Castelo de Penha Garcia

IPA.00008482
Portugal, Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penha Garcia
 
Castelo construído provavelmente no início do séc. 14, pela Ordem do Templo, sobre as estruturas de um outro mais antigo, visto o documento de doação explicitar doar o castelo e vila de Penha Garcia, em local estratégico, para defesa da fronteira leste de Portugal, articulando-se com outros castelos Templários ou reais da Beira Baixa, tendo recebido obras de reforço da defesa no séc. 15 e no 16. Da antiga fortificação gótica, que revelava um total aproveitamento da morfologia do terreno, com as estruturas implantadas entre os afloramentos rochosos escarpados, subsiste apenas a pequena cidadela, no topo do imponente maciço, ainda que um pouco alterada pela ferocidade do tempo e pelas obras do séc. 20 que, de certa forma, o recriaram. Tem planta retangular, com muralhas aprumadas, que rematavam em parapeito ameado, integrando, no ângulo sudoeste, torre de menagem hexagonal, com a altura de "uma lança de armas", também rematado em parapeito ameado, e interiormente com dois sobrados, subsistindo atualmente apenas no interior o maciço do seu arranque, tendo a zona que avançava para o exterior sido desbastada, conforme denuncia a irregularidade do aparelho. A muralha recebeu melhoramentos nas condições de defesa, possivelmente, no séc. 15, com a abertura de troneiras, para adaptação às armas de tiro, e de um balcão, na frente nascente, este com estruturas ainda visíveis em 1962, mas de que nada subsiste. Tinha apenas uma porta de acesso, a poente, em arco, para o pátio exíguo, que comunicava com a torre de menagem, a cisterna, ainda existente, e as duas dependências, tendo-se aberto mais recentemente uma outra porta a nascente. Segundo Mário Barroca, o aparelho mais antigo pode ser comparado com o do Castelo do Ródão, tratando-se possivelmente de obra coeva dos freires do Templo. O castelo era completado por estruturas mais tardias, possivelmente do séc. 15 e 16, formado por uma barbacã da porta, uma outra num nível inferior, mais próxima da povoação, tendo ainda duas linhas de muralhas intermédias, todas rematadas em parapeito ameado, criando quatro recintos progressivamente mais elevados e impondo um itinerário de envolvimento, contornando parte dos muros com possibilidade de tiro vertical, por liças estreitas, onde se erguiam, no séc. 16, edifícios de apoio, como uma estrebaria dividida em palheiro, um forno e um celeiro, com as armas reais sobre o portal. A barbacã inferior tinha a poente um baluarte, em construção em 1505, cilíndrico, com duas linhas de fogo, uma junto à linha do terreno e a outra ao nível do adarve, formada por seteiras e troneiras cruzetadas. Os muros que, na frente poente, delimitam o topo das escadas para o castelo deverão seguir, sensivelmente, o perfil de uma das antigas muralhas que precediam a porta. O castelo de Penha Garcia mantinha contacto visual com os castelos de Salvaterra do Extremo, Idanha-a-Nova, Castelo Branco, Monsanto e Bemposta, todos da Ordem do Templo, e era reforçada por atalaias, sendo referida uma para o lado norte nas Memórias Paroquiais de 1758.
Número IPA Antigo: PT020505100068
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Planta retangular, de pequenas dimensões, adaptada à morfologia acidentada do terreno. Apresenta paramentos aprumados, em alvenaria de pedra, de diferentes alturas, em alguns troços sem remate e noutros rematados em parapeito ameado ou simples. Possui duas portas de acesso; uma, na frente poente, num pano de muralha ligeiramente oblíquo, sem remate, com arco de volta perfeita. Na frente nascente abre-se, quase no ângulo, um outro portal, mais estreito, também em arco de volta perfeita. INTERIOR: a partir da porta poente acede-se ao antigo pátio, de dimensões exíguas, existindo no ângulo vestígios do maciço da antiga torre de menagem, e ao longo da muralha virada a sul e à povoação, adarve. Em frente do portal existe corpo retangular, pertencente à antiga cisterna, de cobertura plana com orifício circular para recolha das águas. Adossado à muralha virada a nascente, desenvolvem-se as estruturas definidoras das duas antigas dependências, comunicando entre si por vão retilíneo, correspondendo, a no topo norte, aos "aposentamentos", tendo atualmente acesso direto do exterior, pelo portal virado a nascente. O topo das escadas a poente, já junto ao castelo, são protegidas por guarda, em alvenaria de pedra, que deverão seguir, sensivelmente, o perfil de uma das antigas barbacãs que precediam a porta.

Acessos

Penha Garcia, Rua do Castelo; Largo da Igreja. WGS84 (graus décimais) lat.: 40.043186, long.: -7.015721

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Peri-urbano, isolado, implantado na vertente sul da Serra do Ramiro, uma ramificação da serra da Malcata, no topo de um imponente maciço rochoso, escarpado, a mais de 500 m de altitude, dominando o vale encaixado do rio Ponsul. Nas imediações, para nascente, ergue-se a Igreja Paroquial de Penha Garcia (v. IPA.00017925), a partir do adro da qual se desenvolvem uma das escadas de acesso ao castelo, existindo uma outra do lado poente; ambas as escadas são em alvenaria de xisto, com guarda plena, possuindo nos próprios degraus e na escarpa lateral inúmeros icnofósseis. Sob a frente norte do castelo, existe ampla lapa ou gruta, já referida em 1758. Para sul do castelo e da igreja, desenvolve-se a povoação e para norte, entre as dobras e as falhas das formações rochosas, erguem-se diversos moinhos de rodízio e localiza-se a barragem de Penha Garcia. Do castelo tem-se amplo panorama da envolvente, nomeadamente do Campo de Castelo Branco, sendo visível Monsanto, a cerca de 8 Km.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 14 (conjetural) / 16 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 12 - séc. 13 - época provável da construção de um primitivo castelo, num local com testemunhos de longa ocupação humana; 1256, 31 outubro - D. Afonso III concede foral à povoação, o qual seguia o modelo de Ávila / Évora, assegurando aos moradores "o foro, usos e costumes de Penamacor"; um dos signatários do documento é D. Gonçalo Garcia, filho de Garcia Mendes, com vastas propriedades no local e que poderá ter estado na origem do nome da localidade; 1303, 13 setembro - D. Dinis doa à Ordem do Templo, na pessoa do seu mestre, Vasco Fernandes, o castelo e a vila de Penha Garcia com os seus termos com todos os direitos que nela tinha, esperando que a Ordem ali consiga manter a paz; provavelmente, procede-se à construção de uma nova estrutura fortificada; 1307, 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; pouco depois, pelas letras "Deus ultiorum dominus", dirigidas ao arcebispo de Braga e bispo do Porto, nomeia-os como administradores dos bens templários em Portugal; D. Dinis empreende uma série de medidas, internas e externas, para evitar que os bens dos Templários em Portugal integrassem o património da Ordem do Hospital; assim, ordena que seja tirada inquirição sobre o património da Ordem e, pela via judicial, incorpora-o na Coroa, alegando que as doações haviam sido da responsabilidade régia e que obrigavam à prestação de serviços ao rei e ao reino; 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários; 1431 - D. João I ali cria um couto de 12 homiziados; 1481, 09 fevereiro - doação de Penha Garcia à comenda; 1486, 20 março - o duque D. Manuel dá à comenda mais 15 reais de tença na vila, acrescentados aos 15 mil que recebia; 1496 - doação à comenda da renda dos maninhos da vila e seu termo; séc. 15 - época provável para a realização de algumas reformas no castelo para adaptação à difusão das armas de tiro, nomeadamente da barbacã e abertura de torneiras cruzetadas nos muros da cidadela; 1505, 15 outubro - elaboração do Tombo dos bens pertencentes à comenda de Penha Garcia, da Ordem de Cristo, feito pelo frei Francisco, capelão do rei, onde se faz a descrição do castelo *1; está então em construção um cubelo redondo, na ponta oeste da barbacã mais a sul, em pedra e barro, rebocado com cal, e rasgado por troneiras cruzetadas; no mesmo Tombo é referido que vivem na vila 30 vizinhos, em casas muito pequenas e pobres, com as paredes de pedra e barro e cobertas de "cortiça"; 1509, cerca - desenho do castelo por Duarte de Armas *2; 1510, 01 junho - D. Manuel concede foral novo a Penha Garcia; 1626, 23 julho - é nomeado alcaide-mor Fernando de Sequeira e Paiva; séc. 17 - a partir desta época, a comenda de Penha Garcia é entregue aos condes de São Vicente da Beira; 1693, 06 fevereiro - atendendo ao estado decadente em que se encontram ainda as vilas de Salvaterra, Rosmaninhal, Segura e Penha Garcia, devido aos prejuízos causados com as invasões castelhanas, D. Pedro II determina a diminuição do lançamento da eira em 70$000, cabendo a Penha Garcia 10$000 e a cada uma das outras vilas 20$000; 1758 - breve descrição do castelo de Penha Garcia nas Memórias Paroquiais da freguesia, que então pertence ao bispado da Guarda, comarca de Castelo Branco e é do rei, tendo 90 vizinhos e 300 pessoas *3; 1790 - extinção dos coutos de homiziados por D. Maria I; 1802 - é nomeado alcaide-mor de Penha Garcia Miguel Carlos da Cunha e Silveira de Lorena; 1813 - 1814 - renovação das cartas de nomeação de alcaide-mor a Miguel Carlos da Cunha e Silveira de Lorena; 1830, década - abolição das comendas da Ordem de Cristo, sendo os bens próprios da comenda de Penha Garcia transferidos para os próprios nacionais; 1836, 06 novembro - data da extinção concelho, que é integrado no de Idanha-a-Nova, iniciando-se o progressivo abandono e degradação do castelo; 1959, 30 novembro - data de ofício em que se transcreve algumas referências de um relatório do Eng. Alfredo Resende, Diretor da Direção de Urbanização de Castelo Branco, sobre o estado ruinoso do "Fortim" de Penha Garcia; 1962 - carta da Direção-Geral da Fazenda Pública a solicitar à DGEMN o restauro do castelo dado ameaçar "últimamente ruína quase completa"; julho - informa-se do perigo de ruína e desabamento em que se encontra o castelo.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria mista, de granito e xisto; juntas em argamassa.

Bibliografia

ANTUNES, A. Pires - «Penha Garcia na Ordem de Cristo». In Separata dos Subsídios para a História Regional da Beira - Baixa. Lisboa: 1950; ARMAS, Duarte de - Livro das Fortalezas. Fac-simile do MS. 159 da Casa Forte do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Lisboa: Patrocínio da Academia Portuguesa de História; edições Inapa, 1997; BARROCA, Mário Jorge - «Aspectos da Evolução da Arquitectura Militar da Beira Interior». In Beira Interior - História e Património. Guarda: 2000, pp. 215-238 (https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/55798/2/MJBarrocaarquitectmilitar000126965.pdf); FARIA, Daniela Carvalho e GRILO, Eduardo - 50 Maneiras de conhecer o Concelho de Idanha-a-Nova. Idanha-a-Nova: 2000; GOMES, Rita Costa - Castelos da Raia. Beira. Lisboa: IPPAR, 1997, vol. 1; GONÇALVES, Iria (organização) - Tombos da Ordem de Cristo. Comendas Sul do Tejo. Lisboa: Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2009, vol. 5; GONÇALVES, Luís Jorge Rodrigues - Os castelos da Beira Interior na defesa de Portugal (séc. XII - XVI). Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa. Lisboa: texto policopiado, 1995; GRAÇA, Eduardo e SANTO, Manuela Espirito - Aldeias Históricas de Portugal - Idanha-a-Velha e Monsanto. Lisboa: 2000, n.º 6; HORMIGO, José Joaquim M. - Visitações da Ordem de Cristo em 1505 e 1537. Amadora: 1981; LOBO, Ernesto Pinto e Lucas, Francisco António d'Ordaz Caldeira - Subsídios para a História e conhecimento de Penha Garcia. Castelo Branco: 1972; MARCELO, M. Lopes, Beira Baixa - Novos Guias de Portugal. Lisboa: 1993; Roteiro Turístico do Concelho de Idanha-a-Nova. Idanha-a-Nova: 1994; Idanha-a-Nova - Roteiro Turístico. Idanha-a-Nova: Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, 1995; MARTINS, Ana Margarida Nunes - Património e Desenvolvimento local. Contributo para um programa de intervenção patrimonial em Penha Garcia (Idanha-a-Nova). Dissertação de Mestrado em História Regional e Local apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Lisboa: texto policopiado, 1999; NUNES, António Lopes Pires - Os Castelos Templários da Beira Baixa. Idanha-a-Nova: Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, 2005.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID; CMIAN

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DREMC; CMIAN

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID (DGEMN:DSID-001/005-005-0460/3); CMIAN; DGLAB: Torre do Tombo, Memórias Paroquiais, vol. 28, n.º 120, pp. 805-812

Intervenção Realizada

JFPG: 1995 - construção da escadaria de acesso ao castelo e recuperação das muralhas do mesmo, com apoio do programa LEADER I, sob o patrocínio da Associação de Defesa do Património Cultural e Natural de Penha Garcia.

Observações

*1 - Segundo a descrição no Tombo da Comenda de Penha Garcia, a vila tem "huu castelo que estaa em huua fragan sobre huua serra mujto alta que se chama ha serra do remilo. e he nesta maneira. Da banda do sul tem huua çerca baixa de pedra e barro ameada com huu portal e suas portas e chega de huua ponta da fraga atee ha outra em rodendo quanto he desta banda do sul. e no canto della contra o ponente se faz ora huu cubello de pedra e barro rebocado com cal e suas bonbardeiras a qual çerca faz dentro huu terreiro. e nelle estaa huua casa de estrebaria que leua sete uaras de longo e quatro de largo. e tem huu repartimento que serue de palheiro. quatro uaras e meya de longo e quatro de largo. has paredes de pedra e barro e cubertas de cortiça e madeirada de carualho. sobindo logo mais acima vay outra tal çerca porem pequena e do meesmo theor com seu portal sem portas. e tem huu forno a huu canto. E logo mais açima tem outra entrada com seu portal e portas. e junto do dito portal aa mãoo seestra tem huua casa terrea soalhada sobre traues. has paredes de pedra e barro rebocadas de cal forrada de boom oliuel de castanho sobre has asnas e cuberta de telha. esta casa serue de çeleiro e tem has quinas reaaes em huua pedra sobre ha porta. E logo mais çcima vay outra entrada de parede de pedra e barro e com seu portal sem portas contra ho norte. E mais açima estaa ha entrada da fortaleza com huu portal e Roijns portas. e logo huu terreiro mujto pequeno e aa mãoo direita dele. estaa huua torre de menagem pequena. has paredes de pedra e barro rebocadas de cal e leua de longo duas varas e meya e duas de largo. ha altura sua seraa uma lanca d armas pouco mais e tem dous sobrados. e tem huua çerca pequena de boom muro ameada. has paredes de pedra e barro rebocadas de cal com huu peitoril da parte de dentro. sobre duas casas que hi uam dentro e seu andaimo que anda duas partes do muro. a saber. ao leuante e sul e ha torre estaa ao ponente. e da parte do aguiam vay huua grande fraga e mujto jngreme aa marauilha. huua das ditas casas que assi estam dentro na dita cerca. serue de cozinha, e leua çinquo uaras de longo e iiij de largo. e ha outra serue de despensa e leua seis uaras de longo e çinquo e meya de largo. has paredes de pedra e barro e barradas per çima sobre Ripas grossas e bastas e madeiradas de carualho e cubertas de nouo de telha. pello pee da dita rrocha da parte do aguiam. vay ho Rio de ponssul que hi naçe mui açerca e das bandas do leuante e ponente tem grandes penedias que som no cume da dita serra. e contra ho sul estaa ha egreia da dita Villa (...)". *2 - Segundo os desenhos de Duarte de Armas, o castelo era composto por vários recintos fortificados, adaptados ao declive e aos grandes afloramentos rochosos. Tinha uma barreira ou barbacã ameada, disposta a sul, entre as penedias, de perfil curvo, com três varas e um pé de altura e três pés de espessura. Era rasgada por portal de verga reta e, a poente, integrava um cubelo cilíndrico, de pedra e barro, com quatro varas de largura e oito de altura, rasgada por quatro troneiras cruzetadas em baixo e seteiras e torneiras em cima. Na liça possuía edifício seccionado em dois. Num plano mais elevado tinha uma segunda barbacã, com três varas de altura e remate ameado, delimitado a nascente por penedias e a poente por corpo de um edifício e uma outra linha de muralhas. Num plano mais elevado uma pequena barbacã da porta protege o acesso à cidadela, de planta quadrangular, com muralha de catorze varas de largura e sete de altura, com troneiras a sul e nascente, e rematada em parapeito simples ou ameado, tendo balcão a este. No ângulo poente integrava a torre de menagem, de planta poligonal, com quatro varas por três nas faces maiores. No interior, a cidadela possuía pequeno pátio, delimitado por dependências em L invertido, duas a nascente, uma delas correspondendo aos aposentamentos, e uma outra a norte, contendo a cisterna. A povoação, de dimensões muito reduzidas, desenvolvia-se extra-muros, no sopé da colina do castelo, com a igreja destacada, composta por nave e capela-mor e campanário lateral. *3 - Nas Memórias Paroquiais da freguesia, o pároco informa que a povoação se situa numa serra de onde se descobre a praça de Salvaterra do Extremo, Zebreira, Monforte, Idanha-a-Nova, Castelo Branco, Monsanto, Castelo Novo, Alpedrinha, Caria e Bemposta. A praça de cima é cercada de muros com entrada por uma única porta e com a sua estacada e corpo de guarda. Mais acima, o castelo é formado sobre uma penha com baluartes e uma peça de artilharia, duas cisternas, um forno, casa do governador, torre, corpo da guarda e armazéns. Para a parte do norte, numa outra penha, distante cerca de dois tiros de espingarda, tem uma atalaia, que se guarnece em tempo de guerra. Todas as estruturas estão algo arruinadas por causa dos temporais. Debaixo do castelo, para a parte do norte, tem em rocha firme uma lapa, com cinquenta palmos de altura na entrada e trinta de largura, mostrando que em algum tempo se quis minar o castelo, o que não foi possível devido à dureza da penha. *4 - O castelo está ligado a uma lenda local, que conta o rapto da bela filha do governador de Monsanto, D. Branca, pelo alcaide do castelo de Penha Garcia, D. Garcia. Depois de vários meses de intensa perseguição, D. Garcia é capturado nas encostas da serra mas, perante os insistentes apelos da filha, o governador de Monsanto acaba por poupar a vida de D. Garcia, condenando-o apenas à perda do braço esquerdo, como penhor de justiça. Segundo os habitantes locais, a figura lendária do decepado continua a vigiar, do alto das torres, o morro sobranceiro de Monsanto.

Autor e Data

Paula Noé 2016

Actualização

 
 
 
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