Forte de Santa Luzia

IPA.00003244
Portugal, Portalegre, Elvas, Assunção, Ajuda, Salvador e Santo Ildefonso
 
Forte construído entre 1643 e 1648, no âmbito da guerra da Restauração, com projeto decidido pelo jesuíta holandês João Paschasio Cosmander e pelo engenheiro francês Jean Gilot, depois de vários projetos e de um início de construção conturbado, não seguindo uma escola de fortificação específica, mas introduzindo características inovadoras que o singularizam e que antecipam o sistema definido pelo Conde de Pagan (1645). O forte, construído num outeiro a sul da cidade e que constituía um padastro para a mesma, teve início logo em 1641, pelo governador das Armas da Província Matias de Albuquerque, como reduto com capacidade para albergar 300 homens, sendo pouco depois redesenhado, com planta em estrela, por Sebastião Frias, e novamente alterado, no ano seguinte, para "forte real", com projeto do engenheiro Jeronymo Rozett. O seu traçado polémico e o desacordo entre os engenheiros, leva o rei, em 1643, a formar uma junta composta por Cosmander, João Ballesteros, Lassart e Rozetti, dando a Cosmander e a Jean Gilot o poder decisório. Estes optam por uma "fortificação externa" ou obra avançada da praça, destinada a defender a sua frente sul, a mais vulnerável a um ataque inimigo. Apesar de a construção decorrer em paralelo com a fortificação da cidade e do envolvimento dos mesmos engenheiros, não se optou pelo Primeiro Método Holandês de Fortificação, abdicando-se de uma possível regularidade geométrica em prol da obtenção de maior poderio e funcionalidade militar, associado à necessidade de rapidez na construção causada pela pressão da guerra. Assim, o Forte de Santa Luzia, com traçado abaluartado, foi construído para melhor defender os lados mais propícios a ataques inimigos, com os ângulos de flanco obtusos e a linha de defesa rasante, fazendo um ângulo de 90º com os flancos dos baluartes e sem flancos secundários, nem canhoneiras nas cortinas. A sua defesa seria ainda reforçada, no início do séc. 19, no âmbito das invasões francesas, com várias obras interiores e exteriores. Apresenta planta poligonal irregular, composta por cortinas a formar um retângulo, com quatro baluartes poligonais nos ângulos, contendo no interior e separado por fosso, reduto central retangular, sobreposto pela casa do governador, e exteriormente circundada por fosso, com dois revelins nas frentes mais propícias a ataque, caminho coberto de traçado tenalhado, trincheiras e covas de lobo. Tem paramentos em talude, com grande parte da escarpa exterior formando ressalto, em alvenaria de pedra à fiada e cunhais em cantaria, rematados por cordão e parapeito liso ou em merlões e canhoneiras, integrando no ângulo flanqueado dos baluartes, a meio das cortinas e nos ângulos do recinto central, guaritas prismáticas e quadrangulares, sobre diferentes tipos de mísulas, rematadas por frisos e cornijas e cobertas por falso domo, de quatro panos contracurvos. Na frente norte, os parapeitos, à exceção do flanco nascente do baluarte da Conceição, são muito menos espessos e não têm canhoeiras, inclusive o reduto central, porque, segundo Domingos Bucho, se o forte fosse tomado pelo inimigo, o fogo da cidade destruiria esses parapeitos, impossibilitando a artilharia inimiga defender-se nos merlões. As mesmas características apresentam os flancos norte dos baluartes de Santo António e de São Pedro, o que permitiria apenas ao inimigo disparar a barbeta sobre parapeitos frágeis em direção à praça, conforme justifica o mesmo autor. A porta da magistral abre-se a meio da cortina virada à cidade, em arco de volta perfeita, em silharia almofadada e fendida, ladeada de pilastras toscanas, sustentando entablamento e espaldar recortado, com lápide alusiva à construção e brasão real. É encimada por compartimento quadrangular, de feitura mais tardia, coberto por falso domo, de panos contracurvos, que alberga o mecanismo da antiga ponte levadiça, que a precedia, o qual é acedido por adarve desenvolvido a partir da gola dos baluartes e que corre ao longo da cortina. Na frente oposta, virada a sul, rasga-se poterna, em arco de volta perfeita, com transito em abóbada de berço e portas duplas. O maior reforço militar faz-se nesta frente, por onde se esperava o ataque do inimigo. Assim, os baluartes, para além das canhoneiras, possuem baterias para tiro a barbeta e a gola foi reforçada, no séc. 19, por dois traveses, com canhoneiras acasamatadas, existindo também sobre o reparo da cortina nascente e poente, no ângulo mais a sul, e nesta última, um traves, para defender possíveis brechas causadas pelo inimigo. Ao longo das três frentes mais expostas desenvolvem-se no fosso interior, adossadas ou sob o reparo, as dependências de apoio, de um piso. As dispostas a nascente conservam a casa do forno e quartel, seguindo a tipologia dos construídos na praça, com grande simplicidade e sem recurso à cantaria, com compartimentos individualizados, acedidos por porta retilínea e com fresta para iluminar o interior, que tem cantareira e lareira, marcada exteriormente por chaminé sobre o remate da fachada, paralela à cumieira. O edifício poente albergava as cavalariças, tendo os vãos retos ou abatidos, e no ângulo sudoeste implanta-se, à superfície, um paiol retangular. Os compartimentos sob o reparo sul, do séc. 19, têm abóbada de berço à prova e fachada em talude, terminada em platibanda plena, com portas retilíneas, molduradas a cantaria. O reduto central, mais alto e com comandamento sobre o forte, ergue-se descentrado, avançando mais para norte, de modo a libertar espaço nos terraplenos a sul, e o parapeito do remate dessa frente tem maior número de canhoneiras, duas delas de ângulo, direcionadas para as linhas capitais dos baluartes. Tem acesso sobrelevado a norte, a partir do adarve da magistral, por porta simples, rasgada em corpo avançado, precedido por ponte levadiça. Integra pátio retangular, marcado por arcos sobre pilares, onde se abrem os vão de comunicação aos vários espaços. A sul, a antiga capela de Santa Luzia, existente no outeiro e que foi conservada, com planta retangular e atualmente de eixo longitudinal interno, composta por nave e capela-mor, cobertas por abóbadas de cruzaria de ogivas e de nervuras, respetivamente, tendo a sul vão de ligação a paiol retangular, rebaixado. A poente do pátio ficam as dependências dos soldados, em L irregular, cobertas por abóbadas de aresta, com duas naves, e cozinha, e a nascente, a área dos oficiais, antigo paiol e as comunas, atualmente adaptadas a latrinas individualizadas, com assentos de madeira; nesta frente há ainda túnel de acesso ao terraço do reduto, com plano inclinado para condução das águas pluviais para as caleiras dispostas junto ao parapeito, de abastecimento das duas cisternas existentes a nascente e a poente. No topo do reduto sobressai a casa do governador, construída sobre parte da capela, de planta quadrada, igualmente coberta em terraço, com lanterna quadrangular ao centro, semelhante às guaritas. As fachadas, simétricas, têm maior cuidado decorativo, com trabalhos de massa, de três panos definidos por pilastras, sustentando frisos, cornijas e platibanda plena, formando ao centro arco, contendo vieira sobre os vãos (portas a nascente e poente e janelas de varandim a norte e sul), e tendo nos panos laterais e no remate apainelados. No interior, um corredor em cruz grega estrutura quatro salas, tendo na sua intercessão curiosa escada para o terraço, desenvolvida na vertical, com degraus separados pelo corredor. Este esquema de reduto central sobreposto pela casa do governador, influenciará, na centúria seguinte, na construção do Forte de Nossa Senhora da Graça (v. IPA.00003771). O recinto magistral é circundado por fosso, aberto na rocha, com dois revelins irregulares virados a Espanha, um a sul, em frente da poterna, existindo entre ambos capoeira, e outro a nascente. No alto da contra escarpa do fosso, desenvolve-se caminho coberto, acedido por rampas, composto por sete tenalhas bastante avançadas nas frentes mais expostas, sobretudo a nascente e a sul, onde possui nos ângulos salientes bateria para tiro a barbeta, e tendo ainda a sul e poente sistema de galerias de contramina. Na frente norte, sob a proteção da praça, o caminho coberto possui apenas uma pequena tenalha central, a flanquear a porta do recinto magistral, e uma outra, tipo meio baluarte, a noroeste, por onde se acede ao forte e ao fosso. No início do séc. 19, a defesa foi complementada com a construção de trincheiras de pedra, de perfil curvo, a nascente e a sul, e angulosas a poente, a abertura de covas de lobo na rocha ao longo das estruturas, e a construção de uma galeria subterrânea de comunicação com a praça, integrado um paiol circular, coberto por cúpula. O forte comunicava com a cidade ainda por caminho coberto, construído logo em 1644, desenvolvido em linha reta a partir da porta de acesso ao forte, com parapeitos e banqueta de ambos os lados.
Número IPA Antigo: PT041207030027
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Forte    

Descrição

Fortificação de planta poligonal irregular, composta por recinto magistral retangular, de 161m x 144m, com quatro baluartes poligonais dispostos nos ângulos, denominados, a partir da porta principal, e no sentido dos ponteiros do relógio, por baluarte de Santa Isabel, de Santo António, São Pedro e da Conceição, possuindo no interior reduto central retangular, separados por fosso, e pelas seguintes obras exteriores: o fosso, circundando a fortificação, dois revelins, um a nascente e outro a sul, a flanquear a poterna, denominados, respetivamente, de Badajoz e da Poterna, capoeira, caminho coberto com traçado tenalhado, tendo nos ângulos re-entrantes das frentes nascente e sul trincheiras curvas e, na frente poente, uma angulosa, covas de lobo, esplanada e caminho coberto de ligação à praça. Apresenta paramentos em talude, com a escarpa exterior formando ressalto, em grande parte da sua extensão, em alvenaria de pedra à fiada e cunhais em cantaria, rematados por cordão e parapeito liso ou em merlões e canhoneiras, e com guaritas prismáticas, no ângulo flanqueado dos baluartes, assentes em mísulas com duas bolas, ou quadrangulares, a meio das cortinas e nos ângulos do recinto central, respetivamente, assentes em mísulas quadrangulares, ou formando arco inferiormente, mas todas rasgadas por três frestas de tiro e vão de acesso retilíneo, remate em friso e cornija e cobertas por falso domo, de quatro panos contracurvos, coroados por bola ou pináculo, precedidas de corredor. RECINTO MAGISTRAL: a meio da cortina norte, rasga-se porta magistral, em arco de volta perfeita, em silharia almofadada e fendida, flanqueado por pilastras toscanas, sustentando entablamento e espaldar recortado, definido por cordão, contendo lápide inscrita e brasão real. A porta é sobreposta por compartimento quadrangular, com cobertura em falso domo de quatro panos contracurvos, coroado por pináculo, sobre plinto paralelepipédico. Tem as faces firmadas por pilastras de massa nos cunhais, rematadas em cornija, encimada por acrotérios e espaldar central de volutas. Este compartimento alberga o mecanismo de acionamento da antiga ponte levadiça, com sarilho, e é acedido por portas de verga reta, através de duas rampas laterais, desenvolvidas ao longo da cortina, a partir da gola dos baluartes, permitindo ainda a comunicação com o reduto central por passadiço. Na frente sul abre-se a meio da cortina poterna, em arco de volta perfeita, sobre os pés direitos, moldurado, com transito coberto por abóbada de berço e tendo porta dupla. Transposto o portal entra-se no fosso interior, que circunda o recinto central, com faixas pavimentadas a calçada à portuguesa, a orientar o percurso de visita pelo terrapleno dos baluartes. Na cortina nordeste, sob a rampa do adarve, existe vão abatido, a partir do qual se desenvolve galeria subterrânea, estreita, com pavimento em terra e cobertura toscamente formada por lajes de pedra, dispostas em ângulo, que faz parte de um labirinto subterrâneo que estabelecia ligação com a cidade. Ligado à galeria, existe ainda paiol subterrâneo, de planta circular, de alvenaria de pedra parente, com pavimento em terra e coberto por cúpula. Os baluartes possuem as baterias cimentadas, tendo numa delas uma peça de artilharia, montada em reparo sobre plataforma de madeira, ladeado por estátua de um soldado, e pelo terrapleno dispõe-se vários pelouros. Os baluartes de Santo António e de São Pedro possuem plataforma para tiros a barbeta no ângulo flanqueado, acedida por rampa, e na gola dois traveses, dispostos em ângulo, rasgados por canhoneiras acasamatadas, de vão abatido. Sobre o reparo, junto à escarpa interior e perto dos ângulos, dispõem-se a nascente, poente e a sul traveses perpendiculares à cortina. Ao longo destas três frentes, surgem EDIFÍCIOS, a nascente e poente, adossado à escarpa interior das cortinas, e na frente sul, um adossado e outro sob o próprio reparo. Possuem planta retangular, de um piso, os adossados mais altos que o reparo e com cobertura em telhado de uma ou duas águas, rematada em beirada simples. As fachadas são pintadas de ocre. A ala a nascente é rasgada por vãos retilíneos, sem moldura, correspondendo à casa do forno, e antigos quartéis, tendo a divisão central servido de corpo da guarda. Os quartéis têm módulo regular, com pequenos compartimentos independentes, rasgados por porta e fresta, sobrepostos por chaminé, paralela à cumieira, tendo no interior lareiras e cantareiras. A casa do forno, atual receção e loja, conserva o forno, circular, com cúpula em tijolo, lar em placas cerâmicas e boca quadrangular, moldurado a cantaria. O edifício poente, de perfil posterior curvo, é rasgado irregularmente por vãos retilíneos e de arco abatido, sendo as janelas gradeadas, correspondendo dois compartimentos, um deles bastante amplo, a antigas cavalariças, com manjedouras. O edifício sul sob o reparo, antigas casamatas e atual museu, apresenta a fachada em talude, rematada em platibanda plena, rasgada por vãos moldurados a cantaria, seis de verga reta, de acesso aos compartimentos, e um em arco de volta perfeita, sobre os pés direitos, da poterna. No interior, os compartimentos têm as paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento cerâmico, e cobertura em abóbada de berço, com lareiras e cantareiras, interligando-se atualmente por vãos retilíneos. O corpo adossado ao reparo a sudoeste, de planta retangular e cobertura de duas águas, mais alto que os outros edifícios, corresponde a antigo paiol, com porta de verga reta moldurada, possuindo dois arcos de reforço até à escarpa do reduto central. O REDUTO CENTRAL, mais alto e com comandamento sobre o forte, tem igualmente paramentos em talude, rematadas em cordão e parapeito liso, na frente norte, mas rasgada a nordeste por 4 frestas de tiro, e em merlões e canhoneiras, nas restantes frentes, que são mais espessas. Apresenta cobertura em terraço, de ligeiro pendor, sobre parte da qual se desenvolve a casa do governador e integra a norte pequeno pátio retangular, no enfiamento da porta, delimitado por guarda em ferro. A meio da cortina norte, e ao nível do adarve da magistral, tem corpo retangular saliente, rasgado por porta de verga reta, encimado por duas frestas de tiro e lápide inscrita, precedida por passadiço fixo. O transito da porta, enviusado, acede ao pátio, com fachada sul de pois pavimentos, o superior correspondendo à casa do governador, e o inferior rasgado por porta de acesso à capela entre duas janelas, de verga reta, molduradas e gradeadas. As restantes fachadas têm estrutura semelhante, com algumas variações; a nascente e poente são reforçadas por arcos de volta perfeita sobre pilares, e rasgadas por janelas de peitoril, molduradas e gradeadas, e porta central; na fachada nascente ao centro possui túnel em L de ligação ao terraço; a norte existe arco sobre pilares, enquadrando o portal, e, lateralmente, dois arcos mais estreitos, encimados por friso de cantaria sobre mísula. INTERIOR: a sul dispõe-se a capela de Santa Luzia, de planta retangular e eixo interior longitudinal, composta por nave e capela-mor. Apresenta as paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento cerâmico e cobertura em abóbada de cruzaria de ogivas, na nave, com com os arcos e mísulas sublinhados a ocre. Na parede fundeira, existe a marcação do antigo portal, em arco apontado, ladeado por dois nichos modernos, com imaginária. Arco triunfal boleado, encimado por friso almofadado e com pequenos motivos vegetalistas, e no intradorso formando apainelados de estuque, branco e ocre. Capela-mor pouco profunda coberta por abóbada de nervuras, sublinhadas a ocre. Na parede testeira, possui amplo arco, pouco profundo, para albergar o retábulo, e encosta-se altar e falso banco, em alvenaria rebocada e pintada de branco, com motivos decorativos de estuques, a ocre; o altar, tipo urna, tem o frontal decorado de apainelados e elementos vegetalistas. Na parede da nave, do lado do Evangelho, abre-se vão, em arco abatido, com escadas de acesso ao paiol, a uma cota muito mais baixa, com planta retangular e estrangulamento a meio, tendo cada um dos setores seccionado por arco diafragma; é coberto por abóbada de berço, com orifício circular de ventilação, com boca ao nível do terraço do reduto. As dependências a poente do pátio, do antigo corpo da guarda, possuem duas naves, cobertas por abóbada de aresta e cozinha, com lareira, sobreposta por chaminé quadrangular, ao nível do terraço. A nascente do pátio existe compartimento para os oficiais, um antigo paiol e as comunas ou latrinas, com quatro compartimentos individualizadas, acedidos por porta de verga reta, precedido de corredor, coberto com abóbada de berço, e tendo assento de madeira, com buraco circular e recorte frontal, encimados por fresta de tiro. No terraço da cobertura existem caleiras, ao longo dos parapeitos, para recolha das águas pluviais e respetiva canalização para as duas cisternas, a disposta a poente com planta irregular e boca junto ao parapeito, e a disposta a nascente de planta retangular com os ângulos facetados, tendo a boca junto às escadas para o pátio; ambas as cisternas têm cobertura em abóbada de berço. A CASA DO GOVERNADOR tem planta quadrada, desenvolvida sobre soco mais largo, criando faixas a nascente e a poente, por onde se faz o acesso. Tem cobertura plana em terraço, sobreposta por lanterna quadrangular, de cunhais bastante salientes, sustentando friso e cornija, coberta em falso domo de quatro panos contracurvos, coroado por bola; cada uma das faces é rasgada por duas frestas. As fachadas são rebocadas e pintadas de ocre, de três panos, definidos por pilastras de massa, sustentando o remate em frisos e cornijas, alteada ao centro, e platibanda plena, delimitando a cobertura. Em cada uma das faces, rasga-se ao centro, vão retilíneo, com moldura de massa recortada, encimado por vieira, correspondendo a portais a nascente e poente, e a janelas de varandim, a norte e a sul; nos panos laterais e na platibanda tem apainelados relevados. INTERIOR com corredor em cruz grega, enquadrando quatro salas, tendo ao centro pequeno espaço retangular, com circulação de norte para sul, integrando escada de comunicação com o terraço e a lanterna, desenvolvidas na vertical, em que cada um dos degraus surge separadamente em dois lados do retângulo. As salas têm lareira e alta cantareira e são cobertas por abóbada de aresta. Na frente poente, o murete que delimita a faixa que precede o portal, é rasgado por janela jacente, de iluminação da capela-mor. OBRAS EXTERIORES: o recinto magistral é circundado por FOSSO, aberto na rocha, comportando dois REVELINS irregulares, dispostos à frente da cortina nascente e sul, tendo acesso na gola, por lanço de escadas; a sul, entre a poterna e o revelim existe capoeira. Percorrendo o perímetro exterior do fosso e no alto da contra escarpa do mesmo, desenvolve-se o CAMINHO COBERTO, de traçado tenalhado, composto por oito tenalhas, a do meio da frente norte e a frontal à cortina poente de pequenas dimensões, e com pequeno meio baluarte a noroeste, por onde se faz o acesso ao fosso, por portal convexo, em arco abatido, sobre pilastras e com fecho saliente, rematado por cordão e platibanda plena. O transito curvo, coberto por abóbada de berço abatido, tem, de ambos os lados, porta de verga reta para os compartimentos. O caminho coberto é acedido por rampas e protegido por um reparo que servia de parapeito, possuindo nos ângulos salientes das frentes nascente e sul bateria para tiro a barbeta; na frente sul e poente, vão em arco abatido acede a galerias de contramina, interiormente de alto pé direito, coberto por abóbada de berço, em tijolo maciço colocado a cutelo. Nos ângulos re-entrantes do caminho coberto da frente nascente e sul surgem duas TRINCHEIRAS, de perfil curvo e, na frente poente, duas outras de perfil angular. As estruturas são ainda circundadas, à exceção do troço a noroeste, por três fiadas de COVAS DE LOBO, abertas na rocha. Entre o meio baluarte a a tenalha noroeste, desenvolve-se CAMINHO COBERTO de comunicação com a Praça de Elvas, em linha reta, atualmente interrompido pela estrada nacional, com cerca de 10m de largura, guarnecido por parapeitos e banqueta de ambos os lados, terminando na esplanada, em frente do baluarte da Parada ou da Praça de Armas.

Acessos

Assunção, Outeiro de Santa Luzia; Avenida de Badajoz; EN 4. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,873000; long.: -7,158487

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 30 762, DG, 1.ª série, n.º 225 de 26 setembro 1940 (muralhas e obras anexas) / MN - Monumento Nacional / ZEP, Aviso n.º 1517/2013, DR, 2.ª série, n.º 242 de 13 dezembro 2013 / Património Mundial - UNESCO, 2012

Enquadramento

Rural, isolado, sobre um pequeno outeiro, em zona de fronteira terrestre e em posição estratégica em frente de Badajoz. Implanta-se a cerca de 400m a sul da cidade, envolvida por fortificação (v. IPA.00035956), e com a qual se interliga por caminho coberto, pontuado de árvores até á estrada nacional. Na frente norte, virada à cidade, existe plataforma inferior com parque de estacionamento. O reparo da cortina da frente poente e o terrapleno do baluarte da Conceição encontram-se pontuados de árvores. Para poente do forte desenvolve-se o bairro moderno de Santa Luzia e, a cerca de 200m para sudeste, ergue-se o Fortim de São Mamede (v. IPA.00035778). A esplanada do forte é envolvida por terrenos agrícolas.

Descrição Complementar

Sobre a porta principal existe lápide com a inscrição: "B. LVCIAE TVTELA INEXPVGNAB. ARX / FREMENTIS CASTELLAE FRAENVM / LVSIT. LIBERT. SVB SEREN. REGE JOANNE IV. / LAVRE ATVM ET PALMARE TROPHAEVM / ARMIPOST MAZ. MARTALPH. DE MELLO / COMITE. S. LAVRENT. PERFECTA. AN. 1648". A tradução da inscrição é: "Com a proteção da bem-aventurada Luzia, a inexpugnável fortaleza ludibriou a cavalaria da furiosa Castela. Liberdade sob o Sereníssimo Rei João IV. Troféu de louro e palma sob o supremo comandante militar Martim Afonso de Mello, conde de São Lourenço. Concluída no ano de 1648". Sobre a porta de acesso ao reduto central, existe lápide com a inscrição: "O EXMO SNR CONSELHEIRO / ANTONIO MARIA DE FONTES PEREIRA DE MELLO / PRESIDENTE DO CONSELHO DE MINISTROS E MINISTRO / E SECRETÁRIO DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA GUERRA / E O / EXMº SNR CONSELHEIRO JERONYMO DA SILVA / MALDONADO D' EÇA GENERAL COMMANDANTE DESTA / DIVISÃO VIZITARAM ESTE FORTE NO DIA / 31 DE MAIO DE 1874".

Utilização Inicial

Militar: forte

Utilização Actual

Cultural e recreativa: museu

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Câmara Municipal de Elvas, auto de cessão de 16 fevereiro 1976

Época Construção

Séc. 17 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIROS: Anselmo Costa (1965), António Serra (1985-1986), Odilom Martins Garcia (1961-1964). ENGENHEIROS MILITARES: Charles Lassart (1642-1643), Jean Gilot (1643), Jeronymo Rozetti (1642-1643), João Ballesteros (1643), Rui Correia Lucas (1643). INDETERMINADO: Diogo Gomes de Figueiredo (1644), Sebastião Frias (1641). PROJETISTA: João Paschasio Cosmander (1643).

Cronologia

Séc. 16, início - construção de capela com orago de Nossa Senhora da Esperança, pelo Bispo de Safim, D. João Subtil, originário de uma família de Elvas, no outeiro onde atualmente se ergue o forte, tendo inicialmente capelão e missa; séc. 17, início - a capela já tem orago de Santa Luzia; a imagem de Nossa Senhora da Esperança é transladada para a Igreja da Madalena (depois Igreja de Nossa Senhora das Dores); 1640, 01 dezembro - declaração da independência de Portugal face a Espanha; 1641 - manda-se cortar todas as árvores em volta do outeiro para não embaraçarem a defesa e Matias de Albuquerque, governador das Armas da Província do Alentejo, abre "minas" para a construção de um reduto, "capaz de trezentos soldados"; Sebastião Frias redefine o seu traçado para ter a "forma de estrela"; agosto - é governador das Armas do Alentejo Martim Afonso de Melo, Conde de São Lourenço, o qual chega a escrever a D. João IV a queixar-se da paralisação das obras por não haver engenheiros capazes de levantar a muralha; outubro - a obra já está adiantada, sendo D. Diogo de Menezes encarregue de a defender; nomeação de Manuel Godinho Castelo Branco como governados do forte; o fosso é aberto em rocha viva com a ajuda de pólvora; não estando ainda concluído, é considerado inútil por ser demasiado pequeno para bater as zonas de cota mais baixa à volta do padrastro; 1642, 01 março - início da construção de um "forte real", ou seja, em que a linha de defesa tinha o alcance eficaz do tiro de mosquete (cerca de 220m), com projeto do engenheiro Jeronymo Rozetti, que origina alguma polémica; em redor da obra constrói-se um muro para evitar o seu bombardeamento; Charles Lassart, engenheiro-mor do reino, visita o local e manifesta discordância com o projeto adotado, considerando-o irregular e com uma geometria desadequada; 1643, início - chega a Elvas Jan Ciermans, em Portugal conhecido como João Paschasio Cosmander (1602-1648), bem como vários especialistas em fortificação, como Rui Correia Lucas, Philipe Guitau, João Ballesteros e Jean Gilot; o rei manda formar uma junta composta por Cosmander, João Ballesteros, Lassart e Rozetti, subordinada ao Conselho de Guerra, para estudar o melhor traçado da fortificação, que continua "parada" por desacordo entre os engenheiros; concede-se a Cosmander e a Jean Gilot o poder decisório sobre o projeto, acabando por se adotar uma "fortificação externa", ou seja, mais pequena do que o pretendido "forte real", mas com a mesma potência, e sem os perigos deste, sendo a face virada à vila passível de fácil destruição caso fosse ocupado pelo inimigo; D. João IV demite Manuel Godinho Castelo Branco de governador do forte, dando-lhe o cargo de capitão-mor de Tavira; 01 abril - lançamento e bênção da primeira pedra da nova fortificação, pelo bispo D. Manuel da Cunha, com a presença do governador general Martim Afonso de Melo, dos mestres de campo D. João da Costa, D. João de Sousa e outros "ministros da milicia", nobreza e povo da cidade; Rui Correia Lucas imprime grande dinâmica nas obras do forte; decide-se conservar a capela do outeiro, mas transfere-se o acesso do portal axial, que é entaipado, para uma fachada lateral, passando, em períodos de guerra, a funcionar como armazém; 1644 - o forte já se encontra em estado de defesa, ainda que inacabado, resistindo ao cerco do Marquês de Torrecusa, no âmbito da Guerra da Restauração (1640-1668), batendo, com a sua artilharia, o reduto montado pelo inimigo no outeiro do Casarão; após o inimigo retirar, procede-se à ligação do forte à praça por caminho coberto, sob a responsabilidade de Diogo Gomes de Figueiredo; 1648 - data inscrita na lápide sobre a porta da magistral, assinalando a conclusão da obra; 12 julho - carta de Langres ao rei referindo "tenho seruido há perto de hum anno na continuação das obras de fortificação de Santa Luzia Eluas e Campo Maior com toda a satisfação", solicitando então o cargo de tenente de mestre de campo general com os mesmos soldos que tem o quartel mestre João Gillot; pouco depois, o pedido de Langres é aceite; Martim Afonso de Melo, Conde de São Lourenço, acha que o forte não precisa de governador, já que a cidade e o forte eram uma única fortificação e estavam ligados por caminho coberto; 1649, 02 abril - Conselho de Guerra nomeia novo governador do forte, em "homenagem", o sargento-mor João de Amorim; 1655 - após Amorim abandonar o cargo de governador, o Conselho de Guerra considera bastar um governador para a cidade e para o forte; 1657 - o Conselho de Guerra volta a mudar de opinião e a nomear um governador só para o forte; 1658, 15 outubro - 1659, 13 janeiro - D. Luís de Haro, com um exército de 14.000 homens e 5.000 cavaleiros, cerca Elvas; 1659, 14 janeiro - vitória dos portugueses na Batalha das Linhas de Elvas; 1661, cerca - data da planta do forte, inserida no livro de Nicolau de Langres, a mais antiga de que se tem conhecimento; 1663 - existem no forte 2 meios canhões de calibre 24, 2 peças de 1/3 de canhão de calibre 1, 3 peças suecas de calibre 9, 1 peça de ¼ de canhão de calibre 10 e um sacre de calibre 7; 1706, 14 abril - tropas castelhanas e francesas atacam Elvas, no âmbito da Guerra da Sucessão de Espanha (1704-1712); 1708 - segundo o P. António Carvalho da Costa, a "Hum tiro de mosquete fóra dos muros para o Nascente está o grande forte de Santa Luzia (obra das mais soberbas, & regulares, quanto à arquitetura militar, que tem Europa, feita por Cosmandel) com que se faz inconquistavel a Cidade"; 1712 - forte resiste ao cerco do marquês de Bay, batendo com a sua artilharia, os trabucos que os espanhóis assentaram na vereda que ia para o "Poço das Escadas"; 1716 - a partir desta data, em tempos de paz os capelães militares da cidade ou do próprio do forte, quando os havia, dizem missa na capela para os militares aquartelados e para os prisioneiros; 1763 - o forte tem 16 bocas de fogo de bronze e quatro de ferro; séc. 18, 2.ª metade - planta da Praça de Elvas e do Forte de Santa Luzia, da autoria de Guilherme Frederico Westernacher *1; séc. 18, finais - 1814 - construção das covas de lobo, das trincheiras, galerias, barbetas, traveses e das casernas do fosso sul; 1801 - no âmbito da Guerra das Laranjas, as tropas de Miguel Gody intimidam a rendição da praça; 1802, 17 maio - projeto de canhoneira acasamatada para o baluarte de São Pedro, da autoria de Francisco D'Alincourt; 1805 - o forte passa a ser considerado como bateria da praça, extinguindo-se o governo de Santa Luzia; 1807, 01 dezembro - no âmbito das Guerras Peninsulares (1807-1811), o exército de cerca de 9.500 homens, comandado pelo general Francisco Solano, capitão-general da Andaluzia, entra em Elvas, sendo o forte ocupado por tropas espanholas; 1808 - as tropas francesas substituem as espanholas, por quebra da aliança, e, posteriormente, tropas inglesas obrigam os franceses a retirar, conforme se estabelecera na Convenção de Sintra; 1811 - construção de dois traveses e de sete espaldões, passando os que fecham as golas dos baluartes a ter uma canhoneira abobadada; 1828 - 1834 - durante a guerra civil, entre os liberais e absolutistas, e nas revoltas que se seguiram até 1851, o forte passa a funcionar como prisão; 1833, maio - planta da praça de Elvas e do forte com indicação dos limites das respetivas esplanadas, as quais são delimitadas por marcos, conforme o rei ordenara; as esplanadas do forte já estavam marcadas, não tendo sido alteradas, à exceção de se colocarem sete marcos em falta e de todos serem eles numerados; 1834, 31 maio - visita do ministro António de Fontes Pereira de Mello e do conselheiro Jerónimo da Silva Maldonado D' Eça; 1854 - no âmbito de um surto de cólera em Badajoz, estabelece-se um lazareto no forte; 1860 - a capela encerra ao culto; 1874 - o armamento do forte é composto por 8 obuses, 4 peças de alma lisa, sendo 4 de calibre 11, 7 de calibre 10, 8 de calibre 9 e 6 de calibre 7; a sua guarnição compõe-se de 370 homens de infantaria, 166 de artilharia, 52 mineiros e 20 de almoxarifado e guarda de armazém, totalizando 608; 1883 - requerimento de Miguel do Espírito Santo Alves e sua mulher para explorar uma mina ou depósito de dinheiro, existente na escarpa do forte, junto ao vértice do ângulo e a 0,4m de altura acima do solo, onde existe uma pedra calcária distinta e com a gravação "?"; 03 abril - 4.ª Repartição do Ministério da Guerra concede autorização a Miguel do Espírito Santo Alves para fazer as devidas pesquisas para procurar o tesouro; não se tendo encontrado nada, determina-se a reposição das pedras nas mesmas condições em que haviam sido arrancadas da escarpa; 1884, 30 abril - orçamento do tenente José Dias Moreira e Sangue, para obras de reparação na cavalariça, ponte levadiça e portão no forte e caiação no alojamento do comandante do mesmo, no valor 110$000, executado por operários paisanos e, em 74$102, quando por militares, meio este que não pode ser empregue, por não haver na localidade pessoal disponível para sua execução; a caiação seria a amarelo; a cavalariça precisava ser reparada para não cair em completa ruína; 1884 - 1890 - aqui se estabelece um lazareto para observação e isolamento de doentes suspeitos de cólera; 1892 - abandono da capela do forte, transferindo-se as suas imagens e alfaias para a Igreja de São João de Deus; 1911, 20 janeiro - cedência provisória de uma parte do prédio militar à Comissão Administrativa do Município, para ser utilizado "como naqueles anos" *2; 1919, 07 maio - Ministro da Guerra determina que seja considerado caduco o termo de concessão provisória das dependências do forte à Câmara, em janeiro de 1911; 1940, 31 dezembro - avaliação do forte em 2.500.000$00; o Tombo descreve-o como obra abaluartada com reduto central, fosso e esplanada a sul da praça de Elvas e a cerca de 300m da mesma; está ligado à praça por uma estrada de serventia própria; o forte tem a área de 35.200m2 e a esplanada de 10.000m2; o fosso e as esplanadas estão arrendadas; a área coberta pelo forte é de 18.000m2 e a área coberta pela residência do governador é de 100m2; 1945, 28 janeiro - ofício da Casa do Povo de Elvas pedindo a cedência do forte; 20 março - parecer da Direção da Arma de Engenharia, Serviço de Fortificações e Obras Militares, não aprova a cedência definitiva do forte, mas somente o empréstimo, visto fazer parte integrante da praça, e mediante certas condições; 09 abril - não estando ainda estudado o problema das instalações militares na cidade de Elvas, não é autorizada a cedência de qualquer prédio militar na mesma localidade; neste ano morre o último governador do forte, o tenente Santana e Silva; 1948 - durante o inverno, dá-se uma crise na região originando a falta de alojamento das famílias mais pobres e numerosas, procurando-se remediar a solução por permitir a mais de 30 famílias sem alojamento, a título provisório, aproveitando a concessão que lhe dá a alínea a) do art. 5.º do Cap. III da Zona de Fortificações, O. E. n.º 8, 1.ª série, p. 75 de 1902, proceder à construção de 34 pequenas barracas em colmo, na esplanada do forte, local isolado e longe das vistas; 1949 - instalação de dois postos de ferro na esplanada, na parte correspondente ao novo Bairro de Santa Luzia, pela empresa Hidro-Elétrica Alto Alentejana; 1959 - a Câmara pensa instalar no forte a GNR o que, em princípio, não interessa à Guarda por necessitar de obras muito dispendiosas; 1962 - só existem 12 barracas na esplanada, dado terem-se demolido as desnecessárias; os alojamentos primitivos para a guarnição militar encontram-se quase completamente demolidos; apenas sob o terrapleno sul existem 6 casamatas iguais, com as dimensões de 16x3, ou seja, 48m2, cada uma, onde poderiam ser alojados as 150 praças; sob o mesmo terrapleno, existe também uma dependência com 64m2 que poderia servir de arrecadação de material; sobre o reduto central existe a residência do governador, composta por quatro compartimentos, sendo de toda a fortificação a que se encontra em melhor estado; o forte tem ainda outras dependências, mas todas em mau estado, exceto a capela; 1967, 23 novembro - Decreto-lei n.º 48.059 autoriza a devolução e cessão simultânea do forte, a título precário e gratuito, à Câmara Municipal de Elvas, para aí ser instalado um albergue de juventude e museu arqueológico; 1970, julho - Francisco da Conceição Coutinho passa a servir de guarda, com direito a habitar algumas dependências, mas sem qualquer renumeração *3; 1972, 07 novembro - o Presidente da Câmara, Joaquim da Piedade Abreu, solicita ao Governador Civil do Distrito a desafetação do forte ao Ministério da Defesa Nacional, na sequência do qual seria possível proceder a obras de beneficiações, restauro e conservação, integrando-o, "s/ recuo", no roteiro turístico da cidade, como um dos mais valiosos mióticos de atração turística; 21 novembro - segundo parecer do general Comandante da Região Militar de Elvas, o forte "encontra-se em muito mau estado e não valer a pena fazer qualquer obra que seja para residências ou alojamento eventual de qualquer Força Militar; ficara mais económico construir de novo (com água, luz, esgotos, etc.)"; "sendo uma antiga obra militar de valor artístico e considerando deixá-la ao abandono, parece ser ação meritória, aproveitar a cedência para obter uma contrapartida"; 1973, 15 junho - Ministério do Exército concorda com a devolução do forte ao Ministério das Finanças para ulterior cedência à Câmara; no processo de cedência consta que o estudo das obras de adaptação deverão ser previamente aprovadas pela Direção-Geral dos Assuntos Culturais e que quaisquer obras devam ser orientadas pela DGEMN, visto ser um imóvel classificado; 20 outubro - despacho encarrega a Direção dos Serviços dos Monumentos de estudo a adaptação do forte a pousada; o estudo é elaborado pelo arquiteto Carlos Calvet da Costa; 1974, 15 novembro - ofício informa ter sido momentaneamente determinada a suspensão do estudo de adaptação do forte a pousada, por não ser considerada prioritária; 1976, 16 fevereiro - auto de devolução do forte pelo Ministério do Exército ao Ministério das Finanças e, simultaneamente, cedido, a título precário e gratuito, à Câmara Municipal de Elvas; 02 novembro - ofício ao governador da praça de Elvas para se proceder ao embargo de um muro que o capitão João José d'Alcântara estava a construir no rocio, entre o forte e as portas de Olivença, atingindo em alguns pontos um metro de altura, para impedir que o gado, que transita pela estrada, danificasse as suas searas junto ao forte e confinando com as suas esplanadas; 1978, junho - ocupação da sua primeira cintura de muralhas, do lado da entrada, por grande grupo de ciganos, instalados em barracas de lonas, envolvidos por detritos de toda a ordem; 14 novembro - segundo o inspetor interino M. C. da Cruz e Costa, considera-se que estas construções, pela sua forma tosca, que permite grande facilidade de demolição, não apresenta alguma importância e não prejudicavam a defesa da praça; João José d'Alcântara solicita o levantamento do embargo à construção dos muros de pedra solta que construíra; 1990, 26 junho - manda-se que seja entregue provisoriamente à autoridade administrativa da cidade de Elvas a parte do forte e respetivos utensílios onde, em 1884, se estabelecera um lazareto, devendo tudo ser restituído ao Ministério; 1999, abril - abrangido pelo Concurso Público de Ideias, para a Salvaguarda e Valorização do Património do Estado, afeto à Defesa Nacional, na cidade de Elvas, lançado pela Direcção-Geral de Infraestruturas do Ministério da Defesa Nacional; 2001, 18 novembro - inauguração do museu militar e abertura do forte ao público.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra disposta à fiada e argamassa de cal, ou rebocada e pintada; portais, molduras dos vãos, cordão e mísulas em cantaria; guaritas em tijolo maciço, argamassado e rebocado; parapeitos e canhoeiras em alvenaria de tijolo, com formigão de terra e cal; terraplenos em terra e pedra; abóbadas à prova, em tijolo maciço; pavimentos cerâmicos nas dependências e nos terraços; lápides e brasão em mármore; portas, caixilharia e cobertura de algumas dependências em madeira; decoração em estuque na capela; cobertura exterior dos edifícios adossados ao reparo em telha.

Bibliografia

AA.VV - Fortificações de Elvas. Proposta para a sua inscrição na lista do Património Mundial. Elvas (Portugal): texto policopiado, 2008; ALMEIDA, João de - Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses. Lisboa: J. Almeida, 1946; BUCHO, Domingos - Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações. Lisboa: Edições Colibri; Câmara Municipal de Elvas, 2013; BUCHO, Domingos - Métodos e Escolas de fortificação abaluartada em Elvas. Lisboa: Colibri, 2010; CARVALHO, Manuel - «Forte em Elvas é morada para famílias sem casa». In Diário de Noticias. 23 maio 1991, p. 26; CONDE DE ERICEIRA, Conde de - História de Portugal Restaurado. Porto: Livraria Civilização, 1946; COSTA, P. António Carvalho da - Corografia Portugueza. Lisboa: Officina de Valentim da Costa Deslandes, 1708, tomo 2; GAMA, Eurico - Elvas: Rainha da Fronteira. Elvas: Tipografia Guerra, 1986; KEIL, Luís - Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Portalegre. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1943, vol. 1; JESUÍNO, Rui - Elvas - Histórias do Património. s.l.: Rui Jesuíno; Booksfactory, 2016; MATTOS, Gastão de Mello de - Nicolau de Langres e a sua obra em Portugal. Lisboa: Comissão de História Militar, 1941, IV volume comemorativo do centenário da Restauração; MORGADO, Amílcar F. - Elvas - Praça de Guerra (Arquitectura Militar). Elvas: Câmara Municipal de Elvas, 1993; MOREIRA, Rafael - “Do rigor teórico à urgência prática: a arquitectura militar». In História da Arte em Portugal. Lisboa: Publicações Alfa, 1986, vol. 8; MARINHO, Alberto de Oliveira - A Gloriosa Batalha das Linhas de Elvas. Elvas: Câmara Municipal de Elvas, 1991; PRAZERES, Tiago Miguel Castanho - O Forte de Nossa Senhora da Graça. Arte e Regra do Desenho. Dissertação de Mestrado em Arquitectura apresentada à Faculdade de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, julho 2016, texto policopiado; RODRIGUES, Jorge e PEREIRA, Mário - Elvas. Lisboa: Editorial Presença, 1996; SELVAGEM, Carlos - Portugal Militar. Lisboa: 1994; VALLA, Margarida - «A praça-forte de Elvas: a cidade e o território». In Monumentos. Lisboa: Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, n.º 28, dezembro 2008, pp. 34-43; VALADAS, Jorge Faro - A Batalha das Linhas de Elvas. Elvas: Câmara Municipal de Elvas, 1954; VARELA, Aires - Sucessos que ouve nas fronteiras de Elvas, Olivença, Campo Maior e Ouguella, o primeiro anno da Recuperação de Portugal, que começou em 1.º de Dezembro de 1640 e fez fim em o ultimo de Novembro de 1641. Elvas: Typ. Progresso, 1901 (1.ª ed. 1641).

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN/DREMSul/DM; Direção de Infraestruturas do Exército: Direção de Infraestruturas do Exército: GEAEM, SIDCarta, Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 047/Elvas - Forte de Santa Luzia; Câmara Municipal de Elvas

Documentação Fotográfica

DGPC: SIPA, DGEMN/DREMSul/DM, DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID (PT DGEMN:DSID-001/012-1751/2, PT DGEMN:DSID-001/012-1751/1), DGEMN:DSARH (PT DGEMN:DSARH-010/087-0122, PT DGEMN:DSARH-010/087-0005, Pt DGEMN:DSARH-011/087-0319/0007, PT DGEMN:DSARH-010/087-0003, PT DGEMN:DSARH-010/087-0004); Direção de Infraestruturas do Exército: Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 047/Elvas - Forte de Santa Luzia; Câmara Municipal de Elvas

Intervenção Realizada

DGEMN: 1961 - obras de conservação pelo empreiteiro Odilom Martins Garcia: construção em alvenaria hidráulica em elevação em dois paramentos, de acordo com o existente, picagem, emboco, reboco e guarnecer com massa fina de areia, caiação à esponja, reparação de três guaritas e construção de uma outra, em alvenaria, de acordo com as existentes, construção de mísulas de cantaria para apoio das guaritas, conservação da parte superior de uma guarita, reconstrução da cobertura em terraço da casa do governador; 1962 - obras de conservação pelo empreiteiro Odilom Martins Garcia, com demolição de alvenaria, compreendendo limpeza, demolição de pavimento de tijoleira e vigamento de madeira, construção de alvenaria hidráulica em muralhas, empregando pedra rija e argamassa de cimento, para consolidação de diversos troços, reconstrução de mais três guaritas de alvenaria, de acordo com as existentes, e fornecimento e assentamento de mísulas de cantaria para as mesmas, também de acordo com as existentes, picar, embocar, rebocar e guarnecer com massa fina de areia, caiação à esponja, construção e assentamento de portas de madeira de casquinha e de caixilhos, ferragens, vidros e pintura na casa do governador e na igreja, demolição de uma parede e um pavimento, construídos posteriormente no interior da igreja, reconstrução dos rebocos exteriores da casa do governador e no acesso à mesma; 1963 - prosseguimento dos trabalhos de reintegração pelo empreiteiro Odilom Martins Garcia, com reconstrução dos rebocos no interior da casa do governador, igreja e várias dependências, abertura das janelas que se encontram entaipadas na casa do governador e tapamento de vãos nesta zona, que prejudicam a traça do edifício, reparação de troços de muralha, compreendendo limpeza de ervas e o refechamento de juntas, consolidações com alvenaria hidráulica, reconstrução da porta de entrada, com aproveitamento das ferragens e algumas peças de madeira, e respetiva pintura; 1964 - obras de conservação pelo empreiteiro Odilom Martins Garcia, com reconstrução dos rebocos em ruína em dois lados da muralha abaluartada do corpo central e ainda uma cortina de muralha, fornecimento e assentamento de grades de ferro em duas janelas de varandim da casa do governador, caiação das paredes exteriores da casa do governador, pintura das caixilharias na mesma, reconstrução de muralhas, compreendendo a construção de alvenaria hidráulica, construção de quatro guaritas no corpo central, reparação de muralha junto às canhoneiras do corpo central, com limpeza de ervas e refechamento de juntas; 1965 - obras de conservação e restauro pelo empreiteiro Anselmo Costa, com reconstrução dos rebocos, nos lados sul, poente e cortinas, junto à casa do governador, construção de uma guarita que falta reconstruir no troço de muralha acima referido e reparação e conclusão do restauro de outra guarita no mesmo troço, construção de alvenaria hidráulica, em tapamento de rombos, em diversos locais, reparação de panos de muralha, compreendendo o arranque de ervas e refechamento de juntas, caiação em paredes exteriores do edifício central; 1985 - obras de recuperação, pelo empreiteiro António Serra, com construção de alvenaria hidráulica em elevação para tapamento de rombos existentes em panos de muralha, reparação de panos de muralha, compreendendo o arranque de ervas e refechamento das juntas das pedras com argamassa de cimento, cal e areia, reparação de uma guarita, compreendendo reconstrução de rebocos e caiação, reparação do telhado da casa do governador, compreendendo o arranque de ervas, desentupimento de caleiras e gárgulas e a substituição de telhas partidas, caiação das paredes e pintura de portas e caixilharia da casa do governador, reconstrução de rebocos em panos de muralha, reparação e pintura da porta de entrada; 1986 - obras de recuperação nas construções a recuperar (1º piso), pelo empreiteiro António Serra, com execução de betão armado em cintas de travação, no coroamento das paredes, para travação e apoio do novo telhado, construção de alvenarias hidráulicas de pedra e tijolo, para consolidação e tapamento de rombos em paredes, construção de esteira de telhados, empregando vigotas de betão pré-esforçado e lajetas cerâmicas, construção de telhados, empregando telhas românicas em canais e telhas portuguesas em coberturas, totalmente argamassadas, construção de massame de betão pobre na cobertura do forno, fornecimento e assentamento de pavimento de tijoleira prensada, tipo regional, pintura com tinta de óleo das portas e caixilhos e caiação com três demãos de cal na fachada das mesmas dependências; CMElvas: 1999 / 2000 - obras de restauro e conservação do forte; elaboração de projeto museológico para instalação de museu militar, em colaboração com o Museu Militar de Lisboa.

Observações

*1 - Nesta planta de Guilherme Frederico Westernacher, é representando no fosso interior, adossado ao reparo da magistral, três quartéis, um a nascente, um a poente, e um outro mais pequeno a sul (posteriormente adaptado a paiol); no recinto central um corpo da guarda, em L, à direita do pátio, e um armazém de pólvora e as comunas à esquerda do mesmo; no baluarte de Santa Isabel e no caminho coberto em frente do baluarte de São Pedro e da tenalha da cortina poente existiam contraminas (Direção de Infraestruturas do Exército, GEAEM, SIDCarta, cota: 1703-1A-14-19). *2 - A cedência da parte do forte, onde em 1884 e 1890 fora estabelecido o lazareto, estava sujeita às seguintes condições: 1) as despesas de preparação e adaptação desta parte do forte ao fim para que era cedido seriam feitas por conta do Ministério do Interior; 2) esta parte do forte seria restituído ao Ministério da Guerra logo que cessassem as causas que determinaram esta concessão; 3) ficavam dependentes da aprovação do Ministério da Guerra quaisquer obras cuja necessidade se reconhecesse e que não fossem de simples preparação ou adaptação da parte cedida para o fim indicado. *3 - Passados dois anos, a 8 de janeiro de 1972, o guarda entrega no Quartel General da 3ª Divisão da Região Militar uma carta endereçada ao Diretor-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais a solicitar ser nomeado guarda do forte com renumeração, visto ser do chefe de família com nove filhos. Como o assunto não era da sua competência, a DGEMN, a 26 de janeiro, remete a carta à Direção-Geral da Fazenda Pública, mas não houve qualquer resposta, pois, em 1973, Francisco da Conceição volta a fazer a mesma solicitação, desta vez à Câmara Municipal.

Autor e Data

Paula Noé 2018

Actualização

 
 
 
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