Igreja Paroquial de Encarnação / Igreja de Nossa Senhora da Encarnação e São Domingos
| IPA.00006379 |
Portugal, Lisboa, Mafra, Encarnação |
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Igreja paroquial*2 construída no local de uma ermida quinhentista, nos séculos 17 e 18, apresenta características que se podem filiar numa estética barroca e rococó, que encontra alguma filiação no modelo erudito do Monumento de Mafra (v. IPA.00006381). Muito embora se integre no conjunto de edifícios religiosos da denominada região saloia, apresenta um tratamento arquitetónico exterior, ainda que austero, bastante mais elaborado do que o habitual, apresentando uma fachada principal, monumental, de grande dinamismo, precedida de escadório, revestida a pedra aparelhada, centralizada pelo arco pleno de acesso à galilé encimado por janela de sacada com balaustrada entre pilastras estriadas. Sobre a cimalha encontra-se um relógio de quadrante circular que antecede a empena triangular recuada, interrompida lateralmente pelas duas sineiras, de desenho tardobarroco, altas, com ventanas de arco pleno, e cúpulas bolbosas vazadas por óculos, de construção tardia e possível influência da basílica mafrense. O tratamento da fachada principal é complementado lateralmente pela presença do alpendre, que não sendo uma novidade no contexto das igrejas rurais da região de Mafra e concelhos limítrofes (Sintra, Loures e Torres Vedras) edificadas a partir do século 16, é aqui inovador ao apresentar-se de ambos os lados e com articulação ao frontispício. O interior encontra-se organizado segundo um esquema planimétrico básico, de nave única, com cobertura em abóbada de berço com painéis em estuque decorados, capela-mor e duas capelas laterais confrontantes, retabulares, profundas, protegidas por teia balaustrada em madeira, apresenta uma dinâmica decorativa representativa do barroco setecentista, prolixa em azulejo, talha dourada, estuque decorativo, pintura e mármore. Adossado à fachada principal encontra-se, ainda, um coro-alto servido de balaustrada de madeira, onde se encontra um órgão-armário setecentista. Nos muros da nave pode-se ainda observar o silhar de azulejo, tipo tapete em tons de amarelo e azul, seiscentista, sobrepujado por dois registos de medalhões em estuque imitando mármore, conjugando elementos geométricos e vegetalistas, de gramática rococó. No muro do lado do Evangelho encontra-se adossado um púlpito setecentista, em talha com trabalho rococó. Na parede murária do lado da Epístola uma porta travessa, de verga reta, é encimada por sanefa em talha dourada, semelhante à que encima o arco triunfal e as janelas da capela-mor. Ainda nas paredes murárias encontram-se duas pias de água benta, confrontantes, em forma de concha, de mármore rosa. Os retábulos das capelas são em mármore, sendo, o do lado do Evangelho, de colunas torsas suportando arco conopial encimado por figuras reclinadas, de clara influência da real obra mafrense, muito embora aqui complementado por altar expositivo em talha dourada. Capela-mor precedida por arco pleno, apresenta lambril de azulejos figurativos oitocentistas, azuis e brancos, com a "Adoração dos Pastores" e a "Adoração dos Reis Magos", sobre estes seis telas alusivas a temas marianos com molduras de talha, na cobertura, em abóbada de berço, encontra-se um medalhão pintado com a "Assunção da Virgem". De toda decoração interior merece destaque o retábulo da capela-mor de fino trabalho de talha dourada de Estilo Nacional, atribuído ao mestre André de Freitas, de um só eixo vertical e corpo côncavo, sobre sotobanco marmóreo, de que partem colunas torsas e nichos rocaille nos intercolúnios, onde figuram duas imagens de vulto perfeito, do lado do Evangelho, de Santo António, do lado da Epístola, de São José, rematado por dois segmentos de frontões curvos completados por representações de anjos em alto-relevo e no centro figuração de cena da "Anunciação", altar expositivo com sacrário ladeado por duas figuras de anjos, que enquadram a tribuna preenchida com trono piramidal rematado por maquineta com a imagem do orago. |
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Número IPA Antigo: PT031109040010 |
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Registo visualizado 1709 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Igreja paroquial
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Descrição
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Planta poligonal, composta pela articulação longitudinal de dois corpos retangulares escalonados, de dois registos, correspondentes à nave e à capela-mor, a que se adossam, a sul, no final do corpo da nave, um corpo quadrangular e dois pequenos corpos retangularess de dois e um registos, correspondentes à sacristia e a anexos. O corpo da nave é, ainda, precedido pelo corpo retangular da galilé, que estabelece a ligação com as duas sineiras e com os dois alpendres fechados que percorrem a nave. Fachadas rebocadas e caiadas de branco, delimitadas por cunhais de cantaria e percorridas por soco do mesmo material. Cobertura exterior em telhados de duas águas sobre a nave, abside e anexos, a quatro na sacristia, a três nos alpendres laterais e em domos bolbosos vazados por óculos e rematado por cruz de ferro nas torres. Fachada principal orientada a nascente, revestida a cantaria calcária aparelhada, antecedida por escadório formado por dez degraus pétreos. Desenvolve-se em dois registos rematados por cornija saliente, sendo o primeiro centralizado pelo arco pleno de acesso à galilé, ladeado por duas frestas laterais e encimado por janela de sacada servida de balaustrada férrea entre pilastras estriadas. Sobre a cimalha encontra-se um relógio de quadrante circular que antecede a empena triangular recuada, rasgada por vão retilíneo com moldura simples e servido de grades, e, sobre este, um óculo. Interrompem-na lateralmente duas sineiras, com ventanas de arco pleno, e cúpulas bolbosas vazadas por óculos. Fachadas laterais em dois panos de dois registos, correspondentes aos corpos principais. Sendo os panos da abside rasgados por três vãos retilíneos com moldura de cantaria simples e servidos de grades, e o pano da nave antecedido, no primeiro registo, por alpendres suportados por colunas dóricas sobre muro, e encimados por três vãos semelhantes aos da abside. Na fachada lateral esquerda surge, ainda, adossado ao final da nave, o corpo da sacristia, em dois registos, com acesso a nascente, e, ladeando-o, dois pequenos anexos de um só registo. No ângulo sudeste do alpendre desta fachada um relógio de sol. Na fachada lateral direita de notar a existência de uma porta travessa. Fachada posterior de empena triangular vazada por óculo. INTERIOR: galilé de arcos abatidos e abóboda de aresta, estabelece o acesso ao interior da igreja e das duas sineiras, feito por portas de verga reta, e a ligação entre estas últimas e as estruturas alpendradas, com teto em madeira. A igreja é de nave única, capela-mor e duas capelas laterais, profundas, retabulares, protegidas por teia balaustrada em madeira. Adossado à fachada principal encontra-se um coro-alto servido de balaustrada de madeira, onde se encontra um órgão-armário setecentista. A cobertura da nave é em abóbada de berço com trabalhos de estuque, tendo, no centro um painel oval com o brasão régio. As paredes murárias encontram-se percorridas por silhar de azulejo seiscentista, policromo, tipo tapete, em tons de azul e amarelo, sobrepujados por dois registos de medalhões em estuque imitando mármore, conjugando elementos geométricos e vegetalistas, alguns com cartelas em talha dourada com as litanias da Virgem. Na parede murária do lado do Evangelho encontra-se adossado um púlpito, setecentista, em talha, de guarda plena de secção retangular e bacia saliente sobre mísula. Na parede murária do lado da Epístola apresenta-se uma porta travessa, de verga reta, encimada por sanefa em talha dourada. Ainda nas paredes murárias, sensivelmente a meio, confrontantes, encontram-se adossadas duas pias de água benta em forma de concha, de mármore rosa. Capelas laterais confrontantes, com retábulos de mármore e altar expositivo em talha, encimadas por sanefas de talha dourada. São estas, a do lado do Evangelho, da invocação de São Pedro, e a do lado da Epístola, dedicada a Nossa Senhora da Encarnação. Arco triunfal de volta perfeita encimado por sanefa de talha dourada. Capela-mor profunda, apresenta lambril de azulejos figurativos oitocentistas, azuis e brancos, representando as cenas da "Adoração dos Pastores" e da "Adoração dos Reis Magos", sobre estes seis telas alusivas a temas marianos com molduras de talha e duas janelas laterais com sanefas de talha. Cobertura em abóbada de berço, centralizada por medalhão pintado com a "Assunção da Virgem". Parede testeira preenchida por retábulo de talha dourada de Estilo Nacional, de um só eixo vertical e corpo côncavo, sobre sotobanco marmóreo, de que partem colunas torsas e nichos rocaille nos intercolúnios, onde figuram duas imagens de vulto perfeito, do lado do Evangelho, Santo António, do lado da Epístola, São José, rematado por dois segmentos de frontões curvos completados por representações de anjos em alto-relevo e no centro figuração de cena da "Anunciação". Camarim vazado com trono piramidal rematado por maquineta com a imagem do orago, altar expositivo com sacrário ladeado por duas figuras de anjos, que enquadram a tribuna. Na sacristia figura um arcaz de madeira datado de 1661, um relógio inglês do século 18 e uma imagem de São Marcos em pedra, provavelmente vinda da antiga paroquial de São Domingos da Fanga da Fé. |
Acessos
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Cerca de 15 Km de Mafra, na Rua de Carvalhais. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,030905; long.: -9,368416 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 37 077, DG, 1.ª série, n.º 228 de 29 setembro 1948 *1 |
Enquadramento
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Urbano, isolado, implanta-se em adro rodeado de construções e precedida por uma escadaria. |
Descrição Complementar
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Retábulo da capela lateral do lado do Evangelho, em mármore rosa e branco, formado por sotobanco que sustenta um par de colunas torsas, rematado por arco conopial, tendo nas ilhargas, assentes em dois segmentos de frontões curvos, figuras em alto-relevo, altar expositivo em talha dourada, de estrutura tripartida e corpo côncavo, com nichos albergando seis imagens de vulto perfeito, na edícula do eixo central, São Pedro, sobrepujado por Nossa Senhora, ladeado por São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora das Dores. Retábulo da capela lateral do lado da Epístola, também em mármore, rosa, verde e azul, formado por sotobanco que sustenta altar expositivo de corpo convexo, de um só eixo vertical, centralizado por edícula com figura de vulto de Nossa Senhora da Encarnação, ladeada por colunas decoradas com aplicações florais em talha dourada, neste material são os capitéis jónicos e o remate com as litanias da Virgem. Sobre o sotobanco, a ladear a edícula encontram-se as figuras de vulto de Nossa Senhora de Fátima e do Sagrado Coração de Jesus. |
Utilização Inicial
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Religiosa: igreja paroquial |
Utilização Actual
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Religiosa: igreja paroquial |
Propriedade
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Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa) |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ENTALHADOR: André de Freitas (c. 1753); ORGANEIRO: Bento Fontanes (atr., c. 1770). |
Cronologia
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Séc. 16 - existia, no lugar da Lobagueira (atual Encarnação), morgadio instituído no século 14 por D. Miguel Lobato, uma pequena ermida dedicada a Santa Catarina, da apresentação do morgado e aberta ao culto; em finais da centúria o pequeno templo ameaçava ruina, razão pela qual, a população solícita ao então morgado, D. Jorge de Figueiredo (antepassado da atual Casa de Belmonte), licença para a reconstruir; a distância do centro religioso (São Domingos da Fanga da Fé), leva a que população local sinta a necessidade de aqui assistir ao culto; obtida a autorização inicia-se a reconstrução, no entanto, a obra rapidamente é embargada, por ordem do morgado, que quer ver garantido o direito ao seu padroado; 1604, 15 de setembro - início da obra sob os auspícios de D. Jorge de Figueiredo, com cerimónia de lançamento da primeira pedra e missa campal; Belchior Fernandes, barbeiro de profissão, residente na Lobagueira, é apresentado pelo morgado como ermitão da nova igreja; o morgado da Lobagueira encomenda uma imagem do orago ao cabido da Sé de Lisboa; 1610 - Domingos Ramos e outros moradores da Lobagueira transportam a imagem da capital para o templo da Lobagueira, segundo a lenda a imagem, que seria de Santa Catarina, a meio da viagem transforma-se numa imagem da Virgem, esta "encarnação" motiva a alteração do orago; 1611 - vendem-se candeias dentro da capela para a fábrica do novo templo; 1652 - por provisão sua, D. João IV (1604 - 1656) determina que as esmolas dadas na Ermida de Nossa Senhora da Encarnação sejam empregues nas suas "verdadeiras e necessárias" obras, no entanto, estas decorrem lentamente; 1661 - data de um arcaz da sacristia; séc. 17 - silhares de azulejos de padrão seiscentista, em tons de azul e amarelo, que revestem as paredes da nave da igreja; 1709 - é concedida licença para a celebração de missas cantadas; posteriormente, D. João V (1689 - 1750) permite a realização de duas feiras francas, nos segundos domingos e segunda-feira dos meses de setembro e outubro, onde apenas é cobrado um pequeno imposto de terrado, usado a favor das obras da igreja; 1753 - aquisição nas oficinas lisboetas dos painéis de azulejo historiados, representando a Adoração dos Pastores e a Adoração dos Reis Magos, para a capela-mor, assim como, para esta mesma capela seis telas com cenas da Vida da Virgem; capela lateral do lado do Evangelho, dedicada a São Pedro, com retábulo de mármore, cujo modelo poderá ter tido origem nos retábulos da Basílica de Mafra (v. IPA00006381); 14 outubro - aquisição de vários trabalhos em talha, a António de Freitas, que a seu pedido são avaliados em 733$400 réis pelos mestres-entalhadores Manuel de Jesus Abreu, por parte do padroeiro, Rodrigo António de Figueiredo, e por Santos Pacheco, pelo mestre-entalhador; 1758 - de acordo com a informação recolhida nas Memórias Paroquiais, a freguesia de São Domingos de Fanga da Fé sofreu grande dano com o sismo de 1755, tendo a igreja paroquial ficado em ruínas, pelo que o culto é transferido para a Ermida de Nossa Senhora da Encarnação, junto ao limite da freguesia de Santo Isidoro, que assume a dignidade de Igreja Paroquial; c. 1770 - execução do órgão, por Bento Fontanes (c. 1705 - 1770); 1790 - é concedido alvará para colocar de maneira honrosa o Santíssimo Sacramento na igreja; 1791 - levantamento da nave em mais 10 palmos e construção das duas torres sineiras, por mestres-pedreiros oriundos da Murgeira, sendo então administradores da comissão fabriqueira, o Padre Francisco Bernardes, seu cunhado Thomaz Bernardes Franco dos Santos, António Bernardes e João Rodrigues; séc. 20, inícios - D. Maria Benedita da Assunção Bernardes deixa em testamento a residência paroquial; 1910 - com implantação da República, a autarquia quis, sem êxito, anexar esta casa e a igreja; 1922 - depois de vários pleitos, acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, reconhece o direito de propriedade da igreja e confrarias à família dos condes de Belmonte; 1948, 29 setembro - a igreja é classificada como Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 37:077, publicado no DG, 1.ª série, n.º 228); 1955, 19 agosto - os descendentes do terceiro conde de Belmonte doam a igreja ao Patriarcado de Lisboa; 2004 - restauro do órgão pelo mestre Dinarte Machado (1959 - ). |
Dados Técnicos
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Estrutura mista |
Materiais
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Cantaria calcária e alvenaria rebocada, azulejos, talha, óleo sobre tela, mármores, ladrilho e telha. |
Bibliografia
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AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de - Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1963, vol. III; ASSUNÇÃO, Guilherme - Mafra. Efemérides do Concelho. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1967; GIL, Maria Júlia da Silva Henriques - Gentes e Coisas da Encarnação. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1994; LOPES, Flávio - Património Arquitetónico e Arqueológico Classificado. Lisboa: IPPAR, 1993, vol. II, p. 87; LUCENA, Armando de - Mafra Monografia. Mafra: Junta de Turismo de Mafra, 1994; PRATAS, Ana Isabel - O Retábulo no Concelho de Mafra. Expressão artística nos séculos XVII e XVIII. Faro: s. n., 2011, dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de História, Arqueologia e Património da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, texto policopiado; PEREIRA, Isaías da Rosa - Subsídios para a História da Diocese de Lisboa do Século XVIII. Lisboa: Patriarcado de Lisboa, 1980. |
Documentação Gráfica
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DGPC: PT DGEMN/DRML |
Documentação Fotográfica
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DGPC: PT DGEMN/DSID / DGPC: PT DGEMN/DRML |
Documentação Administrativa
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DGPC: PT DGEMN/DSID / DGPC: PT DGEMN/DRML / DGLAB: PT ANTT / CMM: PT AMM |
Intervenção Realizada
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1958 - Consolidação do arco da fachada principal e reparação do telhado da nave; 1959 - substituição do telhado da capela-mor; 1960 - consolidação do tecto da nave e arranjo dos telhados; 1961 - substituição do telhado da sacristia. |
Observações
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*1 - DOF: Igreja da Encarnação (antiga Lobagueira dos Lobatos) e recheio. *2 Muito embora fosse igreja de padroado de apresentação particular (pertença dos morgados da Lobagueira, antecessores dos condes de Belmonte, e só cedida por estes ao Patriarcado de Lisboa em 1955, passando então, de direito, a paroquial, já desempenhava funções de paroquial desde o sismo de 1755 que deixara a paroquial de São Domingos da Fanga da Fé impraticável. |
Autor e Data
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Paula Tereno 2018 |
Actualização
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