde de Lippe visita as várias fortificações do país, passando por Salvaterra e Segura, encontrando Salvaterra arruinada, "vítima do feroz despeito castelhano"; 1787, 27 setembro - D. Maria I faz mercê ao conde da Calheta, já marquês de Castelo Melhor, frei António de Vasconcelos e Sousa Caminha Faro e Veiga, da verificação à alcaidaria mor da vila de Salvaterra do Extremo, continuando a usufruir dos proventos da mesma alcaidaria; 1810, 24 julho - aqui tem lugar um renhido combate contra os franceses; 1837 - abolição das comendas da Ordem de Cristo, sendo os bens próprios da comenda onde se inseria Salvaterra do Extremo, transferidos para os Próprios Nacionais; 1846 - Salvaterra perde a sua função estratégica, sendo a praça desclassificada militarmente e desguarnecida; a partir desta data a fortificação é demolida ou absorvida pelas habitações que nelas reutilizam a pedra; 1855 - extinção do concelho de Salvaterra, passando a freguesia a integrar-se no concelho de Idanha-a-Nova; 1860 - já pouco resta da fortificação moderna, construindo-se casas no castelo medieval; séc. 19 / 20 - transformação da torre de menagem em torre do relógio; 1953, fevereiro - Joaquim Monteiro, presidente da Junta de Freguesia solicita à DGEMN a reparação das "heresias que fizeram" na torre do relógio, retomando a sua traça primitiva, bem como ao edifício anexo, que "tinha umas arcadas e balcão com entrada para exterior".

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito; pináculos, gárgulas e cornijas em cantaria de granito; porta de madeira; cobertura em alvenaria rebocada e pintada; cruz em ferro.

Bibliografia

ARMAS, Duarte de - Livro das Fortalezas. Fac-simile do MS. 159 da Casa Forte do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Lisboa: Patrocínio da Academia Portuguesa de História; edições Inapa, 1997; BARGÃO, J. D. - Monografia de Salvaterra do Extremo. Lisboa: Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, 1945; BARROCA, Mário Jorge - «Aspectos da Evolução da Arquitectura Militar da Beira Interior». In Beira Interior - História e Património. Guarda: 2000, pp. 215-238 (https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/55798/2/MJBarrocaarquitectmilitar000126965.pdf); Castelo de Salvaterra do Extremo. In Fortalezas.org (http://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=1284), [consultado em 3 agosto 2016]; GONÇALVES, Iria (organização) - Tombos da Ordem de Cristo. Comendas Sul do Tejo. Lisboa: Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2009, vol. 5; GONÇALVES, Luís Jorge Rodrigues - Os castelos da Beira Interior na defesa de Portugal (séc. XII - XVI). Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa. Lisboa: texto policopiado, 1995; GOMES, Rita Costa - Castelos da Raia. Beira. Lisboa: IPPAR, 1997, vol. 1; NUNES, António Lopes Pires - Os Castelos Templários da Beira Baixa. Idanha-a-Nova: Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, 2005.

Documentação Gráfica

AHM

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DREMC/DM

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSARH, DGEMN:DSID; DGA/TT: Corpo Cronológico (parte I, maço 17, doc. 46), Memórias Paroquiais, vol. 33, pp. 211-214; Arquivo Histórico Militar: 3ª Divisão, 9ª Secção, Cx. 32, Processo C183

Intervenção Realizada

1648 - reparação da fortificação; 1675 - obras de reparação da fortificação.

Observações

*1 - Segundo a descrição no Tombo da Comenda de Salvaterra, a vila tem "huu casteello forte que tem duas çercas. a saber. Huua barbacã bem corregida e ameada toda com suas bonbardeiras e seeteiras e tem aa entrada huu portal fechado com suas portas. E logo huu muro de bõoa altura ameado e bem corregido e tem huu portal d arco de cantaria bem feito e nouo. com has quinas d el rey scolpidas em pedra. e asi ho muro como há barbacã. he todo de pedra e barro. e tem quatro escaadas per onde se serue. dentro nesta çerqua estaa huua torre de menagem forte e de bõoa altura. de cantaria e aluenaria fectas has paredes rebocadas de cal. bem ameada. ha qual torre sohia teer tres sobrados. e agora tem dous. huu debaixo mujto uelho e podre e mujto roto. e no de çima estam soos duas vigas sem outra nenhuua madeira E no andar do segundo sobrado tem ho portal per onde se serue. com suas portas uelhas. com duas seteiras huua ao leuante e outra ao sul. e tem no andar de çima duas janelas. he bem madeirada de castanho e mal telhada de telha uãa. E leua oito uaras de longo e quatro e meya de largo. junto da dita torre estam duas casas pequenas antre ho muro e ha torre contra ho norte. has quaaes ora el rey nosso senhor manda derribar por serem odiosas aa torre. e debaixo dellas estaa huu portal que outrosi el rey manda çarrar de cantaria. junto da dita torre contra ho sul estam duas casas sobradadas bem oliueladas em tres painees com seus cãaes e frechaaes boons e tem huu portal de canto laurado com suas portas nouas e sobre este portal has quinas reaaes. e estas casas som d armaria e mantijmentos. ha dianteira leua de longo oito varas e quatro de largo. e ha outra leua quatro varas de largo e seis de longo. e tem huua freesta com grades de ferro e com huua seteira. e ha outra casa tem outra tal freesta ferrada. has paredes som de pedra e barro bem repairadas: serue de palheiro. ha outra leua .viij. uaras de longo e iiij de largo e serue de estrebaria sem suas manjadoiras. has paredes de pedra e barro bem madeiradas e cubertas de telha. bem repairadas: junto destas casas e torre estam duas casas. huua que leua viij. uaras de longo e duas e meya de largo e esta serue de palheiro. ha outra leua .viij. uaras de longo e iiij de largo e serue de estrebaria sem suas manjadoiras. has paredes de pedra e barro bem madeiradas e cubertas de telha. bem repairadas: aalem da dicta torre contra ho sul se fazem ora huuas casas que el rey nosso senhor manda fazer pera apousentamento do alcaide moor do dito castelo pegadas no dito muro de que ora huua delas estaa com has paredes leuantadas. ha meatade de canto laurado e ho mais d aluenaria de pedra e barro e dentro nela estaa huua cisterna bõoa com seu bocal de pedra bem feito. Esta casa tem huu portal de pedra laurada e sobem a ela per huua escaada de pedra e tem xij degraaos. aalem destas casa se começa ora fazer huua çerqua que fica antre ha dicta torre e a porta principal da dicta çerqua. E tem hi mais huua casa que serue de cozinha. has paredes de pedra e barro. bem madeiradas e cuberta de telha. leua seis varas de longo e duas e meya de largo: ho alcaide moor do dicto castelo, faz menagem dele. Acharom hos Visitadores na sobredita casa d armaria huua bonbarda pequena com duas camaras. huua serpintina com duas camaras. huu trom pequeno. com tres cameras. huu espingardam e quatro espingardas". *2 - Os desenhos de Duarte de Armas representam o castelo de Salvaterra com planta circular de grande regularidade, composta por castelo e barbacã, ambos com paramentos rematados em parapeito ameado. A barbacã, com seis varas de altura, era reforçada por cubelos circulares ou retilíneos, por vezes formando ângulo, com troneiras cruzetadas rasgadas inferiormente. O acesso à liça era feito por porta em L. O castelo, com o perímetro de 143 varas, tinha portal de acesso desalinhado do portal da barbacã e antecedida de um espaço fechado, formando barbacã da porta. No interior tinha adarve acedido por escadas salientes e erguia-se, muito próximo dos muros, a torre de menagem, quadrangular, com 8 varas por face, com 12 varas de altura e mais de uma vara de espessura dos muros. Rematava por parapeito ameado e era rasgada por troneiras e vãos retangulares. A partir da torre e até à muralha, desenvolviam-se várias dependências, formando retângulo, integrando os aposentamentos do governador e a cisterna; estas dependências eram delimitadas por muros com torneiras, sendo um deles novo e ainda não concluído, surgindo no ângulo um cubelo circular e abobadado. A povoação desenvolvia-se extra-muros, no sopé da colina do castelo. Na vista tirada da banda oeste, ressalta o castelo de Peñafiel, em Castela. *3 - Nas Memórias Paroquiais de 1758, faz-se a seguinte descrição da fortificação de Salvaterra: "Está esta vila cercada de muros com serventia de duas portas hua chamada do Adro e a outra de Sam Jose por as quais de ordinário tem vinte e quatro palmos de altura, e doze de largura, fabricadas de alvenaria no anno de mil seiscentos e quarenta e oyto, tempo em que governou o Senhor Dom João quarto, segundo se se mostra da inscrição posta sobre hua das portas; as pedras que as compõem, se conhece terem servido em outros edifícios donde se infere que a Povoação fora mais larga, mas não há certeza de que vizinhos constava; tem hum antemuro com suas esplanadas ficando entre este e os muros huns fossos pouco profundos, por neles não haver senão hua penha viva. Dentro do Castello tem três armazéns de abobada, que occupao polvora e mais teem de guerra, e sico quartéis para acomodação dos soldados, e em hum destes está hua atafona de moer pão, e dois estão arruinados; neste mesmo há huma capela chamada de São Bemdieto sem ornato algum para nela se celebrar; há huas casas, aonde assiste o Governador, junto das quais há hua torre de grande fortaleza, e no centro desta hua prisão para castigar os deliquentes, como também há dentro do dito Castello huma cisterna para onde correm as agoas, que chovem em os telhados das cazas por canos fabricados para este fim, mas não se Conservão senão athe o mes de Agosto. tem mais tres guaritas, e tres baluartes onde estão quatro peças de bronze nas quais há huma chamada Colubrina, que terá distancia de tres quartos de légua e na entrada do dito Castello há hua fortaleza aonde está outro baluarte Com quadro peças duas de bronze e duas de ferro, aquelas chamadas meios canhões, que carregão com vinte e quatro arreteis de bala; em toda a muralha há sinco baluartes, que Contem em si onze peças hua de bronze e as mais de ferro, e hum morteiro todas Capazes de tiro e onze guaritas em que se recolhem os soldados quando fazem Sentinella no tempo do calor e frio. A praça dentro em si tem trez poços de agoa, que so a Conservaõ athé Agosto de sorte que no verão padeceria grande esterilidade se não fora hua fonte, que se fes no anno de mil e septeCentos e sinqenta e sete no Sitio do Senhor da pedra, distante da praça dois tiros de besta que dá abundante agua todo anno e hum poço chamado de Sam Joam distante tiro de della que haverá vinte annos que se fabricou que tambem não seca senão nos annos de grande esterilidade. Fora da praça para a parte do poente há hum Forte com duas guaritas e huma Caza arruinada Cujo muro terá de altura quinze palmos e de largo septe, e junto a este está outro poço aquém faltão as agoas nos mezes de verão". *4 - Em 1762 enumeram-se como "lembranças" de coisas precisas para a praça: dinheiro para os consertos, que podem ser de 400$000, devendo entregar-se ao governador a verba para ele contratar a pessoa que conhecer; artilharia, visto a praça não ter nenhuma artilharia; homens, já que das duas campanhas que foram para a praça, em número de 100, só lá estão 60 e nenhum é capaz de fazer fogo, por serem pobres, e os moradores não têm armas; para guarnecer a praça é preciso pelo menos um batalhão de infantaria e além das tropas que guarnecem o campo da mesma, mais duas companhias de cavalaria dentro da praça à ordem do governador, pois no interior tem cavalariças para 60 cavalos encimadas por quartéis, dividido em dois corpos; um hospital, pois a praça teve um com botica, mas que se "tirou", ficando apenas um sangrador e um médico, pago pelos bens do povo, mas como naquela praça, não são comprados pastos para o gado, não há como pagar-lhes, pelo que eles se despediram, obrigando a levar os doentes a Penamacor, morrendo alguns no caminho; pólvora e balas, conforme foi prometido pelo marechal de campo José Leite de Sousa, devendo as balas de artilharia vir conforme os calibres das peças; reparos, e por constar que em Almeida há reparos sobresselentes ou que ali se podem fazer com grande brevidade, os mesmos poderiam vir para Salvaterra devido a proximidade.

Autor e Data

Paula Noé 2016

Actualização

 
 
 
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