Real Fábrica de Gelo de Montejunto
| IPA.00006279 |
Portugal, Lisboa, Cadaval, União das freguesias de Lamas e Cercal |
|
Estrutura artesanal de fabrico do gelo, composta por construções destinadas à produção e conservação, incluindo sistema de engenho para captação de água. O conjunto integra 2 poços, 1 tanque depósito de recepção, 1 tanque principal e 44 tanques rasos, 3 poços de armazenamento, um deles de planta circular com cobertura abobadada em calote esférica, além de duas construções complementares de planta rectangular associadas, respectivamente, aos mecanismos de captação de água e tratamento do gelo. Estrutura pré-industrial construída para suprir as dificuldades de abastecimento regular de gelo à Casa Real e à cidade de Lisboa. Constitui-se, a par dos poços do Coentral (v. PT021007020001 ), como alternativa ao processo utilizado para a obtenção deste produto durante os séculos 17 e 18, baseado na recolha e distribuição da neve acumulada nos poços da Serra Estrela. |
|
Número IPA Antigo: PT031104050004 |
|
Registo visualizado 1578 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Edifício e estrutura Edifício Extração, produção e transformação Fábrica
|
Descrição
|
Conjunto composto por dois grupos de construções de funções complementares, disposto em superfície e envolvido por muro de pedra sobreposta com acessos definidos por dois portões. PRIMEIRO GRUPO: destinado à produção do gelo, integra 2 poços de captação de água, 1 tanque depósito de recepção, pequena casa, talvez armazém, onde se accionavam as noras, 1 tanque principal e 44 tanques rasos, com cerca de 30 cm de altura, para congelamento de água. Os poços apresentam bomba manual e cobertura em cimento armado *1. Os tanques rectangulares e de dimensões distintas implantam-se segundo cotas escalonadas, em 4 filas N. / S. separadas por passadeiras, com cerca de 1,50 m. Aqueles comunicam entre si por passagens de secção rectangular, a cerca de 10 cm do fundo. Este fundo é revestido por 2 lajes calcárias finas, de dimensões irregulares e sobrepostas, com camada de areia amarela, fina e compacta, entre elas. Na transição do fundo-muros laterais existem ladrilhos vedados com argila de cor cinzenta. SEGUNDO GRUPO: de construções, reservado à preparação, armazenamento e conservação, localiza-se a S., a cerca de 100 metros, e define-se num edifício destinado ao tratamento do gelo, com várias construções adossadas, correspondentes a 3 poços de armazenamento. As coberturas, diferenciadas, são em telhados de uma, duas ou mais águas, para plantas igualmente distintas. O edifício de tratamento do gelo possui sala rectangular, com acesso realizado através de pórtico de arco abatido, ladeado por pilastras e sobrepujado por frontão interrompido *2. As cavidades e suportes visíveis a meio dos alçados interiores do edifício colocam a hipótese da existência de um piso superior. A O. porta rectangular simples. Os poços, contíguos, têm fundo coberto por pequenos pilares de pedra e paredes espessas, de geometria e dimensões diversas, um central e circular com 7 m de diâmetro e 10 m de profundidade, e 2 laterais rectangulares com cerca de 4 m de profundidade. Encostados entre si, têm acesso directo à sala e 1 cobertura abobadada em calote esférica, em ligação com o edifício através de 2 portas, junto às abóbadas. |
Acessos
|
Quinta da Serra, Serra de Montejunto, Vila Franca dos Francos (acesso S.), Abrigada (acesso E.), Pragança (acesso O.). WGS84 (graus decimais) lat.: 39.178488; long.: -9.051312 |
Protecção
|
Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 67/97, DR, 1.ª série, n.º 301 de 31 dezembro 1997 |
Enquadramento
|
Rural. Implanta-se em zona montanhosa de clima sombrio e húmido, a cerca de 500 m de altitude, na proximidade de uma plantação de castanheiros e adjacente, a SE., à cerca de vedação do Centro Operacional Aéreo Alternativo de Montejunto. A cota superior localizam-se as ruínas de dois conventos, vestígios do estabelecimento da Ordem de São Domingos nesta Serra. |
Descrição Complementar
|
Numa pedra junto aos poços estaria implantado um engenho que, accionado por animais, extraía água dos poços vertendo-a no tanque maior, seguindo para os tanques inferiores, até atingir 20 cm de altura. Entre as construções existentes conta-se também um forno de cal. |
Utilização Inicial
|
Extração, produção e transformação: fábrica |
Utilização Actual
|
Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
|
Pública: estatal |
Afectação
|
Direcção-Geral das Florestas |
Época Construção
|
Séc. 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
|
Cronologia
|
1741, 15 Julho - Trofimo Paillete faz uma petição ao rei para o autorizar a produzir gelo na Serra da Estrela, para abastecer Lisboa, propondo-se criar armazéns de conservação e arranjar zonas alternativas para produção; 23 Novembro - o rei concede autorização, por um período de 10 anos; início da construção dos armazéns; 1742 - o Senado de Lisboa dá o seu acordo; 1744 - Paillete burla os sócios, João Rose e Pedro Fracalanza, e foge; 1747 - João Rose e Pedro Fracalanza pedem a concessão do abastecimento e comercialização da neve em Lisboa; tomam a iniciativa da construção de uma fábrica de gelo, aproveitando as condições climáticas excepcionais da Serra de Montejunto, bem como a proximidade deste local à capital do reino, bem como das estruturas que já haviam sido construídas no local; 1748, 4 Março - pedido de autorização à Câmara; 04 Abril - a Câmara de Lisboa pede esclarecimentos extra; Catarina Ricart propõe-se ser a neveira da cidade; 14 Dezembro - Carlos Mardel dá um parecer sobre as obras da fábrica e da sua utilidade; 1750, 10 Março - a Câmara pronuncia-se a favor da petição dos dois sócios; 18 Setembro - concessão da exploração da fábrica a Catarina Ricart, por 10 anos; 1757, 12 Maio - D. José concede a exploração de neve a Bernardo Moreira e Julião Pereira de Castro; os mesmos abastecem-se na Serra da Estrela; é possível que a Fábrica de Montejunto tenha sido desactivada nesta data; 1769 - o neveiro abastece-se, preferencialmente, na Serra da Lousã, no Cabeço de Pereiro; 1782 - terá sido reedificada e ampliada, após a sua aquisição por Julião Pereira de Castro, neveiro da Casa Real, conforme uma inscrição existente no local; 1810 - é neveiro da cidade de Lisboa Martinho Rodrigues; 1881 - falecimento do neto de Julião Pereira de Castro, que assumira o cargo de neveiro, na continuidade do seu pai; 1885 - encerramento da sua actividade; 1791 - última referência a Julião Pereira de Castro à frente da Fábrica; 1987 - 1988 - tiveram lugar campanhas de limpeza, após cerca de 100 anos de abandono, sob fiscalização do IPPAR. |
Dados Técnicos
|
Paredes autoportantes |
Materiais
|
Cantaria de calcário; betão armado |
Bibliografia
|
AAVV, Intervenções no Património, Lisboa, 1995; Actas das IV Jornadas Arqueológicas (Lisboa 1990), Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa, 1991; ALMEIDA, Fernando António, Vender e Tomar Neve em Lisboa, in Monumentos, 2001 (no prelo); COSTA, Américo, Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular,vol.VIII, Vila do Conde, 1943; ALVES, Manuela, Uma real fábrica para gelo, in Diário de Notícias, Lisboa, 05.08.96, pp.34-35; COSTA, Inês, Real Fábrica do Gelo de Montejunto Classificada Monumento Nacional. Património Descongelado, in Frente Oeste, Torres Vedras, 16.05.96; COSTA, Paulo e GALANTE, Helena, Cadaval. Contributo para o Estudo da Memória de um Concelho, Lisboa, 1995; HUMBERTO, Jorge, Fábrica do Gelo da Serra do Montejunto, in Gazeta das Caldas, Caldas da Rainha, 23.06.95, p.19; LOURENÇO, Fernando Severino, ALMEIDA, Fernando António, MESTRE, Victor, "Real Fábrica do Gelo", in Monumentos, n.º 15, Lisboa, DGEMN, 2001, pp. 120-137; MIGUEL, Fernando, Real Fábrica do Gelo precisa de dinheiro, in Badaladas, 12.07.96, p.9; NOGUEIRA, Jorge H., "O sorvete do rei", in Jornal Frente Oeste, Torres Vedras, 15.06.95, pp.3 a 5; RIBEIRO, Joaquim, Campo de Trabalho Internacional recupera Tanque, in Badaladas, 25.08.95, p.8. |
Documentação Gráfica
|
IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML |
Documentação Fotográfica
|
IHRU: DGEMN/DRML |
Documentação Administrativa
|
IHRU: DGEMN/DRML |
Intervenção Realizada
|
IPPAR (colaboração do FAOJ): 1987 / 1988 - limpeza de mato nos tanques rasos e principal; escavação e limpeza de 2 tanques rasos, de entulho constituído por terra argilosa e muitas pedras de tamanhos variados e espólio de cerâmica (muito pouco), constituído por fragmentos de vasos e bilhas, ferradura de bovino, fragmento de peça de ferro e cravo, de datação imprecisa, e materiais modernos; abertura de sondagem no tanque principal de recepção de água, com 2 m de largura, para vêr estado de conservação e materiais componentes; desmatação do edifício; sondagem no fundo do silo principal, de 2.00 x 2.00 m; Estado-Maior da Força Aérea: 1991 (?) - Arranjo do acesso ao Conjunto Fabril, em brita compactada, que envolve parte do aquartelamento; construção de murete, em pedra da região, junto dos poços de captação de águas, e de 1 piso em seu redor; construção de escada para vencer desnível do terreno; IPPAR: 1995 - Campanha de escavação e limpeza; IPPAR: 1996 - Campanha de limpeza e conservação; DGEMN: 1998 - elaboração do projecto de restauro; 1998 / 1999 - restauro integral dos três poços de armazenamento do gelo: limpeza, refechamento de fissuras, consolidação da abóbadas, arranjo das coberturas, rebocos com areia pigmentada e cal; 2001: colocação de grades de protecção nos poços. |
Observações
|
*1- estes poços fornecem água, actualmente, às instalações da Força Aérea e à população local; *2 - sobre o qual existiu lápide referindo a compra e reedificação da fábrica por Julião Pereira de Castro, capitão de Malta, "reposteiro" e "neveiro" da Casa Real, com data de 31 Janeiro 1782. Sobre a lápide um nicho, agora vazio, onde parece ter existido a imagem de Nossa Senhora das Neves, ainda se realiza actualmente a Festa de Romagem a Nossa Senhora do Gelo a 5 de Agosto. |
Autor e Data
|
Teresa Furtado 1997 |
Actualização
|
Victor Mestre 1999 / Filomena Bandeira 2001/ Júlio Grilo 2002 |
|
|
|
|
| |