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Edifício e estrutura Edifício Transportes Interface
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Descrição
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Plataforma multimodal que conjuga segundo dois eixos (N./S. e E./O.) estruturas para diferentes sistemas de transportes: ferroviário, rodoviário e metropolitano. Para ultrapassar a barreira que constitui a linha férrea entre as zonas residenciais e o rio, a linha de comboio foi levantada (cerca de 8 metros) numa plataforma sob a qual foi aberta uma galeria que atravessa todo o edifício e define o eixo perpendicular à plataforma. Este eixo formal de ligação dos dois espaços, rio e bairros adjacentes a poente, é reforçado pela passagem sem interrupções da galeria pedonal bem como por duas avenidas perpendiculares que passam sob o complexo da Estação (Av.de Berlim e Av. Aquilino Ribeiro Machado). A estação de caminho-de-ferro é assim uma ponte alargada de passagem. É o primeiro exemplo no nosso país de interface urbano a reunir estas formas de transporte. "O complexo desenvolve-se de oeste para este na seguinte configuração: Terminal rodoviário: construído essencialmente em vidro e aço, as seis coberturas com 112m de comprimento e 11m de largura cobrem seis plataformas em cada terminal (seis ilhas com 96m de comprimento e 10m de largura) e são projetadas a partir de uma galeria longitudinal, cujo desenho se assemelha a uma espinha de onde se estendem as costelas. Estas plataformas, simbolizando segundo o autor as ondas do mar, conferem à planta um aspeto de esqueleto animal. No final da galeria no sentido oeste encontramos outra abertura em arco coberta com pala nos mesmos materiais. No sentido inverso a galeria está geminada com o piso 2 da estação, sendo por isso possível um passageiro deslocar-se da linha férrea diretamente para um dos terminais rodoviários. As palas encontram-se ligadas por uma galeria longitudinal, no nível +14.00, que termina na estação. A área de serviço rodoviário encontra-se na extremidade das plataformas. O parqueamento com dois pisos, e com uma capacidade para dois mil carros, situa-se no nível inferior abaixo do terminal rodoviário. Estação de metro: localiza-se no piso inferior, ao nível -5.20, e atravessa transversalmente o projeto. Um piso intermédio, ligado à galeria longitudinal, funciona como vestíbulo principal. Esta estação é a terminal de uma nova linha - a do Oriente, que em 2012 será estendida até ao aeroporto. Foi inaugurada no mesmo dia da Estação, com projeto arquitetónico de Sanchez Jorge e a participação de doze artistas plásticos. Estação de comboios: as oito linhas de caminho de ferro atravessam o projeto numa ponte coberta por uma estrutura em aço e vidro semelhante no desenho a um conjunto de copas de árvores, lançadas como o abobadamento de uma catedral gótica em arcos cruzados de ogivas. Calatrava já havia usado o mesmo desenho no BCE Place em Toronto em 1987, uma estrutura com 27 metros de altura. em ferro e vidro a fazer a cobertura contínua entre vários edifícios permitindo criar corredores cobertos de telhados transparentes para o desenvolvimento de áreas comerciais e de lazer. Com 78 metros de largura e 238 metros de comprimento, concentra as suas principais funções de caminhos de ferro no seu eixo central, distribuído por vários níveis. O acesso às plataformas e a venda de bilhetes encontram-se ao nível +14.00, as áreas comerciais e a galeria principal no nível +9.00, os espaços técnicos e as restantes áreas comerciais no nível +3.60. Neste nível uma galeria longitudinal funciona como corredor e atravessa todo o edifício. A galeria, no sentido oeste na direção do terminal rodoviário é como um ventre de baleia, a organicidade, outra característica na obra do autor, sente-se nas paredes moduladas que criou para nos fazer sentir dentro de um espaço vivo. As formas dinâmicas e a fazer lembrar o mundo animal encontram-se em pormenores da Estação como sejam os suportes dos grandes arcos que definem o esqueleto da galeria "I take inspiration from things that are skeletal, but also unicellular organisms visible by microscope. My PhD thesis was called 'The Natural is Mother and Teacher'. I see the science of engineering as empirical - it comes from observing the behaviour of natural structures". ("Spanish architect Santiago Calatrava on light and space", Lux Responsible Culture, 2021). Encontram-se também nos suportes das escadas de acesso à plataforma dos comboios no piso 2 e na base de onde é lançado o arco e as pontes em aço pintado de branco da entrada privilegiada da Estação. No sentido inverso daquela galeria desemboca-se na entrada subterrânea do centro comercial a nascente, sentido do rio. O acesso à estação do metropolitano faz-se no nível abaixo desta galeria. Um sistema de elevadores, escadas rolantes e simples permite os acessos e ligações entre os vários níveis da estação complementadas por pontes transversais à galeria principal, corredores paralelos à mesma galeria e duas pontes que saem do topo da pala em arco da entrada principal e permitem a passagem aérea para o centro comercial e ultrapassar o tráfego automóvel da Avenida D.João II que separa aquele da praça da Estação. A Gare do Oriente pode definir-se como um conjunto de pontes abertas que, para além de servirem um complexo de transportes, foram concebidas para transmitir exatamente essa noção de passagem, de travessia. À data da elaboração do projeto para a Gare do Oriente o autor já havia projetado cerca de 60 pontes. Não é um terminal habitual de transportes porque se inclui funcional e arquitetonicamente no percurso, na viagem, fazendo desta forma justiça também à sua função de interface. A estação de comboios de Stadelhofen em Zurique, realizada em 1990 é o edifício onde Calatrava experimenta soluções que podemos associar à presente obra, o betão bruto e ondulado nas galerias subterrâneas, o uso do aço em formas dinâmicas nos pilares e as coberturas em vidro com orientações futuristas. As coberturas, bem como as proteções em vidro laterais na plataforma ferroviária vieram a revelar-se pouco funcionais uma vez que a plataforma desta estação é conhecida pelo desconforto em termos da exposição dos passageiros aos elementos naturais. Arquitetura expressiva, porque revela ou mostra os elementos da sua estrutura e função, a obra que tem como finalidade também servir de âncora a uma nova centralidade urbana, revela os pressupostos na escolha de Calatrava, na sua formação conjunta enquanto arquiteto, engenheiro e escultor, consagrado previamente por criar estruturas espetáculo ou monumentais. |
Acessos
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Parque das Nações. VWGS84 (graus decimais) lat.: 38,767839, long.: -9,099032 |
Protecção
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Inexistente |
Enquadramento
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Urbano. Localiza-se no limite N. do Parque das Nações e constitui-se arquitectónica e urbanisticamente como ponto de referência. |
Descrição Complementar
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A dimensão da Estação do Oriente prende-se, para além do seu papel como elemento interventor nos modelos urbanos em curso para a cidade de Lisboa, com o papel de porta de entrada na Expo 98. A entrada na exposição faz-se por três portas, a do Norte, a do Sul e a do Poente. A primeira subordinada ao tema o Ar, servirá essencialmente os visitantes a norte de Lisboa e os que vêm da margem sul do Tejo atravessando a Ponte Vasco da Gama. No extremo oposto a porta sul cujo tema é o Fogo, entrada para quem vem de Lisboa pelo caminho do Oriente, junto ao rio. Por fim a porta poente com o tema a Terra, será sustentada pelo interface que constitui a Gare do Oriente reforçada por uma estrutura que será, depois da exposição mundial, um centro comercial. Este centro servirá de embasamento a duas torres de vinte pisos de formas arredondadas a terminar em mastros. Este projeto insere-se no Plano de Pormenor 1 da responsabilidade do arquiteto Tomás Taveira, e diz respeito à zona da Plataforma Panorâmica Central. A implementação da exposição faz-se num espaço de 330 ha numa zona desafetada dos usos, com atividades remanescentes do período de industrialização da cidade. A área principal da exposição desenvolver-se-á na Doca dos Olivais, usada durante os anos trinta como porto para hidroaviões que providenciavam a ligação aérea com a América e África. Tirando uma pequena colina a sudoeste e uma zona pantanosa a norte toda a área é de morfologia nascida de mão humana. A limpeza e descontaminação dos solos foi iniciada em 1993, a primeira fase termina na realização da Expo, a segunda prolongar-se-á até cerca de 2010 e nessa altura preveem-se mais de dois mil km2 de novas residências, espaços comerciais e institucionais. É necessário também despoluir o rio Trancão, eliminar as lixeiras municipais, armazéns de armamento e matadouro. A área reservada à instalação das infraestruturas e equipamentos necessários à realização da Expo 98 e futura renovação urbana -Zona de Intervenção- compreende então uma área com cerca de 330 hectares de terreno, com cinco km de extensão à beira-rio, pertencentes aos concelhos de Lisboa e Loures. É delimitada a Poente pela atual linha de caminho-de-ferro (linha do Norte), a sul pela Avenida Marechal Gomes da Costa, a Norte pela foz do rio Trancão e a nascente pelo rio Tejo. O período que antecedeu a realização da Exposição Mundial de Lisboa em 1998 foi marcado por uma aceleração dos projetos previstos a nível de Planos Diretores (Lisboa e Loures) e do Plano Estratégico de Lisboa (PEL), a construção da nova ponte sobre o Tejo, a ampliação de vias rodoviárias, ampliação também da linha metropolitana. A zona de intervenção da Expo 98 encontra-se abrangida por uma Unidade Operativa de Planeamento e Gestão Urbanística (UOP29), em relação à qual se estabelecem, apenas a título indicativo, um conjunto de objetivos programáticos de compatibilização da futura ocupação desta área com as propostas do PDML. As UOP`s consistem em áreas que exigem intervenções urbanísticas específicas ou prioritárias, por parte da Câmara Municipal. A UOP29 constitui um caso particular uma vez que delimita uma área sujeita a intervenção urbanística de carácter excecional, fora da jurisdição daquele órgão autárquico. |
Utilização Inicial
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Transportes: interface |
Utilização Actual
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Transportes: interface |
Propriedade
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Pública |
Afectação
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Estruturas de Portugal, I.P. |
Época Construção
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Séc. 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: Santiago Calatrava (Valência, 1951) |
Cronologia
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1993, fevereiro - é criada por resolução do Conselho de Ministros (n. º15/93) Comissariado da Expo 98 na dependência do primeiro-ministro. É composto por um Comissário, que preside, por uma Comissão Executiva, de cinco elementos e por 13 vogais, "indicados pelas várias entidades diretamente envolvidas: Ministro da Presidência, das Finanças, do Planeamento e Administração do Território, dos Negócios Estrangeiros, da Indústria e Energia, das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, de Comércio e Turismo, do Ambiente e Recursos Naturais, do Mar, da Cultura, pelas Câmaras Municipais de Lisboa e Loures e C.N.C.D.P. (Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, criada em 1986); criada a Sociedade Parque Expo 98 S.A. pelo Decreto Lei nº 88/93 de 23 de Março. O seu objetivo social principal é a realização do projeto de reconversão urbana e a conceção, execução e desmantelamento da exposição. Esta empresa tem ainda como principais tarefas: gerir e administrar um programa financeiro assente na aquisição, urbanização e alienação de terrenos na área de intervenção da Expo 98, intervir e participar nos projetos de renovação urbana e de recuperação do património arquitetónico existente nessa área e promover a desativação, desmobilização e utilização de estruturas de carácter provisório construídas ou erigidas para a realização da exposição; num conjunto de cinco concorrentes Santiago Calatrava vence o concurso para projetar a Estação Intermodal do Oriente; 1994, julho - aprovação do Plano Diretor da Expo 98, com predomínio do urbanismo sobre a arquitetura; 1998, 19 maio - inauguração da estação; 22 maio - inauguração da Exposição; 30 setembro - encerramento da Exposição, a Sociedade Parque Expo 98 S.A. fica responsável por quatro empresas independentes que se constituem: o Oceanário de Lisboa S.A., Atlântico - Pavilhão Multiusos de Lisboa S.A., GIL- Gare Intermodal de Lisboa S.A. e Parque Expo 98 - Desenvolvimento e Promoção Imobiliária S.A.; 2011 - projeto de ampliação e adaptação às linhas de alta velocidade; 2024 - contrato de 8,5 milhões de euros com Santiago Calatrava para realizar a obra não efetuada em 2011 (acrescento de duas novas linhas ferroviárias, alargamento da plataforma para poente). |
Dados Técnicos
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Materiais
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vidro, betão armado, aço |
Bibliografia
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ALMEIDA, Josina, “A Gare do Oriente de Santiago Calatrava em Lisboa98”, FLUL, Seminário de História da Arte, 2000; ESCOLANO, Víctor Pérez, BOTHMER, Hubertus von, SOARES, Luís Jorge Bruno, ROSA, Luís Vassalo, TOUSSAINT, Michel, Catálogo Expo 98-Arquitectura, Lisboa Editorial Blau, 1998, p.77; “Estação do Oriente vai crescer e IP quer começar obras ainda em 2024”, Rádio Renascença, 16 fevereiro de 2024; “História do Metro”, https://www.metrolisboa.pt/institucional/conhecer/historia-do-metro/; “Parabéns Estação do Oriente pelos 20 anos de vida”, Infraestruturas de Portugal, 15 maio 2018, https://www.infraestruturasdeportugal.pt/pt-pt/parabens-estacao-do-oriente-pelos-20-anos-de-vida; ZHENG, Ge, Research on the Calatrava's Architecture Design of Public Space, Conference: 3rd International Conference on Architecture: Heritage, Traditions and Innovations (AHTI 2021). |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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Observações
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Autor e Data
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Josina Almeida, 24 outubro 2024 |
Actualização
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