Forte de Nossa Senhora da Guia / Laboratório Marítimo da Guia
| IPA.00006043 |
Portugal, Lisboa, Cascais, União das freguesias de Cascais e Estoril |
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Arquitectura militar, seiscentista. Forte seguindo as características gerais dos fortes da costa de Cascais construídos depois da Restauração, quando o Conde de Cantanhede era Governador das Armas de Cascais, apresentando pequenas dimensões, planta rectangular com uma bateria voltada ao mar e os alojamentos virados a terra, interiormente abobadados e encimados por terraço, formando plataforma com parapeito. Cortinas em talude, a virada a terra tendo nos ângulos flanqueados guaritas cilíndricas e terminada em parapeito liso, alteado ao centro, onde se abre portal em arco, encimado por lápide e escudo real, entre gigantes. Forte pouco alterado até ao séc. 20, já que as obras realizadas no séc. 18, entre 1793 / 1796, apenas alteraram sensivelmente a planta inicial mas mantiveram as suas características gerais e volumetria. No entanto, a adaptação a Museu Oceanográfico alterou significativamente a planimetria e volumetria, visto ter-se ampliado o corpo dos aquartelamentos quase para o dobro, reduzindo a bateria, e alterado as cortinas, modificando o ritmo da abertura das canhoneiras e rasgando-as por uma série de vãos. A plataforma quadrangular adossada a O., actualmente fechada, deveria fazer parte da linha de fuzilaria que foi destruída pelo Conde de Moser. |
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Número IPA Antigo: PT031105030010 |
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Registo visualizado 3700 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Militar Forte
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Descrição
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Planta rectangular, composta pelo corpo dos antigos alojamentos, entretanto ampliados, virado a terra, sensivelmente a NE., encimados por plataforma com parapeito, e pela plataforma rectangular, tipo bateria, encurtada, virada a SO., tendo adossado a O. plataforma quadrangular. Volumes escalonados de tendência horizontal, com coberturas planas em cantaria. Cortinas baixas com paramentos em talude, rebocados a argamassa tradicional de cal e areia, possuindo nos ângulos flanqueados virados a terra, guaritas cilíndricas, assentes em mísulas de anéis escalonados, cobertas por cúpula e rasgadas lateralmente por frestas de tiro. Cortina virada a terra com remate em parapeito liso, alteado na zona central, onde se rasga o portal, em arco de volta perfeita, sobre pilastras, enquadrado por dois gigantes em cantaria, que avançam dos paramentos; sobre o portal surge lápide rectangular inscrita e escudo real. Cortina virada a SE. de dois panos, o maior com "costura" central, denotando a ampliação dos antigos alojamentos, terminado em parapeito liso, actualmente rasgado com janelas de peitoril, sem moldura e formando capialço, as da zona acrescentada encimadas por gárgulas da plataforma superior; a plataforma baixa remata em parapeito com merlões e canhoneiras e tem rasgado portal em arco de volta perfeita sobre pilastras. A SO., ambos os volumes terminam em parapeito com merlões e canhoneiras, sob as quais se rasgam janelas de peitoril ou portas, sem moldura, em número de três no corpo superior e de cinco na plataforma inferior. A plataforma adossada a O. encontra-se actualmente fechada, abrindo-se a SO. janela de peitoril. INTERIOR: *2 actualmente dispõe de áreas de investigação comuns, seis gabinetes, um laboratório de química e bioquímica, um laboratório de raio-X, uma sala de conferências com capacidade para 25 lugares, estando dotado de infra-estruturas para cultura marinha e respectivos equipamentos. |
Acessos
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EN 247, entre o Farol da Guia e a Lage do Ramil. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,695258, long.: -9,452380 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. PT031111050264) |
Enquadramento
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Peri-urbano, marítimo, isolado. Implanta-se numa falésia sobre o oceano Atlântico, apresentando frontal à bateria plataforma avançada, com pilares de sustentação assentes nos afloramentos rochosos, entre o Farol da Guia e a Lage do Ramil. A N. passa estrada para o Guincho e nas imediações erguem-se a Ermida de Nossa Senhora da Guia (v. PT031105030136) e o Farol da Guia (v. PT031105030094). |
Descrição Complementar
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A lápide sobre o portal do forte tem a inscrição: O MUI ALTO E PODEROSOS REI D. JOÃO O QUARTO DE PORTUGAL NOSSO SENHOR MANDOU FAZER ESTA FORTIFICAÇÃO SENDO GOVERNADOR DAS ARMAS DESTA PRAÇA D. ANTÓNIO LUÍS DE MENEZES E SE COMEÇOU EM 20 DE JUNHO NA ERA DE 1642. R.T.E. Ano 1832. O brasão tem escudo peninsular, real: [de prata], com cinco escudetes [de azul] postos em cruz, cada escudete carregado de cinco besantes em cruz [de prata]; bordadura [de vermelho] carregada de sete castelos [de oiro]. É encimado por coroa fechada. |
Utilização Inicial
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Militar: forte |
Utilização Actual
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Científica: laboratório |
Propriedade
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Pública: pessoa colectiva |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 17 / 18 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: Frederico Carvalho (1927). ENGENHEIRO: Carlos Lassart (atribuído - 1642); Felippe Guiatu (atribuído - 1642). |
Cronologia
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1580 - desembargue das tropas do Duque de Alba na laje denominada do Ramil, junto ao esporão rochoso onde se erguiam a ermida de Nossa Senhora da Guia e um velho facho; 1642, 20 Junho - data da lápide sobre o portal do forte assinalando o início da sua construção sobre a base do Ramil, local estratégico na defesa da orla marítima; o projecto é atribuído por alguns aos engenheiros franceses Carlos Lassart e Felippe Guiatu; 1646 - já se encontra operacional provido de artilharia e de guarnição, composta por um cabo, três artilheiros e doze soldados; 1675 - guarnição reduzida a um cabo e dois soldados, que tinham disponíveis quatro peças de bronze, com os calibres 8, 10, 12 e 18, e quatro de ferro; nesta altura, a trincheira desenvolvida junto à laje do Ramil, já se encontra arruinada em alguns dos seus troços; referência documental aos parapeitos exteriores defendendo a laje do Ramil; 1693 - data da planta levantada pelo Arquitecto Mateus do Couto; 1707 - o forte encontrava-se artilhado e guarnecido; 1735 - estava bem conservado; 1751 - necessitava reparação nos alojamentos da guarnição, casa da guarda, porta principal e secundária; 1755, 1 Novembro - o terramoto afecta significativamente os quartéis e a casa da guarda; 1758 - inspecção do forte, que ainda estava por reparar; 1777 - o forte estava em bom estado de conservação e tinha quatro peças de calibre 12; 1793 / 1796, entre - profunda renovação e modernização do forte: com construção de merlões e abertura de seis canhoeiras, duas viradas à laje do Ramil e quatro ao oceano; remodelação da organização interna da casa forte, tendo-se demolido o muro que separava os compartimentos a levante, estreitado o espesso muro que dividia os compartimentos do lado O., e construção, na perpendicular, de uma parede divisória em cada um deles, criando-se assim quatro salas; construção de quatro guaritas, duas nos cunhais noroeste e nordeste e outras duas, em posição assimétrica, no parapeito da bateria; 1796 - data da planta executada pelo Engenheiro Militar Maximiano José da Serra; nesta data a guarnição em serviço era composta por um cabo e dois soldados, efectivos, e a artilharia era de quatro peças de ferro de calibre 12; 1805, Setembro - o forte passou a ser guarnecido maioritariamente por militares inválidos; 1813, a partir de finais - o forte passou a ser guarnecido maioritariamente por militares veteranos; 1829 - necessitava de obras de beneficiação: reparação das portas do armazém e entrada, reboco das canhoeiras e muros; restauro de peças de artilharia; 1831 - o forte estava em ruína parcial; 1832, Fevereiro - conclusão das obras assinalando-se o facto com o acréscimo da data na lápide primitiva sobre o portal; a guarnição composta por um oficial, um cabo, quatro soldados de infantaria e oito arttlheiros; 1833 / 1843, entre - ocupado só por dois militares, sendo progressivamente abandonado; reconstrução da lápide relativa à fundação; 1854 - eram consideradas indispensáveis reparações urgentes nos quartéis, casas da palamenta e paiol; 1868 - estava sem guarnição, ainda em relativo bom estado, e sendo habitado por funcionários da Estação Semafórica da Guia; 1900 / 1919, entre - sucessão de vários pedidos para arrendamento do forte; 1903 - aquisição dos parapeitos exteriores ou linha de fuzilaria ocidental pelo Conde de Moser, proprietário da Quinta da Marinha, que os manda desmantelar; 1920, Maio - colocado em hasta pública, passando a ser alugado; 1926, 19 Julho - auto de despejo de um particular; Agosto - Direcção-Geral do Ensino Superior manifesta interesse de o arrendar para fins científicos junto do Ministério da Guerra; 1927, 27 Junho - data do projecto de obras do Arquitecto Frederico Carvalho para instalação no forte da Estação Zoológica Marítima experimental do Museu Bocage da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, nomeadamente na antiga bateria e construção de várias dependências; 1928, 1 Janeiro - arrendamento oficial do forte e terrenos anexos à Faculdade de Ciências de Lisboa / Museu Bocage para instalação da Estação Zoológica Marítima da Guia; início do desenvolvimento de diversas investigações e colheitas marítimas sob a direcção de Ricardo Jorge; 1939 - transferência do forte para a Direcção-Geral da Fazenda Pública; 1942 - cedência definitivamente do forte à Universidade de Lisboa, com vista à instalação da Secção Marítima do Museu Bocage; 1966 - foram dadas aulas práticas de Zoologia Sistemática no forte, sem continuidade; 1974, 9 Abril - data do pedido de classificação do forte; 1975 - a partir desta data, e graças ao grande empenho de Luiz Saldanha, encetou-se a reactivação e dinamização do Laboratório Marítimo da Guia como unidade de investigação e ensino; as instalações acolheram a secção de Biologia Marítima e Oceanografia Biológica do Departamento de Zoologia e Antropologia da Faculdade de Ciências (actual Departamento de Biologia Animal), iniciando-se de imediato o trabalho de investigação laboratorial de Luiz Saldanha e dos seus alunos, em estágio de licenciatura; ainda se mantinham as cerca de 140 peças de mobiliário adquiridas por Ricardo Jorge, bem como a maioria do equipamento laboratorial; o imóvel tinha então, cinco gabinetes/laboratórios (quatro deles passaram a dispor de um piso suplementar, devido ao elevado pé direito), uma cozinha, uma biblioteca, uma grande sala de aquários, uma câmara escura, instalações sanitárias e a cave com duas salas de arrecadação e uma garagem; 1978 - data do incêndio nas instalações da Faculdade de Ciências, na Rua da Escola Politécnica, tornando o Laboratório Marítimo da Guia indispensável para a instalação de alguns docentes e alunos; 1998 - obtenção do estatuto como unidade de investigação do IMAR; 2007 - integração do Laboratório Marítimo da Guia no Centro de Oceanografia da FCUL; a investigação desenvolvida no Laboratório abrange a ecologia marinha (sistemas costeiros e profundos) e ecofisiologia marinha (fisiologia do crescimento, nutrição e reprodução de espécies marinhas). |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura revestida a argamassa tradicional de cal e areia; cunhais, molduras de alguns vãos lápides e frisos em cantaria calcária; estores plásticos; coberturas planas em cantaria. |
Bibliografia
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ALMEIDA, A. J., PEREIRA, P., Luiz Saldanha e o Laboratório Marítimo da Guia (1975-1997). Ensino e Investigação, Museu Bocage-Museu Nacional de História Natural, Lisboa, 2007; BARROS, Maria de Fátima Rombouts, BOIÇA, Joaquim Manuel Ferreira, RAMALHO, Maria Margarida Magalhães, As fortificações marítimas da costa de Cascais, Lisboa, Quetzal, 2001; CALLIXTO, Carlos Pereira, Fortificações da Praça de Cascais a Ocidente da Vila, Lisboa, 1980; GODINHO, Helena Campos, MACEDO, Silvana da Costa, PEREIA, Teresa Marçal, Levantamento do Património do Concelho de Cascais. 1975 - Herança do Património Arquitectónico Europeu in Arquivo de Cascais, nº 9, s.l. 1990, p. 87 - 235; LOURENÇO, Manuel Acácio Pereira, As Fortalezas da Costa Marítima de Cascais, Cascais, 1964; MOREIRA, Rafael, Do Rigor Teórico À Urgência Prática: A Arquitectura Militar in História da Arte em Portugal, vol. 8, Lisboa, 1986, p. 66 - 85. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; Universidade de Lisboa |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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1760, década - provável execução de obras de restauro, na sequência do terramoto de 1 de Novembro de 1755; 1831 / 1832 - obras de restauro, orçadas em 264$00 (182$350, caso fossem realizados por artífices militares); 1832, Janeiro - orçamento suplementar para a recuperação da casa da guarda que estava bastante arruinada, no valor de 54$000 (38$500, caso fossem realizados por artífices militares); restauro das peças de artilharia de calibre 12 nos Arsenais de Lisboa; 1928 - início das obras de adaptação do edifício a laboratório de investigação, com apoio do Ministério das Obras Pública e sob orientação de Arthur Ricardo Jorge, então director do Museu Bocage; 1950, década - obras de ampliação do Laboratório Marítimo; 1956, depois - instalação eléctrica no forte; 1980, cerca - durante esta década procederam-se a várias obras de conservação, como a impermeabilização da cobertura e o arranjo de janelas e portões. |
Observações
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*1 - DOF:...a 3 Km. a Oeste da Cidadela de Cascais. *2 - Esta ficha tem correspondência às fichas de inventário do Laboratório Marítimo da Guia e respectivas colecções: UL_FC_IM002; UL_FC_COL001; UL_FC_COL002. *3 - A designação de Forte de Nossa Senhora da Guia deve estar ligada à Capela de Nossa Senhora da Guia existente um pouco mais a ocidente. Era já assim conhecida em 1693, contudo parece que inicialmente se chamava Baluarte da Lajem do Ramil ou do Romel, pelo menos assim era designada em 1646. Actualmente é também conhecido como Forte de São Jacinto. *4 - O forte tinha inicialmente dois amplos compartimentos virados a terra, ocupados pelo quartel, armazém e o paiol, um deles seccionado em quatro, ladeando o trânsito, por onde se acedia à bateria e ao exterior. A bateria era percorrida a E., S. e O. por um parapeito liso, de onde se disparava artilharia à barla, integrando uma guarita a E. e O.; neste lado tinha ainda escada adossada de acesso ao terraço sobre os aquartelamentos, que servia para fazer fogo a fuzil. *5 - O laboratório Marítimo da Guia dedica-se predominantemente à investigação no âmbito da ecologia e ecofisiologia marinha. Promove, também, actividades para o público em geral, como conferências, sendo visitado por escolas e diversas instituições, bem como por investigadores de outras Universidades, nacionais e estrangeiras, com as quais coopera. |
Autor e Data
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Paula Noé 1991 / Paula Noé (IHRU), Ana Pascoal e Catarina Teixeira (Universidade de Lisboa - UL) 2011 |
Actualização
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Curso Inventariação KIT01 (2.ª ed.) 2009 |
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