Gare do Oriente / Gare Internacional de Lisboa / Estação Ferroviária do Oriente

IPA.00009899
Portugal, Lisboa, Lisboa, Parque das Nações
 
Arquitectura de transportes, do séc. 20. Estação concebida como plataforma multimodal que conjuga segundo dois eixos (N./S e E./O.) estruturas para diferentes sistemas de transportes: ferroviário, rodoviário e metropolitano
Número IPA Antigo: PT031106330619
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Transportes  Interface    

Descrição

Plataforma multimodal que conjuga segundo dois eixos (N./S. e E./O.) estruturas para diferentes sistemas de transportes: ferroviário, rodoviário e metropolitano. Para ultrapassar a barreira que constitui a linha férrea entre as zonas residenciais e o rio, a linha de comboio foi levantada (cerca de 8 metros) numa plataforma sob a qual foi aberta uma galeria que atravessa todo o edifício e define o eixo perpendicular à plataforma. Este eixo formal de ligação dos dois espaços, rio e bairros adjacentes a poente, é reforçado pela passagem sem interrupções da galeria pedonal bem como por duas avenidas perpendiculares que passam sob o complexo da Estação (Av.de Berlim e Av. Aquilino Ribeiro Machado). A estação de caminho-de-ferro é assim uma ponte alargada de passagem. É o primeiro exemplo no nosso país de interface urbano a reunir estas formas de transporte. "O complexo desenvolve-se de oeste para este na seguinte configuração: Terminal rodoviário: construído essencialmente em vidro e aço, as seis coberturas com 112m de comprimento e 11m de largura cobrem seis plataformas em cada terminal (seis ilhas com 96m de comprimento e 10m de largura) e são projetadas a partir de uma galeria longitudinal, cujo desenho se assemelha a uma espinha de onde se estendem as costelas. Estas plataformas, simbolizando segundo o autor as ondas do mar, conferem à planta um aspeto de esqueleto animal. No final da galeria no sentido oeste encontramos outra abertura em arco coberta com pala nos mesmos materiais. No sentido inverso a galeria está geminada com o piso 2 da estação, sendo por isso possível um passageiro deslocar-se da linha férrea diretamente para um dos terminais rodoviários. As palas encontram-se ligadas por uma galeria longitudinal, no nível +14.00, que termina na estação. A área de serviço rodoviário encontra-se na extremidade das plataformas. O parqueamento com dois pisos, e com uma capacidade para dois mil carros, situa-se no nível inferior abaixo do terminal rodoviário. Estação de metro: localiza-se no piso inferior, ao nível -5.20, e atravessa transversalmente o projeto. Um piso intermédio, ligado à galeria longitudinal, funciona como vestíbulo principal. Esta estação é a terminal de uma nova linha - a do Oriente, que em 2012 será estendida até ao aeroporto. Foi inaugurada no mesmo dia da Estação, com projeto arquitetónico de Sanchez Jorge e a participação de doze artistas plásticos. Estação de comboios: as oito linhas de caminho de ferro atravessam o projeto numa ponte coberta por uma estrutura em aço e vidro semelhante no desenho a um conjunto de copas de árvores, lançadas como o abobadamento de uma catedral gótica em arcos cruzados de ogivas. Calatrava já havia usado o mesmo desenho no BCE Place em Toronto em 1987, uma estrutura com 27 metros de altura. em ferro e vidro a fazer a cobertura contínua entre vários edifícios permitindo criar corredores cobertos de telhados transparentes para o desenvolvimento de áreas comerciais e de lazer. Com 78 metros de largura e 238 metros de comprimento, concentra as suas principais funções de caminhos de ferro no seu eixo central, distribuído por vários níveis. O acesso às plataformas e a venda de bilhetes encontram-se ao nível +14.00, as áreas comerciais e a galeria principal no nível +9.00, os espaços técnicos e as restantes áreas comerciais no nível +3.60. Neste nível uma galeria longitudinal funciona como corredor e atravessa todo o edifício. A galeria, no sentido oeste na direção do terminal rodoviário é como um ventre de baleia, a organicidade, outra característica na obra do autor, sente-se nas paredes moduladas que criou para nos fazer sentir dentro de um espaço vivo. As formas dinâmicas e a fazer lembrar o mundo animal encontram-se em pormenores da Estação como sejam os suportes dos grandes arcos que definem o esqueleto da galeria "I take inspiration from things that are skeletal, but also unicellular organisms visible by microscope. My PhD thesis was called 'The Natural is Mother and Teacher'. I see the science of engineering as empirical - it comes from observing the behaviour of natural structures". ("Spanish architect Santiago Calatrava on light and space", Lux Responsible Culture, 2021). Encontram-se também nos suportes das escadas de acesso à plataforma dos comboios no piso 2 e na base de onde é lançado o arco e as pontes em aço pintado de branco da entrada privilegiada da Estação. No sentido inverso daquela galeria desemboca-se na entrada subterrânea do centro comercial a nascente, sentido do rio. O acesso à estação do metropolitano faz-se no nível abaixo desta galeria. Um sistema de elevadores, escadas rolantes e simples permite os acessos e ligações entre os vários níveis da estação complementadas por pontes transversais à galeria principal, corredores paralelos à mesma galeria e duas pontes que saem do topo da pala em arco da entrada principal e permitem a passagem aérea para o centro comercial e ultrapassar o tráfego automóvel da Avenida D.João II que separa aquele da praça da Estação. A Gare do Oriente pode definir-se como um conjunto de pontes abertas que, para além de servirem um complexo de transportes, foram concebidas para transmitir exatamente essa noção de passagem, de travessia. À data da elaboração do projeto para a Gare do Oriente o autor já havia projetado cerca de 60 pontes. Não é um terminal habitual de transportes porque se inclui funcional e arquitetonicamente no percurso, na viagem, fazendo desta forma justiça também à sua função de interface. A estação de comboios de Stadelhofen em Zurique, realizada em 1990 é o edifício onde Calatrava experimenta soluções que podemos associar à presente obra, o betão bruto e ondulado nas galerias subterrâneas, o uso do aço em formas dinâmicas nos pilares e as coberturas em vidro com orientações futuristas. As coberturas, bem como as proteções em vidro laterais na plataforma ferroviária vieram a revelar-se pouco funcionais uma vez que a plataforma desta estação é conhecida pelo desconforto em termos da exposição dos passageiros aos elementos naturais. Arquitetura expressiva, porque revela ou mostra os elementos da sua estrutura e função, a obra que tem como finalidade também servir de âncora a uma nova centralidade urbana, revela os pressupostos na escolha de Calatrava, na sua formação conjunta enquanto arquiteto, engenheiro e escultor, consagrado previamente por criar estruturas espetáculo ou monumentais.

Acessos

Parque das Nações. VWGS84 (graus decimais) lat.: 38,767839, long.: -9,099032

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano. Localiza-se no limite N. do Parque das Nações e constitui-se arquitectónica e urbanisticamente como ponto de referência.

Descrição Complementar

A dimensão da Estação do Oriente prende-se, para além do seu papel como elemento interventor nos modelos urbanos em curso para a cidade de Lisboa, com o papel de porta de entrada na Expo 98. A entrada na exposição faz-se por três portas, a do Norte, a do Sul e a do Poente. A primeira subordinada ao tema o Ar, servirá essencialmente os visitantes a norte de Lisboa e os que vêm da margem sul do Tejo atravessando a Ponte Vasco da Gama. No extremo oposto a porta sul cujo tema é o Fogo, entrada para quem vem de Lisboa pelo caminho do Oriente, junto ao rio. Por fim a porta poente com o tema a Terra, será sustentada pelo interface que constitui a Gare do Oriente reforçada por uma estrutura que será, depois da exposição mundial, um centro comercial. Este centro servirá de embasamento a duas torres de vinte pisos de formas arredondadas a terminar em mastros. Este projeto insere-se no Plano de Pormenor 1 da responsabilidade do arquiteto Tomás Taveira, e diz respeito à zona da Plataforma Panorâmica Central. A implementação da exposição faz-se num espaço de 330 ha numa zona desafetada dos usos, com atividades remanescentes do período de industrialização da cidade. A área principal da exposição desenvolver-se-á na Doca dos Olivais, usada durante os anos trinta como porto para hidroaviões que providenciavam a ligação aérea com a América e África. Tirando uma pequena colina a sudoeste e uma zona pantanosa a norte toda a área é de morfologia nascida de mão humana. A limpeza e descontaminação dos solos foi iniciada em 1993, a primeira fase termina na realização da Expo, a segunda prolongar-se-á até cerca de 2010 e nessa altura preveem-se mais de dois mil km2 de novas residências, espaços comerciais e institucionais. É necessário também despoluir o rio Trancão, eliminar as lixeiras municipais, armazéns de armamento e matadouro. A área reservada à instalação das infraestruturas e equipamentos necessários à realização da Expo 98 e futura renovação urbana -Zona de Intervenção- compreende então uma área com cerca de 330 hectares de terreno, com cinco km de extensão à beira-rio, pertencentes aos concelhos de Lisboa e Loures. É delimitada a Poente pela atual linha de caminho-de-ferro (linha do Norte), a sul pela Avenida Marechal Gomes da Costa, a Norte pela foz do rio Trancão e a nascente pelo rio Tejo. O período que antecedeu a realização da Exposição Mundial de Lisboa em 1998 foi marcado por uma aceleração dos projetos previstos a nível de Planos Diretores (Lisboa e Loures) e do Plano Estratégico de Lisboa (PEL), a construção da nova ponte sobre o Tejo, a ampliação de vias rodoviárias, ampliação também da linha metropolitana. A zona de intervenção da Expo 98 encontra-se abrangida por uma Unidade Operativa de Planeamento e Gestão Urbanística (UOP29), em relação à qual se estabelecem, apenas a título indicativo, um conjunto de objetivos programáticos de compatibilização da futura ocupação desta área com as propostas do PDML. As UOP`s consistem em áreas que exigem intervenções urbanísticas específicas ou prioritárias, por parte da Câmara Municipal. A UOP29 constitui um caso particular uma vez que delimita uma área sujeita a intervenção urbanística de carácter excecional, fora da jurisdição daquele órgão autárquico.

Utilização Inicial

Transportes: interface

Utilização Actual

Transportes: interface

Propriedade

Pública

Afectação

Estruturas de Portugal, I.P.

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Santiago Calatrava (Valência, 1951)

Cronologia

1993, fevereiro - é criada por resolução do Conselho de Ministros (n. º15/93) Comissariado da Expo 98 na dependência do primeiro-ministro. É composto por um Comissário, que preside, por uma Comissão Executiva, de cinco elementos e por 13 vogais, "indicados pelas várias entidades diretamente envolvidas: Ministro da Presidência, das Finanças, do Planeamento e Administração do Território, dos Negócios Estrangeiros, da Indústria e Energia, das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, de Comércio e Turismo, do Ambiente e Recursos Naturais, do Mar, da Cultura, pelas Câmaras Municipais de Lisboa e Loures e C.N.C.D.P. (Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, criada em 1986); criada a Sociedade Parque Expo 98 S.A. pelo Decreto Lei nº 88/93 de 23 de Março. O seu objetivo social principal é a realização do projeto de reconversão urbana e a conceção, execução e desmantelamento da exposição. Esta empresa tem ainda como principais tarefas: gerir e administrar um programa financeiro assente na aquisição, urbanização e alienação de terrenos na área de intervenção da Expo 98, intervir e participar nos projetos de renovação urbana e de recuperação do património arquitetónico existente nessa área e promover a desativação, desmobilização e utilização de estruturas de carácter provisório construídas ou erigidas para a realização da exposição; num conjunto de cinco concorrentes Santiago Calatrava vence o concurso para projetar a Estação Intermodal do Oriente; 1994, julho - aprovação do Plano Diretor da Expo 98, com predomínio do urbanismo sobre a arquitetura; 1998, 19 maio - inauguração da estação; 22 maio - inauguração da Exposição; 30 setembro - encerramento da Exposição, a Sociedade Parque Expo 98 S.A. fica responsável por quatro empresas independentes que se constituem: o Oceanário de Lisboa S.A., Atlântico - Pavilhão Multiusos de Lisboa S.A., GIL- Gare Intermodal de Lisboa S.A. e Parque Expo 98 - Desenvolvimento e Promoção Imobiliária S.A.; 2011 - projeto de ampliação e adaptação às linhas de alta velocidade; 2024 - contrato de 8,5 milhões de euros com Santiago Calatrava para realizar a obra não efetuada em 2011 (acrescento de duas novas linhas ferroviárias, alargamento da plataforma para poente).

Dados Técnicos

Materiais

vidro, betão armado, aço

Bibliografia

ALMEIDA, Josina, “A Gare do Oriente de Santiago Calatrava em Lisboa98”, FLUL, Seminário de História da Arte, 2000; ESCOLANO, Víctor Pérez, BOTHMER, Hubertus von, SOARES, Luís Jorge Bruno, ROSA, Luís Vassalo, TOUSSAINT, Michel, Catálogo Expo 98-Arquitectura, Lisboa Editorial Blau, 1998, p.77; “Estação do Oriente vai crescer e IP quer começar obras ainda em 2024”, Rádio Renascença, 16 fevereiro de 2024; “História do Metro”, https://www.metrolisboa.pt/institucional/conhecer/historia-do-metro/; “Parabéns Estação do Oriente pelos 20 anos de vida”, Infraestruturas de Portugal, 15 maio 2018, https://www.infraestruturasdeportugal.pt/pt-pt/parabens-estacao-do-oriente-pelos-20-anos-de-vida; ZHENG, Ge, Research on the Calatrava's Architecture Design of Public Space, Conference: 3rd International Conference on Architecture: Heritage, Traditions and Innovations (AHTI 2021).

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

Autor e Data

Josina Almeida, 24 outubro 2024

Actualização

 
 
 
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