Mosteiro de São Salvador do Souto / Igreja Paroquial de São Salvador do Souto / Igreja do Divino Salvador

IPA.00008010
Portugal, Braga, Guimarães, União das freguesias de Souto Santa Maria, Souto São Salvador e Gondomar
 
Arquitectura religiosa, românica, barroca e neoclássica. Igreja pertencente a antigo mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, de fundação medieval e reedificação setecentista. Apresenta planta longitudinal de uma só nave e capela-mor mais baixa e estreita, flanqueada por torre sineira, quadrangular, e sacristia adossada lateralmente. Fachada principal enquadrada por pilastras e rematada por platibanda encimada por urnas e cruz sobre acrotério. Portal axial, rectangular, com cornija recta e brincos, encimado por janelão de verga e base arqueadas sobre motivo cilíndrico. Fachadas laterais terminadas em cornija, em alguns pontos decorada com motivos românicos, surgindo na capela-mor arcaria lombarda, encimada por cornija decorada com motivo visigótico de fitas perladas entrelaçadas. Os janelões são na maior parte em capialço e as portas de verga recta. No interior, abóbadas de berço com estuque pintado, silhares de azulejos de padrão, industriais do séc. 19, coro-alto, baptistério integralmente em granito integrado no piso inferior da torre sineira, e dois púlpitos confrontantes. A talha dos retábulos, púlpitos e sanefas é neoclássica, de talha policroma de fundo branco e bege, com decoração marcada a dourado, com pouco relevo, essencialmente fitomórfica, com recurso a acantos e pequenos festões. A nível dos retábulos, são de um só eixo, com nicho central enquadrado por colunas de fuste liso marmoreado, com elementos arquitectónicos bem demarcados como cornijas e frisos projectados. O retábulo-mor apresenta estrutura maneirista enriquecida por decoração predominantemente em barroco nacional, modificado no séc. 19 ao nível dos eixos laterais.
Número IPA Antigo: PT010308620079
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro masculino  Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho

Descrição

Planta longitudinal composta por nave única e capela-mor, mais baixa e estreita, rectangulares, com torre sineira e sacristia, quadrangulares, adossadas lateralmente a N., e estreito anexo rectangular, adossado de lateralmente a S. da capela-mor. Volumes articulados e escalonados de dominante horizontal, quebrada pelo verticalismo da torre sineira, com coberturas diferenciadas em telhados de uma e duas águas e cúpula bolbosa coroada por cata-vento, na torre sineira. Fachadas em aparelho regular de granito aparente. Fachada principal orientada, percorrida por embasamento, com cunhais apilastrados, apresentando o do lado esquerdo inscrição, coroados por urnas e remate em entablamento encimado por platibanda em empena de friso e cornija, com cruz sobre acrotério ao centro. Portal principal de verga recta, rematado por cornija, com brincos, encimada por janelão de verga e peitoril em arco abatido, assente em elemento bojudo, que se une à cornija do portal. Torre sineira flanqueando a fachada principal a N., ligeiramente recuada, com acesso exterior por escada de quatro lanços desenvolvida na fachada E.. Apresenta embasamento, cunhais apilastrados e remate em entablamento com cornija encimada por pináculos nos vértices. Com fachadas de dois registos separados por entablamento. Primeiro registo rasgado por janela jacente, gradeada, com moldura recortada lateralmente e óculo de ângulos côncavos na fachada O., por janela rectangular, gradeada, em arco abatido na fachada N. e por porta de verga recta na fachada E.. Segundo registo com quatro sineiras em arco pleno, apresentado a do lado N., inferiormente, relógio de pedra. Fachada lateral S. rematada na nave por cornija sob beiral e na capela-mor por cornija, decorada com fitas perladas entrelaçadas, sob beiral, suportada por arcaria lombarda, ricamente decorada com elementos vegetalistas, composta por dezassete modilhões esculturados com motivos zoomórficos e antropomórficos. Nave rasgada por porta de verga recta, com acesso por escada de um lanço, ladeada superiormente por dois janelões rectangulares em capialço. A fachada apresenta vestígios de friso enxaquedado. Capela-mor com porta de verga recta, junto ao ângulo, e superiormente três janelões idênticos aos da nave. Corpo anexo com estreita porta de verga recta. Fachada lateral N. rematada por cornija sob beiral, apresentando-se parte da cornija da capela-mor decorada com folhas de acanto. Nave com porta de verga recta encimada por janelão rectangular em capialço e ladeada por banco corrido em cantaria. No corpo da sacristia, na fachada O., porta de verga recta com bandeira, ladeada por banco corrido de cantaria, e superiormente janela jacente em capialço, idêntica à que se rasga na fachada oposta. Fachada posterior em empena rematada por cornija, com cruz sobre acrotério. Sobre os cunhais, prolongamento das cornijas das fachadas laterais, apresentando sob a do lado esquerdo cartela inscrita "Era 1869". INTERIOR rebocado e pintado de branco, apresentando alto rodapé de granito e silhar de azulejos de padrão, industriais, na nave monocromos com estampilha a azul e na capela-mor policromos a azul e amarelo. Pavimento em soalho, à excepção do baptistério em laje de granito. Coberturas diferenciadas em abóbadas de berço assentes em cornija de granito. A da nave e capela-mor estucada e pintada, a primeira com representação do Divino Salvador ao centro e a segunda com alegoria à Eucaristia, e a do baptistério de granito. Coro-alto sobre arcaria, de madeira pintada imitando aparelho de granito, composta por três arcos abatidos, o central mais amplo, sustentados por duas colunas de ferro. No sub-coro, na parede fundeira guarda-vento de madeira, ladeado por duas pias de água benta com taça gomada e bordo boleado. Na parede do lado do Evangelho, no piso inferior da torre sineira, desenvolve-se baptistério, integralmente em granito, com acesso por arco pleno, protegido por grade de madeira, com pia baptismal de base e taça circulares, ao centro, retábulo da invocação de Nossa Senhora de Fátima na parede fundeira e armário de alfaias litúrgicas com verga arqueada e peitoril saliente, embutido, na parede o lado direito. Na parede do lado da Epístola vão em arco pleno com retábulo da invocação de Nossa Senhora do Rosário. Na nave, paredes simétricas, possuindo confrontantes peanhas de talha dourada com imaginária, portas com sanefas de talha policroma a branco e dourado, encimadas por janelões, entre os quais surgem os púlpitos com base suportada por mísula, em granito, com guarda plena de talha policroma a branco e dourado e acesso por vão de verga recta com sanefa idêntica às das portas. Junto ao topo, quatro retábulos em talha policroma, os do lado do Evangelho da invocação do Sagrado Coração de Jesus, protegido por grade de ferro, e de Nossa Senhora do Carmo e dos do lado oposto da invocação do Crucificado e de São Sebastião. Entre os retábulos, surgem penhas de talha com imaginária. O retábulo do Sagrado Coração de Jesus, é protegido por grade de ferro. Arco triunfal pleno sobre pilastras com capitéis lisos, ladeado por dois nichos com imaginária. Capela-mor com paredes laterais simétricas, rasgadas com quatro portas e seis janelões, encimados por sanefas idênticas às da nave. Na parede testeira, sobre supedâneo de granito, com dois degraus ao centro, retábulo-mor de talha policroma a branco, azul e dourado, de planta convexa e três eixos, o central definido por par de coluna espiraladas com o terço inferior marcado, decorado por acantos e querubins, e com capitéis coríntios. Suportam entablamento escalonado, com friso decorado com elementos fitomórficos, elevado ao centro, com entablamento com cartela com símbolos do Divino Salvador, suportado por quarteirões e rematado por motivos fitomórficos. No eixo central, tribuna de boca rendilhada com tela representando a Ascensão de Cristo cerrando trono eucarístico, e nos eixos laterais nichos com imaginária assente em mísulas. Banco e sotabanco profusamente decorado com elementos vegetalistas, apresentando o banco grande sacrário ao centro e o sotobanco altar recto adossado. Sacristia com paredes rebocadas e pintadas de branco percorridas por silhar de azulejos de padrão, industriais, policromos, e cobertura em tecto estucado. Ao centro, surge mesa de pedra e numa das paredes arcaz.

Acessos

Lugar da Igreja

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, adossado, implantado em encosta voltada ao rio Ave, no centro do lugar, junto do cemitério e do salão paroquial. O largo, térreo, rodeado por muro e corrente de ferro, integra coreto e gruta com imagens de Nossa Senhora de Lurdes e Bernardete. Na fachada S. desenvolve-se espaço quadrangular rodeado por edifícios do antigo mosteiro. Possui adro lajeado a granito.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: Inscrição indicativa de posse e comemorativa de reedificação. Gravada em três silhares da pilastra do lado esquerdo da fachada principal; sulcos pintados a preto; sem moldura nem decoração; granito. Tipo de letra: capital quadrada. Leitura: MOSTEIRO DE SOUTO EXPENSIS FRVCTVVM REEDIFICATVM ANNO DE 1758; Tradução: Reedificada a expensas dos rendimentos do mosteiro no ano de 1758; Inscrição gravada em placa junto das escadas de acesso à torre sineira; leitura: GRADE DAS ESCADAS PARA A TORRE OFERTA DE JOAQUIM DE FREITAS; Inscrição gravada em placa de mármore, na verga do portal lateral N.; leitura: 1986 FESTAS CENTENÁRIAS DA RESTAURAÇÃO CONFRARIAS SR. 7-1-1784 SRª ROSÁRIO 10-9-1897 MESAS DO SOUTO. TALHA: Retábulo do baptistério, em talha policroma a branco e azul, com elementos decorativos a dourado, de planta recta, de um só eixo delimitado por par de estreitos balaústres, os interiores suportando cornija curva, denticulada, rematada por espaldar recortado e vazado. Ao centro, nicho em arco pleno, com imaginária. A banqueta é suportada por dois balaústres. Retábulo de Nossa Senhora do Rosário em talha policroma a branco e azul, com elementos decorativos a dourado, de planta recta, de um só eixo, estreito, delimitado, por pilastras estriadas, marcadas a meia altura, suportando cornija curva, elevada por acantos acantos. Ao centro nicho com imaginária. Apresenta altar paralelepipédico, com frontal moldurado. Retábulos laterais em talha policroma, branco e bege, com elementos decorativos marcados a dourado, de planta recta, de um só eixo delimitado por colunas marmoredas com capitéis coríntios, encimadas por urnas. Os da invocação do Sagrado Coração de Jesus e do Crucificado suportam fragmentos de entablamentos unidos ao centro por cornija curva elevada por espaldar recortado rematado por acantos, apresentando ao centro resplendor com símbolo do orago. Os da invocação de São Sebastião e de Nossa Senhora do Carmo são unidos por cornija recta, elevada por frontão interrompido e espaldar encimado por acanto e decorado com festões. O eixo é vazado ao centro por nicho em arco pleno com imaginária, o de Nossa Senhora do Carmo inferiormente com sacrário. É ladeado, à excepção do da invocação do Crucificado por mísulas, as do retábulo de São Sebastião com imaginária. O sotobanco apresenta adossado altar em forma de urna, os da invocação do Sagrado Coração de Jesus e do Crucificado com rica decoração fitomórfica e os da invocação de São Sebastião e de Nossa Senhora do Carmo decorados com cartela e festões.

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Braga)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 12 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 12 - D. Paio Guterres da Cunha funda um mosteiro de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho; 1177 - ordem de sepultura de D. Urraca *1, no mosteiro; 1262 - João Lourenço da Cunha, bisneto do fundador, institui e deixa na igreja certas missas pelas almas dos seus ascendentes; 1367 - João Lourenço Bubal, meirinho-mor da comarca de Entre-Douro, a mando de el-rei D. Fernando, faz a repartição das rendas do mosteiro pelos seus moradores; 1426, 21 Novembro - o prior D. Afonso Lourenço intervêm, como procurador desta comunidade, num pleito em que andava envolvido com Diogo Domingues por causa do caminho da água da fonte do lugar; 1448 - o prior viu-se obrigado a mandar citar diversas pessoas que se negavam a pagar-lhe os tradicionais dízimos, primícias, foros, direitos, lutuosas, etc.; 1454, 17 Abril - por morte do prior Pero Nogueira, foi confirmado como novo prior do Mosteiro do Souto o cónego regrante do Mosteiro de Mancelos, Gonçalo Vasques; 1483 - sendo prior D. Afonso, filho do Marquês de Valença, os monges residentes abandonaram o mosteiro devido a desentendimentos; 1552 - o Arcebispo de Braga, D. Frei Baltazar Limpo reduziu o mosteiro de regular em secular, transformando-o em comenda da Ordem de Cristo, tendo sido o seu primeiro prior Martim Rabello de Macedo; 1617, 3 Fevereiro - o vigário de São Salvador do Souto, o licenciado Paulo Mendes, o seu cura, o vigário de Santa Maria de Corvite, e cerca de três dezenas de fregueses, para obterem licença para colocação do sacrário, fazem obrigação à fábrica do azeite para o Santíssimo Sacramento; 1674 - a Confraria do Santíssimo já existia, possuindo bons e ricos paramentos; 1726 - referência à igreja, reitoria da Mitra de Braga, sendo seu reitor o Padre Tomás Peixoto; 1758 - reedificação da igreja; construção da residência paroquial; 1842, 4 Novembro - o prior José Leite Pereira da Costa refere-se à antiguidade da sua igreja, com vestígios dos antigos lavores na capela-mor por trás do actual camarim, aponta a existência das Confrarias do Santíssimo Sacramento, da Senhora do Rosário e do Santo Nome, e cita na igreja a existência de dois altares com Nossa Senhora do Rosário e o mártir São Sebastião e, encostado ao arco cruzeiro, um grande crucifixo "primor da arte, com a invocação do Senhor da Agonia"; 1869 - data inscrita no cunhal da fachada posterior da capela-mor, provavelmente alusiva a reelaboração da cachorrada (ALMEIDA, p. 149).

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura, pia baptismal, pias de água benta, bases dos púlpitos, pavimento da capela-mor e mesa da sacristia em granito; portas, guarda-vento, coro-alto, guardas dos púlpitos, pavimentos, retábulos e sanefas em madeira; tectos da nave e capela-mor em estuque pintado; silhares de azulejos na nave, capela-mor e sacristia; cobertura exterior em telha cerâmica; colunas que suportam o coro-alto, grades das janelas, corrimão das escadas para a torre, catavento e cruz, em ferro.

Bibliografia

CRAESBEECK, Francisco Xavier da Serra, Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho no Ano de 1726, vol. 1, Ponte de Lima, 1992, pp. 239 - 244; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, História da Arte em Portugal. O Românico, vol. 3, Lisboa, 1993, p. 149; INQUÉRITO PAROQUIAL - 1842, in Revista de Guimarães, vol. 108, Guimarães, 1998, pp. 577 - 583; SILVA, Hilário Oliveira da, Colocação do Sacrário nas Igrejas do Arciprestado de Guimarães, Guimarães, 2002, pp. 383 - 386.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1951 - obras de remodelação da casa e salão paroquial; 1986 - obras de remodelação do salão paroquial; 1992 - obras de recuperação dos telhados, pavimentos e tectos da igreja.

Observações

*1 - "Mando ego horraca petri meum corpus ad monasterium sancti Salvatoris de Souto, et ipsum meum casalem de rial integrum cum omnibus que ad illum pertinent in quo moraruit menendus luz, et meum lectum cum almuzala et cum mea manta noua".

Autor e Data

António Dinis 2002

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