Igreja Paroquial de Santiago / Igreja de São Tiago
| IPA.00001626 |
Portugal, Coimbra, Coimbra, União das freguesias de Coimbra (Sé Nova, Santa Cruz, Almedina e São Bartolomeu) |
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Igreja paroquial românica, de três naves e cobertura tripartida com ábsides semicirculares, poligonais no interior e exterior. Embora com várias alterações, mantem o aspecto robusto e maciço das igrejas do tempo, um sistema interior, incluindo a cobertura, típico do românico e pormenores característicos como os portais, o principal com os fustes das colunas abundantemente decorados e com decoração vegetalista e antropomórfica nos capitéis e nos arcos, própria da gramática do românico, de grandes afinidades decorativas com a Sé Velha coimbrâ. A diferente espessura dos muros da nave, no tramo contíguo à cabeceira forma um falso transepto. A escultura dos portais axial e lateral é considerada o melhor exemplo do românico coimbrão. O portal da capela que se abre no tramo médio da nave lateral é um bom exemplar do gótico do século 15. |
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Número IPA Antigo: PT020603190008 |
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Registo visualizado 4780 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Igreja paroquial
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Descrição
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Planta retangular composta de três naves e cabeceira, de forma maciça e robusta. Coberturas escalonadas em telhados de duas águas. Fachadas em cantaria aparente, a principal virada a O., de cunhais contrafortados e terminada em empena, com cornija. É rasgada por portal em arco de volta perfeita, de várias arquivoltas assentes em colunas, ladeado por duas frestas, em arco de volta perfeita, sobre colunelos, e encimado por óculo. Na fachada S. três lanços de escada acompanham a parede contrafortada, abrindo-se no 3º tramo um portal. Na fachada N. surge a saliência correspondente a uma capela e a marcação do transepto. A fachada E. mostra o corpo poligonal da capela do Evangelho. INTERIOR de três naves, três tramos, falso transepto a demarcar desnível do pavimento, colunas cilíndricas e pilares com colunas adossadas suportam diretamente o travejamento da cobertura de madeira. No tramo médio da colateral do Evangelho surge uma capela quadrangular com portal de arco composto apoiado em colunas, enquadrado por alfiz decorado de motivos geométricos, apresentando no interior abóbada de arcos cruzados. Da cabeceira considera-se o absidíolo N. semicircular abobadado em quarto de esfera. |
Acessos
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Praça do Comércio; Rua Visconde da Luz |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 6 de 08 janeiro 1960 |
Enquadramento
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Urbano, situada no extremo NO. da Praça do Comércio, em terreno de acentuado desnível. O portal axial é precedido por escada. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Religiosa: igreja paroquial |
Utilização Actual
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Religiosa: igreja paroquial |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Comissão Fabriqueira de São Bartolomeu, cedida a título precário em 1934 |
Época Construção
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Séc. 12 / 16 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETOS; Baltazar de Castro (restauro); Silva Pinto (1907). ENTALHADOR: João de Azevedo (1697). |
Cronologia
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Séc. 12 - Provável construção; 1119 - provável danificação aquando do cerco de Ibn Yusuf; 1139 - campanha de Reconquista; 1183 - campanha de Reconquista; 1206, 28 de Agosto - sagrada pelo Bispo de Coimbra; 1546 - obras no interior; Julho - o Santíssimo Sacramento estava na capela de São Simão, no lado da Epístola, e a capela de Vasco de Freitas, no mesmo lado, era administrada pelo Mestre Escola Manuel de Melo; 1653 - Úrsula Luís manda edificar a capela do Espírito Santo, no lado do Evangelho; 1697, 26 fevereiro - contrato com o entalhador João de Azevedo para a feitura do retábulo da Capela de Santo Ildefonso, pertença de João Correia de Brito, morador em Vale da Pinta, Santarém; 1718 - renovação da Igreja, tendo-se revestido as colunas de novas cantarias; 1721 - descrição da igreja como tendo: entre a porta travessa e a escada que vai para o coro uma capela , antigamente de São Pedro e na altura do Bom Jesus; do lado do Evangelho três capelas, a 1ª entrando pela porta principal de Santo Elói, que a edificaram e fabricam os ourives da freguesia; a 2ª é de Santo Ildefonso, com obrigação imposta pelo seu instituidor de distribuir no claustro um boi pelos pobres da freguesia; a 3ª do Espírito Santo; 1770, 30 Abril - lançamento da 1ª pedra na construção da sacristia nova da Igreja, paga pela Misericórdia como compensação pela Colegiada ter-lhe permitido construir uma escada sobre o adro da antiga sacristia da porta lateral S. para acesso às suas dependências; 1861 - destruição de parte da ábside para alargamento da R. Visconde da Luz; 1907, 24 Maio - pedido de subsídio ao governo para a reconstrução da Igreja de São Tiago; 1908 - início do restauro do templo; 1908 - transferência de uma capela lateral da nave da Epístola para a do Evangelho, para permitir o alargamento da rua; demolição da escadaria de pedra junto ao portal axial e rebaixamento da praça contígua, deixando a descoberto parte considerável dos alicerces; 1911, 23 Fevereiro - Câmara pede providências ao Ministério da Fazenda por se achar quase esgotada a verba para obras da Igreja de São Tiago e Sé Velha; 1921 - a igreja ainda não tinha cobertura; Eng. J. de Sousa Tudela apresenta projeto muito polémico; a obra esteve parada; 1930 - Pastor Evangélico requereu a igreja para culto Evangélico; 1935, 8 Dezembro - reabertura da igreja ao culto. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes, estrutura autónoma (capela da nave), estrutura mista (absidíolos). |
Materiais
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Bibliografia
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BRANDÃO, Domingos de Pinho - Obra de talha dourada, ensamblagem e pintura na cidade e na Diocese do Porto - Documentação. Porto: Diocese do Porto, 1984, vol. I; CORREIA, Vergílio - "A Igreja de S. Tiago de Coimbra". In Museu, Coimbra: 1943, vol. II; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1952. Lisboa: 1953; DGEMN, Igreja de S. Tiago. Boletim da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Porto: 1942, nº 28; GONÇALVES, Padre António Nogueira - Novas Hipóteses acerca da Arqueologia Românica de Coimbra. 1938; SIMÕES, Filipe - Relíquias de Arquitectura Romano-Bizantina, em Portugal. 1870; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/69863 [consultado em 11 agosto 2016]. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC |
Intervenção Realizada
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1908 - Reconstrução de toda a obra de pedreiro dos elementos arquitectónicos existentes; DGEMN: 1929 / 1930 / 1931 / 1932 / 1933 / 1934 / 1935 - regularização do pavimento de lajes das naves, cabeceira e capela lateral do Evangelho; reparação ou substituição das cantarias mutiladas e eliminação de diversas molduras indevidamente reconstruídas no exterior e interior; arranjo geral da capela lateral do Evangelho e reconstrução de uma das frestas; colocação na capela-mor e na lateral do Evangelho de dois altares de madeira trazidos no Museu Machado de Castro; colocação de altar de pedra no absidíolo do Evangelho e de um Crucifixo no da Epístola, dada a pouca profundidade; construção do coroamento e resguardo das empenas das naves, com assentamento de cruz terminal; arranjo e adaptação para uso da sacristia de uma antiga dependência junto à fachada N. e construção da passagem coberta ligando-a à Igreja; reparação geral das cantarias exteriores e interiores e tomada de juntas; construção e armação do telhado e cobertura de telha românica; revestimento de parte dos alicerces com silhares aparelhados; construção e assentamento de vidraças coradas, com armação de chumbo; reconstrução da soleira do absidíolo da Epístola, pondo a descoberto a sua primitiva planta circular; demolição de vários anexos construídos no antigo adro (lado N.); construção de nova escada axial; 1958 / 1969 / 1979 - Limpeza de telhados e arranjo de vitrais; 1986 - Electrificação da Igreja; 1991 - rebocos na capela anexa, arranjo, recuperação e reconstituição de vitrais; 2000 - Substituição total da telha das coberturas com aplicação de subtelha, e beneficiação da iluminação e arranjos exteriores no pátio anexo. |
Observações
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*1 - Segundo o contrato de 3 Julho 1546, realizado pelo tabelião Pedro Dias e assinado pelo arq. Diogo de Castilho, a quem se poderá atribuir a traça da igreja, a entrada da Igreja da Misericórdia, seria feito por um patim sobre a sacristia e capela de São Simão, levantado de modo a não lhe causar "nojo" e "debaixo desse ficarão balcão e arcos que vem sobre a porta", a serem "muito bem forradas" e de modo a não "tolher" a vista da sacristia. Para as obras concorreu a esmola de 300$000 rs de juro que o Bispo D. João Soares fizera. *2 - O "Memorial das Rendas e mais couzas da Misericórdia de Coimbra", de 1645, sendo Provedor Gonçalo Leitão de Melo, reproduz a sépia na segunda folha o retábulo de Nossa Senhora da Misericórdia, talvez o da igreja e actualmente no Museu Machado de Castro, e, entre os bens descriminados, destaca-se a referência à existência de: um retábulo de Nossa Senhora na primeira casa que foi do Despacho com cortinas azuis; um retábulo com a Verónica de Cristo; dois retábulos na casa do Despacho do rei e rainha D. João II e sua mulher D. Leonor; outros dois que lhe respondem na mesma casa da outra parte, dos Bispos D. João Soares e D. Afonso de Castelo Branco; outro retábulo grande na mesma casa sobre a porta por onde entram, de Nossa Senhora da Misericórdia; outro da mesma senhora com a mesa redonda pintada nas costas onde se assentam os Provedores; dois órgãos no coro; três sacras velhas; três sacras novas e douradas; três Evangelhos de São João; um nicho em que está o Santo Crucifixo com seu calvário, com uma cortina de volante; um nicho com o Ecce Homo; grande estante no coro; seis hastes com cruzes e as Bandeiras com Passos da Paixão; uma Bandeira que serve quando há penitentes; dois estandartes com as armas reais que estão nas portas da igreja na 5ª feira de Endoenças; sete tábuas com as memórias da casa e que estão na casa do Despacho; a mesa redonda em que se faz a Mesa; seis escabelos de couro preto acolchoados que servem a mesa; os cinco bancos no coro-alto para os capelães, um deles um organista; duas bandeiras dos enterramentos; quatro caixas de esmolas na igreja. *3 - Nas obras de 1701concordou-se fazer a obra no cunhal S. até onde fosse necessário na frente, "em direitura das costas da capela mor"; para ampliar o espaço, puxava-se para fora 20 palmos do cemitério e escada da porta principal da Igreja de São Tiago e reformava-se a mesma escada. A Colegiada de São Tiago aceitou a ampliação com a condição da Misericórdia dar-lhes as casas que iam reedificar por baixo da dita capela e lajear a sua igreja ou darem o dinheiro para essa obra. Enquanto se reedificava a igreja, os ofícios religiosos da Misericórdia eram feitos na Igreja de São João de Santa Cruz. *4 - A história da Igreja da Misericórdia sempre foi atribulada, sobretudo devido à sua invulgar implantação sobre a Igreja de São Tiago, possível apenas pelo grande desnível de terreno, já que a cabeceira daquela igreja ficava enterrada na vertente do morro, permitindo o fácil acesso à fachada principal da igreja da Misericórdia, virada a E., pela antiga R. do Coruche, hoje Visconde da Luz. Estava concluída por volta de 1549, mas devido à falta de espaço e dificuldades de expansão, só em 1605, depois de duas outras construções iniciadas, se decidiu definitivamente não mudar a igreja de local e se opta pela sua redecoração. A sua total reconstituição é impossível, não só devido às reformas sofridas, com substituição de elementos decorativos iniciais, mas também devido às expoliações e demolições sofridas no séc. 19 e 20 para reestruturação da rua e restauro da Igreja de São Tiago. Sabemos, no entanto, que era de uma nave, possuía inicialmente três retábulos em pedra de Ançã, de João de Ruão, dispostos juntos no topo da nave, o que Nogueira Gonçalves julga mais provável, ou tendo apenas o mor no topo e os outros colateralmente; um grupo escultórico com representação do enterro de Cristo; um relevo com a Mater Omnium sobre o portal de entrada, seguindo assim a tipologia mais comum das igrejas de Misericórdia da região de Coimbra. O antigo retábulo-mor, no Museu Machado de Castro desde 1908, é de planta recta, dois registos de edículas, separados por frisos, e três eixos, separados por colunas em balaustre, as do primeiro registo com nichos albergando imagens, encimados de baldaquino. Cada edícula alberga relevos: no eixo central tem representado a Visitação e superiormente a Mater Omnium, seguindo o esquema comum dos retábulos do tipo; lateralmente, tem no lado do Evangelho, a Adoração dos Pastores encimada pela Adoração dos Reis Magos, e no lado da Epístola a Apresentação de Jesus no Templo sobrepujada pela Fuga para o Egipto. À excepção do relevo da Mater Omnium, todas as cenas têm como pano de fundo estruturas arquitectónicas perspectivadas, de raiz quatrocentista, constituindo, como um todo, uma obra de bastante equilíbrio e qualidade. Um dos retábulos colaterais e actualmente exposto no Museu da Misericórdia representa a Visitação, mas encontra-se incompleto. O relevo isolado da Mater Omnium, segundo Nelson Correia Borges, pertence já à segunda fase da obra de João de Ruão e o grupo escultórico do enterro de Cristo, incompleto, segue a iconografia e moldes de outros existentes na região Centro. Apesar da sua implantação, percebemos que a igreja possuia uma envergadura e altura razoável, não só devido às estruturas retabulares e ao acervo escultórico ainda existente, mas também devido ao que a documentação nos relata no séc. 17. De facto, nesta altura, acrescentou-se-lhe a casa do Despacho, cartório, sacristia e outras dependências, mandou-se forrar as paredes com azulejos de padrão policromo, e já possuía um púlpito, cadeiral dos Mesários, mesa redonda da Mesa e um coro-alto com dois órgãos; um destes, ao ser transferido para o Colégio da Sapiência teve de ser transformado e a abódada do coro-alto cortada para permitir a sua colocação no novo espaço. Portanto a igreja da Misericórdia teria de ser maior e mais alta do que a do Colégio. No séc. 18, segundo os novos ditames estéticos da época, entre outras obras, substituiram-se os retábulos de pedra por uns de talha dourada, em barroco joanino, tendo sido vendidos em 1907, o retábulo-mor à Capela do Dianteiro e os laterais e imagem do Cristo à Capela do Senhor da Serra. Já anteriormente outras peças de valor foram concedidos a outros imóveis: em 1901 um altar velho para a Capela de Santo António no Lug. Chão do Bispo; em 1904, 6 castiçais, uma cruz e uma imagem à capela da Carapinheira da Serra; em 6 Março deste ano, Francisco Gomes de Carvalho, viúvo do Lug. de Agrelo, freguesia Figueira do Lorvão, arrematou em hasta pública, um retábulo e "gavetas" da antiga Misericórdia, por 40000 rs; a 20 Junho 1906 foi autorizado o depósito no Museu de Instituto de Coimbra de um quadro representando São Pedro e de vários santos de pedra da Misericórdia. |
Autor e Data
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Horácio Bonifácio 1991 |
Actualização
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Lúcia Pessoa 2001 |
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