Mosteiro de Bravães / Igreja de Bravães / Igreja de São Salvador

IPA.00002175
Portugal, Viana do Castelo, Ponte da Barca, Bravães
 
Arquitectura religiosa, românica. Igreja rural da 2ª fase do românico português, que adopta, entre outros elementos, cabeceira quadrangular e portais mais profundos; insere-se na 1ª fase do românico do Alto Minho e, pela sua decoração, nas construções típicas da Ribeira Lima, exceptuando-se a decoração do arco triunfal que, segundo Lourenço Alves, é inspirada no foco bracarense. Ao contrário do que acontece normalmente no românico da Ribeira Lima, aqui os cachorros têm pouca decoração. O portal é talvez o melhor exemplo de um portal retábulo, "porta da salvação" ou "porta do céu". A sua leitura simbólica continua bastante incipiente e falha. Para além dos elementos vegetalistas e geométricos, é notório uma certa preocupação catequista, elucidando os fiéis sobre as virtudes e os vícios *1. Os capitéis têm temas tradicionais e o tímpano é 1 dos 4 do Alto Minho onde surge o tema do Cristo em Magestade, em mandorla. Como outras igrejas do Norte, este pórtico tem duplo tímpano tendo o do interior decoração semelhante ao da fachada N., onde as folhas da arquivolta se repetem no arco triunfal e suporte. O Agnus Dei do tímpano S. é também um tema muito frequente. Os frescos devem ser do séc. 14 e, segundo Jaime Catarino, possuem muitas semelhanças com os de Castro Marim e os de Penacova.
Número IPA Antigo: PT011606030001
 
Registo visualizado 5966 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro masculino  Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho

Descrição

Planta longitudinal, composta por nave única e capela-mor rectangular, mais baixa e estreita, com sacristia anexa a N. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas. Fachada principal orientada terminada em empena, portal aberto em alfiz, constituído por 4 colunas com capitéis apoiando arquivoltas, todos profusamente decorados. Imposta corrida e de feição zoomórfica sobre a porta. Tímpano com Cristo em mandorla segura por 2 anjos. Fachadas laterais com cornija (enxaquetada na capela-mor) sobre cachorrada lisa, geométrica ou historiada. A S. portal de arco quebrado sobre pé-direito com impostas zoomórficas e Agnus Dei no tímpano; dupla arquivolta decorada por filete perlado e bosantes. Encima-o e ladeia-o friso de apoio a telhados das antigas dependências conventuais. A N. portal também de arco quebrado sobre pés-direitos e ombreira exterior com folhas; tímpano com cruz e 2 animais. No INTERIOR, nave corrida por friso enxaquetado, com quatro frestas ladeadas por colunas com capitéis e impostas decoradas por motivos vegetalistas e geométricos apoiando arcos plenos. Sobre o pórtico axial dupla arquivolta e tímpano com nó de Salomão, encimado por vão cego, possivelmente uma fresta. Cobertura em madeira. Arco triunfal decorado por friso com leões e folhas, colunas com capitéis e imposta corrida esculpida; bases com gripos. É ladeado por dois frescos representando Martírio de São Sebastião e a Virgem, de pé, com o Menino nos braços. Encima-o rosácea esculpida. Capela-mor percorrida por friso enxaquetado, com três frestas e cobertura de madeira.

Acessos

EN. 203, Lugar de Bravães

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910

Enquadramento

Rural. Implanta-se numa zona plana do vale do Lima junto à estrada Ponte da Barca - Ponte de Lima, e tendo o adro envolvido por muro de pedra. A S., por detrás da capela-mor, estrutura com sineira. Algumas construções dispõem-se nas redondezas.

Descrição Complementar

As colunas do portal axial são decoradas com macacos, figuras humanas, interpretadas como a Virgem e o anjo Gabriel, serpentes enlaçadas e águias com bicos numa cornucópia. Os capitéis são vegetalistas ou zoomórficos. A 1ª arquivolta tem rosetas e anéis, a 2ª macacos, a 3ª misólitos e figuras humanas, a 4ª torsa e a 5ª enxaquetado e boleado. As pinturas murais com representação do Martírio de São Sebastião, com 171 de altura e 140 de largura, do Lava-pés, com 215.5 cm de altura e 172.5 cm de largura, da Deposição no túmulo, com 216 cm de altura e 119 cm de largura, da Descida da cruz, com 216 cm de altura e 180 cm de largura, e da Sagrada Família, com 150.5 cm de altura e 130.7 de largura, datados de entre 1540 - 1550, e a do Salvador, com 172 cm de altura e 67.5 de largura, de cerca de 1500, foram transferidos para o Museu Alberto Sampaio, em Guimarães.

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 13

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Baltazar de Castro (séc. 20). CARPINTEIRO: Jerónimo da Costa (1755); Tomás de Araújo (1755).

Cronologia

1080 - Data apontada por alguns autores para a sua fundação; 1140 - 1141 - o seu prior Egeas figura como notário na carta de couto passada por D. Afonso Henriques a favor do mosteiro de Vila Nova de Muia, o que mostra que o mosteiro já gozava de certo prestígio; 1180, antes de 28 Julho - segundo Avelino de Jesus da Costa, deve ter sido coutado por D. Afonso Henriques; 1258 - declara-se nas Inquirições que Bravães é Couto e que ouviram dizer que D. Afonso Henriques o dera a D. Pelágio Velasquez; séc. 13, finais - segundo inscrição, prior D. Rogrigo manda construir torre no lado N.; séc. 14 - Comenda de Bravães transita da Ordem dos Templários para a de Cristo, que ali se manteve até o 1º quartel do séc. 15; 1420 - por Breve de D. Martinho V, o mosteiro foi secularizado pelo arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra, que ali fundou uma reitoria vulgar; 1434, 12 fevereiro - mosteiro reduzido a igreja paroquial; 1500, cerca - execução da pintura mural com representação do Salvador; 1540 - 1550 - execução das pinturas murais, com representação do Martírio de São Sebastião; séc. 15, último quartel - provável entaipamento da fresta testeira da capela-mor e execução de composição pictórica com imagens do orago, bem como pinturas na nave; séc. 16 - pinturas em forma de tríptico sobre as já existentes na capela-mor e outras sobre as da nave; 1535 - provável pintura dos grotescos à romana, semelhantes aos de Nossa Senhora da Azinheira, em Outeiro Seco; 1639 - natural da terra anexa à capela-mor capela particular; 1755, 27 novembro - escritura de contrato da obra de madeiramento da igreja feita por Francisco Vieira Pinto, homem de negócios, morador em Lisboa e procurador meirinho do reino e o carpinteiro Tomás de Araújo, morador em Ponte da Barca, e Jerónimo da Costa, morador no lugar do Pedreiro, freguesia de Bravães, por 147$000; o ajuste incluía os telhados da igreja, escadas de acesso ao coro, forro do coro e de todo o corpo da igreja, usando madeira de castanho; a pintura do forro do tecto da igreja era da obrigação dos carpinteiros; 1843, 12 janeiro - requerimento da Junta da Paróquia de Bravães, acompanhando um orçamento destinado às obras da igreja da freguesia; séc. 20, meados - trabalhou nas obras o arquiteto Baltazar de Castro; 2019, 21 março - assalto à igreja durante a noite, sendo roubadas as oito imagens existentes no interior: do Divino Salvador, do Coração de Jesus, do Coração de Maria, de Santo António, de São José, de São Brás, de Senhora de Fátima e de São Sebastião.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Cantaria granítica com aparelho "vittatum", frescos e madeira. Pavimento lajeado e cobertura de telha.

Bibliografia

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Alto Minho, Lisboa, 1987; IDEM, O Românico in História da Arte em Portugal, vol. 3, Lisboa, 1988; IBIDEM, Primeiras impressões sobre a arquitectura românica portuguesa in Revista da Faculdade de Letras, vol. 1, Porto, 1971, p. 65-116; ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Porto, 1988; BARREIROS, Padre Manuel de Aguiar, Igrejas e Capelas Românicas da Ribeira Lima, Porto, 1926; ALVES, Lourenço Arquitectura Religiosa do Alto Minho, Viana do Castelo, 1987; CARDONA, Paula Cristina Machado, A actividade mecenática das confrarias nas Matrizes do Vale do Lima nos séc. XVII a XIX, vol. 3, Porto (Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Departamento de Ciências e Técnicas do Património), 2004; CASTRO, Elda de, RODRIGUES, J. Delgado, CRAVO, M. Rosário Tavares, Estudos sobre a Alteração e a Conservação do Pórtico da Igreja de Bravães (Estudo realizado para a DGEMN), Lisboa, LNEC, 1987; Comissão de Planeamento da Região Norte, Inventário Artístico da Região Norte-II, série: Estudos Regionais, nº 3, Ponte da Barca, 1973; DGEMN, A Igreja de Bravães. Boletim nº 49, Porto, 1947; DGEMN, Frescos, Coleção Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, nº 10, Lisboa, DGEMN, 1937; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no Triénio de 1947 a 1949, Lisboa, 1950; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1952, Lisboa, 1953; MIRANDA, Miguel Reis, FERNANDES, António, Restauro de pinturas murais do século XIV. Fresco de Bravães com cara lavada, O Comércio do Porto, 25 Julho 1995; FERNANDES, Paulo - «O teatro das formas - face da condenação e redenção na escultura românica» in Invenire Revista de Bens Culturais da Igreja. Lisboa: Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, julho - dezembro 2013, n.º 7, pp. 20-26.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

DGEMN: 1931 - Diversos trabalhos na Igreja; Anos 30 - Obras de restauro: Demolição da capela no lado N, onde funcionava ultimamente a sacristia e construção de um anexo maior para tal; Demolição do edifício da antiga sacristia; Desentaipamento da porta lateral N. e reconstituição total; Apeamento do coro, campanário do frontespício, altares da nave e substituição do mor; Consolidação das paredes e alicerces, compreendendo forte cinta de betão armado; Desentaipamento e restauro das frestas da capela-mor, após arranque dos frescos; Construção e reposição da arquivolta inferior do arco da capela-mor; Apeamento do púlpito, telhados existentes e construção de outros; Limpeza e reparação dos paramentos de cantaria interior e exterior; Consolidação e restauro da rosácea; Reconstrução do pavimento com lajes de granito e rebaixamento do respectivo nível; Regularização do adro; Construção e assentamento de diversas portas de madeira; Colocação de vidraças com armação de chumbo; 1936 - Estudo sobre os frescos; 1938 - Mudança do cemitério; 1946 - Obras de restauro; 1948 - reparação dos telhados; 1951 / 1952 - Transferência para a igreja de um sacrário existente na Sé de Miranda do Douro e sua adaptação; 1953 - Trabalhos urgentes: reparação do telhado da nave; 1960 - Instalação eléctrica; 1961 - Reparação ligeira dos telhados; instalação eléctrica; 1967 - Construção de mísulas para colocação de imagens; 1968 - Reparação de telhados e pintura de portas; 1970 / 1971 - Limpeza de telhados; 1972 - Reparações dos prejuizos ocasionados pelo temporal; 1973 - Trabalhos de integração do local do antigo cemitério no adro; 1975 - Trabalhos de conservação: conservação adequada dos colunelos e cantaria a ele ligadas com produto específico para atenuar a erosão da cantaria; 1978 - Conservação para preservação dos frescos; 1982 - Trabalhos de conservação; restauro de frescos; 1991 - Substituição da cobertura e levantamento do pavimento; IPPAR: 1995 - restauro dos dois frescos que ladeiam o arco triunfal, procedendo-se à sua consolidação e limpeza.

Observações

*1 - Caso da astúcia, pelo macaco, o pecado original ou a volúpia pelas serpentes, a graça inesgotável pelas águias com os bicos em cornocópias de flores, a universalidade da redenção do homem pelas figuras da arquivolta que, contudo, são interpretadas por outros autores como sendo os Apóstolos. De leitura problemática são também as 2 figuras hieráticas e sem módulo das colunas, normalmente tidas como a Virgem e anjo Gabriel na cena da "Anunciação", mas que Lourenço Alves interpreta como 2 monges. *2 - Do antigo mosteiro de Bravães resta apenas a igreja, ao que parece reconstruída na 1ª metade do séc. 13 com granito mais áspero e duro, em dente de cavalo, como se vê na cabeceira e na parte superior da nave, mas utilizando elementos da construção anterior. *3 - O frontespício devia ser fenestrado, possivelmente por uma fresta de que ainda vemos vestígios no interior. *4 - A Câmara Municipal de Ponte da Barca estuda, neste momento, a hipótese de criação de um núcleo museológico, junto à igreja, onde seriam integrados, eventualmente, alguns frescos retirados do imóvel e que, presentemente, se encontram no Museu Nacional de Arte Antiga.

Autor e Data

Paula Noé 1992 / Filomena Bandeira 1996

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login