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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Capela / Ermida
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Descrição
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Planta centralizada, composta por capela-mor e nave circular à volta da qual se desenvolve, em mais de metade do seu perímetro, uma galilé semicircular, tendo nos topos dois corpos de dois andares, de planta rectangular, correspondentes à sacristia e casa de despacho. Volumes articulados com coberturas diferenciadas a telhado de telha de quatro águas; cúpula principal com telhado cónico, coroado por lanternim com três frestas para iluminação, coberto por calote esférico encimado por cruz de ferro. Capela-mor com telhado cónico de menores dimensões. GALILÉ: tem abóbada abatida, com nervuras de perfil renascentista e fechos com rosáceas lisas ou relevadas, estas últimas representando símbolos alusivos ao santo, protetor dos deficientes (braços e pernas), cruz de Cristo, florões vegetalistas ou estrela de doze pontas. A galilé é aberta por arcada de cinco vãos, dois deles cegos (um de cada lado), de arcos plenos intercalados por contrafortes quadrangulares alteados, os três arcos centrais defendidos por portões setecentistas, de grades de ferro forjado, estrutura retilínea, encimados ao centro por símbolos iconográficos alusivos a Santo Amaro (mitra de bispo, um braço e uma perna); sobre o vão central e entre o prolongamento dos contrafortes, pano de muro com janela encimada por sineira; a cobertura serve de terraço limitado por gradeamento. Ao longo das paredes, totalmente revestidas de azulejos seiscentistas, policromos, organizados em dois registos sobrepostos, corre um banco de cantaria. O revestimento de azulejos de composição ornamental, organiza-se em painéis cujo principal motivo é uma cartela no centro da qual se destacam em fundo azul, braços e pernas, atributos de Santo Amaro. Todo o espaço do painel envolvendo a cartela central é preenchido por elementos de gosto maneirista: "ferroneries" nas quais se inserem figuras infantis aladas, motivos grotescos, aves e frutos pendurados em fitas. Os painéis são separados uns dos outros por sereias cariátides de cauda múltipla, que se inserem no espaço correspondente às mísulas que suportam as nervuras da cúpuloa. Nas paredes correspondentes aos dois arcos cegos foram levantados altares, com frontal de azulejo, e retábulos em "trompe l'oeil", de estrutura maneirista, igualmente em azulejo policromo, nos quais dois pares de pilastras compósitas enquadram um arco de volta perfeita no qual se destaca a imagem de um santo (São Bento?). Na policromia dos azulejos do retábulo predomina a utilização do amarelo para simular talha dourada. Os painéis de azulejo do registo superior, correspondendo aos tímpanos formados pelas nervuras da cúpula, representam jarras ou cestos de flores ladeados por figuras infantis ou pássaros, que se inserem em finos enrolamentos vegetalistas. Da galilé acede-se ao espaço interior por três portas (com o arco triunfal definem uma cruz de braços iguais). A porta axial e principal entrada a partir da galilé, é de madeira entalhada representando braços e pernas, símbolos de Santo Amaro. No lintel de pedra uma inscrição refere a data de construção da ermida *2. INTERIOR: nave central de cúpula em cantaria, semi-esférica com doze nervuras que descarregam em pequenas mísulas, idênticas às da galilé, cortadas por três nervuras que descrevem circunferências de diâmetros diferentes. Arco triunfal em volta perfeita assente em pilastras de base lisa e capitéis compostos por colarinho aquino e abaco sem ornamentação, antecede a CAPELA-MOR com cúpula semi esférica nervurada, cortada por outras duas transversais, cujo fecho é uma rosásea de motivos vegetalistas; retábulo em talha azul e dourada, com colunas pseudo-salomónicas. Degraus de acesso ao altar com espelho revestido de azulejos verdes em técnica de corda-seca, representando os símbolos do santo. CORO-ALTO com acesso pelo terraço. SACRISTIA com tecto de madeira pintado; numa das paredes lavabo de mármore esculpido. Arcaz de madeira sobre o qual se destacam quatro quadros a óleo representando milagres de Santo Amaro. |
Acessos
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No topo da Calçada de Santo Amaro, início da Rua Gil Vicente (Alto de Santo Amaro) |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria n.º 39/96, DR, 1.ª série-B, n.º 37 de 13 fevereiro 1996 *1 |
Enquadramento
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Urbano, isolado, implantação destacada. Ergue-se no alto de uma colina dominando o Tejo, a que se tem acesso por íngreme escadório de dois braços, tendo no topo adro calcetado e pórtico ornado de volutões. |
Descrição Complementar
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AZULEJOS: Galilé: paredes totalmente revestidas de azulejos policromos (azul, amarelo, verde em fundo branco), organizados em dois registos sobrepostos. Primeiro registo: vinte azulejos de altura; segundo registo, correspondente aos tímpanos formados pelas nervuras da cúpula: dez azulejos de altura (na parte mais alta). Composições exuberantes combinando elementos ornamentais de grotescos e ferroneries, com símbolos iconográficos alusivos a Santo Amaro (braços e pernas). No segundo registo, cestos de flores ladeados por pássaros e figuras infantis envoltas em elementos vegetalistas. Policromia: azul, verde, amarelo, manganês. Paredes que tapam os dois arcos extremos totalmente revestidas de azulejo simulando retábulo de estrutura maneirista, com altar igualmente revestido de azulejos. |
Utilização Inicial
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Religiosa: ermida |
Utilização Actual
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Religiosa: capela |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 16 (conjectural) |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETO: Diogo Torralva (1549). PINTOR: André Gonçalves (1710). |
Cronologia
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1549 - construção da atual ermida pelos frades da Ordem de Cristo sobre uma outra mais pequena; 1551 - segundo Cristóvão Roiz de Oliveira, tinha por esta altura uma grande romagem, tendo confraria e valendo 400 cruzados de esmolas; c. 1670 - 1680 - decoração azulejar do nártex, fechando-se dois vãos da arcada com altares; séc. 17 (finais) / séc. 18 (quarto quartel) - feitura e colocação dos altares de talha; c. 1710 - pintura de um milagre de Santo Amaro para a sacristia, por André Gonçalves; 1836 - extinção da confraria; 1910 - foi despojada de muitos valores e deixada ao abandono, sendo o vestíbulo aproveitado para depósito de carvão; 1928 - reinício do culto; 1998, outubro - elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN. |
Dados Técnicos
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Estrutura mista |
Materiais
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Alvenaria rebocada e cantaria calcária. Decoração com azulejos e talha dourada. Pavimento de lajes e cobertura de telha e xisto. |
Bibliografia
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ALMEIDA, José António Ferreira - Tesouros Artísticos de Portugal. Porto, 1988; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra. Relatório da Intervenção em Dois Painéis e no Retábulo do lado Esquerdo do Nartex (por Sónia Atanásio, Sónia Martins e Teresa Maia). Cacém, 1995; HAUPT, Albrecht -, Arquitectura do Renascimento em Portugal. Lisboa, 1986; JÚNIOR, Costa - "A Capela de Santo Amaro que em 1551 estava fora dos muros já foi depósito de carvão". Diário Popular. Lisboa, 3 out. 1972; KUBLER, George - Portuguese Plain Architecture 1521-1706. United States of America, 1972; MACHADO, José Alberto Gomes - André Gonçalves. Pintura do Barroco Português. Lisboa: Editorial Estampa, 1995; MARKL, Dagoberto - "A Arquitectura e o Urbanismo". História da Arte em Portugal. Lisboa, 1986, vol. 6, pp. 31-59; MECO, José - Azulejaria Portuguesa. Lisboa, 1985; MEYRELLES, A. - Lisboa Ocidental. Apontamentos para a Monografia do Quarto Bairro, Lisboa, s.d.; MOITA, L. - A Ermida de Santo Amaro. Lisboa, 1937; Monumentos. Dossiê: Convento da Cartuxa. Lisboa, DGEMN, 1999, n.º 10; SANCHES, J. D. - Belém e Arredores Através dos Tempos. Lisboa, 1940; SMITH, Robert C. - The Art of Portugal 1500-1800. London, 1968. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/DRML, DGEMN/DSARH; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra |
Intervenção Realizada
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1935 - Obras conservação (lavar e fixar azulejos nos lambris dos quadros pórtico; descascar e rebocar de novo superfícies curvas; Restauro cantarias nos botaréus e soleiras pórtico, etc.); 1954 - Obras de conservação; 1955 - Obras de reparação e restauro (modificação da escada de acesso ao terraço; assentamento e fornecimento de cantaria para a escada no anexo; construção de cúpula sobre a escada de caracol; reconstrução dos telhados, supressão de um piso de anexos; picar e rebocar paramentos interiores e exteriores, etc. obras na cobertura e pavimentos; 1956 - Obras de reintegração; 1957 - Obras de restauro; 1959 - Conclusão coberturas, arranjo dos terrenos à volta da capela; restauro dos painéis de azulejos da galilé; instalação eléctrica); 1966 - Picar e escovar abóbada capela-mor; solidificar peças caídas; reparação da instalação eléctrica; trabalhos de conservação e beneficiação; 1971 - Montagem do sino; 1976 - Trabalhos conservação; 1982 - obras de conservação e reparação; 1986 - Obras de beneficiação e conservação urgentes, devido a um painel de azulejos estar em iminência de ruir; 1991 - arranjo da área envolvente; CML: 199? - iluminação e arranjo da área envolvente; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra: 1995 - intervenção em dois painéis e num altar de azulejos no lado E. do nartex, com consolidações, remoção dos azulejos com má aderência ao suporte, remoção de argamassas e limpeza; consolidações pontuais; prrenchimento de lacunas e falhas de vidrado e respectivas consolidações; aplicação de cópias nos azulejos em falta; DGEMN: 1999 - obras gerais de beneficiação. |
Observações
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*1 - Zona Especial de Proteção conjunta da Capela de Santo Amaro, da Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha, do Palácio Burnay e da Sala designada "Salão Pompeia" no antigo Palácio da Ega. *2 - ver descrição complementar; a inexistência de documentos tornou lendária a sua construção; há duas versões: 1 - catorze frades da Ordem de Cristo fizeram uma peregrinação a São João de Latrão e no seu regresso a Portugal, em 1532, resolveram entregar-se ao misticismo instituindo uma confraria em honra de Santo Amaro; a caravela que conduzia os frades chegou ao Tejo a 15 de janeiro e ancorou próximo a um rochedo que havia no local, erguendo, de seguida, um cenóbio; depois pediram licença a D. João III para construírem uma ermida no terreno dado por João Gomes Meireles e sua mulher Brites Dias; 2 - uns mareantes galegos salvando-se milagrosamente de naufrágio, prometem a Santo Amaro a construção de uma capela logo que ancorassem em sítio seguro. Ancoraram nas margens do Tejo e construiram uma capela num lugar altaneiro ao seu ancoradouro; a porta de acesso à capela tem a seguinte inscrição: "Começou-se a edificar esta Hermida de S. Amaro douze dias / de Fro do ano D. 1549 e Avia sete anos que hera / aqui edificada a que aguora serve de samcristia": Desconhece-se se a primeira ermida de Santo Amaro, foi aqui erguida em 1542. De 15 de janeiro a 2 de fevereiro fazia-se a grande romaria a Santo Amaro, conhecida como "Romaria dos pinhões" ou "Romaria das promessas"; deixou de se realizar em cerca de 1930. |
Autor e Data
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Paula Noé 1990 / Paula Correia 2004 |
Actualização
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Laura Figueirinhas e Lobo de Carvalho 1998 / Robert Wright (Contribuinte externo) 2016 |
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