Mosteiro de São Cristóvão de Lafões

IPA.00007241
Portugal, Viseu, São Pedro do Sul, União das freguesias de Santa Cruz da Trapa e São Cristóvão de Lafões
 
Mosteiro da Ordem de Cister, composto por igreja, sacristia, claustros, sala do capítulo, refeitório, cozinha, celas, biblioteca, enfermaria, etc. Convento maneirista, com claustro assente em arcaria de volta inteira apoiadas em pilastras toscanas, com enjuntas pontuadas por losangos e figuras geométricas decorativas. Tendência horizontalista das massas e pouca decoração; fenestrações rectangulares. Arquitectura religiosa barroca na Igreja. Planimetria não coincidente do exterior com o interior; nave com interior octogonal; nichos decorativos na fachada, que se pauta por maior exuberância decorativa em detrimento dos restantes alçados; brasões heráldicos e pináculos; profusão de talhas policromadas. Algumas afinidades de planimetria com o Convento de Fornos de Maceira Dão da mesma Ordem (v. PT021806070021).
Número IPA Antigo: PT021816110015
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro masculino  Ordem de São Bento - Beneditinos

Descrição

Planta rectangular e irregular, composta, de volumes articulados e disposição horizontalista das massas, sem coincidência entre o exterior e o interior. Coberturas diferenciadas de telhados de 2, 4 e 8 águas. Divide-se o conjunto em duas partes, a Igreja e a parte conventual propriamente dita, que se desenvolve para N. e E. do templo. IGREJA com embasamentos marcados e fachada principal voltada a SSE. composta por três panos. No central, pórtico rectangular ladeado por pares de colunas toscanas, assentes em supedâneo comum, e encimado por entablamento, com pequenos pináculos aos extremos. Este é encimado por janelão rectangular emoldurado. Sobre ele brasão heráldico *1, encimado por grande óculo trilobado, de moldurada contracurvada com pingentes, rasgado no ático inacabado. Os dois corpos laterais, separados por pilastras toscanas, são fenestrados com duas janelas rectangulares alternadas com nichos de frontões curvos. No corpo do lado O., sobre o entablamento, cubelo, com ventanas de arco a pleno centro e coberto por telhado de quatro águas. Em plano mais recuado e centralizado, zimbório octogonal da nave, com pináculos, no remate e no enfiamento das pilastras das faces. Alçado O. rasgado por janelões rectangulares gradeados e fenestração de arco de volta inteira emparedado. Em plano mais recuado, corpo da capela-mor, com fenestração rectangular e, em plano superior, janelões de arco a pleno centro emparedados. Alçado tardoz adossado a ala do conjunto conventual. Alçado E. com porta lateral de acesso à nave e, em plano superior, janelão rectangular. O resto do alçado encontra-se adossado a ala conventual. INTERIOR de nave única, compondo um octógono, com coro-alto, capela-mor e sacristia. No lado da entrada, porta rectangular dá acesso a pequeno corredor coberto com arco abatido, comunicante, do lado do Evangelho, com a antiga Casa da Fábrica e do outro lado com o Baptistério. Sobre este, coro-alto, gradeado e iluminado originalmente pela actual porta sobre o pórtico principal. Nas faces do polígono, situam-se altares de arco de volta inteira, e, em duas faces fronteiras entre si, portas de acesso ao exterior, sobrepujadas por púlpitos, marcados superiormente por frontão semi-circular. Em plano superior, quatro tribunas ou coretos. Sobre a cornija, as janelas de arco rebaixado e jambas rectas, algumas em capialço. Cobertura em cúpula de gomos, sustentada por oito nervuras que convergem para um florão, como fecho da abóbada. Um degrau dá acesso à capela-mor profunda e coberta com abóbada de canhão. Do lado da Epístola, porta para a sacristia e sala de arrumos, de onde se tem acesso ao convento e, através de escadaria interior, ao coro alto e à torre. Do lado do Evangelho, porta rectangular, fronteira a anterior de acesso ao piso superior. Junto ao retábulo de talha policromada, e fronteiras, duas janelas laterais com molduras intensamente decoradas. CONVENTO de planta quadrangular, desenvolve-se em torno do claustro, formado por arcaria de cinco arcos de volta inteira, apoiados em pilastras toscanas. Construção de dois pisos, é profusamente fenestrado quer para o exterior quer para o interior, nas quatro empenas que formam o conjunto. No piso inferior, verificam-se, ainda, o refeitório, rectangular, com mesas e bancos corridos. Paredes com silhares de azulejo e cobertura em falsa abóbada de berço abatido. Junto a este, surge uma fonte de espaldar, circunscrita por duas pilastras que suportam frontão encimado por cruz, enquadrada por duas aletas volutadas. Contígua, fica a cozinha com grande chaminé no ângulo, várias prateleiras e mesa. Na zona, uma sala, talvez a primitiva Sala do Capítulo. Estas dependências apresentam coberturas em abóbada de berço abatido. Para abastecimento de água, havia um aqueduto, hoje praticamente inexistente, formado por longo caleiro, em parte assente em muro ou, conforme o desnível do terreno, em altos pilares de pedra.

Acessos

EN 227 de São Pedro do Sul, para Vale de Cambra; ao Km 56,4, no Lug. de Gralheira, para EM; a 1,1 Km, para desvio; a 150 m o Convento; existência de placas sinalizadoras

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 399/2010, DR, 2.ª série, n.º 113 de 14 junho 2010

Enquadramento

Rural, em contraforte da Serra da Gralheira, dominando o Rio Varosa, a pouca distância da povoação de Santa Cruz de Trapa, isolado, destacado, a cerca de 10 Km. de São Pedro do Sul. No monte sobranceiro, a Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, datada do séc. 17. A igreja é separada por pequeno adro gradeado em cota inferior ao do terreno, insere-se em zona florestal, com interesse paisagístico de pinheiros bravos e carvalhos. Pequena escadaria, descendente, dá acesso ao adro, com cemitério. Nas imediações localiza-se o aqueduto (v. PT021816110193) para rega da cerca do convento.

Descrição Complementar

As duas janelas iluminantes do altar-mor, apresentam recorte curvilíneo, profusamente decoradas com motivos vegetalistas, volutas, com pingentes laterais e concheados. Quatro retábulos policromados tardo-barrocos na nave, contendo telas alusivos à vida de Cristo. O retábulo da capela-mor integra-se na mesma corrente artística, composto por três panos, com tela no central, representando Nossa Senhora da Assunção, e dois nichos nos laterais. No ático, evolui um frontão interrompido, encimado por anjos que apontam o escudo português e as insígneas da Ordem. No banco e sotobanco, apontamentos de acantos e concheados dourados.

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial / Comercial e turística: casa de turismo de habitação

Propriedade

Privada: Igreja Católica / pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Frei Alexandre Pereira (atr., 1721); Margarida Osswald (séc. 20). PEDREIRO: António da Cunha (1762).

Cronologia

Séc. 12, 1º quartel - Cristóvão João e sua mulher Maria Rabaldis, pais de D. João Peculiar, fundam ou restauram o mosteiro *2; D. João Peculiar ali viveu com alguns Cónegos Regrantes; 1126 - num documento outrora existente no cartório constava que se venderam algumas fazendas aos frades de São Cristóvão dos quais era Abade D. Domingos; 1137 - doação de D. Afonso Henriques do Couto de Valadares ao Mosteiro e ao seu Prior João Cerita; 1161 - filiação na Ordem de São Bento; D. Afonso Henriques couta Trpa e Paçô ao Mosteiro; os abades exercem jurisidção episcopal sobre os seus domínios; 1163 - a comunidade, no abaciado de Frei Miguel, filia-se na Ordem de de Cister, dependendo directamente de Claraval; 1183 - D. João Peculiar ofereceu o eremitério de São Donato, perto de Ovar, à comunidade; 1271 - D. Afonso III deixa em testamento 100 libras ao mosteiro; 1320 - tinha de rendimento 600 libras; 1532 - estava arruinado segundo a visitação, de Dom Edme de Saulieu, Abade de Claraval, escrita pelo seu secretário Fr. Claude de Bronseval e ali viviam 4 monges; 1536, 3 Maio - visitação ordena que se comprassem toalhas e frontais para os três altares; 1539, 17 Abril - visitação feita por Frei Afonso, abade de Maceira Dão, que ordena que se mude o campanário do cruzeiro para o claustro, que se coloque novo telhado na igreja e capela, que se pintasse o sacrário a óleo, à romana, que se tapasse a porta da estrebaria a a existente debaixo do dormitório, que se colocasse um ferrolho nas grades da igreja e uma pedra de ara no altar-mor; que se consertasse o cálice; séc. 17, 2ª metade - reconstrução do mosteiro; 1704 - reedificação pela terceira vez da Igreja, após um incêndio; 1721, 18 Janeiro - assistia no mosteiro um monge douto em matérias de arquitectura Frei Alexandre Pereira, talvez responsável pela construção do edifício; 1762, 4 Julho - António da Cunha, pedreiro do lugar do Outeiro, freguesia de Linhares, concelho de Coura, trabalhava no mosteiro, com outros oficiais minhotos; 1834 - estavam as obras do convento e da Igreja ainda inacabadas e após a extinção das Ordens Religiosas é vendido em hasta pública e deixado ao abandono; arrolamento dos bens do convento, sendo feita descrição minuciosa do mesmo *3; 11 Junho - avaliação do convento pelo serralheiro de São Pedro do Sul, António de Magalhães, pelos pedreiros José Martins e Pedro de Oliveira, pelo relojoeiro Joaquim José Tavares e pelos carpinteiros Francisco de Matos, João da Rocha, José Jacinto Rodrigues e Luís António da Silva Carriço; 1838, 31 Julho - avaliação do estado da igreja e dependências conventuais pelos mestres carpinteiros Francisco de Matos e João Fernandes Lourenço, e pelos pedreiros Luís António e Manuel Bento; 1943 - incêndio florestal danifica as paredes em diversos sítios; 1978, 3 Julho - início da instrução do processo de classificação; séc. 20, década de 80 - aquisição da zona conventual pelo actual proprietário; 1985 - demolição de parte do aqueduto de abastecimento ao mosteiro, para alargamento da estrada; séc. 20, final - recuperação do convento, conforme projecto da arquitecta Margarida Osswald; 1996, 24 maio - proposta de classificação particular; 1996, 17 junho - Despacho de abertura do processo de classificaçãopelo vice-presidente do IPPAR; 1999, 26 julho - proposta da DRCoimbra de classificação como Imóvel de Interesse Público; 2002, 22 setembro - parecer favorável do Conselho Consultivo do IPPAR; 23 outubro - Despacho de homologação da classificação como Imóvel de Interesse Público pelo Ministro da Cultura; 2003, 27 agosto - proposta da DRCoimbra de fixação da Zona Especial de Proteção; 2004, março - a zona do mosteiro abriu ao público como unidade de turismo rural; 2007, 19 março - aprovação, pelo Conselho Consultivo do IPPAR, da proposta de delimitação de uma Zona Especial de Proteção; 2008, 28 janeiro - Despacho de homologação da Zona Especial de Proteção, pelo Ministério da Cultura.

Dados Técnicos

Estrutura mista.

Materiais

Granito, rebocos, e madeiras.

Bibliografia

BRITO, Fr. Bernardo de, Prymeira Parte da Chronica de Cister, Lisboa, 1602; LEAL, Augusto Soares D'Azevedo Barbosa de Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol. IV, Lisboa, 1874; ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, vol. I, Barcelos, 1967; COCHERIL, Dom Maur, Notes sur l'Arquitecture et le Décor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal, Paris, 1972; DIAS, Pedro, Visitações da Ordem de Cristo de 1507 a 1510 - aspectos artísticos, Coimbra, 1979; COCHERIL, Dom Maur, Routier des Abbayes Cisterciennes du Portugal, Paris, 1986; BRANCO, Alberto Manuel Vara, O Mosteiro de São Cristóvão de Lafões durante a Reconquista cristã, in Beira Alta, vol. LI, fasc. 3 e 4, Viseu, Assembleia Distrital de Viseu, 1992, pp. 325-335; ALVES, Alexandre, O Real Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões (S. Pedro do Sul), Viseu, 1995; MOURO, Manuel Barros, A Região de Lafões (Subsídios para a sua História), Coimbra, 1996; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. XXVII, Lisboa / Rio de Janeiro, s.d.; ALVES, Alexandre, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, 3 vols., Viseu, 2001; Em comunhão com a natureza, in Semana Médica, 08 Junho 2006; Mosteiro de São Cristóvão de Lafões, in Casas de Portugal, 05 Dezembro 2006; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72114 [consultado em 28 dezembro 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; IPPAR

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; IPPAR

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH; CMSPS; IPPAR; DGA/TT: Arquivo do Ministério das Finanças (conventos extintos, caixa 2221, capilha 1); DRCC

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, final - recuperação recente da parte conventual.

Observações

*1 - escudo oval, partido, de Portugal e da Ordem de Cister, encimado por coroa régia. *2 - em 1602, Frei Bernardo de Brito escreveu, na "Primeyra Parte da Chronica de Cister", que a fundação do mosteiro se teria devido a Frei João Cerita, eremita e antigo guerreiro de Afonso VII de Leão, opinião que foi secundada por Frei António Brandão. *3 - o mosteiro formava um paralelograma, tendo num ângulo a igreja e a E. ainda incompleto, tendo cerca de 190 palmos, estando situado numa montanha, denominada Monte Cerita, em cujo cume existia uma pequena ermida, a casa do ermitão, hoje da Irmandade da Senhora da Boa Morte, junto ao Rio Varosa; a porta principal de acesso ao núcleo era do lado S., mas como se encontrava em construção, a entrada processava-se pelo lado E.; quando se entra tem, no lado esquerdo, uma sala, o Celeiro, a que se segue um quarto e adega, em arcadas de pedraria; no lado direito, a cozinha, surgindo o claustro no centro, com cinco arcadas de pedra por cada lado, tendo, a N., o refeitório e tulha, a NO., uma espaço em pedra que serve de arrecadação de azeite, com 5 pias de pedra, a O. uma tulha e o volume da sacristia, seguindo a igreja; no lado S. do claustro, a escada de acesso ao andar superior, com largo corredor, tendo, no lado direito, hospedaria com alcofas, sala e cela do superior, aparecendo, no lado E., cinco celas e a livraria, no N., cinco celas e a cloaca e, no O., cinco celas e a capela-mor da igreja, sendo o conjunto avaliado em 60 mil cruzados; a igreja é ao gosto romano, com altar-mor e 4 colaterais, o de Nossa Senhora da Piedade, São Bernardo, São Bento e Sagrada Família; no camarim do retábulo-mor, a pintura da "Assunção da Virgem" e, sobre um mausoléu, no lado do Evangelho, a pintura da "Fuga para o Egipto"; no retábulo-mor as imagens de São Cristóvão e São Bento em vulto, surgindo, no de Nossa Senhora da Piedade, as de Nossa Senhora do Rosário e São Sebastião, esta de dois palmos; sobre o retábulo da Sagrada Família, surgem as imagens de Santo António, em vulto, de dois palmos, e o Menino, de vulto e um palmo; tem coro e quatro coretos, tudo incompleto, e dois púlpitos fronteiros na nave; entrada da igreja a S., tendo, à esquerda, o baptistério e, à direita, a Casa da Fábrica; a sacristia possuía arcaz com seis gavetões, um armário, mesa pintada e crucifixo; as duas torres encontram-se incompletas, uma delas com dois sinos; em frente à igreja, um tanque de água e a O., casas com loja, balcão e escadas de pedra que acedem a uma sala; a E., surgem duas lojas, uma para o alambique e outra constituindo a forja; o refeitório tem retábulo com a representação da "Última Ceia" pintada, muito grosseira.

Autor e Data

João Cavalho 1999

Actualização

 
 
 
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