Monumentos 17: Igreja e Convento de São Francisco, Évora
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Dossiê: Igreja e Convento de São Francisco, Évora
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Setembro 2002, 24x32 cm, 172 pp. (<2Kg.)
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Evolução do sítio do século XIII ao século XIX
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Manuel J. C. Branco
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Fundado no século XIII, fora da cerca velha, o Mosteiro de São Francisco foi fator de desenvolvimento urbano e social e condicionador da morfologia da cidade. A cerca nova, de meados do século XIV, foi erguida entre o mosteiro e o novo rossio. O paço real anexo ao mosteiro, que atingiu o esplendor máximo com D. João III e atraiu para a zona envolvente residências de nobres e cortesãos. Com a passagem a observante e com o abandono do paço por Filipe II, São Francisco perdeu influência económica e política mas manteve um papel importante na religiosidade popular e no imaginário da cidade.
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A reconstrução tardomedieval da igreja
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José Custódio Vieira da Silva
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A igreja do Convento de São Francisco de Évora foi reconstruída pelos reis de Portugal nos finais do século XV como moeda de troca pela cedência de espaços do convento para a instalação de um palácio régio. Por esse motivo, passou a acumular funções de capela palatina que lhe acrescentaram importância social e simbólica. O modelo arquitetónico escolhido (uma única nave abobadada com capelas inseridas entre os contrafortes lançados para o interior da igreja) provém de uma tipologia que desde o século XIII se desenvolveu, praticamente em simultâneo, no Languedoc e na Catalunha. A esse modelo acrescentaram-se elementos de uma sensibilidade mudéjar que contribuem, em definitivo, para a originalidade total deste edifício no contexto da arquitetura gótica portuguesa.
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"... Na maneira de Sam Francisco d'Evora: acasos e fortuna de um modelo universal"
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Rafael Moreira
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Poucos edifícios portugueses gozaram da difusão quase instantânea e a uma escala mundial tão alargada quanto o teve a igreja franciscana eborense. É da mais elementar justiça histórica atribuir-se à visão centralizadora de D. João II a opção equilibrada por uma corte interior em Évora. Como panteão da mais alta nobreza medieval alentejana, ou foco de espiritualidade e vida intensa, a fama do Convento de São Francisco não bastaria por si só para o tornar um foco irradiador.
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Em torno da arquitetura claustral
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Catarina Madureira Villamariz
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A análise do claustro do Convento de São Francisco de Évora levanta, como aliás a de grande parte das construções mendicantes, inúmeros problemas devido ao avançado estado de ruína em que se encontra o claustro e às consecutivas transformações sofridas por todo o convento. Estruturado num só piso, é uma obra do século XIV, tendo sido mandado construir, em 1376, por D. Fernando Afonso de Morais, comendador da Ordem de Santiago. Não permitindo estabelecer a desejada ligação com o convento medieval transmite-nos, contudo, algumas das principais premissas da arquitetura mendicante: uma notória simplicidade e um grande despojamento materializados numa decoração sóbria, numa cobertura primitiva de madeira e arcos quebrados assentes em colunas duplas de grande singeleza, que se conotam com o ideário da ordem franciscana.
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A Casa dos Ossos
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Carlos Veloso
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Construída provavelmente durante o período filipino, situa-se no prolongamento da Casa do Capítulo do antigo convento franciscano. Entra-se na capela por um portal renascentista tardio ladeado por colunas de mármore branco, havendo diferença significativa no tratamento da superfície dos capitéis, consoante esta esteja voltada para o exterior ou para o interior da capela: no primeiro caso os capitéis são decorados com vieiras, enquanto as superfícies voltadas para o interior estão apenas rudemente talhadas em forma prismática. Dividida em três naves cobertas por abóbadas de aresta todas à mesma altura, configura as características de uma igreja-salão. Os pilares e as paredes são totalmente revestidos por ossadas, exceto numa faixa inferior, com azulejaria seiscentista. Os ossos, cujos crânios são cerca de cinco mil, devem provir da igreja e do claustro do mesmo convento.
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Francisco Henriques e a magna fábrica dos retábulos do mosteiro (1509-1511)
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Vítor Serrão
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Os painéis quinhentistas que ornavam os retábulos dos altares da igreja do Real Mosteiro de São Francisco de Évora, por encomenda do Venturoso, foram executados entre 1509-1511 por uma equipa de pintores dirigida por Francisco Henriques, um mestre flamengo radicado alguns anos antes em Portugal, também pintor de vitrais (na Batalha e neste mosteiro de Évora) e cujas qualidades artísticas lhe granjearam a fama do milhor official de pimtura que m’aquelle tempo havia. Restam quinze dos dezasseis painéis do apeado retábulo-mor entalhado por Olivier de Gand, que estão hoje no Museu Nacional de Arte Antiga e na Casa-Museu dos Patudos, e alguns dos grandes painéis dos retábulos laterais (dispersos pelos museus de Lisboa e Évora), que atestam os merecimentos inventivos de Henriques, a meio caminho entre o gosto tradicional ganto-brugense e as novas influências do Renascimento italiano, através de um paleta quente e de uma pincelada solta e transparente.
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As empreitadas manuelinas na decoração
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Joaquim Oliveira Caetano
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O destaque dado na representação da cidade a São Francisco e à obra que então decorria torna-se particularmente relevante da obra régia no contexto da cidade, cuja importância era então reforçada pela ação de D. Manuel I no contexto do próprio documento que lhe renovava o foral e os privilégios. Mas, para além deste aspeto, a representação de São Francisco, quando cruzada com a documentação conhecida, prova-nos que existem erros comuns quanto à cronologia dos retábulos de São Francisco, pintados por Francisco Henriques.
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Azulejos e outras artes
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José Meco
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As várias campanhas de renovação, a adaptação da Igreja de São Francisco de Évora a paroquial de São Pedro, após a extinção dos conventos, a deslocalização de algumas peças e a incorporação de outras (em especial vários altares) provocaram grandes modificações na parte ornamental do edifício. O autor faz a descrição dos vários tipos de azulejos dos séculos XVII e XVIII existentes no Convento de São Francisco e no Palácio Real, identificando-os por tipo, estilo e autoria. O texto aborda ainda os embrechados, a pintura em perspetiva e a talha.
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Os retábulos da Capela da Ordem Terceira
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Francisco Lameira
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Após a sua criação, por volta de 1670, a Ordem Terceira de São Francisco de Évora passa a administrar uma capela na prestigiada igreja do convento homónimo. Essa capela situa-se no topo do transepto, no lado do Evangelho, no local mais importante logo a seguir à ousia. Aí passam a realizar-se não só os exercícios espirituais, mas também o enterramento dos corpos dos irmãos. O crescente aumento do número de irmãos e a elevada importância que esta ordem desempenha na vivência religiosa citadina leva os responsáveis a construir mais espaços anexos à referida capela, nomeadamente a Casa dos Despachos e a Casa dos Santos, destacando-se esta última por ser o local destinado a guardar as imagens das procissões das Cinzas e das Dores. O objetivo principal deste estudo consiste em analisar os retábulos construídos nos séculos XVII e XVIII pela Ordem Terceira não só na capela do transepto, mas também na Casa dos Santos.
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O órgão da igreja
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Ana Paula Figueiredo
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O órgão de São Francisco de Évora está situado na capela-mor, no lado do Evangelho e foi executado em 1764, pelo organeiro Pascoal Caetano Oldovino, reaproveitando uma caixa anterior, efectuada no século XVII, à qual foram acrescentadas a mísula e a decoração dos nichos, em talha joanina, surgindo, ainda, pormenores de talha rococó, em 1782-1783. Desconhecem-se os nomes dos entalhadores responsáveis pela caixa e sucessivos acrescentos, sendo possível o recurso a uma oficina local.
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Gómez Fernandez e a Horta do Paço "a-par-de" São Francisco
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Aurora Carapinha
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A vontade régia de D. João II de enobrecer a horta e o laranjal da sua residência em Évora não deve ser entendida como um capricho do monarca, nem como um ato isolado no contexto nacional e internacional, mas antes, pensamos, como uma intenção de aí criar condições de melhor habitabilidade, como, desde há muito, alguns membros da alta aristocracia vinham introduzindo nos seu paços, por outro lado, enquadra-se, ainda, na renovação cultural e na modernidade da sociedade portuguesa. Assim, a contratação de Gómez Fernandez, hortelão e guarda da Horta Real de Valência, deve ser encarada como o início provável de um movimento de enobrecimento estético de hortas e pomares.
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Leitura do espaço urbano envolvente de São francisco
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José Manuel Fernandes
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Numa primeira aproximação, seriam os limites da antiga cerca do Convento de São Francisco que ditariam o espaço de observação das sucessivas etapas de evolução histórico-urbana desta zona de Évora. Na verdade, há que alargar o espaço a analisar, por forma a obter um conjunto territorial envolvente, e de limites equidistantes, em relação àquele antigo mosteiro. Assim, a partir de quatro fotografias panorâmicas aéreas sobre a cidade, são visíveis os diversos elementos que definiam ou ainda definem o conjunto urbano, e que neste texto nos propomos analisar.
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Um teto quinhentista na capela-mor da igreja do Convento de Santa Marta, Lisboa
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Isabel Mayer Godinho Mendonça
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A descoberta de um raríssimo teto com estuques relevados maneiristas – escondido por trás da abóbada que cobre a capela-mor da Igreja de Santa Marta de Jesus, em Lisboa –, foi o ponto de partida para uma investigação que permitiu contextualizar a sua construção e identificar as fontes de inspiração das eruditas composições ornamentais. Na origem das composições em estuque relevado dos painéis que constituem a masseira do teto estão três gravuras de um álbum impresso em 1553, na oficina de Hieronimus Cock, em Antuérpia, a partir de desenhos da autoria de Benedetto Battinini, realizados em Itália antes de 1550. O teto agora descoberto foi tapado durante uma remodelação da capela-mor realizada durante o século XVII, que levou à construção da atual cobertura decorada com uma moderna “pintura de brutesco”, antecedendo um retábulo barroco em talha dourada.
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Intervenção nos arcos do coro-alto da Igreja Matriz de Ponte da Barca e da Igreja do Pópulo, Braga
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Aníbal Costa, António Arêde, Domingos Silva Matos, Cristina Costa e Esmeralda Paupério
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Foi estabelecido um protocolo entre o Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e a Direção Regional dos Edifícios e Monumentos do Norte, no âmbito do qual se desenvolveram diversos estudos sobre o estado estrutural de edifícios e monumentos classificados, devidamente reportados num conjunto de relatórios e pareceres técnicos. Com base no resultado destes estudos, avançou-se para a consolidação dos três arcos do coro-alto da Igreja Matriz de Ponte da Barca e da Igreja do Pópulo, em Braga.
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Intervenções da DGEMN
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José Filipe Ramalho, José Artur Pestana, António Ressano Garcia Lamas, António Sousa Gago e Cidália Duarte
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Desde a década de trinta do século XX até aos dias de hoje a DGEMN tem vindo a realizar intervenções na Igreja de São Francisco. Como obras principais destacam-se a cintagem da abóbada e das paredes da nave central com betão armado, a reconstrução dos telhados da nave, que se encontravam em perigo de ruína. De modo a evitar intervenções de emergência, a DGEMN tem vindo a desenvolver ações de análise e diagnóstico ao imóvel, em conjunto com diversas entidades, tendo em vista futuras intervenções. Realizaram-se, igualmente, trabalhos de conservação e restauro ao nível da pintura mural, das estruturas construtivas da abóbada da nave, e, finalmente, na Capela dos Ossos, do material osteológico.
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A igreja e a Galeria das Damas: o que resta de um paço real...
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Maria Fernandes
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O conjunto arquitetónico composto pelo convento e pelo Paço Real de São Francisco foi, no contexto histórico português de Quinhentos, no período da expansão atlântica e da paz com a vizinha Espanha, sede da corte, palco do melhor teatro português e centro de decisões. Com Filipe II, o Paço Real de São Francisco deixa de funcionar como aposento real, passando as suas instalações para a ordem religiosa que ocupava o convento. O tempo encarregou-se do resto e os vestígios deste conjunto chegaram ao século XIX num estado de degradação deplorável. Diversos relatórios e estudos de consolidação foram projetados para este conjunto, mas dado o avançado estado de ruína em que se encontrava no final do século XIX, acabou por se separar o paço do convento, restando do primeiro a Galeria das Damas, que ficou isolada, e do segundo a igreja e o claustro, que acabou por ser praticamente destruído devido à ruína em que se encontrava.
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Reabilitação do troço sul/nascente do caminho de ronda do Castelo de São Jorge, Lisboa
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Victor Mestre, Maria Alexandra Gaspar e Ana M. Gomes
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O projeto de reabilitação do troço sul/nascente do caminho de ronda teve início em 1997, e resulta de um protocolo estabelecido entre a DGEMN e a Câmara Municipal de Lisboa, no âmbito do qual foi constituída uma equipa pluridisciplinar que viria a produzir o trabalho de investigação. Em paralelo iniciaram-se os trabalhos de arqueologia, os quais confirmaria o traçado do caminho de ronda. Assim, estabeleceu-se uma parceria de intervenção, em que a arquitetura e os dados arqueológicos em presença se inter-relacionaram de forma a preservar e reintegrar as memórias mais significativas do local.
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A divulgação de um "tesouro" catedralício
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Natália Correia Guedes
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Por decisão do cabido da Catedral de Viseu, o “tesouro” foi reaberto ao público, a 23 de julho, dia da Festa da Sagração da Igreja, em 2002, após terem sido executadas diversas obras no claustro e no primeiro piso pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. O “tesouro” está reunido em quatro salas que confinam com o primeiro piso do claustro — Sala do Cabido, Sala de Paramentaria, Sala de Ourivesaria e Sala do Santo Lenho. Destacam-se as peças da imagem de Nossa senhora da Conceição, o pluvial do século XV, o paramento branco de pontifical, os dois cofres relicários de Limoges e a custódia gótica oferecida pelo bispo D. Miguel da Silva.
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