Capela do Espírito Santo
| IPA.00006367 |
Portugal, Lisboa, Mafra, União das freguesias de Malveira e São Miguel de Alcainça |
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Ermida rural de pequena dimensão e feição rustica, construída, provavelmente no séc. 16 e reconstruída no 18 (em período pré-terramoto), alvo de várias intervenções ao longo do tempo que lhe alteraram a feição interna, nomeadamente a sua adaptação a escola primária no final da primeira metade do século 20. Integra-se no conjunto de pequenas capelas da denominada região saloia, nomeadamente das Capelas do Espírito Santo, caracterizados por exterior de tratamento arquitetónico austero, por um esquema planimétrico interior básico, nave única, sacristia, e capela-mor. Assim, apresenta uma planta poligonal, resultante da articulação axial de dois retângulos, de dois registos, correspondentes aos dois corpos principais, a nave única e a capela-mor, mais estreita, quase quadrangular, a que se adossa, lateralmente, do lado esquerdo, o retângulo da sacristia, com porta independente de acesso ao exterior com a mesma orientação do portal principal. Fachadas rebocadas e caiadas a branco, muito sóbrias, percorridas, ou por soco e cunhais de cantaria, ou, como é o caso, por faixa pintada a amarelo ocre. Fachadas principal e posterior em empena triangular encimadas por cruz pétrea, sendo a principal rasgada axialmente por portal, ou manuelino encimado por óculo (como é o caso), ou de verga reta e moldura de alvenaria simples encimado por pequena janela retilínea servida de gradeamento. As fachadas laterais são rasgadas por vãos retilíneos com molduras simples de cantaria e rematadas por cornija saliente. Cobertura telhada a duas águas. Interiormente, apresentam nave única com cobertura tripartida (normalmente de madeira) e capela-mor com cobertura em abóbada de berço, tendo sido alvo de muitas intervenções e alterações de uso, os interiores encontram-se muito descaracterizados. Fachada principal orientada a sul, terminada em empena triangular encimada por cruz pétrea, é rasgada, axialmente, pelo portal principal, manuelino, encimado por óculo. Deste templo destaca-se o seu portal (único elemento classificado do imóvel), que apresenta afinidades formais com o portal da capela do Espírito Santo de Enxara do Bispo (v. IPA.00005588), inscreve-se em arco conopial constituído por quatro segmentos, com pés-direitos delimitados por colunelos assentes em bases de secção oitavada e rematado por florões. Os colunelos exteriores apresentam fustes torsos e capitéis oitavados com gramática decorativa de carácter fitomórfico (romãs, acantos e rosetas). Nas ombreiras decoração de flores quadrifoliadas, máscaras e um animal (um macaco a comer um fruto). Superiormente o arco possui elementos ornamentais de carácter vegetalista e zoomórfico, e, no extradorso, um peixe, uma ave e heráldica manuelina. A inclusão de um peixe e de um macaco na decoração do portal, é de difícil interpretação, sendo de considerar tratar-se de elementos provavelmente bebidos em gravuras ou iluminuras da época. |
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Número IPA Antigo: PT031109170008 |
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Registo visualizado 1397 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Capela / Ermida
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Descrição
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Planta poligonal, retangular, composta pela articulação longitudinal de dois corpos escalonados, retangulares, correspondentes à nave e à capela-mor profunda, tendo adossado, a ocidente, o corpo da sacristia, justaposto ao da ábside, também retangular. Fachadas rebocadas e caiadas a branco, percorridas por faixa amarelo ocre, sendo as laterais terminadas em cornija saliente. Cobertura telhada a duas águas. Fachada principal orientada a sul, terminada em empena triangular encimada por cruz pétrea, é rasgada, axialmente, pelo portal principal encimado por óculo. O portal inscreve-se em arco conopial constituído por quatro segmentos, com pés-direitos delimitados por colunelos assentes em bases de secção oitavada e rematado por florões. Os colunelos exteriores apresentam fustes torsos e capitéis oitavados com gramática decorativa de carácter fitomórfico. Nas ombreiras decoração de flores quadrifoliadas, máscaras e um animal. Superiormente o arco possui elementos ornamentais de carácter vegetalista e zoomórfico, e, no extradorso, um peixe, uma ave e heráldica manuelina. Fachada lateral esquerda, a ocidente, composta por dois panos, respeitantes ao corpo da sacristia, que encobre o da capela-mor, e que é rasgado por uma porta de verga reta e moldura de cantaria retilínea encimada por pedra esculpida, ilegível; este articula-se em ângulo com o pano da nave, animado por duas janelas retangulares com molduras de cantaria simples. Fachada lateral direita, a nascente, também com dois panos, correspondentes ao corpo da nave, rasgado por duas janelas retilíneas com molduras de cantaria simples, e, articulando-se em ângulo, o da capela-mor, de parede cega. Fachada posterior, de empena triangular, e parede cega. INTERIOR: nave única e capela-mor pavimentadas de tijoleira e cobertas com tetos de madeira. Sacristia com lavatório de pedra embebido na parede norte. |
Acessos
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Alcainça Grande, Largo da Igreja. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,919929; long.: -9,289836 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 32 973, DG, 1.ª série, n.º 175 de 18 agosto 1943 e Decreto n.º 5/2002, DR, 1.ª série-B, n.º 42 (portal) *1 / ZEP, Portaria n.º 308/2014, DR, 2.ª série, n.º 92 de 14 maio 2014 |
Enquadramento
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Urbano, a poucos metros da igreja de São Miguel (v. IPA.00006365). Isolada, localizada em elevação, e circundada por pequeno adro arborizado com coreto. |
Descrição Complementar
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Portal sobre degrau de focinho boleado, composto por arco conopial interrompido, prolongado em cortina no extradorso. Arquivolta única delimitada por colunelos, sendo os externos torsos, assentando em bases facetadas, intercaladas por anéis. Os pés-direitos, ao nível das escócias, apresentam duas máscaras antropomórficas, semelhantes, encimadas por duas ordens de rosetas quadrangulares quadrifoliadas, dispostas simetricamente; sob o capitel, à direita outra roseta e à esquerda um macaco comendo um fruto. Os capitéis possuem decoração de folhas estilizadas e ábacos estrelados intercalados por cordões. Os colunelos exteriores, helicoidais, prolongam-se acima do arco, ladeando-o, e são rematados por pequenos pináculos cónicos, igualmente torsos, encimados por florões diminutos. O arco é decorado com dois pares de rosetas quadrangulares nos segmentos laterais, rematados inferiormente por conjunto de cinco romãs, e nas secções centrais uma pequena águia e um ramo com uma flor e uma romã ou baga. Os segmentos do arco rematam-se superiormente por florões de acanto que intercalam quatro elementos decorativos que se destacam da caixa murária, em alto relevo: à esquerda um pássaro a debicar um fruto e um escudo real estilizado; à direita cruz da Ordem de Cristo e um peixe. |
Utilização Inicial
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Religiosa: capela |
Utilização Actual
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Funerária: capela mortuária |
Propriedade
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Privada: Igreja Católica |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 16 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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Séc. 15, finais - 16, inícios - data provável da primitiva edificação do templo e de uma albergaria anexa; desta construção data o portal que ainda hoje ostenta, de decoração manuelina; 1521 / 1535 - sofre muitos danos com os terramotos quinhentistas que assolam Lisboa; 1620 - as Visitações desse ano referem-na, bem como à albergaria anexa, que serve de apoio a peregrinos e viajantes; 1746 - termo de uma campanha construtiva, conforme data inscrita no lintel do portal de acesso à sacristia; o portal manuelino, que subsiste a esta campanha construtiva, fica, provavelmente, encoberto por uma estrutura alpendrada, que então se constrói; 1755, 01 novembro - de acordo com a informação veiculada por José Baptista Garvão, nas Memórias Paroquiais (1758), o terramoto arruína a Igreja de São Miguel, causando grande dano no hospital e albergaria anexa à Capela do Espírito Santo, a qual tem rendas próprias, esta, não sofrendo grandes danos com o sismo, serve então de paroquial; 1898 - o hospital de Mafra toma posse da ermida e de todos os seus bens, deixando-a ao abandono; 1910 - a ermida e todos os seus bens são vendidos em hasta pública, sendo comprador um mafrense, Francisco de Brito Carvalho Gorjão; c. 1940 - o imóvel é doado à Câmara Municipal de Mafra para que esta o transforme em escola primária; 1943, 18 agosto - o pórtico da capela é classificado como IIP - Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 32973, publicado no DG n.º 175/1943, Série I); 1945 - funciona como escola primária, para o que foram construídos balneários e vestiários; 1945, 19 maio - por ofício que acompanha duas fotografias da Igreja de São Miguel de Alcainça, já há muito solicitadas pela Junta Nacional de Educação, que se encontrava a instruir a classificação da paroquial de Alcainça, a DGEMN informa que a igreja funciona na sua totalidade como escola, uso que a alterou por completo, pelo que considera que apenas o pórtico é digno de classificação; inicia-se assim uma enorme confusão entre a identidade dos dois imóveis para efeitos de classificação; 1946, 08 março - por ofício a Direção-Geral da Fazenda Pública informa que o pórtico aludido respeita à Capela de São Silvestre (confusão com esta Capela do Espírito Santo)*2, classificado desde 1943; 1946, 20 agosto - o pórtico da Igreja de São Miguel de Alcainça é classificado como IIP (Decreto n.º 35817, DR, 1.ª série, n.º 187); 1967 - continua a funcionar uma escola no edifício; 1999, 29 setembro - Despacho do vice-presidente do Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico a determinar a alteração da designação oficial do diploma de proteção; 2002, 19 fevereiro - alteração da designação pelo Decreto n.º 5/2002, DR, 1.ª série-B, n.º 42; 2012, 28 março - proposta da Direção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo para a fixação da Zona Especial de Proteção; 2013, 07 junho - publicação do Projeto de Decisão relativo à fixação da Zona Especial de Proteção, em Anúncio n.º 207/2013, DR, 2.ª série, n.º 110; 2001 - a autarquia intervém no imóvel, executando obras de reparação e de reconstrução de caixas murárias, coberturas exteriores e interiores, pavimentação com tijoleira, pintura de paredes e tetos e demolição dos dois corpos anexos tardios; 2005 - funciona como capela mortuária. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes |
Materiais
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Cantaria de calcário, alvenaria de tijolo, telha, madeira, vidro e ferro. |
Bibliografia
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AZEVEDO, Carlos de, GUSMÃO, Adriano de, FERRÃO, Julieta - Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Concelho de Mafra. Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1963; GANDRA, Manuel - O Império do Divino Espírito Santo. Mafra: Câmara Municipal de Mafra; Centro de Estudos Históricos e Etnográficos prof. Raul de Almeida, 1990, folheto da exposição; GANDRA, Manuel - "Festividades e eventos cíclicos tradicionais do concelho de Mafra (O Petencostes e o Império do Divino Espírito Santo)". Boletim Cultural'96. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1997; GORJÃO, Sérgio - "Memórias Proquiais". Boletim Cultural'96. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1997; LOPES, Flávio - Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado. Distrito de Lisboa. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico, 1993; PAGARÁ, Ana - "Carta do património do concelho de Mafra. 1. Notas preliminares à arquitectura das Ermidas do espírito Santo (Concelho de Mafra)". Boletim Cultural 2004. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 2005; PEREIRA, Isaías da Rosa - Visitações de São Miguel de Sintra e de Santo André de Mafra (1466-1523). Lisboa: Lusitânia Sacra, 1978, pp. 135-257; PINHO, Elsa Cristina C. G. Garret - Da Arte Manuelina do Concelho de Mafra. Lisboa: s. n., 1989, texto policopiado; VALDEZ, Ascenção - "Algumas Notícias para a Descrição Histórica do Lugar e Freguesia de Alcainça". Boletim da Real Associação dos Arquitetos e Arqueólogos Portugueses. Lisboa: Real Associação dos Arquitetos e Arqueólogos Portugueses, 1898, vol. VII, pp. 18-21, 43-46, 68-70; VALDEZ, Ascenção - Algumas Notícias para a Descrição Histórica do Lugar e Freguesia de Alcainça, Lisboa: Tipografia do jornal O Dia, 1895; VILAR, Maria do Carmo - "Carta do património do concelho de Mafra. 1. O Manuelino". Boletim Cultural'94. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1995; VILAR, Maria do Carmo - "Arquitectura e escultura monumental manuelina na região de Mafra". Boletim Cultural'2000. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 2001. |
Documentação Gráfica
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DGPC: PT DGEMN/DSID; PT DGEMN/DSARH |
Documentação Fotográfica
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DGPC: PT DGEMN/DSID; CMM: PT AMM |
Documentação Administrativa
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DGPC: PT DGEMN/DSID; PT DGEMN/DSARH; CMM: PT AMM; DGLAB: PT ANTT |
Intervenção Realizada
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CMM: 2001 - obras de reparação e de reconstrução de caixas murárias, coberturas exteriores e interiores, pavimentação com tijoleira, pintura de paredes e tetos e demolição dos dois corpos anexos tardios. |
Observações
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*1 - DOF: Portal manuelino da antiga Capela do Espírito Santo de Alcainça Grande; *2 A Capela de São Silvestre é a capela lateral do lado da Epístola da Igreja de São Miguel de Alcainça, onde figuram as arcas tumulares de Vicente Annes Froes, prior de Cheleiros no século 14, e de seu pai, o pórtico manuelino em causa será o do presente templo, do Espírito Santo. |
Autor e Data
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Lina Marques 2001 / Paula Tereno 2018 |
Actualização
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