Forte da Piedade / Fortim de São Domingos

IPA.00035779
Portugal, Portalegre, Elvas, Assunção, Ajuda, Salvador e Santo Ildefonso
 
Forte destacado construído no início do séc. 19, por ordem do Duque de Wellington, seguindo as características dos fortes das denominadas Linhas de Defesa de Lisboa e que, juntamente com os Fortins de São Pedro, de São Mamede e de São Francisco, seus contemporâneos, reforçou o campo entrincheirado de Elvas, ficando o perímetro fortificado com cerca de 10km. Implanta-se num outeiro, que constituía um padastro e permitia a utilização do aqueduto como obstáculo para avançar no terreno. Apresenta planta poligonal, de pequenas dimensões, composta por reduto, fosso e esplanada. O reduto tem cinco faces desiguais, de traçado adaptado ao terreno e orientadas para travar a aproximação do inimigo ao aqueduto da Amoreira, que é aproveitado como gola, determinando algumas características que o distingue dos outros três fortins de Elvas. Por exemplo, o aproveitamento de uma inflexão do aqueduto faz com que a gola não seja completamente retilínea, como nos outros fortins, e crie como que mais uma face abrindo-se, no ângulo de inflexão, uma canhoneira, situação igualmente única. O acesso ao interior faz-se por um dos ângulos do polígono, junto à gola, e não ao centro dessa, possuindo muros a criar corredor. Tem os paramentos da escarpa exterior em ressalto e remates em parapeito com canhoeiras, e no terrapleno interior possui três traveses na frente mais exposta ao ataque da artilharia, ruínas do corpo da guarda, de planta retangular, com alojamento para o comandante, 16 homens e um armazém, e pequeno corpo abobadado. Ao contrário do marcado em planta oitocentista, os paramentos interiores não são percorridas por banqueta. Tal como no Forte de São Francisco, o paiol nunca chegou a ser construído, ao contrário do que aconteceu nos fortes de São Pedro e de São Mamede. O reduto é circundado por fosso, com contraescarpa em alvenaria, inexistente no troço onde o aqueduto serve de gola, e esplanada, que contorna este último.
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Forte    

Descrição

Planta poligonal composta por reduto de cinco faces desiguais, com gola virada a nordeste e parcialmente formada pelo aqueduto, numa zona em que ele faz pequena inflexão, circundado em quase toda a extensão por fosso e com esplanada. O reduto apresenta paramentos com a escarpa exterior em ressalto, em alvenaria mista, mas muito derruídos e cobertos de vegetação, e remates em parapeito com canhoeiras, num total de 12 nas faces e tendo uma outra no ângulo norte da gola, em frente da inflexão do aqueduto. A gola é formada em quase toda a extensão por troço do aqueduto, tendo um dos arcos entaipado. O acesso processa-se a sudeste, por vão entre o aqueduto e o paramento do forte e do fosso, possuindo para o interior muros que formam pequeno corredor. Ao longo das faces e no troço norte da gola é circundado por fosso, com contraescarpa igualmente em alvenaria mista, mas muito danificada na maioria das frentes. A partir da crista da contraescarpa, desenvolve-se a esplanada que, no troço da gola formado pelo aqueduto, se desenvolve a norte do mesmo. INTERIOR com paramento de alvenaria mista aparente, sem vestígio da antiga banqueta que o circundava, tendo na frente virada a sul três grandes traveses, colocados perpendicularmente ao reparo e de topo arredondado. Adossado ao aqueduto, conserva algumas estruturas da antiga casa da guarda, de planta retangular, com pequeno corpo conservando cobertura de uma água e interiormente falsa abóbada de berço abatido.

Acessos

Assunção, EN 372. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,877657; long.: -7,176883

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 30 762, DG, 1.ª série, n.º 225 de 26 setembro 1940 (muralhas e obras anexas) / MN - Monumento Nacional / ZEP, Aviso n.º 1517/2013, DR, 2.ª série, n.º 242 de 13 dezembro 2013 / Património Mundial - UNESCO, 2012 / Incluído na Zona de Proteção do Aqueduto da Amoreira (v. IPA.00003217)

Enquadramento

Peri-urbano, adossado a um troço do Aqueduto da Amoreira, a cerca de 700m a poente da Praça de Elvas. Implanta-se num pequeno outeiro, sobranceiro à estrada nacional e a sul do aqueduto, que o oculta, tendo atualmente as estruturas completamente cobertas por vegetação. A norte, junto à antiga cerca do Convento de São Francisco (v. IPA.00003765), onde se construiu o cemitério, erguia-se o Forte de São Francisco (v. IPA.00035780), demolido depois de 1920, para ampliação do cemitério. O forte é envolvido por terrenos agrícolas.

Descrição Complementar

Num dos traveses possui lápide com a inscrição: "COOPERACIÓN TRANSFRONTERIZA / ESPAÑA - PORTUGAL / COOPERAÇÃO TRANSFRONTEIRIÇA / 2007 - 2013 / Entidade Responsável: / CÂMARA MUNICIPAL DE ELVAS / Designação do Projecto / Objectivo do Contrato: / VALORIZAÇÃO DAS FORTIFICAÇÕES / ABALUARTADAS DA FRONTEIRA / ELVAS/BADAJOZ - BALUARTES / Data: / 25-02-2012".

Utilização Inicial

Militar: forte

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1811 - construção do forte da Piedade, tal como os de São Mamede (v. IPA.00035778), de São Pedro (v. IPA.00028519), e de São Francisco (v. IPA.00035780), pelos ingleses e por ordem do marechal Arthur Wellesley, Duque de Wellington, quando comanda o exército anglo-luso da fronteira do Alentejo, o General Rowland Hill *1, e é governador da praça, o general Francisco Leite, tentando assim colmatar uma deficiência do campo entrincheirado sentida na batalha das Linhas de Elvas; 1815 - o forte da Piedade é descrito como tendo planta hexagonal, 13 canhoeiras, 3 espaldões, fosso "informe" em todo o perímetro, esplanada e os alicerces de um corpo de guarda para alojamento do comandante, de 16 homens e ainda um armazém; refere-se ainda que o paiol nunca foi começado e que existiam duas pequenas acomodações abobadadas para a guarda e para depósito de ferramentas; 1823 - segundo informação de Joaquim Jozé de Almeida e Freitas, tenente coronel do Real Corpo de Engenheiros, "Estes reductos são p.te destacados da Fortificação desta Praça muito interessantes a boa defensa; por q[ue] estando elles bem reparados e bem fortificados hãode demorar tempo considerável os sitiantes dist.es do Forte de S. Luzia, e da Praça; port.o he de m.ta urg.ia a comcervação destes reductos, como Obras permanentes (...)"; a sua guarnição de infantaria é então de 353 soldados; 1852 - segundo o relatório de José Manços de Faria, coronel graduado do Estado Maior de Engenharia, "os quatro reductos (...) destacados da Praça formão a sua primeira linha de defensa (...)"; 1875 - segundo o relatório do governador da Praça, o general Francisco Xavier Lopes, os fortes destacados da praça estão "completamente abandonados"; para a sua defesa, o forte da Piedade precisa de 2 morteiros, 6 obuses e 4 peças estriadas; 1878, 26 novembro - Secretário da Direção-Geral da Engenharia manda dizer ao Inspetor de Engenharia da 4.ª Divisão Militar que se participe ao Governador da Praça de Elvas para "desistir do embargo feito à obra de exploração d'águas junto do fortim da Piedade permitindo a continuação dos trabalhos, obrigando-se José da Silva Mendes a: 1) se encontrar água no cano, a revestir convenientemente as escavações e tapá-las com abóbada, repondo o terreno como anteriormente estava; 2) no caso de não encontrar água, as escavações serão entulhadas e o terreno reposto nas mesmas circunstâncias anteriores aos trabalhos; 1911, 25 maio - Decreto do Ministério da Guerra, Art. 315,2.º define a Praça de Elvas e suas dependentes, tal como o forte da Piedade, como fortificação de 2.ª classe; 1934 - o forte tem o valor patrimonial de 6.600$00; 1937, 01 maio - início do arrendamento das pastagens do fosso e da esplanada do forte, por 352$00 anuais e pelo prazo de 10 anos, a Manuel da Cunha e S. A.; 1938, 02 dezembro - auto de entrega do forte pelo Ministério da Guerra ao Ministério das Finanças; tem então o valor patrimonial de 6.600$00 e, quanto ao estado de conservação, está desmantelado; confronta por norte, sul e poente com propriedades particulares e por nascente com o aqueduto; é descrito como obra avançada ao poente da Praça de Elvas, encostado aos arcos do aqueduto da Amoreira e a c. de 500 m do baluarte da Conceição; possui quatro oliveiras ao norte e na esplanada; 1976 - Direção-Geral do Património e a Direção de Finanças de Portalegre solicitam a desobstrução do Reduto da Piedade e do Aqueduto da Amoreira.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista, aparente ou com vestígios de reboco; lápide num dos traveses em acrílico

Bibliografia

AA.VV - Fortificações de Elvas. Proposta para a sua inscrição na lista do Património Mundial. Elvas (Portugal): texto policopiado, 2008; BUCHO, Domingos - Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações. Lisboa: Edições Colibri; Câmara Municipal de Elvas, 2013; JESUÍNO, Rui - Elvas - Histórias do Património. S.l.: Rui Jesuíno; Booksfactory, 2016; MORGADO, Amílcar F. - Elvas - Praça de Guerra (Arquitectura Militar). Caderno Cultural n.º 7, s.l.: Câmara Municipal de Elvas, 1993.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DREMSul/DM; Direção de Infraestruturas do Exército: GEAEM, SIDCarta, Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 45/Elvas - Reduto da Piedade; Câmara Municipal de Elvas

Documentação Fotográfica

DGPC: SIPA

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID (DGEMN:DSID-001/012-01695); Arquivo Histórico Militar: 3.ª Divisão, 9.ª Secção, Cx. n.º 67 (1797) (Administração Militar, correspondência entre o governador da Praça de Elvas - Tenente General Francisco Xavier de Noronha - e o Marechal General Duque de Laffoens, Dom João Carlos de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascaranhas da Silva; Carta do Governador da Praça de Elvas, Tenente General D. Francisco Xavier de Noronha, para o Marechal General Junto à Real Pessoa), Cx. 76, NA8 (1823) (Informação do Forte de Santa Luzia, e Reductos destacados, Joaquim Jozé de Almeida e Freitas, T.e C.el do N.al R.al Corpo de Engenheiros), Cx. 72, n.º 3 (1852) (Relatorio das Obras que se julgam precisas levar desde já a efeito na Praça de Elvas e Forte da Graça. Para constetuir as suas Fortificações n'um perfeito estado de defensa. José Manços de Faria, Cor.el Grad.º do Est.º M.or de Eng.riª), Cx. 73, n.º 11 (1875) (Relatório sobre a defesa da Praça de Elvas feito pelo seu atual governador, o General da Brigada Francisco Xavier Lopes); Direção de Infraestruturas do Exército: Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 44/Elvas - Reduto de São Pedro, PM n.º 45/Elvas - Reduto da Piedade

Intervenção Realizada

1997 / 1998 a Câmara Municipal de Elvas candidata os Fortins de São Domingos, São Pedro e São Mamede ao programa "Life" para obras de recuperação; DGEMN: 1998 - obras de recuperação do fortim, com limpeza e remoção de todas as formações herbáceas existentes nas alvenarias e fosso para posterior aplicação de herbicida e refechamento de juntas com argamassa de cal e areia; reconstrução de "lacunas" em alvenaria em panos de muralha e nos torreões; reconstrução do capeamento sobre as alvenarias de pedra, em argamassa de cal, areia e pedra miúda; preenchimento de "lacunas" no reboco existente nos torreões; caiação; fornecimento e assentamento de placa identificadora e de sinalização de acesso ao local, conforme modelo da Câmara Municipal de Elvas; CMELVAS: 2012 - obras de valorização das fortificações abaluartadas da fronteira Elvas / Badajoz - Baluartes, com financiamento da União Europeia, FEDER.

Observações

*1 - Segundo o relatório do governador da Praça, o general Francisco Xavier Lopes, datado de 1875, "sabendo o Duque de Wellington que o General francez Soult se unira com Davoust e que Marmout passara o Tejo em Almaraz, convergindo todas as forças commandadas por estes generaes sobre Badajoz, levantou logo o cerco d'esta praça (1811) acolhendo-se a Elvas para se oppôr a tão grandes massas, que ameaçavam invadir novamente o nosso paiz; foi por esta ocasião fatal que aldeias, quintaes, pomares, Olivedos, casas, tudo em fim cahiu por terra e se destruiu! Até as próprias fontes foram inutilisadas, nada escapando á sanha destruidora dos engenheiros ingleses; surgindo apenas de todas estas ruinas e devastações, os fortes de S. Mamede, S. Pedro, Piedade e S. Francisco, que não serviram então, e que se acham hoje completamente abandonados". No mesmo relatório, o governador reafirma a autoria dos fortins por dizer: "A leste e oeste d'este forte [Santa Luzia], e sobre pequenas elevações de terreno, foram construídos pelos inglezes em 1811 os reductos de S. Mamede e de S. Pedro, a oeste do baluarte da Conceição, e junto ao aqueducto da Amoreira, á distancia de 700m da praça, os reductos da Piedade e de S. Francisco".

Autor e Data

Paula Noé 2017

Actualização

 
 
 
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