Paiol dos Murtais
| IPA.00035788 |
Portugal, Portalegre, Elvas, Caia, São Pedro e Alcáçova |
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Paiol construído no início do séc. 19, a expensas da Fazenda Real, para, em tempo de paz, servir de paiol geral e guardar a pólvora armazenada intramuros, evitando perigo para a cidade, contudo a sua localização afastada da praça de Elvas acaba por determinar o seu abandono desde muito cedo e a consequente ruína e descaracterização. Tipologicamente, o paiol tem planta retangular, composta por armazém e casa de recebimento, mais pequena e volumetricamente mais baixa, abrindo-se numa das suas faces laterais o acesso ao interior, coberto por abóbadas de berço e com ventilação por respiradouros em chicana, abertos nos muros laterais, envolvidos por alto muro corta-fogo. Em finais do ano de 1897, antes do paiol ser arrendado, já se pretendia proceder à inversão da frontaria e abrir um novo acesso ao interior, ao centro da fachada norte, no enfiamento do portal do muro corta-fogo, contrariando os parâmetros preconizados pelos tratados militares e por Manuel de Azevedo Fortes. Contudo, é possível que essa alteração tipológica só tenha ocorrido depois da venda do paiol a um particular, em 1902, visto que uma planta do ano anterior ainda o represente com o primitivo acesso, apesar de lhe introduzir recortes laterais no muro corta-fogo a delimitar os para-raios que, segundo parece, nunca foram construídos. A disposição das gárgulas, de meia cana, nas fachadas laterais, para escoamento das águas da cobertura, aponta igualmente para um outro tipo de remate inicial dessas fachadas, possivelmente em platibanda plena, como ocorre, por exemplo, no paiol de Santa Bárbara, e da disposição ou tipo de cobertura. As fachadas são em talude e em ambos os topos do armazém existem janelas de arco abatido com cornija angular e olho-de-boi, interligados por singela decoração de massa; os dois compartimentos do paiol comunicam entre si por portal abatido. O muro corta-fogo possui os ângulos curvos e, na frontaria, portal de linguagem tardo-barroca, de corpo convexo, definido por pilastras de massa, a imitar silharia fendida, ornadas de falsas mísulas, sustentando o remate, em empena com cornija angular, ladeada de aletas, que enquadram nicho com imagem de Santa Bárbara, protetora dos que utilizam explosivos. Inferiormente, abre-se amplo vão abatido encimado por brasão de Portugal. Os pombais, de planta circular e altos corpos torreados, com coberturas cónicas, construídos no séc. 20 a enquadrar o muro corta-fogo, conferem ao conjunto uma imagem "sui generis". A casa da guarda, construída frontalmente para albergar a guarnição que defendia o paiol, tinha inicialmente planta retangular e fachadas de um piso, e apesar de ter sido ampliada, conserva, no núcleo primitivo da fachada principal, o esquema de fenestração, com porta entre duas janelas de peitoril simples. A antiga guarita já não existe. |
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Edifício e estrutura Edifício Armazenamento e logística Paiol
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Descrição
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Planta retangular composta por dois corpos, correspondendo ao armazém e casa de recebimento, disposta a sul, mais estreita e mais baixa, envolvidos por alto muro corta-fogo, de ângulos curvos. Volumes escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas no armazém e de três na casa de ressalva. As fachadas são rebocadas e pintadas de branco, a principal do muro corta-fogo com faixa azul. A fachada principal deste surge virada sensivelmente a norte, com portal central de corpo convexo, bastante saliente, definido por duas pilastras de massa, a imitar silharia fendida, sobrepostas por falsas mísulas, sustentando o remate, em empena, revestida a massa, criando aletas laterais e terminada em cornija angular. É rasgado por vão, em arco abatido, com portão de ferro, encimado por brasão com as armas de Portugal, sem coroa, e nicho, igualmente em arco abatido, albergando imagem pétrea de Santa Bárbara. O armazém apresenta as fachadas em talude, com pilastras de cantaria nos cunhais, coroados por fogaréus, pintados de branco, sobre acrotérios. A atual fachada principal, terminada em empena com cornija, surge igualmente virada a norte, rasgada por portal de verga abatida, sem moldura, e janela de arco abatido, com moldura de massa e cornija angular, encimado por sobrejanela a interligar a pequeno olho-de-boi circular. As fachadas laterais terminam em friso e cornija de massa e possuem regularmente, de cada lado, quatro gárgulas em meia cana. Na fachada posterior, igualmente terminada em empena, sobre a casa de ressalva, rasgam-se janela e olho-de-boi, de igual modinatura. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento em cimento e cobertura em abóbada de berço, de tijolo em cutelo, sobre cornija. |
Acessos
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Alcáçova, EN 246, a partir da qual se desenvolve caminho de terra, devidamente identificado, até à Herdade dos Murtais. WGS84 (graus decimais): lat.: 38,895375; long.: -7,184854 |
Protecção
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Inexistente |
Enquadramento
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Rural, adossado, no exterior da praça de Elvas, a cerca de 2 km ao norte da mesma, inserido na Herdade dos Murtais, com portão de acesso nas imediações do paiol. Este tem adossado, no corredor que o separa do muro corta-fogo, corpos retangulares dispostos lateral e posteriormente, existindo ainda três outros adossados lateralmente fora do muro corta-fogo. Em frente, junto aos ângulos da frontaria, erguem-se dois corpos torreados, com cobertura cónica piramidal, revestida a placas, contendo pequenas mansardas, correspondendo a pombais. Possuem dois registos definidos por friso de tijolo, abrindo-se frontalmente no primeiro três vãos retilíneos moldurados, ladeados por escadas de ferro e na face interna, no segundo registo, outra janela retilínea. A norte do paiol ergue-se, a cerca de 70m, a antiga casa da guarda, de planta retangular e fachadas de um piso, ampliada com vários corpos. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Armazenamento e logística: paiol |
Utilização Actual
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Armazenamento e logística: palheiro |
Propriedade
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Privada: pessoa singular |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ENGENHEIRO: João da Mata Chapusete (1804). |
Cronologia
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1770, cerca - a queda de um raio no Forte de Santa Luzia, junto ao paiol, leva a população de Elvas a solicitar a construção de um paiol fora da praça, para que, em tempo de paz, aí se guardasse a pólvora, de modo a evitar perigo para a cidade, pelo seu armazenamento intramuros, sobretudo no paiol de Santa Bárbara (v. IPA.00035787); o general Manuel Bernardo de Mello e Castro toma a iniciativa da construção do paiol, pedindo-se ao engenheiro Guillaume Louis Antoine de Valleré para elaborar a planta; este acompanha a planta com um parecer negativo visto discordar com tal construção, já que, em caso de guerra, o inimigo poderia ocupar e fortificar a zona junto ao paiol e, eventualmente, apoderar-se das munições da praça; ainda assim, na sua opinião, o local mais conveniente para edificar o paiol seria "a baixa ao norte do Convento de São Francisco, ou quinta do Mal Penteado" pois, em caso de explosão, o monte intermédio à cidade impedia causar-lhe grande estrago; a obra de construção do paiol acaba por ter se concretizar; 1802, 29 setembro - ordena-se a construção de um armazém extramuros para remoção da pólvora do interior da cidade; o governador da praça, D. Francisco Xavier de Noronha, envia carta a João Rodrigues Proença informando que, depois de ouvir os oficiais engenheiros que tem sob as suas ordens, escolhera o sítio dos Murtais, pertencente ao Senado da Câmara, por ser baldio, como o local mais indicado para a construção; séc. 19 - projeto não datado, com a planta, seus perfis e elevações de um armazém projetado a fazer-se no sítio dos Murtais, que acomoda 7.000 arrobas de pólvora e respetivo corpo da guarda para um oficial e 12 soldados, com planimetria e solução do portal ligeiramente diferente ao existente atualmente (http://bibliotecas.defesa.pt/ipac20/ipac.jsp?session=14O873003R836.467&profile=bde&source=~!dglb&view=subscriptionsummary&uri=full=3100024~!280934~!11&ri=1&aspect=subtab260&menu=search&ipp=20&spp=20&staffonly=&term=murtais&index=.GW&uindex=&aspect=subtab260&menu=search&ri=1&limitbox_6=LOC01+=+BDE); 1804 - construção do paiol dos Murtais, com obras dirigidas pelo oficial e engenheiro João da Mata Chapusete, a expensas da Fazenda Real; 1806 - conclusão da construção do paiol; 1808 - durante a Guerra Peninsular e aquando da ocupação do Forte da Graça pelos franceses, procede-se à destruição das prateleiras do paiol, sendo posteriormente reparadas, ainda que se tenham arruinado novamente, por terem sido carregadas com cartuchame embalado, que fazia curvar os pés direitos; 1812 - desenho com planos e perfis do paiol dos Murtais representa-o já restaurado e com as respetivas prateleiras de armazenamento de pólvora (Direção de Infraestruturas do Exército: GEAEM, SIDCarta, cota 1642-1A-13-17); 1815, 24 janeiro - representação a Sua Alteza Real pela Secretaria dos Negócios da Guerra, para se mudar a pólvora da praça para o paiol dos Murtais, escrevendo-se um ofício ao coronel intendente das Obras Públicas para promover a reparação do dito paiol; 06 junho - convoca-se o corpo do comércio de Elvas para que cada comerciante contribuísse voluntariamente com o que quisesse para o transporte da pólvora da cidade para o armazém dos Murtais, cujo transporte os vereadores da Câmara passada se tinham comprometido a fazer, à custa do povo, no requerimento feito ao rei, para concerto do armazém; 10 junho - ofício ao Cabido em agradecimento da oferta de 20 moedas para ajudar a despesa da transferência da pólvora; 1817, 25 setembro - o tenente-general Mathias José Dias Azedo, Comandante do Quartel do Real Corpo de Engenheiros, envia ofício ao marechal general Marquês de Campo Maior, William Carr Beresford, a manifestar a sua preocupação por se concentrar a pólvora num só ponto, no paiol dos Murtais, e que ele considera ser "huma grande desvantagem", uma vez que o mesmo ficava "isolado da Praça d'Elvas, não menos de hum terço de legoa, ou huma milha de distância"; também não lhe parecia suficiente o entrincheiramento projetado para a sua guarda e segurança; envia ainda uma relação dos diversos depósitos de pólvora existentes no interior da praça de Elvas, que poderiam servir para a arrecadar "em cazo de necessidade em quanto se cuida em pôr o Paiol de Santa Barbara em estado de conter, sem risco, maior porção daquelle genero" *1; 1822 - suplemento ao desenho de re-edificação do paiol; 1837 - a Câmara Municipal de Elvas requer a remoção da pólvora para o paiol dos Murtais; 1850, 30 abril - pede-se ao governador da praça a transferência da pólvora existente intramuros para o paiol dos Murtais; 07 maio - o governador responde não se poder fazer tal remoção, pelo estado de ruína em que se acha o paiol, e devido ao governo não poder fornecer os meios precisos, mas, se a Câmara concorresse com fundos do seu cofre, alguma coisa se faria; 1852, 28 julho - incêndio no paiol; 1858 - em portaria do Ministério do Reino explica-se a impossibilidade de transferir a pólvora para o paiol dos Murtais devido à falta de verbas para se proceder à prévia e necessária reparação do mesmo; 1860 - novo pedido da Câmara de Elvas para se transferir a pólvora do paiol de Santa Bárbara para o dos Murtais, ao que o Ministério da Guerra responde que tal deveria ocorrer após a reparação do paiol, prevista para o ano seguinte; em visita à cidade de Elvas, D. Pedro V dois contos para a re-edificação do paiol; 1872, 03 julho - manda-se entregar a chave do paiol dos Murtais pelo 2.º sargento comandante do destacamento do Batalhão de Engenharia da Praça de Elvas ao 2.º sargento do Regimento de Infantaria n.º 4, João António Dias; o paiol é então descrito como sendo composto por "casa de ressalva" e paiol propriamente dito, medindo em obra 31,6m x 14,5m e 7,4m x 4,5m na referida casa; carece de restauro no soalho, prateleiras, portas de janelas e de comunicação, rebocos, cantarias, telhados e caixilhos de vidraças, devendo a respetiva despesa importar em alguns contos de reis; 04 julho - em aditamento ao ofício do dia anterior, Thomás de Aquino de Sousa, do Quartel de Elvas, considera que, apesar de então não ter "imediata aplicação ao serviço da Praça de Elvas", devido à considerável distância a que dele se encontra, considera contudo, que o paiol deveria ser conservado, já que, segundo a experiência, há geralmente desvantagem na alienação dos edifícios do Estado; para obviar a sua maior ruína, julga que devia ser cedido, a prazos e mediante determinadas condições, a quem se responsabilizar pela sua conservação ou, de preferência, dá-lo de "arretamamento" antes ou depois de consertados os telhados e portas, tanto de janela como de comunicação para servir de celeiro ou outra aplicação análoga; 1873, julho - estando a casa da guarda do paiol dos Murtais, "que ainda está em sofrivel estado de conservação" e o paiol em ruínas, ambos a cargo do Governo Militar da Praça de Elvas, propõe-se o estabelecimento de uma guarda diária para evitar a total ruína da casa da guarda, mas tal é considerado difícil devido à grande distância, isolamento da guarda, a condução do rancho às praças bem como também a dificuldade em haver quem a rendesse, só sendo possível entregando-se a chave a alguém que se encarregue da sua conservação; segundo o Diretor Geral de Engenharia, caso isso não viesse a ocorrer, decerto poderiam faltar no futuro as portas e o telhado arruinado; 30 julho - sendo dispensáveis os vários armazéns e paióis a cargo do extinto Trem da Praça de Elvas, entre os quais o dos Murtais, o Ministro da Guerra lembra a conveniência da entrega dos mesmos ao Conselho Administrativo da dita Praça para terem a devida aplicação, quando forem precisos; 19 agosto - entrega dos vários armazéns e paióis, nomeadamente do paiol dos Murtais "tudo em mau estado - o edifício principal a demolir" a António Manuel Pereira, alferes reformado e caserneiro da praça de Elvas; setembro - decide-se fazer anunciar o arrendamento do paiol e da casa da guarda contígua, figurando entre as condições de arrendamento a conservação dos edifícios e a do arrendamento cessar quando os mesmos fossem necessários para o serviço do Exército e o Ministério da Guerra o determinar; 06 a 20 setembro - torna-se público o arrendamento do paiol, mas não comparece nenhum proponente; outubro - devido à proximidade da estação invernosa, decide-se afixar novos editais para arrendamento do paiol; 20 novembro - informação que o único meio para o paiol ser vigiado é entregar a chave da casa da guarda a um proprietário que tenha uma fazenda junto ao local, responsabilizando-se o mesmo pela sua conservação; 21 novembro - entrega das chaves do corpo da guarda ao proprietário residente na cidade José Vicente de Abreu *2; 1875 - em relatório sobre a defesa da praça de Elvas, do governador, o general de Brigada Francisco Xavier Lopes, diz sobre o paiol que "existem apenas as paredes, porque tudo o mais desapareceu pelo roubo devido a incúria de quem o devia guardar"; 1876 - segundo Francisco de Santa Clara, o paiol já está desativado, "sem porta de madeira e entaipado com alvenaria"; 1893 e 1895 - o paiol e a casa da guarda têm os nºs. de inventário 47 e 48; 1897 - Jerónimo José Barbas, proprietário da Herdade dos Murtais, onde se erguia o paiol, pede a re-edificação do paiol e respetiva casa da guarda pelo Ministério da Guerra, ou que lhe sejam vendidos esses dois imóveis; 02 abril - descrição do paiol, "destinado a paiol geral da praça e que por muito tempo tem estado sem destino", pela 4.ª Secção Militar da Inspeção de Engenharia *3; por esta altura, um documento assinado por Carlos Joyce Dum, refere que a remoção da pólvora da praça de Elvas para os Murtais seria de grande vantagem, por "livrar a cidade do perigo de ter os seus paióis acumulados", o que já tem sido solicitado ao Ministério da Guerra; porém, mesmo que essa remoção seja julgada inconveniente, pela implantação isolada do paiol, parecia-lhe que o mesmo devia ser conservado e reparado, e, como a sua reparação seria ineficaz se ali não fosse colocado um guarda, sugere o arrendamento ao requerente com a obrigação de o conservar, no estado em como lhe fosse entregue; 08 junho - Jerónimo José Barbas oferece a renda anual de 12$000 pelo paiol dos Murtais e respetiva casa da guarda, mas só depois de efetuadas as reparações necessárias; 28 julho - a 4.ª Divisão Militar da Inspeção de Engenharia informa que, tendo o paiol as alvenarias em bom estado, mas o telhado bastante arruinado, os vãos de janelas e portas sem batente, os rebocos bastante danificados, tanto na abóbada, como nas paredes, as reparações abrangeriam o conserto do telhado, reboco nas paredes e abóbada e construção de vão de portas, pelo menos para vedar a entrada; para que a casa da guarda, já sem telhado, nem vãos de porta ou de janelas, com os rebocos caídos, piso de ladrilho arruinado e parte das paredes demolidas, ficar em condições deveria proceder-se à feitura de novo telhado, alvenaria em paredes (pequeno volume), rebocos, caiações, vãos de porta e janelas, piso de ladrilhos e pinturas; deste modo, as reparações dos dois edifícios não poderiam custar menos de 500$000; Jerónimo José Barbas recusa-se a arrendá-lo nestas condições, aceitando apenas comprar o paiol e a casa da guarda por 200$000, no estado em que estão, ou arrendá-los pelo prazo de 5 anos, pagando anualmente a renda de 20$000, obrigando-se o Ministério da Guerra a proceder aos seguintes trabalhos de reparação: no paiol proceder à abertura de vão de porta com 2,20 de largura em frente do portal existente no muro guarda-fogo, reparação do telhado, colocação de cancela de madeira no vão do muro do guarda-fogo (um vão de porta com dois batentes no vão aberto de novo), vedar com alvenaria de pedra seca, rebocar nas faces os vãos existentes deixando frestas de luz e ventilação, colocação de reboco onde precisa, caiações e pinturas na porta e cancela; na casa da guarda proceder à colocação de cobertura completa de telha, vãos de porta e janelas, rebocos, caiação, piso de ladrilho e pinturas; após a execução destas obras, o pretendente receberia os edifícios, obrigando-se a conservá-los e entregá-los no final do arrendamento no estado em que os recebia; desse modo, António Caetano Pereira Júnior, tenente de engenharia, dá parecer para se proceder às reparações e fazer-se o arrendamento, evitando o aumento da ruína dos imóveis; 1900 - o imóvel passa a ter o n.º 75 no inventário; 1901, maio - a Inspeção do Serviço de Engenharia da 4.ª Divisão Militar dá parecer favorável para o arrendamento do paiol, por ser o meio de por fim à ruína progressiva motivada pelo abandono em que está, com a condição de acrescentar às cláusulas a obrigação de reparar a porta exterior; julga-se dar como base de licitação 18$000; junho - Jerónimo José Barbas requer a venda do paiol dos Murtais, em hasta pública, pelo preço base de licitação de 300$000 *4; agosto - Ministério da Guerra autoriza o arrendamento do paiol, por 9 anos, a Jerónimo José Barbas, pela renda anual de 9$000, para arrecadar os utensílios de lavoura, desde que o arrendatário se obrigue, não só a reparar o portão exterior do paiol, pondo-o na sua primitiva largura e colocando-lhe batentes, mas também a todas as outras cláusulas que se acham convenientes; setembro - o requerente aceita todas as condições primitivamente impostas, mas considera dispendiosíssimo e impossível reabilitá-lo em virtude do seu péssimo estado de conservação; no estado em que está, não o podia utilizar, nem evitar que o edifício continuasse a servir de "couto de vadios, malfeitores e ladrões", que destroem os chaparros e mais arvoredo e roubaram ao longo do tempo as portas, do paiol e casa da guarda, os ladrilhos, os paus do madeiramento, alguma cantaria e a própria telha que tapava a abóbada, provocando a infiltração das águas da chuva, que vão "diluindo as alvenarias com grande estrago e ruína"; assim, Jerónimo José Barbas pede para ser autorizada a venda do paiol e casa da guarda, pois desse modo o Estado evitaria a inteira ruína e perda do edifício; 08 novembro - data do Tombo do Paiol dos Murtais *5; 28 novembro - data da planta do paiol, composto por casa de ressalva, com acesso ao interior pela fachada esquerda, e paiol, envolvido por muro corta-fogo, possuindo frontalmente a casa da guarda, de planta retangular simples, e, quase no ângulo esquerdo posterior do paiol, uma guarita; 1902, 21 janeiro - escritura de venda em hasta pública do paiol, casa da guarda e guarita a Jerónimo José Barbas, por 300$00; o prédio militar tem a superfície total de 1.436m2, sendo 1.298m2 ocupados pelo paiol, 2m2 pela guarita e 36m2 pela casa da guarda; em data posterior, o proprietário deve ter procedido à abertura de novo portal de acesso ao paiol, no enfiamento do portal do muro corta-fogo, alterando a sua tipologia construtiva, e ampliação da antiga casa da guarda; 1904 - o paiol é abatido do Inventário dos bens do Ministério da Guerra. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura de alvenaria, rebocada e pintada; cunhais da célula de armazenamento, gárgulas, moldura dos vãos do muro corta-fogo e brasão em cantaria; molduras do paiol em massa; grades e portão em ferro; imagem em cantaria de granito. |
Bibliografia
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ALMADA, Victorino d' - Elementos para um Dicionário de Geographia e História Portugueza Concelho d'Elvas. Elvas: Typ. Elvense, de Samuel F. Baptista, 1889, 2. vol; BUCHO, Domingos - Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações. Lisboa: Edições Colibri; Câmara Municipal de Elvas, 2013; CASTRO, Carlos, TEIXEIRA, Susana - Paiol de Santa Bárbara (Elvas). Évora: Trabalho apresentado na Universidade de Évora, na Pós-Graduação em Estudos Avançados em Recuperação do Património Histórico e Regeneração Urbana e Económica, texto policopiado, 2014; FORTES, Manuel de Azevedo - O Engenheiro Portuguez. Lisboa: oficina de Manoel Fernandes da Costa, M.DCC.XXIX, tomo 2. |
Documentação Gráfica
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Direção de Infraestruturas do Exército: GEAEM, SIDCarta, Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 012/Elvas - Paiol dos Murtais |
Documentação Fotográfica
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DGPC: SIPA |
Documentação Administrativa
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Arquivo Histórico Militar: 3.ª Divisão, 9.ª Secção, cx. n.º 67, n.º 41 (Ofício de Mathias José Dias Azedo para William Beresford, 1817), n.º 44 ("Memória relativa ao Armazem de S.tª Barbara da Praça de Elvas", escrita por Euzebio de Souza Soares, Sargento Mor Engenheiro, 1818), cx. 73, n.º 11 (Relatório sobre a defesa da Praça de Elvas feito pelo seu actual governador, o General de Brigada Francisco Xavier Lopes, 1875); Direção de Infraestruturas do Exército: Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 048/Elvas - Castelo de Elvas, PM n.º 012/Elvas - Paiol dos Murtais |
Intervenção Realizada
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Observações
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*1 - Segundo Mathias José Dias Azedo, "a maior parte destes depozitos exigem maiores cuidados, por q todos necessitão maiores precauções; mas também hé grande desvantagem reconcentrar a polvora em hum só ponto, que pode ser consumida por hum acontecimento funesto, e produzir muito maiores efeitos a sua explosão, e q de todos os inconvenientes, o maior hé conservala tão distante das fortificações, quando haja receio de guerra, principalmente em hum local tão próximo da raia, e de huma Praça vezinha…". Além disso, não acha possível construir os entrincheiramentos projetados de modo que "cobrissem a altura do Almazem de q se trata, e portanto ficarião expostas as suas paredes a serem batidas, e dirribadas em breves momentos por algumas peças assestadas em distancia conveniente, e neste cazo alguma granada poderia produzir inflamação". *2 - Em documento assinado nesta data, o general governador da Praça de Elvas, Thomáz de Aquino de Sousa, relata o estado de conservação dos dois edifícios. O paiol tem as abobadas em bom estado de conservação, paredes com carência de reboco em grande parte da sua superfície interior, mas sem ruturas pronunciadas, de onde pudesse resultar falta de estabilidade do edifício. A cantaria de lancil está em bom estado, com exceção da respetiva ao portado do paiol propriamente dito de um vão de janela, não existindo porta alguma, de comunicação ou da janela, nem vestígios pelo menos de soalho, forro de paredes e prateleiras. O telhado da casa de ressalva está completamente deteriorado e o restante carece de pequenas reparações. A guarita exterior, que é de alvenaria, está em sofrível estado. Bem conservados estão os quatro cunhais do edifício, os quais são de cantaria, bem como o muro do guarda fogo, as oito gárgulas, destinadas a dar escoamento às águas pluviais recebidas nos telhados e a "seganha" de ferro existente na casa da ressalva com aplicação à pesagem da pólvora. O corpo da guarda tem o telhado de duas águas, uma em bom estado e a outra em mau, portas de janela e de comunicação exterior bem conservadas à exceção de uma janela (em mau estado), uma porta de comunicação interior sem fechadura e o soalho em mau estado. Tem em bom estado as tarimbas, madeiramento de telhado e rebocos, não contando o correspondente a um cunhal do edifício sem contudo, a sua falta poder comprometer a segurança ao mesmo edifício. *3 - O paiol dos Murtais é descrito como um edifício retangular, de 38m x 14m, tendo num dos topos uma câmara de entrada, circundado por um muro guarda-fogo com uma larga porta ornamentada numa das faces menores, oposta à câmara de entrada. O paiol tem paredes de 2,20m de espessura e é coberto por uma abóbada com espessura correspondente. Entre o paiol e o muro guarda-fogo corre uma "rua" de 4,40m; as paredes e muros estão perfeitamente conservados e a abóbada não apresenta sinal de ruína, porém o telhado que a protegia está completamente arruinado, tendo desaparecido as portas e Janelas, restando unicamente as paredes nuas. *4 - Jerónimo José Barbas informa ainda que, dado o abandono do paiol, por não ser preciso para o serviço do Ministério da Guerra, o mesmo servia de abrigo de ciganos e vadios, tendo-lhe sido roubado tudo o que fora possível levar, inclusive parte das cantarias, deixando a abóbada descoberta, o que causa a infiltração de água e já apresenta algumas fendas, pelo que se não for protegida, brevemente ficará em ruínas. *5 - O paiol é descrito no Tombo como abobadado, dentro de um recinto murado, e composto de dois compartimentos; a guarita fica a 6m do muro do paiol; a casa da guarda, completamente em ruínas, implanta-se a 68,5m da frente do paiol. Todos os edifícios ficavam encravados na Herdade dos Murtais, de Jerónimo José Barbas, e desocupados. O paiol, em regular estado de conservação, exceto no telhado, que está destruído, é avaliado em $225 por m2, totalizando 292$050, a guarita, em regular estado de conservação, é avaliada em $450 e a casa da guarda, em ruínas, avaliada em 7$480, totalizando 299$980. |
Autor e Data
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Paula Noé 2017 |
Actualização
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