Praça de Touros do Campo Pequeno

IPA.00006467
Portugal, Lisboa, Lisboa, Avenidas Novas
 
Arquitectura cultural e recreativa, revivalista neo-árabe. Edifício de espectáculos de planta circular, possuindo vários torreões adossados que dinamizam o exterior, criando uma planta contracurva, ajudando a contrafortar os arcos de estribo que sustentam as bancadas, entre as quais surgem dependências e vários corredores de circulação. É construído em tijolo, com as coberturas em cúpulas bolbosas metálicas e rematando em ameias decorativas escalonadas. Os vãos são em arco de volta perfeita ou ultrapassados, acentuando o carácter neomourisco. No interior, um recinto para espectáculos, que se transforma em arena, possuindo cobertura amovível e na base da arena, uma galeria comercial, tudo de execução recente. Constitui o edifício mais expressivo do chamado estilo neo-árabe a ser edificado nos finais do séc. 19 em Lisboa. Sendo um edifício monocromático, o movimento é dado pelo ritmo das formas do grande número de aberturas em arco ultrapassado e molduras reentrantes, inspirado na desaparecida Praça de Touros de Madrid (de Emilio Rodriguez Ayuso) e que acusa o revivalismo neo-mudéjar espanhol.
Número IPA Antigo: PT031106230138
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Cultural e recreativo  Praça de touros    

Descrição

Núcleo edificado composto pela antiga Praça de Touros, transformada numa Sala de Espectáculos multiusos, tendo, no sub-solo, um parque de estacionamento, uma galeria comercial com dois pisos, área de restauração, um supermercado e oito salas de cinema, com acesso por duas rampas rolantes e por quatro elevadores, dispostos nos ângulos, surgindo, ainda, um acesso de serviço na zona posterior, existindo, no edifício, propriamente dito, vários restaurantes e bares. A Praça é constituída por uma parede exterior, assente numa fundação contínua e em três fiadas circulares de raios decrescentes de pilares, ligados entre si por arcos de alvenaria, onde se apoiam as bancadas e camarotes. A PRAÇA é de planta circular, a que se adossam quatro torreões, circulares ou poligonais, virados aos quatro pontos cardeais, construída em alvenaria de calcário e tijolo, com coberturas em cúpulas bolbosas metálicas, nos torreões, onde se rasgam olhos de boi, e em cobertura amovível na arena, rematada por merlões decorativos escadeados, pintados de amarelo. As fachadas são percorridas por embasamento de cantaria e por paredes de tijolo. O torreão principal está virado a O., rematando em empena em pinhão, rasgada por janela lobulada, que permite a iluminação do interior da cúpula, estando flanqueado por dois torreões circulares, rematados por pequenas cúpulas, também pintadas de azul, divididos em quatro panos, dois de maiores dimensões, por pilastras colossais, sendo rasgada, sucessivamente, por vãos semicirculares, constituindo as bilheteiras, por dois arcos ultrapassados, parcialmente entaipados, só abertos na zona superior, protegida por grades pintadas de vermelho, por dois pequenos arcos ultrapassados e, superiormente, por dois ajimez sobrepostos. O acesso ao interior processa-se por amplo arco em ferradura, protegida por grade metálica, encimado por janelas. As faces laterais do torreão, que embebe no corpo principal, possui três panos divididos por pilastras colossais, o cenral de maiores dimensões, com porta em arco de ferradura, encimado por dois ajimez sobrepostos, tendo, nos panos laterais, uma sucessão de janela em arco de ferradura, uma pequena janela com o mesmo perfil e duas janelas amplas em arco de ferradura. Os torreões secundários são poligonais, formando um rectângulo, com os ângulos exteriores em chanfro, tendo, nas três faces exteriores, flanqueadas por pilastras colossais, portas em arco de ferradura, a central de maiores dimensões, encimadas por elemento almofadado, e, divididas por friso corrido, um ajimez em cada um dos pisos superiores. As faces laterais, divididas em três panos, são rasgadas por respiradoures circulares, a que se sucedem uma janela de ferradura, uma pequena janela com o mesmo perfil e mais duas amplas janelas de ferradura, todas divididas por frisos salientes. Entre cada torreão, existem panos de muro côncavos, todos iguais, compondo sete panos divididos por pilastras colossais, possuindo, nos níveis superiores, dois ajimez sobrepostos em cada pano, surgindo, na zona inferior, um esquema intercalado de portas em arco de ferradura e duas janelas em arco de ferradura, encimadas por pequenos vãos com o mesmo perfil. INTERIOR *1 composto por vários arcos de estribo que sustentam os dois corredores de circulação, cada um com três metros de largura e que permitem a saída rápida dos espectadores. Possui várias salas nestes espaços, nomeadamente a zona do Museu Taurino. Possui cobertura amovível, já prevista no projecto inicial, mas nunca concretizada, com a arena executada sobre uma laje constituída por uma malha de vigas, sobre a qual existe 1 metro de terra, vedada por uma trunqueira de madeira, com corredor de circulação interna. Este espaço é transformável em recinto de espectáculos, formando uma plateia e zona de palco. No piso inferior, surge uma galeria comercial com várias salas de cinema e recinto de restauração.

Acessos

Praça do Campo Pequeno

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 8/83, DR, 1.ª série, n.º 19 de 24 janeiro 1983

Enquadramento

Urbano, isolado, no centro de uma ampla praça, no lado E. do Campo Pequeno, rodeado por espaços verdes ajardinados, um campo de jogos e um parque infantil, sendo a praça fechada por prédios de habitação, dos quais se separam por três amplas vias públicas. No lado S., a marcar a entrada no recinto da Praça, um jogo de água.

Descrição Complementar

A ladear o portal do torreão principal surgem duas lápides em calcário com incrições incisas em capitais, avivadas a preto. A do lado direito refere: AOS 18 D'AGOSTO DE 1892 INAUGUROU-SE COM A 1.A CORRIDA DE TOUROS ESTA PRAÇA MANDADA CONSTRUIR PELA EMPREZA TAUROMACHICA LISBONENSE EM VIRTUDE DA CNCESSÃO FEITA PELA CASA PIA DE LISBOA AOS 20 FUNDADORES D'ESTA EMPREZA". Na do lado esquerdo: "ALBINO JOSÉ BAPTISTA / A CARDOSO D'OLIVEIRA JUNIOR E IRMÃO / ALFREDO D'ASCENÇÃO MACHADO / ANTONIO ANASTACIO GOMES / ANTONIO J. DIAS DA SILVA / DOMINGOS ESTEVES GOUVEIA / DUARTE C. PINTO DA SILVA / FREDERICO RESSANO GARCIA / GUILHERME A. BIZARRO DA SILVA / J. CYPRIANO RODRIGUES BATALHA / JOAQUIM PEDRO MONTEIRO / JOSÉ ANTONIO FERNANDES JÚNIOR / J.M. ESPIRITO SANTO E SILVA / JOSÉ RODRIGUES PIRES / LUIZ ERNESTO REYNAUD / MANUEL GOUVEIA JÚNIOR / MANUEL J. ALVES DINIZ / MANUEL LUIZ FERNANDES / RAYMUNDO DA SILVA LEAL / THOMAZ GARCIA PUCA".

Utilização Inicial

Cultural e recreativa: praça de touros

Utilização Actual

Cultural e recreativa: praça de touros / Cultural e recreativa: casa de espectáculos / Comercial: centro comercial

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Provedoria da Casa Pia de Lisboa

Época Construção

Séc. 19 / 21

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: António José Dias da Silva (1889-1891); José Bruschy (1992-2006), Filomena e Lourenço Vicente (1992-2006), Pedro Fidalgo (1992-2006). ARQUITETO PAISAGISTA: João Cerejeiro (2001-2006). CONSTRUTORES: GEOSOC (2001-2006 - contenção e fundações), Sociedade Lisbonense de Metalurgia (2001-2006 - recuperação de alvenarias e estruturas metálicas), SOPOL (2001-2006). ENGENHEIROS: Fernando Baptista (2001-2006 - redes eléctricas), Helder de Sousa (2001-2006 - segurança), José Correia (2001-2006), José Marques (2001-2006 - AVAC), Paulo Gonçalves (2001-2006 - redes eléctricas), Susana Maduro (2001-2006 - água, drenagem e incêndios), ENGENHEIROS DE ESTRUTURAS E FUNDAÇÕES: Ana Teresa Carvalho (2001-2006), José N. da Camara (2001-2006), Ricardo Luís (2001-2006), Vítor Pimentel (2001-2006).

Cronologia

1821 - D. João VI decreta que as corridas de touro a acontecer em Lisboa, quando não fossem gratuitas, teriam que ser organizadas pela Real Casa Pia de Lisboa; 1827, 18 Agosto - D. Maria II promulgou uma lei, onde ordenava a execução do anterior decreto; 1831, 3 Julho - inauguração da primeira praça de touros da instituição, no Campo de Santana, com a presença de D. Miguel e D. Assunção; 1888 - uma vistoria considerou a praça exígua, tendo sido encerrada; 29 Agosto - a Casa Pia solicita ao Hospital Geral de Madrid autorização para adquirir o projecto da Praça de Touros de Madrid, para vir a construir um novo recinto à sua semelhança; este foi-lhe enviado; 1889 - requerimento ao Ministro do Reino autorização para a edificação de uma nova praça de touros no Campo Pequeno, num local onde se praticavam touradas gratuitas desde o séc. 18; 9 Fevereiro - a Câmara analisa a proposta da Casa Pia; 16 Fevereiro - a Câmara cedeu o terreno à Real Casa Pia de Lisboa para construção do recinto taurino que viria a substituir a praça de touros do Campo de Santana; 12 Março - a Casa Pia pediu à Repartição Técnica da Câmara Municipal um parecer sobre a exequidade do projecto; Setembro - o bandarilheiro Joaquim Peixinho apresentou o arquitecto António José Dias da Silva (1848-1912), que, na altura, projectava uma praça de touros para Queluz, que não seria realizada, ao director da Casa Pia, Luís de Sequeira Oliva; o arquitecto acedeu a desenhar uma praça de touros sem cobrar honorários; Dezembro - o arquitecto entregou as peças desenhadas para apreciação; 1890, 2 Fevereiro - estava concluído o caderno de encargos; 15 Abril - o projecto de António José Dias da Silva estava a ser apreciado pelo Ministério da Instrução Pública e Belas Artes, após parecer da Junta Consultiva de Obras Públicas; sucede-se o licenciamento da obra; 28 Abril - escritura de cedência do terreno; Maio - a Casa Pia, perante a exiguidade de meios, resolveu ceder o recinto, para exploração por 50 anos, a uma empresa particular, abrindo um primeiro concurso, não surgindo quaisquer interessados; lançamento de um segundo concurso, com o prazo de exploração por 90 anos, havendo uma única proposta de Duarte Correia Pinto da Silva, António Anastácio Gomes e Tomás Garcia Puga, que constituíram a Empresa Tauromáquica Lisbonense; comprometia-se a construir a praça, conforme os projectos do arquitecto e a pagar uma anuidade de 3$500, a começar em 1892 e a terminar em 1982; 1891, 23 Julho - celebração de escritura pública entre a Casa Pia e a Empresa adjudicatária, tendo esta conseguido o aligeiramento de alguns pormenores do caderno de encargos; 2 Agosto - adjudicação da obra ao empreiteiro Emile Boussard, estando a fiscalização a cargo da 1ª Secção Técnica da Câmara Municipal; inicia-se a construção, que importou 126$000; encerramento da praça do Campo de Santana, em cujos terrenos se edificaria a Escola Médico-Cirúrgica; Novembro - um dos pilares do renque central caiu, devido à forte intempérie; perante alterações aos planos iniciais, o arquitecto retira-se da obra; 1892, Julho - o provedor da Casa Pia insurge-se contra os atrasos verificados na obra e a concessionária pede um alargamento do prazo de construção para 1893, não concedido; 18 de Agosto - a praça de touros é inaugurada, tendo alguns elementos por terminar, com a presença do príncipe D. Afonso, tendo um redondel com 80 m. de diâmetro, tendo a arena 40,7m, com capacidade para 8438 espectadores, tendo 14 talhões de bancada, com 4000 lugares, 2 bancadas gerais superiores de 5 filas em estrutura de ferro, com 2100 e 860 lugares; o acesso é feito por 2 deambulatórios de 3 m de largura; a corrida fez-se com touros da ganaderia Infante da Câmara e toureou a cavalo Tinoco, ídolo da época; 1893, 20 Março - contrato com a empresa Dias, Monteiro e Companhia, para a exploração da praça, por 3 anos; 1936 - arranjo do espaço fronteiro (E.), trabalhos que deram origem ao Jardim Marquês de Marialva; 1982, 05 março - relatório sobre o estado de conservação da estrutura da praça, elaborado pela DGEMN, a pedido da Casa Pia (DGEMN/DREL-5608); 1984 - concessão da praça ao empresário Fernando Santos; 1992 - colaboração da Casa Pia e da Câmara de Lisboa para o estudo de um projecto de recuperação, prevendo-se a construção de um centro comercial e parque de estacionamento subterrâneos; concessão do espaço à Sociedade de Renovação Urbana do Campo Pequeno; o projecto de arquitectura foi da responsabilidade do arquitecto José Bruschy, com a colaboração dos arquitectos Pedro Fidalgo, Filomen e Lourenço Vicente; 1999, 19 Agosto - elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN; 2000, Junho - encerramento ao público por deterninação da Inspecção-Geral das Actividades Culturais, devido ao avançado estado de degradação do edifício; 2001 - início das obras de renovação do imóvel, com a construção de um parque de estacionamento e uma galeria comercial no sub-solo, que liga ao edifício, com reforço das estruturas da Praça, com o primeiro piso subdividido num mezzanino, permitindo a introdução de vários restaurantes e bares no local; 2002 - Câmara Municipal de Lisboa, determinou a paragem de obras por não existir licença de escavação nem projecto aprovado; 2003 - obras de transformação do sub-solo num parque de estacionamento e centro comercial; 2006 - o Conselho Consultivo do IPPAR chumbou a cobertura fixa que estava projectada para a praça, aceitando uma amovível, estrutura que já se encontrava prevista no projecto primitivo da Praça; 2006, 16 de Maio - inauguração da praça, após obras profundas de transformação em centro cultural e comercial.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de arcos e abóbadas em alvenaria, pavimentos em laje de vigotas de ferro e abobadilhas; arena com vigas de betão; cobertura em estrutura metálica revestida a zinco e telhas; pano exterior em tijolo de burro; portadas e portas de madeira; janelas com caixilharias metálicas e vidro simples.

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto de - Peregrinações em Lisboa. Lisboa: s.d., vol. XIV; Arquitectura de Engenheiros - séculos XIX e XX. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Maio / Junho, 1980; Do Saldanha ao Campo Pequeno: os originais do Arquivo Municipal de Lisboa. Lisboa: 1999; «Faz hoje 50 anos que principiou a ser construida a Praça de Touros do Campo Pequeno». O Século. Lisboa: 16 agosto 1941; Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa. Lisboa: 1987; HEITOR, Célia Maria Martins Mexia e GONÇALVES, Maria Joana Vieira Pereira Roxo - A Praça de Touros do Campo Pequeno. Lisboa: s.n., 1992. Texto policopiado. Trabalho no âmbito de licenciatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; RASQUILHO, Rui - Lisboa, Novos Guias de Portugal. Lisboa: 1986.

Documentação Gráfica

CML: Arquivo de Obras, Proc. n.º 17394

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco; CML: Arquivo Fotográfico

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID-001/011-016-1665/8, DGEMN/DSARH_005/125-1476/09, DGEMN/DSARH-010/125-0231/01, Carta de Risco; CML: Arquivo de Obras (Proc. nº 17394)

Intervenção Realizada

SRUCP: 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 - recuperação do imóvel, com construção de parques de estacionamento inferiores e zona comercial, para o que foi necessário construir três aros de contenção de terrenos, o primeiro constituindo uma parede de betão, apoiada em perfis metálicos, a que se segue uma parede moldada, ancorada em cinco níveis e com tirantes que a ligam ao terceiro aro, situado exteriormente a um conjunto de pilares da praça, formando uma parede "tipo Berlim"; reforço da zona das bancadas e arranjo dos acessos ao nível dos torreões; reparação dos arcos em que se apoiam as bancadas e substituição integral destas; tratamento dos elementos metálicos dos camarotes, substituídos sempre que necessário; pintura das cúpulas a azul, conforme já existia no projecto original.

Observações

*1 - antes das obras do séc. 21, o interior tinha um recinto central, circular, com 80 m. de diâmetro, coberto com areia, vedado por uma cerca em madeira separada das bancadas por um corredor; estas estão dispostas em círculo, divididas em catorze talhões com 4000 lugares, e duas bancadas superior de cinco filas com estrutura de ferro, tendo, respectivamente, 2100 e 860 lugares. São encimadas por camarotes e galerias, tendo capacidade para 8438 espectadores que se distribuíam pelas duas ordens dos 165 camarotes e galerias.

Autor e Data

João Silva 1992 / Paula Figueiredo 2008

Actualização

 
 
 
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