Monumentos 26: Centro Histórico de Évora
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Dossiê: Centro Histórico de Évora
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Abril 2007, 24x32cm., 256 pp. (<2Kg.)
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O urbanismo de Évora no período medieval
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Hermínia Vilar e Hermenegildo Fernandes
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Nada mais banal e ao mesmo tempo mais verdadeiro do que ver no urbanismo de uma cidade como Évora uma sucessiva re-escrita, um palimpsesto em que os textos anteriores foram sucessivamente apagados para dar lugar às últimas leituras, não sem deixarem de si traços a permitirem propostas de decifração. A cidade é assim ela própria estratigrafia. E os estratos mais antigos são, pelas leis que regem qualquer processo de sedimentação, os de mais difícil leitura e interpretação. O que implica questionar a imagem da cidade enquanto centro eminentemente medieval, quando a maior parte das estruturas aparentes se apresentam modernas (séculos XVI, XVII e XVIII), e precisar o que se entende por “medieval”, rejeitando a projeção retrospetiva dos dados do urbanismo tardomedieval, consolidado e definido em Trezentos pela construção da cerca nova, sobre cronologias anteriores. O que se segue, necessariamente esquemático e propositadamente fragmentário, assenta nestes pressupostos.
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Évora e as cidades de matriz portuguesa no mundo
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José Manuel Fernandes
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Évora, cidade de dimensão histórica e notável expressão arquitetónica, insere-se no quadro mais vasto da cultura portuguesa edificada, onde a construção de cidades e de outros espaços urbanos e proto- urbanos desempenhou e desempenha um papel considerável. Este texto pretende enquadrar algumas das características essenciais (em termos urbano-arquitetónicos) daquela cidade alentejana no panorama mais amplo das cidades de origem ou de influência lusitana, na Europa e nos vários espaços transatlânticos, chamando a atenção para a dimensão conjunta dos valores em presença e das perspetivas da sua valorização futura.
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Arquitetura, medida e número na Catedral de Évora
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Virgolino Ferreira Jorge
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Uma das características da Sé de Évora (c. 1280-c.1340) é a sua considerável amplitude, relativamente às nossas catedrais anteriores. Todavia, já à data da sua feitura, ela configurava um modelo desatualizado, pelo programa romano-gótico de conceção pouco inovador e pela linguagem arquitetónica robusta e arcaizante. Quanto à organização da planta e à sobriedade geral das formas edificadas, situa-se no auge de uma secular caminhada românica e, em simultâneo, no início — tardio — da evolução da arquitetura gótica portuguesa. A inserção homogénea da planta medieval (reconstituída) numa estrutura modular prova que a construção está subordinada a medidas e a relações previamente definidas e calculadas. A partir de um módulo-base, dimensionado em pés romanos, foram estabelecidas as formas substanciais do monumento, assim como todos os pormenores da sua arquitetura, nos quais radica o seu valor eurítmico.
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A propósito de Évora. Ideologia religiosa e arquitetura nos conventos femininos
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Luís Urbano
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Os decretos emanados do Concílio de Trento (1545-1563), quando as reformas no interior da Igreja se tornaram inevitáveis, resultaram num controlo centralizado sem precedentes sobre os conventos femininos, no estabelecimento de regras mais estritas, no cerceamento de liberdades no seu interior e, acima de tudo, numa maior insistência no encerramento, relacionada com um ênfase renovado na questão da virgindade. Muito mais bem-sucedidas que o processo de eliminar abusos e intensificar a vida comunitária encorajados por Trento foram as tentativas para reforçar a clausura estrita, através de medidas para isolar os conventos do mundo exterior (paredes altas, barreiras, grades e rodas, parlatórios, comungatórios, confessionários e coros). A arquitetura concentrou a atenção nos elementos que se tornaram simbólicos da clausura. Com a obsessão pelo encerramento do espaço conventual, os decretos tridentinos transferiram a ansiedade associada à virgindade das mulheres religiosas para a arquitetura que as separava do mundo.
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Saberes-fazer do manuelino em Évora
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Lina Maria Marrafa de Oliveira
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A atividade construtiva manuelina enquanto ato mecânico está não só pouco estudada como enferma de uma série de lugares comuns e de atribuições infundadas o que, de resto, é frequente na caracterização deste estilo na nossa historiografia de arte. O entendimento correto e completo dos procedimentos inerentes aos modos de construir da primeira metade do século XVI só é possível mediante uma aprofundada e morosa investigação documental, pois as informações encontram-se dispersas em contratos de empreitadas, róis de oficiais e de pagamentos de jornas, encomendas de materiais, registos de medições e avaliações, mandados, quitações, cartas, alvarás, relações, recibos, provisões, cadernos de receita e despesa, que integram vários fundos arquivísticos, com especial relevância para o Corpo Cronológico (IAN/TT), pelo menos no que a Évora concerne.
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“He nobreza as cidades haverem em ellas boas casas”. A propósito de dois palácios eborenses
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Joaquim Oliveira Caetano e José Alberto Seabra Carvalho
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A análise dos programas iconográficos de dois palácios quinhentistas eborenses permite a introdução no ambiente renascentista de Évora, um dos períodos de maior fulgor da cidade, animada pelas constantes presenças da corte e pelo fervilhar arquitetónico e artístico que acompanhou essa constante presença, quer em obras públicas, quer em palácios e fundações conventuais de origem privada. As chamadas “casas pintadas”, morada dos coudéis-mor Silveira Henriques, com o seu universo moral fundado na fábula, e o repertório clássico e erudito das casas dos Castros, no Pátio de São Miguel, documentam respetivamente o princípio e o fim dessa transformação essencial que foi o nascimento da noção de palácio, como elemento central do viver nobre e da exibição do seu prestígio.
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O Colégio do Espírito Santo
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Ana Maria Borges e José Alberto Gomes Machado
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O presente texto visa dar a conhecer um dos edifícios mais notáveis de Évora, tentando sistematizar o estado atual do conhecimento, com realce para a investigação levada a efeito e ainda não publicada pelo Professor Fausto Sanches Martins, da Universidade do Porto, que é presentemente o maior especialista nacional sobre a arquitetura da Companhia de Jesus, em Portugal. A aturada pesquisa documental levada a efeito por Túlio Espanca e por Fausto Sanches Martins trouxe à luz numerosas informações relativas ao conjunto monumental do Espírito Santo, não tendo, todavia, chegado a esclarecer cabalmente a questão, ainda controversa, da autoria do edifício.
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O Teatro Garcia de Resende: a pertinência de um inventário para avaliação de uma herança
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Filomena Bandeira
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No presente artigo aborda-se o Teatro Garcia de Resende, em Évora, reconstituindo a história da sua construção (1881-1892), tentando identificar as características do edifício primitivo e a forma como à época se percecionou este espaço cultural da cidade. Depois de, nos anos quarenta do século passado, ter sido poupado à demolição quase integral do interior e de, na década de sessenta, se terem comprometido os trabalhos de tratamento da fachada posterior e de rebaixamento da caixa de palco, não se ultrapassando a remodelação da fachada principal, o edifício constitui hoje uma estrutura preservada nas suas características essenciais de teatro à italiana. Objeto de um programa de recuperação, precocemente iniciado em 1978 e em curso, tivemos neste texto por preocupação divulgar quais os elementos que fazem do Teatro Garcia de Resende um caso singular no panorama nacional das salas de espetáculos seculares.
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O sistema hidráulico quinhentista da cidade de Évora
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Maria Filomena Mourato Monteiro e Virgolino Ferreira Jorge
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De acordo com uma tradição local, o primitivo sistema de abastecimento de água canalizada a Évora remonta aos tempos de Sertório. Contudo, a existência de um eventual aqueduto romano tem sido objeto de acesas polémicas. Julga-se que até à construção quinhentista do chamado Aqueduto da Água da Prata, a disponibilidade de água em Évora se confinava a uma escala familiar e era feita a partir de poços e de cisternas, individuais ou coletivos, ou por aguadeiros. O notável sistema de abastecimento de água canalizada à cidade atesta a nossa antiga competência no domínio da tecnologia hidráulica. O aqueduto de Évora é uma das construções mais emblemáticas da permanência da Corte nesta cidade, onde a água foi um símbolo de riqueza e de poder, e é o segundo monumento mais longo de Portugal. Saibamos garantir a sua conservação exemplar!
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A Cartuxa de Évora: novos dados e o mito da sua destruição em 1663
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Miguel Soromenho
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A historiografia de arte portuguesa tem tomado sistematicamente como certa a alegada destruição, pelas tropas espanholas, da igreja do Convento da Cartuxa de Évora durante as campanhas da Restauração de 1663, hipótese que explicaria, até, algumas das características compositivas da fachada. Além da inexistência de evidências materiais, no edifício existente, do incêndio que teria dado origem à ruína, a análise dos relatos coevos sobre o cerco da cidade também não confirma o seu desaparecimento quase completo. A publicação de um documento inédito conservado no núcleo arquivístico do Conselho de Guerra permite discutir a questão à luz de novos dados, servindo ao mesmo tempo de pretexto para uma atualização de anteriores investigações sobre o desenho da fachada de um dos mais importantes testemunhos da arquitetura portuguesa do tardo-renascimento.
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O futuro Museu de Arte Sacra de Évora. Carrilho da Graça e as práticas de intervenção no património
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Ana Vaz Milheiro
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Na proposta para o novo Museu de Arte Sacra da cidade a instalar no antigo Colégio dos Moços da Sé de Évora, João Luís Carrilho da Graça procura repor a “verdade” espacial do tempo histórico dominante no edifício existente e que é o século XVIII. Não se trata de expor troços arqueológicos, mas de reforçar a identidade programática do edifício primitivo. As demolições são propostas neste quadro. Assim como a reposição de uma circulação muito próxima da primitiva, fortalecendo a pertinência da sua estrutura inicial, que encontra justificação na passagem para as solicitações museológicas atuais. A requalificação dos espaços do Colégio dos Moços da Sé, com o objetivo de os dotar de dispositivos museológicos contemporâneos, representa a oportunidade em atribuir ao espólio que o irá compor um valor vivencial que transponha a condição contemplativa normalmente associada a este tipo de programas.
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Três projetos para o centro histórico: a biblioteca, o rossio e o novo teatro
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Maria Fernandes, Nuno Ribeiro Lopes e José Carlos Faria
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Durante os séculos XIX/XX alguns equipamentos estruturantes da cidade de Évora, como a biblioteca, o arquivo e o museu, foram instalados provisoriamente em edifícios históricos tendo sido sucessivamente adiada a sua construção/remodelação. Outros houveram que, em virtude da dinâmica urbana e cultural da cidade, obrigaram a ser repensados e ponderados no sentido de serem ampliados, ou totalmente alterados, como o Teatro Garcia de Resende e o Rossio de São Brás. Os projetos apresentados neste artigo e nunca construídos são o resultado dessa reflexão ocorrida em finais dos anos noventa do século XX.
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Os “restauros” do século XX: de 1900 à classificação mundial
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Maria Fernandes
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Em 1986 o centro histórico de Évora foi incluído na lista do Património da Humanidade. A cidade, que, durante os séculos XIX/XX, havia sido muito alterada na sua estrutura medieval é incluída na lista do património mundial. O mito histórico que se criou em volta desta cidade, um dos símbolos das centúrias de Quinhentos e Seiscentos em Portugal, provoca ao mais desinteressado dos visitantes alguma perplexidade. Como pode uma cidade de cariz oitocentista ser tão identificada com aquele período? Os fundamentos sobre o “mito” de Évora como “ex-libris” da cidade de Quinhentos e Seiscentos parecem residir na permanência de alguns imóveis desse período e na alteração da sua envolvente nos séculos XIX/XX. Esta “imortalidade” dos monumentos em Évora, que marcou para sempre a cidade que hoje conhecemos e que há humanidade pertence, parece ser fruto dos arranjos urbanísticos e dos restauros estilísticos oitocentistas, das destruições efetuadas na passagem do século e dos restauros do século XX.
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Restaurar para renovar na Évora do século XIX
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Paulo Simões Rodrigues e Ana Cardoso de Matos
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A prática do restauro monumental em Évora no século XIX é demonstrativa como esta foi uma atividade de complexa pluralidade metodológica, cujos objetivos ultrapassaram frequentemente a simples conservação da estrutura e dos elementos arquitetónicos ou a recuperação de um pretenso estilo artístico puro e original. Implicaram também uma intervenção mais profunda e abrangente, de adaptação do espaço dos monumentos a novas funcionalidades, em consonância com as necessidades funcionais do presente, ou incluindo a modernização e o arranjo estético das áreas urbanas em que estavam inseridos. Assim sucedeu com o templo romano e a regularização e arborização da área em redor, com o restauro da Igreja de São Francisco e a remodelação da Galeria das Damas, ou com o Aqueduto da Água da Prata. Em todos estes exemplos, o restauro arquitetónico foi parte integrante do processo de renovação urbana de algumas zonas da cidade a partir da Regeneração.
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Monumentos Nacionais através do lápis do distinto eborense Gabriel Pereira (1849-1911)
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Maria João Baptista Neto
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Gabriel Pereira é uma figura determinante no panorama da salvaguarda do património artístico nacional, entre o último quartel de Oitocentos e o final da monarquia. Personalidade multifacetada, dedicou-se aos estudos da arte, arqueologia e etnografia, em particular da região de Évora, de onde era natural. Distinto bibliotecário, Gabriel Pereira possuía a qualidade de exímio desenhador que soube utilizar na compreensão da evolução das formas artísticas. Em 1880 fez vários desenhos de monumentos da cidade de Coimbra, de grande qualidade plástica, para auxílio dos seus estudos. Outros álbuns existem, à guarda da Biblioteca Nacional, preenchidos com delicados desenhos de muitos dos nossos monumentos nacionais. Merece, ainda, ser citado pela divulgação, em Portugal, a partir de 1895, das teorias de restauro de Camilo Boito.
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A defesa do património construído em Évora: Cunha Rivara, Filipe Simões, Gabriel Pereira e Túlio Espanca
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Manuel J. C. Branco
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Cunha Rivara (1809-1879) reorganizou a Biblioteca Pública Évora, onde catalogou milhares de documentos; estudou o Templo Romano no qual promoveu uma escavação arqueológica pioneira. Filippe Simões (1835-1884) continuou a obra de Rivara na Biblioteca e no Templo, cuja desafetação de estruturas não romanas promoveu, dando-lhe a imagem que hoje mantém; propôs a criação do Museu Cenáculo, de arqueologia. Gabriel Pereira (1847-1911) foi um fecundo historiador e teórico da conservação dos monumentos, opondo-se à teoria e à prática de Viollet-le-Duc. Túlio Espanca (1913-1993), historiador da arte, estudou e inventariou o património de Évora e do Alentejo; Évora deve-lhe, em boa parte, a classificação como Património Mundial.
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Intervenções arqueológicas no centro histórico de Évora, 2000-2002
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Carmen Ballesteros e Gerardo Vidal Gonçalves
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Promovido pela Universidade de Évora e pela autarquia, decorreu, no Centro Histórico de Évora, um conjunto de intervenções arqueológicas que permitiu conhecer melhor a cidade subterrânea. Os trabalhos resultaram da implementação do Projecto EVORACOM, criado em 1997, por acordo entre a Câmara Municipal de Évora e a Associação Comercial do Distrito de Évora. Intervir no espaço urbano obrigou à introdução e correção de algumas infraestruturas. O trabalho foi acompanhado por uma equipa de arqueologia e antropologia física da Universidade de Évora que procurou responder de forma adequada às características patrimoniais dos locais intervencionados.
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O esgrafito em Évora
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Sofia Salema
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Aparentemente originário de Itália, mas denotando influências mudéjares, o esgrafito aparece em Évora nos finais do século XV e atinge o seu esplendor, como elemento de valorização do espaço urbano pela decoração das fachadas, nos séculos XVIII e XIX. A cidade intramuros de Évora é um local privilegiado para o estudo arquitetónico, estético e técnico do esgrafito. Apresentam-se, neste artigo, os resultados da pesquisa que conduziu à elaboração de um inventário, suportado numa base de dados informática, dos esgrafitos visíveis ao nível da rua na cidade intramuros, com a caracterização detalhada, contextualização cartográfica e o registo fotográfico. Este inventário permitiu para além do estudo sistematizado da técnica, o reconhecimento desse património e do seu estado de conservação atual e o modo como este tem sido (des)valorizado.
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Revestimentos de imitação da pedra em Évora ou o gosto pela arquitetura erudita
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Joaquim Inácio Caetano
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Em Évora existe um conjunto de revestimentos de imitação da estereotomia da pedra, correspondendo uns a situações originais e outros a casos de manutenção desse tipo de rebocos que, conjuntamente com o modo de tratar as juntas da pedra dos aparelhos de cantaria regular, refechando-as com massas finas e claras aplicadas num plano superior ao da pedra, são manifestações de um gosto pela arquitetura erudita, tendo-se transformado numa moda que terá antecedido o período da grande difusão da pintura mural a fresco na primeira metade do século XVI, não sendo, portanto, situações de exceção mas casos remanescentes de uma Évora onde o branco não era a cor dominante.
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Da leveza da cidade
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Aurora Carapinha
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Todas as cidades são determinadas pelas características naturais do topos onde se inserem — geologia, relevo, clima, hidrologia — combinadas com as tonalidades e variações do contexto cultural em que se enquadram. Da combinação entre as condições naturais e o contexto cultural surge o locus onde a experiência vital da comunidade acontece. A cidade nasce, assim, de uma relação simbiótica que se estabelece entre a morfologia matricial, que a contém, a função de lugar de habitar, que tem, e os diferentes significados, que lhe atribuímos. A partir desta relação a cidade desenha-se num jogo entre cheios e vazios que lhe definem a sua tessitura. Os vazios da cidade, os espaços abertos, são tão concretos, individualizados, significantes e identitários como os cheios, são eles que na cidade garantem a liberdade tanto dos ciclos da água, do ar e do solo como dos seres humanos. Eles, os vazios, constituem um sistema indissociável do tecido edificado, completam-se e reforçam-se mutuamente.
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A classificação do centro histórico de Évora como Património da Humanidade. Um testemunho participado
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Jorge Silva
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A estagnação económica regional até 1974 levou a que também a cidade ficasse parada por mais de meio século, preservando uma imagem arquitetónica “congelada”, sem profundas alterações a que orgulhosamente se chamava “cidade museu”; mas que foi também a causa duma degradação, nalguns casos até ruína, do seu miolo. O Centro Histórico, resguardado por uma cintura de espaço vazio e pelas muralhas quinhentistas, preservou dentro de si uma parte significativa das atividades administrativas regionais. O crescimento urbano do século XX — indústria e habitação —, embora lento, já não foi de ocorrer no interior do centro histórico, extravasando as muralhas. No entanto, Évora foi sempre um polo regional e no seu seio conviveram sempre duas populações: uma residente, evidenciando consequências do processo de estagnação do centro histórico, e outra que diariamente procurava na cidade os serviços que este centro concentrava.
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O envelhecimento do centro histórico de Évora
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Maria Manuela Oliveira
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O centro histórico de Évora vive, desde 1940, um despovoamento acentuado. Contudo, o facto de se ter chegado a uma situação grave e de grande complexidade pode constituir, simultaneamente, uma janela de oportunidades. A circunstância de não se terem produzido grandes alterações no tecido do centro urbano, mesmo quando a pressão demográfica o exigia, evitou os enormes erros urbanísticos que se verificaram na maioria das cidades. A descaracterização dos centros das cidades foi, na maioria dos casos, a resultante da pressão económica e da ausência, ou grande défice, das políticas de defesa dos valores patrimoniais. Évora foi poupada a este fenómeno. Por isso, foi classificada como Património da Humanidade, situação muito prestigiante e que trouxe benefícios sobretudo ao nível do turismo, mas que também deveria ser motivo e fonte de receitas para a renovação.
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Património e Cidade
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Mesa-redonda, Universidade de Évora, 2 de Dezembro de 2006
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Iniciativa realizada no âmbito das comemorações dos vinte anos de Évora como Património Mundial. Teve por objetivo principal discutir questões relacionadas com as cidades, para o que contou com a presença de vários especialistas na área: Gilles Nourissier, diretor da Escola de Avignon; Gonçalo Ribeiro Telles, arquiteto paisagista; Hugo Houben, responsável pela pesquisa e conhecimentos no CRATerre-EAG, engenheiro-investigador no ENSAG; Javier Rivera Blanco, professor da Escola Superior de Arquitetura da Universidade de Alcalá de Henares; Manuel C. Teixeira, arquiteto, professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. José Ernesto de Oliveira, presidente da Câmara Municipal de Évora, e Vasco Martins Costa, diretor-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, foram os moderadores.
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Luigi Manini e o projeto da Vila Sassetti em Sintra
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Denise Pereira e Gerald Luckhurst
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Durante a segunda metade de Oitocentos, Sintra foi marcada por intensa atividade construtiva. De princípio, entre 1840 a 1870, construíram-se sobretudo palacetes e quintas, por vontade de nobres movidos pelo apelo do lazer aristocrático e pelas circunstâncias únicas de lugar eleito para a residência privada do rei. Depois das segundas núpcias do monarca, de 1870 a 1900, Sintra, algo democratizada, passou a receber as atenções burguesas que adquirem grandes propriedades para se retemperarem do bulício citadino na época estival, deixando na paisagem sintrense marcas indeléveis de exotismo eclético e revivalista. Dando livre expressão à necessidade de ostentação da sua posição social e esplendor finissecular, o programa recreativo capitalista caracterizou-se, nesta fase, pela importação de modelos europeus, abrindo espaço para a valorização de tendências arquitetónicas muito diversificadas e de caráter mais universalista. É neste contexto que se concebe a Vila Sassetti.
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O Sistema de Informação Técnica e Científica para o Património — SIPA
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Vasco Martins Costa
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A DGEMN atuou sempre como um agente de valorização da cidade quer pela construção de novos equipamentos e de novas instalações para os serviços públicos, quer pela conservação e valorização dos imóveis da nossa herança patrimonial. O Sistema de Informação para o Património Arquitectónico (SIPA) surgiu, assim, como um instrumento eficaz e fundamental para a realização desses projetos e objetivos. Construído como nova metodologia de registo sistemático e em permanente atualização de dados textuais e iconográficos de natureza técnica, científica e administrativa sobre o universo do património arquitetónico, foi desenvolvido dentro de um conceito de bases de dados interoperacionais, em que cada base gere um aspeto específico da informação patrimonial.
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