Castelo de Ourém / Paço dos Condes de Ourém
| IPA.00006401 |
Portugal, Santarém, Ourém, Nossa Senhora das Misericórdias |
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Arquitetura militar românica (castelo), arquitetura residencial gótica e mudéjar (paço) e arquitetura militar de transição (torres-baluarte). Conjunto formado por três elementos: recinto muralhado triangular; paço senhorial tardo medieval, um grande volume paralelepipédico de planta retangular, rematado por balcão e faixa decorativa em tijolo de influência mudéjar; torres-baluarte de planta poligonal e faces escarpadas, rematadas em balcão, sugerindo capacidade para tiro flanqueante. Influência da rocca italiana quatrocentista, nomeadamente da Rocca Sismonda de Rimini (MOREIRA, 1989). Sistema de comunicação direta que ligaria a torre baluarte E. ao castelo, atravessando o paço sem comunicar com ele. Portas com verga denticulada no topo de cada torre baluarte idênticas a exemplo do Castelo - Paço de Porto de Mós (SILVA, 2002). Balcões que rematam o paço e as torres baluarte lembram bandas lombardas, técnica raramente usada a N. do rio Tejo (DIAS, 1986). |
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Número IPA Antigo: PT031421110001 |
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Edifício e estrutura Edifício Militar Castelo
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Descrição
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O recinto compreende três estruturas principais, alinhadas longitudinalmente segundo um eixo NO./SE. e que anteriormente se encontravam interligadas: o castelo, implantado no ponto mais elevado, o paço na zona intermédia e as torres-baluarte que integravam a cerca muralhada da vila. CASTELO: recinto de planta triangular composto por três torres, de planta quadrangular e retangular, e diferentes entre si, unidas por pano de muralha. O acesso ao recinto é feito por aberturas, em arco de volta perfeita, na face S. da torre S. e, em arco quebrado, no pano O. da muralha. No interior do recinto encontra-se uma cisterna subterrânea à qual se acede por escadas de pedra, observando-se e vestígios murários de outros compartimentos. O topo da torre NO., de planta retangular, é coroado por mísulas em tijolo nas faces e mísulas em pedra nos cantos, abrindo-se na face O. um vão em arco segmentado. Vestígios de túnel ou adarve que ligavam o castelo ao paço, com dispositivo sifonado de planta oval. PAÇO: planta retangular da qual se ergue um grande volume paralelepipédico. Aspeto exterior de caixa, acentuado nas fachadas E., S. e O. pelo reduzido número de aberturas. Na fachada E., um vão em arco quebrado. Na fachada S., dois vãos em arco segmentado, um vão em arco quebrado e sete frestas. Na fachada O., um vão em arco segmentado e duas frestas. Na fachada N., contrariando esse fechamento, cinco vãos em arco quebrado, um quadrangular e outro em arco de volta perfeita que se prolonga em túnel sob o edifício ligando à fachada oposta. Topo coroado por um balcão com mata-cães, formado através da sucessão de arcos quebrados em tijolo sustentados por mísulas de pedra, que contorna a quase totalidade do edifício, sendo interrompido na fachada N. para dar lugar a uma faixa decorativa de tijolo com motivos geométricos. Interior composto por três pisos e, na metade O., uma cave, possível devido ao desnível do terreno. O piso inferior é atravessado por um segundo túnel, com o qual não tem comunicação, que ligaria directamente o castelo à torre baluarte E. O piso intermédio é o que apresenta maior número de divisões, três câmaras e duas pequenas dependências. No piso superior, pelo qual se acederia ao balcão exterior, existe uma câmara e uma sala, num dos cantos da qual se conservam vestígios de uma lareira. TORRES-BALUARTE: duas torres de planta poligonal ligadas por muralha com adarve e com porta em arco quebrado. A torre E. estaria ligada por um passadiço ao túnel que atravessa o paço. Cada uma das torres arranca a níveis diferentes, uma vez que a torre O. está implantada cerca de dois metros e meios acima da torre E. No exterior, têm seteiras nas paredes N. e S. e são escarpadas na base. A torre E. tem, na face SO., as armas do 4.º Conde de Ourém a 45 graus. São rematadas por balcões, idênticos aos que coroam o edifício do paço, que ampliam a área dos terraços. No topo de cada torre ergue-se um corpo quadrangular coberto com telhado de quatro águas e cuja porta tem uma verga denticulada. |
Acessos
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EN 356, Km 113,349. WGS84 (graus decimais) lat.: 39.640944, long: -8.591628 |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, 1.ª série, n.º 136 de 23 junho 1910 |
Enquadramento
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Implantado num sítio de grande valor estratégico e de difícil acesso por estrada calcetada, dominando a estrada N. / S., envolvido por vegetação com predomínio da oliveira. Localizado no alto do monte à volta do qual se encontra a antiga Vila de Ourém (v. IPA.00006324), observando-se a N. o Terreiro de Santiago, antigo largo da igreja que terá servido como praça de armas, onde se ergue a estátua do Condestável D. Nuno Álvares Pereira. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Militar: castelo |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Privada: Pessoa colectiva |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 12 / 15 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido |
Cronologia
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1136 - D. Afonso Henriques conquista Abdegas (nome primitivo de Ourém) aos mouros; 1142 - primeira referência documental a Ourém, no foral de Leiria; 1178 - D. Afonso Henriques promove obras no reduto defensivo; 1180 - concessão de carta de foral pela infanta D. Teresa, que recebera a povoação de Ourém de D. Afonso Henriques em data desconhecida; 1183 - D. Teresa manda construir/reconstruir um castelo em Ourém; 1200 - a vila de Ourém regressa à posse da coroa no reinado de D. Sancho I; 1217, novembro - D. Afonso II confirma o primeiro foral de Ourém, em Coimbra; 1242 - D. Sancho II doa Ourém a D. Mécia Lopes do Haro, sua mulher; 1249 - deposição de D. Sancho II, regressando a vila de Ourém à posse da coroa; 1282 - D. Dinis oferece Ourém a D. Isabel de Aragão, sua mulher, por ocasião do casamento; 1315 - Ourém regressa à posse da coroa; 1357 - D. Pedro I doa Ourém a D. Brites, sua mãe; 1358 - Morte de D. Brites; a vila de Ourém é doada a D. João Telo de Menezes, conde de Barcelos; 1370 - D. Fernando eleva Ourém a condado, fazendo de D. João Telo de Menezes 1.º conde de Ourém; 1381, Dezembro - morte de D. João Telo de Menezes, revertendo o título condal de Ourém para a coroa; 1382 - D. Fernando doa o senhorio da vila a D. João Fernandes Andeiro, fazendo dele 2.º conde de Ourém; 1383, 6 dezembro - morte de D. João Fernandes Andeiro; 1384, 11 agosto - tendo a vila tomado o partido de Castela, na Crise de 1383-1385, é tomada por D. Lopo Dias de Sousa, mestre da Ordem do Templo; 1 julho, D. Nuno Álvares Pereira recebe a vila e o respetivo título, tornando-se o 3.º conde de Ourém; 1385, 11 agosto - em Ourém "bivacaram El-Rei D. João I e o condestável D. Nuno com as suas tropas" (FLORES: 1894), seguindo para a batalha de Aljubarrota; 1422, 4 abril - doação do condado de Ourém por D. Nuno Álvares Pereira a seu neto D. Afonso, fazendo dele 4.º conde de Ourém; 1429 - D. Afonso integra a missão diplomática que acompanha a infanta D. Isabel, filha de D. João I, aos Países Baixos para casar com Filipe, o Bom, duque da Borgonha; 1431 - D. Afonso encontra-se em Aragão; 1433, 24 novembro - D. Duarte confirma a doação da vila a D. Afonso, 4º conde de Ourém; 1434 - D. Afonso chefia a embaixada portuguesa ao Concílio de Basileia (Suíça); 1437 - D. Afonso chefia a embaixada portuguesa ao Concílio de Ferrara (Itália). Segue em peregrinação à Terra Santa; 1440 - construção do paço de Ourém, por iniciativa de D. Afonso; 1442 - D. Pedro, infante regente, recusa o cargo de condestável de Portugal a D. Afonso; este afasta-se da vida de corte e para as suas terras; 1451 - D. Afonso viaja para Roma como responsável pela comitiva encarregue de escoltar a infanta D. Leonor, irmã de D. Afonso V, para se casar com Frederico III, do Sacro Império Germânico; 1458 - D. Afonso participa na expansão portuguesa ao Norte de África aquando da conquista de Alcácer Ceguer; 1460, 29 agosto - morte de D. Afonso, 4º Conde de Ourém, em Tomar; não deixa descendentes legítimos, os seus bens e títulos transitam para o irmão D. Fernando, conde Arraiolos e marquês de Vila Viçosa; 1483 - morte de D. Fernando. Ourém regressa à coroa; 1487, 8 junho - os restos mortais de D. Afonso são transferidos para a colegiada; 1515 - D. Manuel concede novo foral a Ourém; 1695 - D. Pedro II promove reforma do foral; 1755, 1 novembro - o sismo de Lisboa causa grandes danos em toda a vila de Ourém; 1810 - o paço e a suas torres baluarte são vítimas das invasões francesas; 1841 - Aldeia da Cruz é elevada a vila com a designação de Vila Nova de Ourém; 1934, 13 setembro - Castelo de Ourém é devolvido à Fazenda Pública (art.º 2.º - D.L. n.º 24849, 13/09/1934) por parte do Ministério de Guerra; 1934 / 1945 - obras de restauro são suspensas por falta de verbas; 1946 - estragos nos telhados dos torreões causados pelo temporal; 1955 - pedido de autorização para construção de um marco geodésico tronco-cónico no torreão NO. do castelo; 1959 - pedido de instalação de uma pousada no Castelo de Ourém, tendo sido dado parecer negativo pela DGEMN; 1966 - pedido da Junta de Freguesia de Ourém para reconstrução das muralhas; Comissão Regional de Turismo de Leiria pede parecer à DGEMN sobre a construção de um restaurante no castelo de Ourém; 1967 - pedido de colocação de sinais informativos à Junta Autónoma de Estradas pela Junta de Freguesia de Ourém; 1968 - aprovado projeto sobre "recolha de elementos históricos e arqueológicos para a elaboração de um estudo de recuperação do Castelo de Ourém", pedido a Hamilton da Silva Alexandre; 1969 - efetuado um estudo para o arranjo da área envolvente; 1969 - pedido de autorização, pela agência de Viagens Fátima Travel Inc., para utilização de espaços do castelo para promover atividades culturais e turísticas, sendo necessário efetuar obras, que não receberam concordância da DGEMN; 1983 - destruição da iluminação do castelo na sequência de atos de vandalismo; 1991, 20 junho - união da antiga vila de Ourém e de Vila Nova de Ourém (anterior Aldeia da Cruz), dando origem à constituição da cidade de Ourém; 2004, julho - elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN; 2016, outubro - aprovação do projecto de reabilitação do castelo pela Câmara Municipal de Ourém, após aprovação do mesmo pela DGPC; 2018, fevereiro - lançamento do concurso para a reabilitação do Castelo e Paço dos Condes de Ourém e sua adaptação para espaços museológicos; 2021, 27 julho - reabertura do imóvel ao público; 2022, 20 junho - inauguração oficial das obras de conservação e reabilitação, investimento de mais de 2,1 milhões de euros, com financiamento de 1.671.380,58 euros pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes e estrutura mista |
Materiais
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Opus caementicium, opus incertum, opus siliceum de granito, pedra calcária, tijolo, telha. |
Bibliografia
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AA.VV.- Ourém. Três contributos para a sua história. Ourém: Câmara Municipal de Ourém, 1994; AA.VV - Livro de actas, "D. Afonso, 4º Conde de Ourém e a sua época". Ourém: Câmara Municipal de Ourém, 2004; ALEXANDRE, Marta - Edificações militares. Um percurso. Lisboa: Ministério da Defesa Nacional, 1999, p. 41; AZEVEDO, Carlos - Solares portugueses. Introdução ao estudo da casa nobre. Lisboa: Livros Horizonte, 1969, p. 33; BARRADAS, Alexandra Alves - Ourém e Porto de Mós - A obra mecenática de D. Afonso, 4º Conde de Ourém. Lisboa: Edições Colibri, 2009; CORREIA, Lívio - Descrição da vila de Ourém feita em 1758 pelo padre Luís António Flores, cura coadjutor da colegiada. Ourém: Câmara Municipal de Ourém, 1999; DIAS, Pedro - História da Arte em Portugal. Lisboa: Publicações Alfa, 1986, vol. IV, pp. 102-103; DIAS, Pedro - A arquitectura gótica em Portugal. Lisboa: Editorial Estampa, 1994, p. 191; DUARTE, Luís Miguel - "A resposta dos castelos", Nova História Militar de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, 2003, vol. I, pp. 360-372; FLORES, José - Galeria pittoresca: Album da villa d'Ourem. Lisboa: Typographia do Commercio, 1894; MOREIRA, Rafael - "A época manuelina", História das fortificações portuguesas no mundo. Lisboa: Publicações Alfa, 1989; PERES, Damião - A gloriosa história dos mais belos castelos de Portugal. Barcelos: Portucalense, 1969, pp. 431-433; RAPOSO, Maria do Rosário Paiva - "Ourém: uma vila alcandorada. Nota preliminar", Livro de homenagem a Orlando Ribeiro. Lisboa: Centro de Estudos Geográficos, 1988, pp. 443-450; SEQUEIRA, Gustavo Matos - "Ourém", Inventário artístico de Portugal. Lisboa: Academia Nacional de Belas-Artes, 1949, vol. III, pp. 152-153; SERRÃO, Joaquim Veríssimo - Ourém: Breve notícia histórica. Ourém: Câmara Municipal de Ourém, 2001; SILVA, José Custódio Vieira da - "A morada privilegiada - O paço", O fascínio do fim. Lisboa: Livros Horizonte, 1997, pp. 23-43; SILVA, José Custódio Vieira da - Paços Medievais Portugueses. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), 2002, pp. 148-153; SOUSA, António Caetano de - "Do senhor D. Affonso, Marquez de Valença, Conde de Ourem", Historia geneologica da casa real portugueza. Coimbra: Atlântida - Livraria Editora, 1953, vol. X, pp. 307-317; SOUSA, João Silva de - D. Afonso, 4º Conde de Ourém. Ourém: Câmara Municipal de Ourém, 2005; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/69874 [consultado em 28 dezembro 2016]. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco; ANTT: Memórias Paroquiais, Ourém, vol. 26 - Memória 51, pp. 395 - 410 |
Intervenção Realizada
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DGEMN: 1936 - beneficiação e restauro do castelo de Ourém: reconstrução de paredes de alvenaria argamassada; reconstrução de cunhais com 2 pavimentos em cantaria silharada; 1937 - obras de restauro e consolidação do castelo: reconstrução das muralhas; reparação geral dos adarves e das abóbadas; desaterros na praça de armas; limpeza geral dos paramentos da torre de menagem; recuperação total de um dos torreões; 1938 - reconstrução das muralhas; 1939 / 1941 - reconstrução de muralhas; execução de arcos; 1942 - construção da armação de um telhado em madeira de eucalipto; cobertura da armação do telhado com telha nacional dupla; 1943 / 1944 / 1945 - obras de restauro; construção da cobertura e pavimentos; construção de arcos em tijolo prensado nas varandas; cintagem de paredes com vigas de betão armado; recuperação de paredes de alvenaria; cantaria lavrada assente em cunhais e portais; 1947 - diversos trabalhos de restauro: regularização de paredes na torre principal; consolidação estrutural; 1952 - obras de conservação, assentamento das cantarias, consolidação das ruínas; 1954 - execução da cobertura na torre de menagem; 1955 - Colocação de um marco geodésico troncocónico no canto SO. da torre NO. do castelo; 1960 - iluminação exterior do Castelo de Ourém: CMO/DGEMN; 1966 - iluminação do castelo; 1967 - iluminação exterior do Castelo de Ourém; 1968 / 1969 - consolidação e recuperação da cintura de muralhas do lado poente e norte: limpeza dos paramentos das muralhas; reconstrução dos troços de muralha desaparecidos; construção de caleiras para deviar as águas pluviais das terras onde assenta a muralha; refechamento de juntas; escavação arqueológica; 1972 - recuperação e valorização da zona do castelejo; 1980 - obras de beneficiação: asssentamento de portas em madeira de pinho; pintura de portas e janelas; limpeza das muralhas, refechamento de juntas; 1982 - beneficiação e valorização das muralhas; 1983 - vedação do recinto do castelo; 1985 - intervenção no Terreiro de São Tiago - estátua de D. Nuno Álvares Pereira; 2005 - levantamento do Antigo Paço dos condes e elaboração da Carta de Risco; projecto de musealização do Paço elaborado pela DRML. |
Observações
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Autor e Data
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Telmo Leal 2013 |
Actualização
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