Dossiê: Mosteiro de São Vicente de Fora, Lisboa
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Março 1995, 24x32cm, 96 pp.
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O cemitério dos cruzados de São Vicente de Fora
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Fernando Eduardo Rodrigues Ferreira
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Este artigo dá-nos conta da escavação arqueológica realizada no cemitério medieval situado sob o atual Mosteiro de São Vicente de Fora, comummente designado por Cemitério dos Cruzados. A presente escavação permitiu concluir, com alguma segurança, que se deverá tratar de um primitivo cemitério moçárabe que D. Afonso Henriques adotou para cemitério dos cruzados. No decurso dos trabalhos no mosteiro, foi ainda possível confirmar a existência, no chão da Capela dos Meninos de Palhavã, dos despojos viscerais de alguns reis da Dinastia Bragantina - de D. João V a D. João VI, inclusive —, o que permitirá resolver definitivamente a questão da morte, por possível envenenamento, deste último monarca.
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O convento românico de São Vicente de Fora
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Manuel Luís Real
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A origem de São Vicente de Fora está intimamente ligada aos acontecimentos que conduziram à conquista de Lisboa, em 1147. Na sua origem parece estar um cemitério criado pelos sitiantes, junto do qual foi erguida uma ermida que terá sido obra de franceses, marcando o início da presença normanda na arte portuguesa dos séculos XII-XIII. O novo convento integrou-se no padroado real, sendo ocupado por cónegos regrantes de Santo Agostinho. Podemos fazer uma ideia do edifício medieval através de reproduções antigas e de uma ou outra referência ao convento, antes da sua demolição. Por sorte, chegaram até nós dois desenhos de invulgar interesse, hoje na Academia Nacional de Belas-Artes: um original de 1590, com o projeto para o novo convento, e uma cópia assinada por João Nunes Tinoco (possivelmente de 1684). Esta última inclui o traçado do mosteiro primitivo, relacionando-o com o atual. Confrontado com as panorâmicas da cidade de Lisboa podemos reconstituir, aproximadamente, o edifício dos cónegos regrantes.
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Do Escorial a São Vicente de Fora: algumas notas sobre Filipe II e a arquitetura portuguesa
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Miguel Soromenho
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O presente artigo estabelece um estudo comparativo entre os reais mosteiros de São Lourenço do Escorial e de São Vicente de Fora, verificando como estes foram, antes de tudo, entendidos como monumentos de celebração dinástica, reservados para panteão régio, dentro de uma linha que recuperava a antiga tradição peninsular de que o Mosteiro de Santa Maria de Belém constituía, em Portugal, o exemplo mais significativo. Assim, concebido como um novo Jerónimos para uma nova dinastia, pode-se antever, quer no processo de reconstrução do conjunto conventual lisboeta, quer no modelo arquitetónico para ele escolhido, essa ambição de novidade ou, se se quiser, de modernidade, com que Filipe II quis marcar o seu reinado. As aproximações possíveis entre o Escorial e São Vicente de Fora, mais do que conformar a influência de um modelo e a constituição da sua réplica, traduzem um mesmo ambiente cultural, uma mesma racionalidade administrativa e uma mesma forma de organização política.
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O projeto de retábulo-mor de Francisco Venegas para a igreja do Mosteiro de São Vicente de Fora
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Vítor Serrão
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Entre o acervo de desenhos e estudos do ciclo maneirista que se conservam no Gabinete de Desenhos do Museu Nacional de Arte Antiga encontra-se um notabilíssimo estudo de Venegas, geralmente identificado como projecto para o retábulo de São Vicente de Fora. Datável de c. 1575-1578, terá sido encomenda de D. Sebastião com destino à nova igreja dedicada a São Sebastião e São Vicente que este monarca pretendia erigir na Baixa lisboeta. No entanto, tal como a igreja nunca veio a ser terminada, também o retábulo não foi concretizado, para o que terão sido determinantes a morte de Francisco Venegas e a excessiva delonga na construção do templo filipino de São Vicente de Fora.
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O retrato azul e branco de D. João V
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Luísa Arruda
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O retrato azul e branco de D. João V é a peça-chave do programa iconográfico elaborado, por ordem do próprio, para a portaria de São Vicente de Fora. Nele o rei mostra-se personificando uma ideia de poder através da linguagem simbólica do retrato de corte. Neste espaço de receção apresenta-se uma visão retórica e envolvente sobre a História de Portugal, sendo Lisboa apresentada como símbolo do culminar da Reconquista Cristã e da criação da nacionalidade. São Vicente de Fora é representado em construção e as personagens régias da galeria de retratos são escolhidas em função da sua particular ligação ao mosteiro. O programa iconográfico da portaria pode, assim, considerar-se como "ensaio" para outros momentos de expressão do poder absoluto como imanência divina.
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A intervenção
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Jorge de Brito e Abreu
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Fundado no século XII, o Mosteiro de São Vicente de Fora foi totalmente reconstruído no final do século XVI. Localizado na parte antiga de Lisboa, a sua presença é marcante, quer pelo volume, quer pela implantação no tecido urbano. Este artigo dá-nos conta da intervenção global efetuada no imóvel ao longo dos últimos anos, iniciada com a recuperação da pintura da abóbada da portaria. Os materiais e as técnicas utilizadas foram, sempre que possível, tradicionais.
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A recuperação dos claustros
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Jorge de Brito e Abreu e Teresa da Câmara
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Os claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora são de planta quadrada, com cinco arcadas, e desenvolvem-se em três pisos, sendo apenas o superior descoberto. Durante o segundo quartel do século XVIII as paredes dos três pisos foram inteiramente revestidas de azulejos de grande qualidade. Ainda no século XVIII as arcadas dos primeiros dois pisos foram fechadas com paredes de alvenaria, sendo as do primeiro piso revestidas, no interior, com painéis de azulejo representando as Fábulas de La Fontaine. Tratando-se de um dos conjuntos arquitetónicos mais notáveis de Lisboa, decidiu-se devolver-lhe a sua verdadeira dimensão, abrindo as arcadas dos claustros do primeiro piso, retirando os azulejos, alvenarias e caixilhos. Os azulejos foram tratados e expostos noutra zona do mosteiro. Quanto ao segundo piso, optou-se por manter o existente.
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Conservação e restauro da sacristia do Mosteiro de São Vicente de Fora e quadro da portaria
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Carmen O. Almada e Luís Tovar Figueira
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O presente artigo dá-nos conta dos seguintes trabalhos de conservação e restauro efetuados no Mosteiro de São Vicente de Fora: fixação da camada pictórica, limpeza e reintegração da pintura do teto da sacristia, bem como da pintura a óleo sobre tela, representando Nossa Senhora da Assunção, tradicionalmente atribuída a André Gonçalves (século XVIII), existente no altar da sacristia; fixação e limpeza da capa pictórica do óleo sobre tela da portaria, representando a Alegoria à Ordem de Malta (século XVII); recuperação das paredes interiores da sacristia (com destaque para o baixo-relevo de D. João V) e de dois anexos.
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Comportamento sísmico de monumentos
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Carlos Sousa Oliveira e Artur Vieira Pinto
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São aqui apresentadas as diversas fases do projeto COSISMO, na área do comportamento sísmico de monumentos, a desenvolver em conjunto pela DGEMN, o LNEC e o CCI. Com uma forte componente de investigação, quer no domínio analítico, quer no domínio experimental, apresenta-se como um projeto-piloto ao nível internacional, e poderá constituir uma referência para outros programas de âmbito mais alargado que possam contribuir para a preservação do património cultural.
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Reutilização cultural do Mosteiro de São Vicente de Fora
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Maria Natália Correia Guedes
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Durante o ano em que Lisboa se transformou no centro cultural da Europa, o Mosteiro de São Vicente de Fora, que havia sido alvo de grandes obras de recuperação, abriu as suas portas com a exposição Encontro de Culturas, Oito séculos de Missionação portuguesa. Com a reutilização cultural de um dos principais monumentos de Lisboa procurou-se, antes de mais, dar nova vivência aos espaços, respeitar a sua vocação, retomando espaços tradicionalmente culturais, encenando serviços históricos de utilidade pública e dignificando locais com forte carga histórica e emocional. Assim, enquanto os claustros e os grandes salões do segundo piso sofriam uma intervenção de musealização para receberam a citada exposição, foi reconstituída a botica seiscentista do mosteiro, e os panteões da Dinastia de Bragança e dos Patriarcas de Lisboa mereceram cuidados especiais de conservação, tal como a Capela dos Meninos de Palhavã.
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O antigo Convento de Santa Marta: as intervenções em curso
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Luísa Cortesão
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Originalmente uma zona de quintas, hortas e cardais, a Rua de Santa Marta integra-se hoje numa malha urbana consolidada, onde o antigo convento surge como unidade aglomeradora, dominando a envolvente. Este é hoje o somatório de construções, resultado de diversas campanhas de obras, onde apenas a igreja e o claustro conservam intacta a sua leitura, constituindo um exemplo notável de arquitetura maneirista. Desde o início do século XX que o convento foi adaptado a hospital, o que determinou profundas alterações que comprometeram definitivamente os seus espaços interiores. A intervenção, pela sua extensão, será faseada. Numa primeira fase procede-se à conservação do exterior da igreja, claustro, antiga Sala do Capítulo e renovação do "Edifício de Transição". Numa segunda fase, a ser feita após a transferência do economato, será feita a reabilitação interior da igreja.
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Um exemplo de construção e restauro de revestimentos cerâmicos: a intervenção nos azulejos da Igreja de Santa Maria de Marvila, em Santarém
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Maria Manuela Malhoa Gomes
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A preservação do património azulejar português torna urgente um conhecimento cada vez mais alargado do azulejo, dos pontos de vista histórico, científico e tecnológico. Toda a problemática sobre a conservação do azulejo só pode ser entendida num contexto mais amplo, pelo que o estudo e a decisão sobre o tratamento a seguir em cada caso deverão, assim, ser efetuados por uma equipa pluridisciplinar, que envolva técnicos das mais diferentes áreas: Arquitetura, Engenharia Civil, Química, História. A título exemplificativo apresenta-se, neste documento, o trabalho executado nos revestimentos azulejares da Igreja de Santa Maria de Marvila, em Santarém.
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Caso prático de intervenção num edifício classificado: adaptação do Convento de Santa Clara de Portalegre a biblioteca municipal
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José António Sousa Macedo
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Com base no trabalho realizado na DGEMN/DREMS, referente à adaptação de um edifício conventual (fundado no século XIV) a uma biblioteca municipal e à instalação do Grupo de Teatro de Portalegre, pretende-se refletir sobre a metodologia que lhe esteve subjacente. Assim, apresentam-se os aspetos relativos aos princípios que orientaram a evolução e sequência das diversas fases do projeto.
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Para a reutilização da Torre da Roqueta integrada no aproveitamento do Forte ou Castelo de Santiago da Barra, Viana do Castelo
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Augusto Costa
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A Torre da Roqueta é o que hoje resta de um antigo forte quatrocentista, construído, possivelmente, na sequência das cortes de Lisboa de 1459, como resposta às queixas dos procuradores de Viana do Castelo a propósito da pirataria galega e francesa. Recebeu campanha de obras no século XVI, altura em que a proteção da costa foi reforçada. Foi, contudo, sob a dominação filipina que decorreram os grandes trabalhos que atribuíram a atual volumetria ao forte. Em conjunto com outras entidades, a Comissão Regional de Turismo do Alto Minho definiu um programa base de reutilização do imóvel, tendo como objetivo prioritário o seu aproveitamento para o turismo e cultura, do qual se destaca a intenção de dar um uso quotidiano ao forte, recriando um espaço que, em termos turísticos e culturais, teria de ser animado em permanência. Nesta proposta previu-se a reutilização da Torre da Roqueta como uma nobre área de receção a eventos especiais, ficando a execução da proposta a cargo da DGEMN/DREMN.
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