Igreja de Nossa Senhora do Ó do Porto do Reguengo da Carvoeira / Igreja Paroquial da Carvoeira / Igreja de Nossa Senhora do Ó
| IPA.00006380 |
Portugal, Lisboa, Mafra, Carvoeira |
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Igreja paroquial de possível construção quinhentista, foi alvo de posteriores campanhas de obras ao longo dos século 17 e 18, que lhe conferiram a sua atual feição, com características maneiristas e barrocas. Integra-se no conjunto de edifícios religiosos da denominada região saloia, caracterizados por exterior de tratamento arquitetónico austero, com galilé diante da fachada e por interior organizado segundo um esquema planimétrico básico, de nave única e capela-mor. Neste caso, a galilé constitui mesmo o elemento distintivo do imóvel, apresentando, apesar de adulterada por um reboco e pintura recentes, um caráter erudito no recurso a um esquema serliano, e o portal, de execução oitocentista com dupla moldura, encimada por friso almofadado e com elementos vegetalistas, que centram uma estrela, encimada pela data, flanqueado por estípites, que assentam em pingentes, e rematado em cornija. Ostenta várias datas, alusivas a diversos momentos construtivos e, no cunhal da galilé, um relógio de sol. Apresenta planta poligonal, composta pela articulação longitudinal e escalonada dos seus três corpos principais, galilé, nave e capela-mor. Fachada principal em empena angular, antecedida por galilé fechada, possui os vãos rasgados em eixo, composto por portal de verga reta, emoldurado e encimado por friso e cornija e por janelão e óculo. No lado esquerdo, corpo anexo com escada exterior dá acesso a sineira de volta perfeita com remate recortado. Fachadas simples, rematadas em friso e beirada simples, a lateral direita rasgada por portal de verga reta, emoldurado, encimado por friso e cornija, antecedido por alpendre fechado. Interior com coberturas diferenciadas, de madeira em masseira na nave e em falsa abóbada de berço na capela-mor, é escassamente iluminado por janelas retilíneas rasgadas na fachada principal e lateral direita, apresenta coro-alto assente em colunas toscanas e guarda torneada, batistério inserido num pequeno ressalto e vão retilíneo, no lado do Evangelho, surgindo, no mesmo lado, o púlpito quadrangular com acesso por porta de verga reta. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, flanqueado por retábulos colaterais maneiristas em talha policroma com dourados e marmoreados fingidos, dispostos em ângulo. Capela-mor com supedâneo de degraus centrais, onde surge retábulo-mor em talha policroma com dourados e marmoreados fingidos, de estilo tardo-barroco. |
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Número IPA Antigo: PT031109020022 |
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Registo visualizado 1431 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Igreja paroquial
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Descrição
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Planta poligonal, composta pela articulação longitudinal e escalonada de dois corpos retangulares, a nave única e a capela-mor, orientados no sentido poente-nascente, antecedidos por galilé, e, lateralmente, a norte e a sul, pelos volumes, também retangulares, da sacristia e de outros pequenos anexos. As coberturas são diferenciadas em telhados de uma e duas águas. As fachadas rebocadas e pintadas de branco, rematadas em friso e cornija, na galilé, e em beirada dupla nos restantes corpos. Fachada principal, de orientação canónica, desenvolvida em dois registos, e em dois panos, com o corpo da igreja em empena angular encimada por cruz latina de cantaria assente em plinto paralelepipédico. O primeiro registo do primeiro pano é antecedido por galilé fechada, em empena, com acesso central por arco de volta perfeita, flanqueado por dois vãos retilíneos, assentes em colunas toscanas, as exteriores rebocadas e pintadas de branco. O portal da igreja, de verga reta, apresenta dupla moldura, sendo a interior almofadada, ambas assentes em plintos paralelepipédicos, encimadas por friso almofadado, com elementos vegetalistas, que centram uma estrela, encimada por data, flanqueado por estípites, que assentam em pingentes, e rematado em cornija; o portal é protegido por porta de duas folhas de madeira de castanho, sobrepujado por janela retilínea e óculo circular. O segundo pano da fachada principal, surge mais recuado, lateral à galilé, corresponde a um corpo anexo, em meia-empena, rasgado por um óculo circular. Fachada lateral esquerda, virada a norte, marcada pelo corpo saliente de um anexo, rasgado por porta de verga reta e moldura simples de cantaria, e tendo adossada, na sua face noroeste, escada em cantaria, com guarda no mesmo material, de acesso à sineira, sendo esta em cantaria, com arco de volta perfeita e moldura recortada, em cortina; junto à escada, surge uma porta de verga reta. Fachada lateral direita, voltada a sul, apresenta quatro panos, o primeiro corresponde à fachada lateral da galilé, apresentando no topo do cunhal um relógio de sol em cantaria, ornado por motivos fitomórficos e ostentando data, seccionada por uma cruz sobre um coração inflamado; segundo pano desta fachada é marcado pelo anexo de dois pisos, no centro do qual se rasga arco de volta perfeita, criando um alpendre de acesso a uma porta travessa, de verga reta, encimada por uma lápide com inscrição; o alpendre apresenta pavimento em calçada e tem, em cada um dos lados, portas de verga reta, de acesso aos anexos. À esquerda deste, surgem três janelas quadrangulares, com molduras simples de cantaria e protegidas por grades, uma no piso inferior e duas no superior; no lado direito, uma janela no primeiro piso. O terceiro pano da fachada lateral direita reporta à sacristia, de um só piso, com janela semelhante às anteriores. O último pano, corpo da capela-mor, é rasgado por uma janela retilínea, em capialço. Fachada posterior em empena angular, rasgada por pequeno óculo, apresentando, de ambos os lados, os corpos adossados, recuados e em meia empena. Sobre a empena da capela-mor é visível a da nave, rasgada por vários óculos circulares. INTERIOR: acede-se ao interior do templo a partir da galilé, pavimentada a lajes de granito, onde surge, no lado direito, um nicho retilíneo e, no lado oposto, um banco de cantaria rebocado e pintado de branco, o teto é rebocado e pintado de branco. Adossado à parede fundeira encontra-se o coro-alto em madeira, assente em duas colunas toscanas, com guarda de madeira torneada, a que se tem acesso através de um vão retilíneo, pelo lado do Evangelho. A nave, única, apresenta paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por silhar de azulejos de padrão 4x4, fitomórfico, azul e branco, com rodapé com 4 azulejos de alto, do tipo "pedra torta", em roxo manganês; o pavimento é em lajeado de calcário e tijoleira, sendo o teto da nave de madeira, em masseira, assente em friso do mesmo material. O portal axial encontra-se flanqueado, no lado da Epístola, por pia de água benta semicircular, em cantaria. No subcoro, no lado do Evangelho, o batistério, formando um ressalto no pano de muro, rasgado por vão retilíneo, onde se integra a pia batismal, composta por taça hemisférica em cantaria, de bordo boleado, dotada de decoração estriada e com elementos fitomórficos, assentes em coluna com anéis nos topos. No lado esquerdo, nicho de alfaias retilíneo. No lado oposto, confessionário de madeira. A porta travessa encontra-se flanqueada por pia de água-benta em cantaria, com concheado interno, assente em mísula fitomórfica. No lado do Evangelho, caixa de esmolas em cantaria, com inscrição, encimada por cruz latina, sobre o monte Gólgota. Sucede-se o púlpito quadrangular, com bacia em cantaria e guarda de madeira, ornada por balaústres, ao qual se tem acesso por porta de verga reta com moldura em cantaria. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, de fustes almofadados, com fecho, saliente, capitéis e bases em cantaria calcária vermelha, flanqueado por retábulos colaterais dispostos em ângulo, qualquer deles sem orago atual. Capela-mor elevada por um degrau, com as paredes rebocadas e pintadas de branco, cobertura em abóbada de berço, também rebocada e pintada de branco assente em cornija e pavimento em lajeado. Sobre supedâneo de dois degraus centrais e socos laterais, surge o retábulo-mor em talha policroma com dourados e marmoreados fingidos, de corpo convexa e três eixos definidos por duas colunas coríntias e duas pilastras, todas assentes em plintos paralelepipédicos decorados por motivos geométricos; ao centro, tribuna de boca recortada e moldura saliente, com o fundo pintado de branco e trono expositivo de três degraus. Os eixos laterais possuem apainelados com moldura dourada, rematando superiormente em elementos fitomórficos, que inscrevem mísulas; sob estas, portas de acesso à tribuna, em arco de volta perfeita com molduras de madeira e rematadas por frontão interrompido; remate em fragmentos de frontão, que se prolongam interiormente em falso frontão contracurvado, de inspiração borromínica, ornado por cartela encerrando as iniciais "AM" e por festões, flanqueado por apainelados em quarto de círculo, decorados por elementos fitomórficos. Altar paralelepipédico revestido a azulejo policromo industrial, sobre o qual surge sacrário em forma de templete, com uma representação do cálice eucarístico na porta, e encimado no topo por cruz latina. Confrontantes, surgem portas de verga reta, emolduradas e com os vãos protegidos por uma folha de madeira almofadada, a do lado da Epístola de acesso à sacristia, com paredes rebocadas e pintadas de branco e pavimento em lajeado, onde existe um pequeno nicho em arco de volta perfeita, assente em pilastras toscanas e emoldurado a madeira, e um lavabo em cantaria, composto por espaldar retilíneo, com nicho conquiforme encimado por data e decoração floral, apresentando uma bica em forma de carranca, com pequena bacia ovalada. |
Acessos
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EM 459, ao Km 1,5, junto à ribeira de Cheleiros |
Protecção
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Categoria: IM - Interesse Municipal, Decreto n.º 29/84, DR, 1.ª série, n.º 145 de 25 junho 1984 |
Enquadramento
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Rural, isolada, situa-se a norte da povoação da Carvoeira, no fundo de um vale, na margem direita do rio Lizandro, onde ocupa uma posição destacada, implantada num amplo adro de planta retangular irregular e horizontalizado artificialmente, protegido por muro de alvenaria, com acesso por portão frontal. No interior do adro, frente à fachada principal do templo surge um cruzeiro assente em plataforma quadrangular de um degrau, com a data "1668" na face frontal, que sustenta um plinto galbado, com a inscrição "AVE CRUX SPES VNICA". Confronta com a Estação de Tratamento de Águas Rediduais (ETAR) da Foz do Lizandro. Nas proximidades, encontra-se a Igreja de Santo António (v. IPA.00006608). |
Descrição Complementar
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Ostenta várias datas inscritas, no relógio de sol da galilé, "1763", no portal da igreja, "1830", sobre a porta de acesso aos anexos, na fachada lateral direita, "CHEIAS 19-II-1983" e, por fim, no interior, no lavabo da sacristia "1627"; os retábulos colaterais são semelhantes, de talha policroma com dourados e marmoreados fingidos, de planta reta e um eixo definido por duas colunas torsas decoradas com pâmpanos e por friso vegetalista exterior; ao centro, painel contendo uma pintura a óleo sobre madeira, onde se encontra mísula decorada por motivos vegetalistas, envolvido por moldura de entrelaçados. Remate em friso e cornija, decorados por motivos fitomórficos. O retábulo do lado da Epístola apresenta ainda ático recortado contendo, ao centro, mísula encimada por águia e cruz latina, sobre moldura circular encerrando duas setas cruzadas, alusão ao primitivo orago - São Sebastião. Altares paralelepipédicos revestidos a azulejo policromo industrial. |
Utilização Inicial
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Religiosa: igreja paroquial |
Utilização Actual
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Religiosa: igreja paroquial |
Propriedade
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Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa) |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 16 (conjectural) / 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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1570 - a igreja é elevada a matriz, separando-se da de Cheleiros, a cuja paróquia pertencia, pela mesma altura é constituída a Junta de Paróquia de Nossa Senhora do Ó do Porto do Reguengo da Carvoeira; 1585 - ocorre um combate junto à igreja, onde participam duas companhias de infantaria espanhola, entre os mortos figuram Pêro Luís e João Roiz, sepultados no adro do templo; 1627 - colocação do lavabo da sacristia, conforme data inscrita no mesmo; 1668 - data na plataforma do cruzeiro que se encontra no adro, fronteiro à igreja; séc. 17, final - feitura dos retábulos colaterais; 1709 - abertura da porta lateral; séc. 18, meados - execução do retábulo-mor; 1732 - é redigido, pelo cardeal patriarca D. Tomás de Almeida, o Compromisso da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré da Pederneira, constituindo a base canónica do já praticado Círio da Prata Grande, que, entre as paróquias que desde quase o seu início recebem a imagem da Senhora, conta com a do Porto da Carvoeira; 1741 - aprovação formal do Compromisso da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré da Pederneira; 1763 - colocação do relógio de sol no seu cunhal sudoeste; 1814 - o templo recebe a imagem peregrina de Nossa Senhora da Nazaré da Pederneira; 1820 - a Carvoeira, que até ao Liberalismo fora reguengo, consta como concelho autónomo no Auto de Vereação Geral; 1830 - a igreja recebe uma campanha de restauro; 1839 - 1855 - o concelho da Carvoeira é integrado no da Ericeira; 1855 - com a reforma administrativa de Mouzinho da Silveira, a Carvoeira é integrada no município de Mafra; 1983 - subida do nível das águas da ribeira (c. 4 metros) causando inundação e danos no interior do templo; 1988 - a igreja foi alvo de assalto, perdendo quase a totalidade das suas imagens incluindo a de Nossa Senhora do Ó. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria mista, rebocada e pintada de branco; pilastras, cruz, colunelos, banco, escada e respectiva guarda, modinaturas, relógio de sol, lavabo da sacristia, colunas, pia baptismal, caixa de esmolas, bacia do púlpito, pias de água benta em cantaria de calcário; portas, coberturas internas, coro-alto e respectiva guarda, confessionário, guarda do púlpito em madeira; portão e gradeamentos de ferro; silhar da nave e altares dos retábulos revestidos a azulejo; retábulo-mor e retábulos colaterais em talha policroma; coberturas exteriores em telha; janelas com vidro simples; pavimento em lajeado de calcário e tijoleira. |
Bibliografia
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ALMEIDA, José António Ferreira de (dir. de) - Tesouros Artísticos de Portugal. Lisboa, 1976; ASSUNÇÃO, Guilherme - Mafra. Efemérides do Concelho. Mafra, 1967; AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de - Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa, 1963, vol. III; Guia do Concelho de Mafra, www.mafra.net (acedido a 4 abril 2007; março 2017); LOPES, Flávio (coord. de) - Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado. Distrito de Lisboa. Lisboa, 1993; LUCENA, Armando de - Monografia de Mafra. Mafra, 1987; PEREIRA, Isaías da Rosa - Subsídios para a História da Diocese de Lisboa do Século XVIII. Lisboa, 1980; SILVA, Jaime de Oliveira Lobo e - Anais da Vila da Ericeira. Mafra, 1985. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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DGPC/SIPA: DGEMN/DSID; CMM: AHMM |
Documentação Administrativa
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CMM: AHMM; DGARQ: ANTT |
Intervenção Realizada
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PROPRIETÁRIO: 1983 - obras de recuperação da igreja. |
Observações
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*1 O Círio da Prata Grande, surgido no séc. 17, na paróquia de Igreja Nova, Mafra, reúne dezassete freguesias dos concelhos de Mafra (13), Sintra (3) e Torres Vedras (1), que recebem anualmente, no terceiro sábado de setembro de cada ano, a imagem de Nossa Senhora da Nazaré da Pedreneira e, antes de a entregar à paróquia seguinte, realizam uma peregrinação ao Santuário da Nazaré. |
Autor e Data
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Paula Tereno 2017 |
Actualização
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