Mosteiro de Celas / Mosteiro de Santa Maria
| IPA.00006703 |
Portugal, Coimbra, Coimbra, Santo António dos Olivais |
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Mosteiro feminino cisterciense, que, apesar das sucessivas alterações e do carácter sóbrio geral, mantem importantes trechos do românico-gótico nas duas galerias do claustro com decoração historiada nos capitéis, típica da Idade Média. No interior da igreja característica abóbada manuelina. Vários portais e arcos de características renascentistas e maneiristas. Retábulos, altares e imagens em madeira barrocos e conjunto de bancos de 3 e 5 asssentos joaninos. A planta centralizada da igreja caso único nos mosteiros femininos portugueses, constituindo um caso aparentemente único na Ordem de Cister (GOMES, 1996). Trata-se da primeira igreja feminina cistercience construida de raiz uma vez que as de Lorvão (PT02061304001) e Arouca foram adaptadas de conventos masculinos e a desaparecida de Alenquer foi inicialmente um recolhimemto de enclausuradas (GOMES, 1996). |
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Número IPA Antigo: PT020603180005 |
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Registo visualizado 3561 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Convento / Mosteiro Mosteiro feminino Ordem de Cister - Cistercienses
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Descrição
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Planta irregular composta, no eixo O. - E., pelo coro longitudinal, igreja de planta centralizada e capela-mor; a N. do coro, pela Sala do Capítulo, a NE. pelo claustro quadrangular e a S. por capela poligonal e pelo átrio, com os quais comunica a igreja, e pela portaria velha; a N. entre a igreja e o claustro vestígios do latero-coro; as demais dependências conventuais organizam-se a S. ao redor do terreiro, respectivamente a O. as hospedarias, cartório, etc., e a E. a portaria nova. Cobertura diferenciada em telhado. Fachada principal de dois registos rasgada inferiormente por portal rectangular de molduras reentrantes e ladeado por pilastras coroadas de urnas; este remata em frontão triangular tendo no tímpano escudo nacional escavado; à direita porta rectangular, sendo a face interior do lintel em arco de 3 pontos e na chave escudo esculpido; è sobrepujada por janela de verga em arco abatido gomado; à esquerda do portal pequena fresta de capialço, rectangular, disposta na vertical; no 2º registo 1 miradouro composto por 9 vãos rectangulares. Corpo circular da igreja rasgado por janelões de verga curva entre os contrafortes de esbarro. Fachada O. do coro rasgada por óculo ladeado por janelões rectangulares e logo abaixo por porta-janela munida de grades; remate em empena coroada por cruz de pedra. INTERIOR: corpo circular da igreja com cobertura de abóbada estrelada com a chave central decorada com escudo nacional e as restantes de florões e medalhões; descarrega em nervuras apoiadas em mísulas torsas; nas paredes lambris de azulejos; arco triunfal em segmento de arco abatido, enquadrado por pilastras compósitas, ladeado por altares munidos de frontões interrompidos e colunas pintadas marmoreadas. Coro com cobertura de perfil em arco abatido, de madeira de caixotões; cadeiral ao correr dos paramentos laterais; na parede fundeira rasgam-se três arcos, os laterais cegos (sendo o do lado do Evangelho de perfil quebrado e o do lado da Epístola de volta perfeita) com altares de colunas suportando frontões curvos interrompidos por resplendores de talha; o arco central mais elevado, de volta perfeita sobreposto de pintura, dá acesso ao ante-coro. Claustro de planta quadrangular, com arcadas de volta perfeita; nas galerias S. e O. os arcos apoiam em colunelos geminados, com capitéis historiados com cenas da vida de Cristo e dos Santos; nas restantes galerias colunas dóricas. O acesso à Sala do Capítulo faz-se por arco quebrado de arquivolta assente em colunelos de capitéis vegetalistas; cobertura pétrea em abóbada de canhão de caixotões descarregando em mísulas inseridas em moldura arquitravada ao correr dos paramentos; na parede fundeira rasga-se óculo ladeado por janelas quadragulares enquadrando altar munido de frontão interrompido. |
Acessos
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Largo de Celas |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria, DG n.º 7 de 09 janeiro 1960 / Portaria n.º 223/2011, DR, 2.ª série, nº 11 de 17 janeiro 2011 |
Enquadramento
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Urbano. No burgo antigo, a NE. da cidade. |
Descrição Complementar
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No corpo da igreja várias telas pintadas figurando, no sentido dos ponteiros do relógio: "Nossa Senhora do Rosário", "Coroação da Virgem", "Virgem com o Menino", "São João Evangelista", "São José", "Santa Isabel", "Pilatos", "Cristo na cruz"; pinturas em tábua com a "Anunciação"; uma maquineta de talha policromada figurando a "Pietà" e duas esculturas figurando "Cristo na Cruz" e "Pietà". Na capela-mor no trono pintura em tela figurando "Nossa Senhora e o Menino" ladeada por duas esculturas policromadas; nas paredes laterais duas telas com "Santa Teresa" e "Santa Sancha". Na capela poligonal duas imagens figurando "Cristo na cruz" e "São José e o Menino". No coro pia baptismal, retábulo com pinturas, duas telas figurando o "Calvário" e "Nossa Senhora da Assunção", "Santíssima Trindade" e duas pinturas em tábua. Na sacristia fragmento de um retábulo de pedra. |
Utilização Inicial
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Religiosa: mosteiro feminino |
Utilização Actual
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Religiosa: igreja |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Época Construção
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Séc. 13 / 14 / 16 / 17 / 18 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Gaspar Coelho, cadeiral coro |
Cronologia
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1210 - fundação por D. Sancha filha de D. Sancho I no lugar de Vimarães; 1219 - recebe as primeiras monjas; 1293 - sagrado pelo Bispo Aymeric D'Eibrad; 1346 - referência documental a um "alpendre a par do chafariz da fonte" (MORUJÃO, 1991); 1521 - 1541 - abadessado de D. Leonor de Vasconcelos, durante o qual se verifica a reforma moderna do mosteiro: construção do átrio; construção de oito contrafortes e abertura de uma janela a SE. no corpo centralizado da igreja então edificado ou abobadamento de um corpo circular já existente *1; encomenda a Chanterenne do túmulo da abadessa, de que a mesma viria a desistir, depois de começadas as obras no mesmo, tendo-se então ordenado a transferência de "hum portall" *2; obras no claustro; 1541 - 1572 - abadessado de D. Maria de Távora ao qual correspondem a continuação das obras no claustro *3 e a construção da nova Sala do Capítulo e do latero-coro com galeria de acesso à capela-mor; 1553 - D.João III oferece ao convento "as colunas, vazas e capitéis que estavam no claustro do Colégio Real" (ASSUNÇÃO, 1921); 1572 - 1576 - abadessado de D. Leonor Coutinho; 1576 - 1615 - abadessado de D. Helena de Noronha; com o incremento do número de freiras verificam-se obras de ampliação: construção hospedaria, cavalariças, cartório, etc.; 1612 - terminada construção do novo dormitório; provável alongamento do coro O. e respectivo cadeiral por Gaspar Coelho; instalação da fonte no claustro terminado possivelmente por estes anos (GOMES, 1996); 1625 - construção portaria nova por D. Maria Manuel; 1627 - abobodamento do ante-coro ao tempo de D. Catarina Lafetá; 1627 - 1639 - abadessado de D. Lourença de Távora durante o qual se verificou a construção do mirante sobre o átrio, o abobadamento das galerias do claustro e a colocação de azulejos no claustro, na Sala do Capítulo e no coro; abertura de nichos e do arco fundeiro na Sala do Capítulo; provável alteamento da sineira; 1639 - 1642 - abadessado de D. Francisca de Vilhena durante o qual prossegue o azulejamento coro; 1648 - 1651 - abadessado de D. Maria de Mendonça verificando-se a reparação da abóbada do ante-coro, dos telhados da igreja e do dormitório velho; Séc. 17, finais - retábulo pintado do coro; Séc. 18 - adulteração do latero-coro; 1822 - abandono da última recolhida; 1885 - obras de recuperação do claustro; 1883, 17 de Abril - entra na posse do Governo com o falecimento da última abadessa D. Felismina, ocorrido a 15 de Abril; Séc. 19, finais - Séc. 20, inícios - queda ou apeamento andar superior da ala O. do claustro; 2007, 22 de Outubro - Despacho de Homologação do Secretário de Estado da Cultura para alargamento da ZEP. |
Dados Técnicos
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Estrutura autónoma. |
Materiais
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Madeira de castanho (tecto do coro). |
Bibliografia
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ANDRADE, José Maria d', Memórias do Mosteiro de Celas, Coimbra, 1892; ASSUNÇÃO, Pr. Bernardo d', Compendio de toda a fazenda d'este Real Convento de S. Maria de Celas (1648-1654) in Mosteiro de Celas. Index da Fazenda, (publicado por J. M. Teixeira Carvalho), Coimbra, 1921; BRONSEVAL, Fr. Claude, Peregrinatio Hispanica, 1531-1533, 2 Vols., (publicado por D. M. Cocheril), Paris, 1970; COCHERIL, D. Maur, Les infantes Teresa, Sancha, Mafalda et l'Ordre de Citeaux au Portugal, Revista Portuguesa de História, (Faculdade de Letras de Coimbra), Vol. 16, 1976; CORREIA, Vergílio, Inventário Artistico de Portugal - Distrito de Coimbra, Vol. 2, Lisboa, 1947; FERREIRA, Maria Isabel Antunes Mendes, O Mosteiro de Celas - subsídios para a sua história, (Dissertação de Licenciatura em História, Faculdade de Letras de Coimbra), Coimbra, 1969; GOMES, Paulo Varela e ROSSA, WALTER, A Rotunda de Santa Maria de Celas, um caso tipológico singular, Monumentos, nº4, Março 1996; MACEDO, Francisco Pato de, A arquitectura gótica na bacia do Mondego nos séc. XIII e XIV (Texto policopiado, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), Coimbra, 1988; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1956, Lisboa, 1957; MORUJÃO, Maria do Rosário Barbosa, Um mosteiro cisterciense femenino: Santa Maria de Celas, (Dissertação de Mestrado em História da Arte Medieval - Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Porto, 1991; IDEM, As abadessas perpétuas de Celas (séculos XIII a XVII), Munda, nº26, Novembro, 1993; PINTO, A. Nunes, O Mosteiro de Santa Maria de Celas, Munda, nº26, 1993; SILVA, José Manuel Azevedo e, Demarcação do circuito do burgo e da cerca do Mosteiro de Celas, Munda, nº2, 1981; IDEM, O Mosteiro e o burgo de Celas nos meados do século XVIII. Estudo Económico e social, Munda, nº3, 1981; SOARES, Torquato de Sousa, Origem do antigo claustro do Mosteiro de Celas in Actas do XVI Congrés International d'Histoire de l'Art, Vol. 2, Lisboa, 1953; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/69791 [consultado em 11 agosto 2016]. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID |
Intervenção Realizada
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DGEMN: 1936 - 1943 - obras de consolidação e restauro: recuperação telhados, soalhos, pinturas, vitrais, forros, tectos, pavimentos; consolidação de abóbadas, cintagem em betão armado de paredes; 1945 - 1946 - obras de reparação e beneficiação; 1950 - 1951 - reparação dos telhados da sala do capítulo, rebocos nas paredes do coro; 1954 - 1955 - rebocos e limpeza de cantarias na fachada, reconstrução do tecto do coro; 1956 - 1957 - obras de reparação e restauro: caixilhos, portas, soalho do coro; arranjo vãos átrio da igreja; recuperação de rebocos, restauro cadeiral do coro; 1959 - recuperação de coberturas; 1964 - consolidação do cunhal direito da fachada e da armação da cobertura da sacristia; beneficiação e construção de pavimentos; 1966 - limpeza telhados e caleiras; reparação de paredes no nartex, sala do capítulo e claustro; arranjo da escada de acesso ao sino; consolidação de retábulo do altar lateral da igreja; 1968 - fornecimento de mobiliário; 1969 - reconstrução de soalhos; consolidação de altares de talha à entrada do coro; reparação de vãos no coro; 1970 - colocação lajedo de cantaria no acesso exterior ao coro; reparação e colocação de degraus na porta principal; colocação de vidros na ábside; 1971 - instalação électrica; rebocos no átrio e capela-mor; 1980 - 1981 - obras de beneficiação; 1982 - 1985- obras de valorização e instalação de um ramal de energia eléctrica; 1986 - obras de beneficiação no claustro; 1988 - obras de beneficiação e limpeza: reparação de telhados e substituição de rebocos no claustro; construção de capela mortuária no recinto do imóvel; 1998 - obras de beneficiação interiores e exteriores: demolições de rebocos exteriores, muro de suporte alçado N. - O., porta, colunelos, movimentos de terras, drenagens, construção de muro, dos colunelos, porta exterior em madeira, fechos, revestimentos de reboco, caiação; montagem de sistema de protecção a vandalismos e alarme contra intrusão. |
Observações
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*1 - a atribuição ao abadessado de D. Leonor de Vasconcelos da construção do corpo da igreja baseia-se na interpretação da tabela latina que a própria mandou fazer e que o cronista Fr. Bernardo d'Assumpção traduziu: "A ermida ou capela deste Mosteiro de Santa Maria de Celas mandou edificar dos fundamentos Leonor Prelada dele da nobre família dos Vasconcelos. Acrescentou à obra a abóbada que vedes, a qual dantes não havia. A qual obra como inquirisse ser digna de prémio o católico e cristianíssimo nosso Rei D. João terceiro mandou pagar o gasto de toda a obra em grande parte. Fez-se esta obra no ano da Encarnação do senhor de 1529"; segundo alguns autores (GOMES, 1996) a leitura da tabela não permite concluir que a igreja primitiva foi completamente derrubada por D. Leonor e substituida pela actual de planta circular, mas que D. Leonor se teria limitado apenas a abobadar em pedra a igreja circular já existente desde a fundação; esta, mais baixa que a actual e possivelmente com cobertura em madeira, teria sido uma réplica da antiga Igreja de Santa Maria de Alenquer (da qual ainda resta o corpo circular), primitivo recolhimento reformado por D. Sancha que lhe deu a Regra de Cister; de resto, segundo os mesmos autores, foi da igreja de Alenquer, outrora também designada por Santa Maria de Celas de Alenquer, e do Mosteiro do Lorvão (061304001), que vieram as freiras que fundaram o Convento de Celas. Antes das obras de D. Leonor de Vasconcelos a igreja era apenas acessível à comunidade monástica (GOMES, 1996). *2 - segundo Paulo Varela Gomes e Walter Rosa a sepultura estaria prevista para a capela poligonal a S. da Igreja; o portal teria sido o arco tumular então adaptado a porta colocada na passagem do ante-coro para o coro (GOMES, 1996). *3 - A historiografia mais recente coloca a hipótese de os capitéis do claustro não terem sido esculpidos para o Convento de Celas, dada a alta qualidade escultórica dos mesmos (MACEDO, 1988), mas sim para o Paço de D. Dinis em Coimbra (060325014) e identifica-os com os doados ao Convento por D.João III; durante os abadessados de D. Leonor de Vasconcelos e de D. Maria de Távora o claustro teria então sido montado e construído (GOMES, 1996), possuindo originalmente dois pisos a toda a volta, apeados no Séc. 19 - 20. |
Autor e Data
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Horácio Bonifácio 1991 / Rosário Gordalina 1998 |
Actualização
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Ana Filipe 2011 |
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