Solar dos Condes da Guarda / Câmara Municipal de Cascais / Casa dos Azulejos

IPA.00006508
Portugal, Lisboa, Cascais, União das freguesias de Cascais e Estoril
 
Casa nobre setecentista, de planta rectangular simples, evoluindo em dois pisos, com as fachadas revestidas a cantaria de calcário e cunhais apilastrados, rematando em cornija e beirada simples. Fachada principal mais trabalhada, com os dois pisos definidos por friso, o superior revestido a azulejo figurativo, rasgado por vãos rectilíneos, com molduras simples em cantaria. Os vãos de acesso são em arco abatido e de maiores dimensões. Ao interior acede-se por vestíbulo com pavimento em lajeado, que leva a estreita escadaria de acesso à zona nobre, onde surge o salão, virado à fachada principal. Fachada revestida com painéis de azulejo rococó, sendo alguns dos painéis, resultantes da ampliação do imóvel, no séc. 20, deste período. Possui vários corpos adossados à fachada posterior, resultantes da necessidade de ampliar as dependências camarárias, incaracterísticas. No salão nobre, apresenta azulejos figurativos, com cenas de género, campestres e marítimas, executados no séc. 20. O acesso a esta ostenta arcadas, que rodeavam o patamar do piso nobre, marcando a escadaria.
Número IPA Antigo: PT031105030032
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício        

Descrição

Planta rectangular irregular, resultante do acrescento de vários corpos, de volume horizontalizado e cobertura homogénea em telhado de oito águas, com quatro mansardas no lado esquerdo, todas com telhados a duas águas. Fachadas revestidas a cantaria de calcário, em aparelho isódomo, com cunhais apilastrados e rematadas em friso, cornija e beirada simples. Fachada principal virada a E., de dois registos definidos por friso e com quatro panos criados por duas ordens de pilastras toscanas, o do lado direito de maiores dimensões. O segundo registo apresenta-se revestido a azulejo policromo, com figuras hagiográficas e elementos decorativos. Possui vãos rectilíneos, com molduras simples em cantaria de calcário, com caixilhos de madeira pintada de branco e vidros simples. Nos três panos do lado esquerdo possui seis janelas de peitoril no piso inferior, a que correspondem seis de sacada no superior, com bacia de cantaria e guardas em ferro forjado. O pano do lado direito é rasgado por porta em arco abatido, ladeado por duas janelas de peitoril, encimadas por três janelas de sacada, semelhantes às anteriormente descritas. Fachada lateral esquerda, virada a S., com dois panos divididos por duas ordens de pilastras toscanas, o do lado direito com janela de peitoril e sacada, tendo painéis de azulejo, com solução semelhante à da fachada principal. O pano do lado esquerdo, de maiores dimensões evolui em três pisos, o inferior revestido a cantaria de calcário e os superiores rebocados e pintados de branco, o primeiro com porta de verga recta e moldura simples e quatro janelas jacentes, surgindo nos superiores, cinco vãos rectilíneos por piso, os intermédios formando janelas de varandim, com guarda de ferro forjado, e os superiores com janelas de peitoril, com caixilharia em guilhotina. Fachada lateral direita, virada a N., também com dois panos definidos por duas ordens de pilastras toscanas, o do lado direito de menores dimensões e marcado por amplo portal em arco abatido no piso inferior e janela de sacada no superior, ladeada por dois painéis de azulejo policromo. O pano do lado direito, bastante amplo, evolui em dois pisos, o inferior com porta de verga recta e três janelas de peitoril, encimados por quatro janelas de peitoril, todas com caixilharias de guilhotina. Casa uma das trapeiras, possui janela rectilínea de guilhotina. Fachada posterior virada a O. composta por vários corpos e panos, com o piso inferior revestido a cantaria e os superiores rebocados e pintados de branco. Na face virada a S. surge porta de verga recta e três janelas jacentes, encimadas por cinco janelas de varandim com guardas metálicas no piso intermédio e cinco de peitoril no superior. Na face virada a O., um corpo destaca-se em ângulo recto, possuindo quatro janelas por piso, as inferiores jacentes, as intermédias de varandim e as superiores de guilhotina. Na face virada a N., porta de verga recta e três janelas de peitoril no piso inferior, encimadas por quatro janelas de peitoril com caixilharias de guilhotina *1. INTERIOR rebocado e pintado de branco, com pequeno vestíbulo composto por duas abóbadas de aresta, rebocadas e pintadas de branco e pavimento em lajeado, com acesso por duas amplas portas, uma frontal e outra na fachada lateral direita. No lado esquerdo, porta de acesso a dependência de atendimento público, surgindo, na zona frontal, uma porta de verga recta que permite o acesso às várias dependências do piso inferior, implantando-se, ao centro, arco de volta perfeita, de acesso a uma escadaria de cantaria, com cobertura de madeira em gamela, ornada por apainelados recortados nos ângulos, com vidro martelado na zona central desenvolvendo-se em quatro lanços, percorridos por baixo silhar de azulejos de pedra torta, formando pequenas cartelas recortadas, decoradas por rocalhas e acantos. No primeiro patim, painel de azulejo policromo, envolvido por moldura fitomórfica entrelaçada, com uma figura de convite, representando um albardeiro, com fundo a azul e branco, representando um palácio e amplo jardim formal. No segundo patim, amplo painel policromo, com moldura recortada internamente, formando rocalhas, que centram um plinto galbado, profusamente ornado por flores e golfinhos, com cartela figurativa, representando uma alegoria à Caridade, ladeada por anjos, rematando em cornija ladeada por dois anjos, onde se ergue cartela contida pelas armas do Município, envolvida por profusa decoração. A escada acede a um espaço de distribuição com silhares de azulejo de padrão azul e branco, tecto plano, rebocado e pintado de branco, e pavimento em laje, para onde abrem portas de verga recta, com molduras de madeira e portadas do mesmo material e vidro simples, encimadas por bandeira, surgindo, em dois dos lados, três e quatro arcos de volta perfeita, assentes em pilares toscanos, os últimos protegidos por vidros foscos. Os vãos acedem a corredores labirínticos, que abrem para várias dependências, onde se situam os gabinetes de trabalho. No lado direito da escadaria, porta de verga recta de acesso a uma antecâmara e ao Salão Nobre, rebocado e pintado de branco, com pavimento de madeira e cobertura formando três apainelados recortados em estuque. A sala é percorrida por 10 painéis de azulejo figurativo, de diferentes dimensões, e vários painéis de preenchimento, em monocromia, azul sobre fundo branco, com molduras recortadas, com profusa decoração de acantos, enrolamentos, festões e anjos, flanqueados por quarteirões de acantos, encimados por urna recortada. Representam cenas de género, galantes, campestres e marítimas. Os painéis de enchimento, na espessura das paredes junto às janelas são preenchidos por quarteirões semelhantes aos das molduras laterais dos painéis.

Acessos

Praça 5 de Outubro; Rua Marques Leal Pancada (antiga Calçada da Assunção); Beco dos Inválidos; Rua do Poço Novo. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,696836, long.: -9,420758

Protecção

Categoria: IM - Interesse Municipal, Boletim Municipal de 10 maio 2006 / Incluído na Zona de Protecção dos Troços da antiga muralha da vila de Cascais / Castelo de Cascais (v. PT031105030016) / Parcialmente incluído na Zona de Protecção das Bases da muralha que interliga os dois baluartes da praia da Ribeira / Muralha do cavaleiro e Baluarte da Foz (v. PT031105030004) e no Edifício dos Paços de Concelho de Cascais (v. PT031105030065)

Enquadramento

Urbano, tendo adossados vários corpos e edifícios residenciais. Está implantado em zona plana, com a fachada principal a abrir para ampla praça, definindo um dos seus lados, pavimentada a calçada à portuguesa, com motivos ondeados, virada à baía de Cascais. Junto ao imóvel, um marco de correio e quatro bancos de jardim, em madeira, surgindo, ainda, o Monumento a D. Pedro I (v. PT031105030303). No lado direito, situa-se uma zona de praia, envolvida por palmeiras, fechada por um muro implantado no local do antigo cavaleiro da Cidadela (v. PT031105030007), afastado da via por um pequeno passeio público. No lado esquerdo, o edifício dos Bombeiros (v. PT031105030331) e o Edifício dos Paços do Concelho de Cascais (v. PT031105030065). Fronteiro, o Hotel Baía (v. PT031105030298) e um núcleo edificado, que constituía uma segunda freguesia da vila, a da Ressurreição.

Descrição Complementar

Na fachada principal, surgem azulejos com figuras religiosas, representando São João de Brito, São Pedro e São Paulo, surgindo, ainda, os Quatro Evangelistas e as figuras de São Jerónimo, São Marçal, Santo António e São Sebastião. As armas do Município são "de prata com um castelo de vermelho, aberto e iluminado de prata, sobre uns rochedos de negro, saindo de um ondado de prata e de verde. O ondado coberto de uma rede de ouro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres Câmara Municipal de Cascais a negro" (Monografia de Cascais, p. 42).

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Política e administrativa: câmara municipal

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 (conjetural) / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Domingos Rebelo (1966); Jorge Segurado (1935). PINTORES DE AZULEJO: Eduardo Leite (1940); João Alves de Sá (1969); Fábrica Viúva Lamego (1940, 1969); Francisco de Paula e Oliveira (séc. 18); Francisco Jorge da Costa (séc. 18); Real Fábrica da Louça do Rato (séc. 18).

Cronologia

Séc. 17 - provável construção do imóvel; 1755, 01 Novembro - o sismo e sucessivo maremoto terá arruinado o imóvel; séc. 18, final - reforma do edifício e pintura dos azulejos da fachada, na Real Fábrica de Louça do Rato, por Francisco Jorge da Costa e os Evangelistas por Francisco de Paula e Oliveira, por ordem da sua proprietária, D. Inês Margarida Antónia da Cunha; 1807 - o edifício era pertença de D. Inês da Cunha; aqui ficou instalado o almirante inglês Cotton; 1873 - a Câmara funcionava num edifício particular na Rua Direita, tendo passado mais tarde para a Rua Afonso Sanches, para o edifício, onde em 1964 funcionava a Polícia de Segurança Pública e o Registo Civil; 1917 - após o falecimento do Conde da Guarda, a casa foi adquirida pelo advogado Herlander Ribeiro; 1918 - obras profundas no imóvel, tendo sido destruído um dos pisos da fachada, com a consequente remoção de azulejos e prolongamento da cornija em cantaria para os corpos anexos; 1925 - a casa estava na posse da Associação Comercial de Cascais; 1932 - aquisição do imóvel pelo Município de Cascais; 1934, 14 Abril - criação do brasão municipal, definido pela portaria n.º 7839 de 15 Junho; 1935 - projecto de remodelação do edifício, para instalação dos serviços municipais, resultante de um trabalho de equipa, entre os quais se contava o arquitecto Jorge Segurado; 1940 - decoração da Sala das Sessões e do Gabinete do Presidente, segundo uma proposta do tenente Lacerda de Machado, contemplando azulejos pintados por Eduardo Leite na Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego; 1966 - ampliação do edifício, com a demolição do restaurante Marisqueira, conforme projecto do arquitecto Domingos Rebelo; 1969 - ampliação do edifício, com a construção de um novo corpo adossado; feitura de novos azulejos, pintados por João Alves de Sá, na Fábrica Viúva Lamego; séc. 20, final - obras de remodelação e ampliação do imóvel; 1992 - escavações no local permitiram encontrar vários vestígios de azulejo sevilhano; 2003, 30 junho - Despacho de abertura do processo de classificação como Interesse Municipal pela CMCascais; 2004, 07 setembro - Despacho de encerramento do processo de classificação pelo presidente do IPPAR; 2006, 03 março - Despacho de homologação da classificação municipal pela CMCascais; 2006, 10 maio - é publicado o Aviso de classificação, de 5 de maio de 2006 da Câmara Municipal de Cascais, no Boletim Municipal.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de calcário, rebocada e pintada; modinaturas, escadas, pilastras, pilares, arcadas, pavimento em cantaria de calcário; portas e molduras de madeira; janelas com vidros simples; painéis decorativos de azulejo tradicional e azulejo industrial; tectos com estuque.

Bibliografia

ENCARNAÇÃO, José de, Cascais - Vila da Corte. Oito séculos de história, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 1964; ENCARNAÇÃO, José de, Cascais - Guia para uma visita, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 1983; Exposição Patrimónios de Cascais, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 2003; MECO, José, Azulejaria de Cascais com temática ou utilização religiosa, in Um olhar sobre Cascais através do seu património, vol. II, Cascais, Câmara Municipal de Cascais / Associação Cultural de Cascais, 1989, pp. 87-117; MECO, José, Da "Casa dos Azulejos" aos azulejos de Cascais, in Monumentos, n.º 31, Lisboa, Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, 2011, pp. 46-57; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no Ano de 1961, 1º Vol., Lisboa, 1962; Monografia de Cascais, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 1969; SOUSA, Maria José Pinto Barreira Rego, Cascais 1900, Lisboa, Medialivros, 2003.

Documentação Gráfica

CMC

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA, CMC

Documentação Administrativa

CMC

Intervenção Realizada

Observações

*1 - no século 19, era de planta rectangular simples, de volume único, com fachada principal com três panos, o do lado esquerdo com uma porta ladeada por janela e duas janelas de sacada no superior; o imediato, mais elevado, tinha porta em arco abatido no piso inferior, uma porta rectilínea, encimada por duas janelas de sacada e duas pequenas portas que abriam para sacada corrida na zona amansardada; no lado direito, porta ampla de verga recta, ladeada por duas janelas rectilíneas, protegidas por grades em papo de rola, encimadas por três janelas de sacada; possuía seis painéis de azulejo; a fachada lateral esquerda estava adossada e a oposta rasgada por porta em arco abatido e janelas de sacada, ladeada por dois painéis de azulejo.

Autor e Data

Helena Rodrigues 2002 / Paula Figueiredo 2010

Actualização

 
 
 
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