Escola Camões
| IPA.00014294 |
Portugal, Santarém, Entroncamento, Nossa Senhora de Fátima |
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Arquitectura civil educativa, ecléctica. Escola para o ensino primário, de planta rectangular composta, de desenvolvimento longitudinal, com dois pisos e coberturas diferenciadas em telhado de quatro águas e terraço. Contando com espaços de apoio extraordinariamente generosos - sala de professores, biblioteca, vestíbulo e corredores amplos e bem iluminados - para além das 4 salas de aula no piso térreo e 4 habitações para os professores no piso superior, esta foi a maior escola para o ensino primário construída na época. Destinava-se ao ensino de crianças e adultos, em regimes diurno (crianças de ambos os sexos, dos 7 aos 12 anos) e nocturno (cursos de alfabetização e de formação profissional). O projecto respeitava as recomendações e as normas divulgadas pelas mais recentes correntes pedagógicas internacionais no domínio da medicina escolar, quanto à capacidade de ocupação por sala, volume de ar e ventilação, orientação solar, direcção e quantidade da luz, relação entre as áreas exteriores e interiores; as mesas de trabalho, concebidas para a "escrita inclinada" e não "direita", foram também especialmente desenhadas. |
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Número IPA Antigo: PT031410010010 |
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Registo visualizado 1946 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Educativo Escola Escola primária
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Descrição
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Espaço escolar inscrito num terreno de configuração quadrangular, com traçado ligeiramente oblíquo a Oeste. O lote é integralmente rodeado por um muro alto de alvenaria, com acabamento a reboco e pintura, vazado na frente N. por um portão central, entre pilares de alvenaria de pedra rusticada, e por um conjunto de 6 vãos de peito rectangulares, cada um deles coroado por frontão ondulado com volutas na base e protegido por grade em ferro forjado. O edifício principal implanta-se ao centro do lote e desenvolve-se longitudinalmente (sentido E.-O.), com fachada principal voltada a N., assim definindo duas zonas distintas e separadas por portões: um jardim arborizado frontal e um terreiro de recreio na retaguarda. O recreio é cruzado a meio por uma galeria coberta que liga o edifício ao alpendre e instalações sanitárias adossados ao muro do fundo (S.). Estas construções assentam em pilares de alvenaria de tijolo cerâmico maciço com reboco e pintura sobre bases em alvenaria de pedra rusticada, mísulas e capeamentos em pedra e asnas e cavilhas de ligação em madeira; o pavimento é em betonilha; e a parede do fundo da galeria encontra-se revestida com azulejos cerâmicos vidrados lisos (painéis brancos envolvidos por faixas verticais e horizontais azuis). A meio do alpendre situa-se uma fonte com elementos decorativos em pedra esculpida e painéis figurativos em azulejo (espiga e pássaro). O edifício principal, com dois pisos e planta simétrica, é composto pela agregação de diversos volumes, unificados pelo soco contínuo em granito, de aparelho ortogonal irregular e superfície rusticada, e pelo beirado saliente de telha de canudo que os contorna. O volume dominante é paralelepipédico e tem cobertura em telhado de 4 águas, em telha marselha. As fachadas principal e posterior são dominadas pela abertura de vãos a ritmo regular, realizada para O. e E. do corpo e pano centrais que assinalam o eixo do edifício: no piso térreo, grandes vãos de verga em arco abaulado em tijolo cerâmico maciço com guarnições de pedra no peito e até meia altura das ombreiras; no piso superior, vãos rectangulares regulares, com guarnições simples em pedra. A meio da fachada principal, um corpo avançado define a entrada. O acesso faz-se por um conjunto de degraus exteriores com planta em arco de circunferência a que corresponde um alpendre apoiado sobre colunas cilíndricas de ábaco quadrado. O piso superior deste corpo tem um terraço central acessível, enquadrado por dois volumes de planta rectangular cobertos por telhado de 2 águas terminando na fachada frontal com empena triangular. O volume principal é rematado em cada um dos seus topos por um corpo adossado recuado. Estes corpos têm porta na fachada principal ao nível do piso térreo a que se acede por degraus exteriores, vãos escalonados nas fachadas laterais e janelas do piso superior com desenho e posicionamento de excepção; no seu interior contêm as instalações sanitárias e as escadas que conduzem ao piso superior. INTERIOR: no piso térreo, o vestíbulo é composto por um conjunto de espaços intercomunicantes, apenas separados por sequências de colunas de secção octogonal, prolongando-se desde a entrada principal até à porta do recreio, na fachada oposta, e se articula na perpendicular com os corredores longitudinais de acesso às 4 salas de aula. As colunas e paredes desta zona comum são parcialmente revestidas com azulejos cerâmicos vidrados lisos (azul escuro e branco), definindo padrão em xadrez regular; os pavimentos em mosaico hidráulico colorido (branco, amarelo, negro), definem padrões geométricos ornamentais de maior complexidade rítmica. Os corredores são iluminados pelos vãos da fachada principal (N); as salas de aula abrem-se para o recreio, a S. O piso superior (originalmente dividido em 4 habitações destinadas aos professores) encontra-se hoje muito transformado (adaptado a cantina, cozinha, salas de aulas e de apoio) e bastante degradado: pavimento e escadas de acesso em madeira, paredes em tabique de madeira e gesso e tectos falsos em estafe. |
Acessos
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R. Engenheiro Ferreira Mesquita * |
Protecção
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Inexistente |
Enquadramento
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Urbano, em planície, isolado ao centro do terreno e delimitado por muro alto. Parte integrante do Bairro Camões (v. PT031410010004 ), a Escola ocupa uma das parcelas definidas pela estrutura viária do aglomerado, delimitada a N. pela estrada para Torres Novas, a E. pela Rua Direita e a S. pela "Rua Detrás da Escola". |
Descrição Complementar
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Os pilares que enquadram o portão de entrada no muro exterior são rematados superiormente por figuras de mochos, esculpidas em vulto. Mascarão esculpido com cabeça de leão na fonte do alpendre da retaguarda. O vestíbulo de entrada tem pinturas decorativas nas vigas e caixotões do tecto, aplicadas por estampilhagem sobre estuque liso: faixas lisas e figuras soltas, em azul e amarelo. Na parede frente à porta de entrada, sobre o arco central, pequeno painel pintado com a inscrição "Escola Camões. 1927". Painel de azulejo (azul sobre fundo branco) no remate superior central da fachada principal com a inscrição "Escola Camões" em letras maiúsculas, de tipo sem patilha e desenho geométrico elementar, sobre motivo figurativo floral. Os lampiões e candeeiros suspensos (exterior e interior) resultam do risco de Cottinelli Telmo e são em chapa e varão metálicos com pintura. |
Utilização Inicial
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Educativa: escola primária |
Utilização Actual
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Devoluto |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Divisão de Construção da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses (CP): arq. José Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948) e arq. Luís da Cunha(1894-?) |
Cronologia
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1859 - fundação do Entroncamento, quando as linhas de caminho de ferro do Norte e do Leste começaram a ser prolongadas para além da Ponte da Asseca: o ponto de divergência dos dois traçados foi situado num território então completamente despovoado; 1890 - o aglomerado tinha ainda apenas uma escassa dezena de casas; séc. 20, primeiras décadas - com o gradual desenvolvimento da rede de caminhos de ferro, o Entroncamento transformou-se num dos principais centros ferroviários do país, e portanto a localização mais adequada para a instalação de oficinas e depósitos de material circulante. Aqui se verificavam as maiores concentrações de funcionários residentes ou em deslocação, ocupados nas tarefas de construção e manutenção da rede, motivo pelo qual, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses (CP) aqui construiu habitações (permanentes ou temporárias) destinadas ao seu pessoal e os equipamentos para a sua assistência e apoio (armazém de víveres, cantina, escola, posto médico e dispensatório). Assegurando aos ferroviários e às suas famílias as condições mínimas de subsistência, o acesso aos cuidados básicos de saúde e uma educação elementar, a CP antecipava o ideário corporativista - oficialmente consagrado pelo Estado Novo alguns anos mais tarde - que visava substituir a luta de classes pela sua conciliação e cooperação; 1919 - inauguração da primeira fase do bairro de "Vila Verde" no Entroncamento, o primeiro promovido pela CP para os seus funcionários (habitações para vinte famílias); 1923 / 1925 - projecto da Escola Camões, integrada no "Bairro Camões, a construir num terreno próximo das casas de "Vila Verde"; o projecto é elaborado na Divisão de Construção da CP, pelos arquitectos Cottinelli Telmo e Luís Cunha, então contratados pela companhia (1923); 1924 / 1925 - projecto do plano do Bairro Camões; 1927 - conclusão do bairro; 1928, Janeiro - inauguração da Escola Camões. |
Dados Técnicos
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Estrutura mista |
Materiais
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Alvenaria (de tijolo maciço e pedra), betão armado, ferro forjado, calcário, granito, tijolo maciço, telha cerâmica "marselha" e telha cerâmica de canudo, azulejos cerâmicos vidrados lisos , betonilha, vidro, madeira, mosaico hidráulico colorido, tabique de madeira e estafe, chapa e varão metálicos. |
Bibliografia
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TELMO, Cottinelli, CUNHA, Luís da, Escola e Bairro Camões no Entroncamento, Arquitectura, nº 4, Abril 1927, pp. 50-56; [TELMO, Cottinelli] Divisão de Via e Obras, Memória Descritiva e Justificativa [da Escola Camões], s. data, D.G.G.I., C.P., Arquivo Técnico; MARTINS, João Paulo, Cottinelli Telmo. A Obra do Arquitecto (1897-1948). Dissertação de mestrado em História da Arte, Lisboa: FCSH, UNL, 1995. 2 vol |
Documentação Gráfica
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CP: Direcção Geral de Gestão de Infraestruturas, Arquivo Técnico; Espólio de Cottinelli Telmo (na posse da família) |
Documentação Fotográfica
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DGEMN: DSID |
Documentação Administrativa
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CP: Direcção Geral de Gestão de Infraestruturas, Arquivo Técnico |
Intervenção Realizada
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O piso superior, originalmente ocupado por quatro fogos de habitação destinados aos professores, foi adaptado e integrado no funcionamento da escola (cantina, cozinha, salas de aulas e de apoio). |
Observações
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* Estrada Nacional n.º3, km 82, a 1 km do Entroncamento e a 5 km de Torres Novas |
Autor e Data
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JPaulo Martins 2002 |
Actualização
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