Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e Torre fortificada de Cascais

IPA.00006026
Portugal, Lisboa, Cascais, União das freguesias de Cascais e Estoril
 
Fortaleza marítima construída no séc. 16, com traçado abaluartado, planta triangular irregular, com pátio central também triangular, integrando dissimuladamente num dos lados torre quadrangular quinhentista. A data do início da construção da fortaleza de Nossa Senhora da Luz e a autoria do seu projeto ainda estão por apurar, mas a descoberta de um documento no arquivo de Veneza, por Julieta Marques Oliveira, comprovam que já existia aquando da invasão espanhola de 1580, visto nele se referir que em Cascais "há un castello di forma triangular com baluardo alla moderna per guardiã del maré", datando as primeiras representações iconográficas de 1590. Com uma planimetria pouco utilizada em Portugal, de notória influência italiana, e com algumas semelhanças com o Forte de Santa Catarina, em Buarcos (v. IPA.00002711), construído já em período filipino, é composta por três baluartes adaptados à topografia do terreno, um virado a terra, com flancos curtos e faces bastante agudas, e dois poligonais desiguais virados ao mar, com orelhões, interligados por cortinas retilíneas. Apresenta a escarpa exterior em talude, com os paramentos em cantaria de aparelho rusticado e em alvenaria de pedra rebocada, com cordão e parapeito liso ou com merlões e canhoneiras, possuindo nos ângulos flanqueados guaritas de várias formas. A porta fortificada rasga-se numa cortina virada a terra, inicialmente precedida por ponte levadiça sobre o fosso, e possui arco de volta perfeita, de aduelas em cunha, moldurado por silhares rusticados sustentando frontão triangular, com as armas de Portugal. A partir do pátio central fazia-se o acesso às casernas, dependências intermédias entre os baluartes, desenvolvidas em dois pisos, e aos baluartes, com salas sucessivas, todas abobadas e interligadas por arcos, e à bateria alta da fortaleza. A fortaleza integra no seu interior e sem a ter destruído, a Torre de Santo António, construída em finais do séc. 15 que, à semelhança de outras construídas durante o reinado de D. João II, como a da Caparica e a de Belém, possuíam características de transição entre a arquitetura medieval e a abaluartada. Uma gravura antiga representa-a com uma torre quadrangular medieval, de parapeito ameado e com balcões nos ângulos, um corpo retangular mais baixo, envolvidos por uma cerca, com canhoneiras em plano intermédio, para uso de artilharia. Com a modernização da defesa marítima de Cascais, esta torre foi integralmente mantida a meio da cortina sul da fortaleza, continuando a ser o principal núcleo habitado ao longo dos séculos, conservando-se até hoje os seus paramentos aprumados, com cunhais de cantaria rusticada, algumas troneiras, mas já sem o remate de ameias. A muralha exterior foi em grande parte arrasada, mas subsiste um troço a este, aproveitada para confrontar uma das paredes-mestras de apoio lateral à nova cortina sul. As fachadas leste e parte da sul do corpo retangular adossado à torre foram elevados, tornando-se, assim em pontos de descarga da esplanada. A torre possuía uma capela, à qual se pensa terem pertencido os azulejos de aresta encontrados durante as escavações arqueológicas, que desapareceu com o terramoto, e duas cisternas, a principal, de planta em L, sob a torre, que depois do séc. 16 é alargada e acedida pelo pátio da nova fortaleza. Em finais do séc. 16, é construída junto e interligada à fortaleza a Cidadela, de modo a ampliar a frente marítima fortificada.
Número IPA Antigo: PT031105030031
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Fortaleza    

Descrição

Fortificação de traçado abaluartado, irregular, de planta triangular, composta por três baluartes, um a noroeste, virado a terra, com flancos curtos e faces bastante agudas e prolongadas, com ângulo flanqueado tipo quilha, e dois baluartes poligonais virados ao mar, desiguais, com orelhões, interligados por cortinas de traçado plano. Possui a escarpa exterior em talude, com os paramentos em cantaria de aparelho rusticado, no terço inferior e nos cunhais, e o restante em alvenaria de pedra, rebocada a cal e areia, e com vestígios de pintura ocre, com cordão e terminados em parapeito liso ou com merlões e canhoneiras. O parapeito do ângulo flanqueado do baluarte noroeste e o ângulo este do baluarte deste mesmo lado integram guaritas, a primeira cilíndrica e a segunda facetada, ambas com cobertura piramidal e rasgadas por frestas de tiro retangulares, sendo acedidas por porta de verga reta, o do baluarte noroeste precedida por três degraus. O ângulo oeste do baluarte oeste e o ângulo intermédio do disposto a este possuem o arranque de duas outras guaritas, uma circular e outra facetada, respetivamente. Os baluartes dispostos a este e a oeste têm orelhões ligeiramente curvos virados a norte, protegendo as canhoneiras nos flancos cobertos, atualmente entaipadas, e têm os seus flancos sul, perpendicular ou ligeiramente oblíquo (baluarte oeste), e os cunhais intermédios avançando externamente para o topo, os do baluarte este formando entrecorte. O baluarte virado a noroeste possui no flanco sul duas canhoneiras em arco, com moldura rusticada, uma delas, entaipada num plano recuado. A cortina virada a sul é rasgada a ritmo irregular, sob o cordão, por três vãos retilíneos, moldurados, um deles, gradeado. O acesso à fortaleza processa-se pela cortina paralela ao Passeio Dona Maria Pia, por largo vão retilíneo, no interior da qual existe dependência revestida a cantaria e coberta por abóbada de berço, no topo da qual se desenvolve a ponte fixa lançada sobre o fosso e antecedendo o portal; a ponte é de alvenaria de pedra, com tabuleiro plano e pavimento de lajes, sobre dois arcos de volta perfeita, fechados por grade de ferro, e com guarda plena. O portal rasga-se na cortina nordeste, e possui arco de volta perfeita, de longas aduelas dispostas em cunha, envolvido por silhares rusticados, sustentando frontão triangular, sobreposto com as armas de Portugal, encimadas por coroa. O portal possui porta de madeira, integrando postigo. INTERIOR: transposto o portal entra-se num compartimento rebocado e pintado de branco, com faixa a azul, com pavimento em paralelos e cobertura em falsa abóbada de berço com bueiro central. Segue-se pátio central triangular, a partir do qual se acede aos vários núcleos, tendo as fachadas rasgadas por vários vãos retilíneos, desiguais e a ritmo irregular, e com vários corpos salientes. Numa das fachadas possui marcados os cunhais da antiga torre joanina, em aparelho rusticado, que integrou a sul, em cujo interior, com a divisão espacial sido muito alterada, conserva parte das antigas abóbadas, apenas com o arranque dos arcos e respetivas mísulas; no paramente oeste, conserva ainda torneira, entaipada. É a partir da torre que se acede à esplanada, onde fica a bateria alta da fortaleza, pavimentada a lajes de cantaria. Sobre a bateria alta virada a sul, eleva-se o corpo da torre, também aí com os cunhais rusticados, flanqueado por outros, que são rasgados por vãos retilíneos e têm cobertura de betão, plana, criando terraço, ou inclinada, ou em telhado de duas águas. A esplanada do baluarte noroeste e respetivas cortinas desenvolvem-se num plano mais elevado. A esplanada do baluarte este tem acesso ainda a partir do terraço do palácio da Cidadela, através de alta ponte de cantaria, sobre um único arco, e com guarda plena. O portal que lhe dá acesso possui arco de volta perfeita sobre pilastras, encimado por frontão triangular, coroado por alto pináculo piramidal rematado por bola. Do pátio acede-se também às antigas casernas, dependências intermédias entre os baluartes noroeste e o do sul, que se desenvolve em dois pisos, bem como aos baluartes, onde se sucedem várias salas abobadas, interligadas entre si por arcos rasgados na alvenaria. A partir do pátio acede-se ainda à cisterna, desenvolvida sob a torre joanina, com planta em L, em cantaria, com cobertura em abóbada de berço e de aresta, no ângulo do L, onde a coluna foi substituída por pilar.

Acessos

Cascais; Avenida D. Carlos; Passeio Rainha Dona Maria Pia. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,693535; long.: -9,418588

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. IPA.00022840)

Enquadramento

Marítimo, isolado, adaptado ao declive acentuado do terreno. Ergue-se junto à costa, à entrada da Barra do Tejo, na margem direita da sua foz, desenvolvendo-se o aglomerado urbano de Cascais a norte do mesmo. A norte desenvolve-se a Cidadela de Cascais (v. IPA.00006052), com alguns corpos parcialmente adossados à fortaleza e separada dessa por muro com portal de verga reta. No interior do recinto da Cidadela ergue-se o Palácio da Cidadela e Capela de Nossa Senhora da Vitória (v. IPA.00021707), existindo ponte de ligação entre o terraço do palácio e a fortaleza. Paralelo à muralha este das fortificações, desenvolve-se o Passeio Dona Maria Pia e a sul da fortaleza foi recentemente construída a Marina de Cascais, existindo escadas em ferro que estabelecem a ligação entre esses dois níveis.

Descrição Complementar

Na face poente do baluarte este surgem gravadas, num dos silhares, as armas com as quinas de Portugal, e, na cortina virada a oeste, existem inúmeras inscrições.

Utilização Inicial

Militar: fortaleza

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Ministério da Defesa Nacional - Marinha

Época Construção

Séc. 15 / 16 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO: Giacomo Paleari Fratini (1590). MESTRE-DE-OBRAS: Pero Anes (1505).

Cronologia

1488 - segundo Garcia de Resende na crónica de D. João II, o rei manda fazer a torre de Cascais "com sua cava, com tanta e tão grossa artilharia que defendia o porto"; 1494 - obras na torre, construída sobre um esporão rochoso; 1505, agosto - Pero Anes, homem das obras que o rei tinha em Cascais, apresenta à Câmara um regimento pelo qual o rei ordena que os moradores das vilas de Colares, Cheleiros, Mafra, Ericeira e Reguengo da Carvoeira concorram para as obras de Cascais, que, segundo parece, constam de uma torre, muralhas e outras fortificações; 1508 - novo imposto de $035 sobre as mesmas populações para os muros da vila e "obras de Cascais", não se especificando quais; séc. 16, finais - a torre de Cascais designa-se de Santo António e tem no interior uma pequena capela; 1572, anterior - publicação de "Civitates Orbis Terrarum", de G. Bráunio, na Alemanha, com uma perspetiva da costa de Cascais, representando-se a vila muralhada e a torre *2; 1579 - 1580 - na "Descrição do Rio de Lisboa" de Filipe Térzio não é assinalado qualquer ponto fortificado junto à vila, levando a concluir que a fortaleza de Nossa Senhora da Luz ainda não está construída; 1580, 27 julho - o duque d'Alba escreve a Filipe II dizendo que para se fazer chegar as tropas espanholas a Lisboa havia três alternativas: entrar por Santarém, forçar a barra, a hipótese mais temerária, ou desembarcar as tropas em Cascais, o que lhe parecia reunir as melhores condições; 28 julho - desembarque do Duque de Alba resultando numa fácil derrota portuguesa *3; D. Diogo de Meneses, perante a deserção das tropas, refugia-se com os seus homens no castelo da vila; 29 julho - o duque de Alba pede a rendição, o que ocorre no fim do dia; enforcamento do alcaide Henrique Pereira e de dois artilheiros da torre, e decapitação de D. Diogo de Meneses; 1589 - perante as constantes ameaças da armada inglesa, D. Filipe II envia Vicenzo Casale a Cascais para reconhecer o local e avaliar a necessidade de o reforçar; 1590 - planta de Giacomo Paleari Fratini representa pela primeira vez o forte de Nossa Senhora da Luz, no local da torre, não assinalando o pátio interior e sem constar na legenda; fevereiro - planta da vila de Cascais de Vicenzio Casale já legendado a representação do forte; 1594, 22 janeiro - planta da vila de Cascais, de autor desconhecido, existente no Archivo General de Simancas, designa a fortificação por "Fortaleza velha como esta ao presente"; para além de representar o forte da Luz, surge também desenhado o que se previa para o seu fortalecimento e que corresponde, grosso modo, à Cidadela que veio a ser construída posteriormente; 1596 - carta de Nuno Orejon, governador da praça de Cascais, afirmando que a nova fortificação ainda está por acabar e manifesta-se contra os trabalhos em curso, por não corresponderem ao que considerava importante, já que anualmente era necessário refazer as trincheiras que protegiam a fortaleza; para ele, esta devia ser diferente e não acabada como estava a ser, sendo uma "torre tão ordinária que só serve para guardar artilharia e petrechos"; 1597, 28 abril - planta de Leonardo Turriano representando a Fortaleza da Luz e "uma trincheira que há-de efectuar-se para su defensa", que envia ao rei com um parecer sobre o reforço de Cascais *4; 1600 - rei ordena a progressão das obras e seu custeamento pelas rendas das tércias *5; 1623 - carta a Filipe III refere que essas ordens nunca foram acatadas por não serem escritas em português e que o dinheiro das tércias fora aplicado noutras coisas *6; o dinheiro empregue nesta altura em Cascais serve apenas para custear trincheiras e pagar soldados, armas e munições; séc. 17 - a capela da torre é dedicada a Santa Bárbara, padroeira dos artilheiros; 1625 - início das obras da Cidadela suportadas pela Câmara; 1632 - a cidade de Lisboa empresta 14 000 cruzados para as obras, não se sabendo para que tipo de trabalhos; 1640, 10 dezembro - a fortaleza rende-se sem resistência a D. Gastão de Coutinho; 19 dezembro - Martim Afonso de Melo, conselheiro de guerra, é nomeado Governador da Praça de Cascais; o Conselho de Guerra ordena-lhe que "fosse assistir em Cascais e tratasse de reparar e acrescentar as fortificações"; 1641 - sob a direção de Simão Mateus, começam ou recomeçam as obras, sensivelmente com a traça que tinha sido desenhada 50 anos antes; 1642, 22 março - nomeação do francês Charles Lassart como engenheiro-mor do reino, ficando as obras da Cidadela sujeitas à sua superintendência; Simão Mateus é substituído por Philipe Guitau, que introduz algumas alterações ao plano de Mateus; pouco depois, é designado governador da praça de armas o conde de Cantanhede, D. António Luís de Meneses, recebendo instruções para inspecionar as fortalezas e praças de guerra e reformular a defesa do acesso marítimo à capital; 13 maio - escreve a D. João IV pondo em causa questões técnicas da obra de Philipe Guitau; o Conselho de Guerra determina que Jorge de Melo e dois religiosos do colégio de Santo Antão inspecionem as obras; 1647 - substituição de Guitau pelo jesuíta João Paschasio Cosmander, para dar parecer sobre os aquartelamentos a fazer na fortificação; 1650 - é chamado o engenheiro Nicolau de Langres para continuar as obras de fortificação da praça de Cascais e dos fortes dependentes, que apresenta três amplos projetos *7; construção do revelim protegendo a entrada do Forte da Luz e das muralhas da praia; 1715, 29 junho - relatório do coronel Xavier Teles sobre o estado da Cidadela; considera muito conveniente a feitura de dois armazéns de pólvora, um na cidadela, no meio do baluarte sobre a rocha para a parte de São Sebastião, e outro na Fortaleza, numa pequena plataforma ou cavaleiro que havia sobre a ermida de Santa Bárbara, ou também encostada a ela sobre a abóbada do paiol da mesma fortaleza por serem estes sítios os mais altos e retirados dos quartéis da Cidadela e da população; 1755, 01 novembro - terramoto provoca graves danos na estrutura da torre, rachando as paredes, abatendo o telhado, tetos e soalho e destruindo a capela; as muralhas ficam contudo intactas; 1758, 06 abril - segundo o reitor Manuel Marçal da Silveira, nas Memórias Paroquiais, a fortaleza tem fosso, mas não recebe água do mar, e ainda lhe faltam os parapeitos à altura necessária e as canhoneiras; 1807, 30 Novembro - ocupação de Cascais pelas tropas de Junot, chefiadas pelo general de Brigada de Cavalaria Barão Maurin; 13 dezembro - a bandeira francesa é içada na cidadela; 02 setembro - entrada da esquadra britânica no Tejo e entrega das fortalezas de Cascais, São Julião e Bugio aos ingleses; 1823, 14 abril - ofício do governador António Joaquim Bandeira ao General da Província informando que no caminho coberto da praça para o baluarte e cavaleiro sobre a praia e porta da vila, caiu um lanço de muralha imediato ao fosso da praça com cerca de sete braças; 16 julho - o conde de Sub-serra é informado pelo comandante do Real Corpo de Engenheiros que a reparação da ruína e de mais algumas obras no forte da Luz, Conceição e Santa Marta custam 45$460 e podiam ser feitas pelos obreiros militares; posteriormente ordena-se a sua reparação; 1831, 11 fevereiro - Conde de S. Lourenço comunica ao conde de Barbacena, Chefe de Estado-maior do Exército, que fora dada ordem ao brigadeiro Intendente e Fiscal das Obras Militares para mandar construir uma latrina na bateria de Nossa Senhora da Luz devido à chegada de alguns presos políticos; a obra custaria 30$000 *8; 1832, 14 fevereiro - na inspeção da fortificação pelo Marechal de Campo, Inspetor das Fortalezas e Artilharia do Reino, Gabriel António de Castro, dá a cidadela com boas baterias, embora fosse necessário melhorar a bateria da Luz onde estavam instalados os morteiros, sem espaldão, o que impossibilitaria que fossem servidos em ocasião de fogo; 18 fevereiro - o inspetor aconselha a construção de uma ligação entre a bateria dos Artilheiros (sul) e a da Luz; 1866, 29 maio - instalação da estação telegráfica no forte da Luz; 1870, 08 abril - ofício informa que a Casa Real escolhe o quartel do governador na cidadela como residência provisória; 1880, 06 novembro - segundo relatório do tenente-coronel Domingos Pinheiro Borges, quase todo o dispositivo defensivo está bastante degradado; 1890, 08 abril - formalização da cedência à Câmara da parcela de terreno do Passeio Maria Pia; 17 abril - dá-se o nome de Passeio Maria Pia à esplanada da Cidadela; 1891, agosto - autorização para a reparação da ponte de madeira que liga a fortaleza à estação telegráfica; 1895 - planta mostra a existência de um depósito de material de guerra no revelim ou posição de artilharia mais ou menos triangular, virado à baía; a Avenida D. Carlos I havia sido construída sobre o aterro da metade mais oriental do fosso; 1897 - os peritos militares consideram que a fortaleza servia de defesa militar, tendo um tipo de servidão diferente da aplicada às terrestres *9; 1898 - informação de que o terrapleno fora nivelado entre as portas do casino e o muro da fortificação, demolida uma guarita e outra parcialmente demolida; construção de assentos junto ao muro da fuzilaria; 1899, abril - alargamento da Av. D. Carlos, demolindo-se parte da muralha, sem autorização do Ministério da Guerra; 1899, 07 setembro - Decreto classifica a cidadela como fortificação de 2ª classe; 1911, 15 março -concede-se à Câmara o usufruto da Cidadela e seus anexos, por 30 anos renováveis, para a construção de um hotel, obrigando-se a pagar ao Ministério da Guerra 50% da renda anual, depois de deduzidos os valores do empréstimo que ia realizar para adaptar o edifício a unidade hoteleira; ficava assegurado o funcionamento da estação semafórica, instalada na Fortaleza da Luz; 09 novembro - ofício do presidente da Comissão Administrativa da Câmara, Fausto de Figueiredo, ao coronel Inspetor das Fortificações do Campo Entrincheirado de Lisboa, dizendo não concordar com as cláusulas de cedência visto a fortificação ter valor militar nulo; 1914 - Ministério das Finanças resolve isolar o edifício Santa Catarina, o palácio e a capela da restante fortificação pertencente ao Ministério da Guerra; 1916, 22 julho - cedência de um armazém ao Ministério da Marinha para instalação do salva-vidas, provavelmente na bateria este, junto à saída para o mar, que existia no fosso da Fortaleza da Luz; 1972 - instalação da estação rádio naval na fortaleza da Luz; 1987, 02 Junho ? plano de construção da Marina aprovado pela Câmara; 1990 - protocolo entre a Câmara, a Sociedade de Propaganda de Cascais e o Centro de Estudos das Fortificações Marítimas, pelo qual o Centro se comprometia a fazer um trabalho de investigação para publicação sobre as fortificações marítimas do concelho e a preparar a musealização da fortaleza de Nossa Senhora da Luz; 1992 - propõe-se à Câmara novo protocolo com o Ministério da Defesa (de quem a fortaleza de Nossa Senhora da Luz dependia), para se proceder à sua recuperação e abertura ao público; 1994 - assinatura de protocolo entre a Câmara de Cascais e o Ministério da Defesa; 1999, 26 março - cedência à Câmara da área designada por fosso com 6 765 m2; 2003, 31 outubro - protocolo entre os Ministérios das Finanças e da Defesa Nacional e a Câmara para utilização de parte do prédio militar 12/Cascais, designado por Cidadela de Cascais, pelo Município; 2004, 27 dezembro - auto de afetação e entrega à Câmara de Cascais da parte do P.M. 12 / Cascais, exceto a faixa do meio baluarte palácio e capela e forte Nossa Senhora da Luz; 2005, 05 fevereiro - auto de entrega do P. M. à Câmara; 2006, 26 junho - Resolução do Conselho de Ministros nº. 79/2006, para desafetar do domínio público militar e integrar no domínio privado do Estado, afeto ao Ministério da Defesa Nacional, parte de P.M. 12 / Cascais designado fosso da Cidadela; e autorização da cessão a título definitivo ao município de Cascais, mediante o pagamento de uma compensação de € 2 295 000, a liquidar em quatro prestações anuais; 2009, 03 março - Despacho conjunto nº 159/2009 formaliza a reafetação ao município de Cascais, pelo prazo de 35 anos, mediante o pagamento de € 4 500 000, de parte do PM 12 / Cascais - fortaleza da cidadela; prevê-se a adaptação da fortaleza a museu com projeto dos arquitetos Cristina Guedes e Francisco Vieira de Campos; 2011, 24 maio - proposta de fixação de Zona Especial de Proteção Conjunta da Casa de Santa Maria, Palácio dos Condes de Castro Guimarães, do Forte de Santa Marta, da Cidadela de Cascais e respetivos imóveis e o Marégrafo; 10 outubro - parecer da Comissão Nacional de Cultura a propor que sejam fixadas Zonas Especiais de Proteção para cada um dos imóveis; 2013, 31 outubro - publicação do projeto de decisão de fixação da Zona Especial de Proteção conjunta da Cidadela de Cascais (v. IPA.00006052), da Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, do Marégrafo de Cascais (v. IPA.00006055), do Palácio do Conde de Castro Guimarães (v. IPA.00006066), da Casa de Santa Maria (v. IPA.00022905), do Jardim da Casa de Santa Maria (v. IPA.00030557) e do Forte de Santa Marta (v. IPA.00006053), em Anúncio n.º 340/2013, DR, 2.ª série, n.º 211.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de calcário ou em alvenaria de calcário, aparente ou rebocada; cunhais, molduras dos vãos e outros elementos em cantaria de calcário; placas de betão; cobertura de betão ou de telha.

Bibliografia

AZEVEDO, Carlos, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano - Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1963, vol. II; BARROS, Maria de Fátima Rombouts, BOIÇA, Joaquim Manuel Ferreira, RAMALHO, Maria Margarida Magalhães - As fortificações marítimas da costa de Cascais. Lisboa: Quetzal, 2001; BOIÇA, Joaquim M. F. - "Cascais no sistema defensivo do Porto de Lisboa". In Monumentos. Lisboa: Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, 2011, n.º 31, pp. 24-33; CARDOSO, Guilherme - Cascais Passado a preto e branco. S.l.: Associação Cultural de Cascais, 1988; Cascais em 1755 - do terramoto à reconstrução. Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2005; COSTA, António José Pereira da - A Cidadela de Cascais (Pedras, Homens e Armas). Lisboa: Estado-Maior do Exército, Direcção de Documentação e História Militar, 2003; ENCARNAÇÃO, José d' - Cascais guia para uma Visita. Lisboa: Câmara Municipal de Cascais, 1983; Exposição Patrimónios de Cascais. Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2003; GUEDES, Cristina, CAMPOS, Francisco Vieira de - Reabilitação da Fortaleza da Luz. Núcleo Cascais XXI. Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2007; RAMALHO, Margarida de Magalhães - "A defesa de Cascais". In Monumentos. Lisboa: Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, 2011, n.º 31, pp. 34-45; RAMALHO, Margarida de Magalhães - "A Torre de Cascais". In A Arquitectura Militar da Expansão Portuguesa. Porto: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1994, pp. 96-100; RAMALHO, Margarida de Magalhães - Uma Corte à beira-mar 1870 - 1910. Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2003; SOUSA, Maria José Pinto Barreira Rego - Cascais 1900. Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2003; VIEGAS, João da Cruz - As comunicações de Cascais para Lisboa terrestres, ferroviárias, marítimas, postais, telegráficas e telefónicas. Cascais: Museu-Biblioteca do Conde de Castro Guimarães, 1940.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; DGA/TT: Concelho de Guerra (Decretos, Maço 6, n.º 52); Direção de Infra-Estruturas do Exército Português: Repartição do Património - Concelho de Cascais - Tombo dos Prédios Militares

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, SIPA

Documentação Administrativa

Direção de Infra-Estruturas do Exército Português: Repartição do Património - Concelho de Cascais - Tombo dos Prédios Militares.

Intervenção Realizada

1755 - nas obras realizadas na torre após o terramoto, remodelou-se totalmente a fenestração da sua fachada virada a norte; CASA REAL: 1897 - obras de reparação dos quartéis da Fortaleza da Luz e da ponte sobre o fosso desta; CM Cascais: 1985 / 1986 / 1987 / 1988 / 1989 / 1990 / 1991 / 1992 / 1993 - realização de escavações arqueológicas, demonstrando que a cintura defensiva foi várias vezes intervencionada, não possuindo homogeneidade construtiva; 2006 / 2007 - elaboração do projeto de reabilitação da Fortaleza da Luz, pelos arquitetos Cristina Guedes e Francisco Vieira de Campos, prevendo a criação de um centro interpretativo da arquitetura militar; o projeto optou por uma intervenção de mínimo impacto, com os novos elementos de paredes e tetos em estruturas leves e soltas, de modo a permitir uma leitura global do espaço; prevê a criação de passadiços para vencer as diferentes cotas, volumes ou plataformas permitindo recriar os diferentes níveis e revelar toda a altura dos espaços; propõe manter intactos os espaços interiores dos baluartes, valorizando-os através de uma intervenção "quase imaterial", através da iluminação e som; propõe ainda reabilitar os elementos pré-existentes, como as molinetas manuais, canhoneiras, o forno e ativar os respiradouros ou claraboias das coberturas.

Observações

*1 - A Fortaleza da Luz e a Torre foram classificadas conjuntamente com a denominada Cidadela de Cascais. *2 - No album "Civitates Orbis Terrarum", a torre é representada com planta quadrangular, de paramentos aprumados, terminados em parapeito ameado, tendo em todos os ângulos balcões e sendo coberta por telhado de quatro águas. Tinha adossado corpo retangular mais estreito e mais baixo. Ambos os corpos eram circundados pelo lado do mar por uma muralha, rasgada por três canhoeiras num plano intermédio. Era acedida por duas portas: uma, sobrelevada, na face nascente da torre, e que foi detetada durante as escavações de 2005, e outra ao nível do piso térreo do corpo adossado. A torre teria no piso térreo o paiol, sendo os outros pisos reservados para aquartelamento e casa do alcaide. Durante as sondagens arqueológicas de 2005, verificou-se que o primitivo anexo teria sido ampliado durante a vida útil da torre. O novo edifício passava a ter a mesma largura da torre indo, no sentido do comprimento, encostar ao pano de muralha virado à baia. *3 - Segundo o cronista Frei Manuel Homem, a defesa da barra do Tejo tinha sido reconhecida com grande pormenor pelo engenheiro João Batista Antoneli, o que terá facilitado a ação do exército castelhano, bem como uma deficiente preparação da defesa que "foi tão pouca que podemos afirmar que foi nenhuma". No dia 29 de julho, aproveitando estar a armada imobilizada no Cabo Espichel devido ao mau tempo, o duque fazia um relatório, para ser enviado ao rei, explicando a estratégia de desembarque que iria ser utilizada em Cascais; o local escolhido era a laje do Ramil, onde se planeava que desembarcasse o general Sancho de Ávila com 1500 piques da infantaria alemã e 3 companhias de arcabuzeiros de Nápoles, formando logo um esquadrão; em seguida desembarcaria todo o resto da infantaria dos terços de Nápoles, Lombardia e Sicília, com os quais se constituiria outro esquadrão; entretanto, e como manobra de diversão, as galeras que não transportassem esses soldados avançariam sobre Cascais, para aí concentrar a atenção dos possíveis resistentes; o duque de Alva pensava ainda que, como D. António de Castro, senhor de Cascais, era partidário de Filipe II, não deveria haver grande oposição pela população. *4 - Neste parecer, Leonardo Turriano afirma: "Haciendo de poner en defensa con brevidad el sitio de Cascaes, niguna fortificacio se puede hacer mas presto, ni de menor costa, ni de menos provecho que determinada [...]. Todo lo qual se considera [por la brevedad] mas semejante a trincheas que a muralhas; i haviendo [por las racones referidas] deste modo la dicha fortificacion determinada de la manera que las muralhas no hagan falta, i que lo qal presente se hiciere quede provecho despues; soi desaparecer que se levante de tierra la dicha fortificacion por igual, que con el aviamento necessario i con alguna cal i madera se pendra en defensa en 45 dias con cinco ou seis mil ducados". *5 - Esse dinheiro: "Se ha ponerem uma arca de qutrollaves las cuales han de tener una el dicho Vedor general, otra el dicho Leonardo Turriano, la tercera Pagador y la cuarta la dicha persona que nombrare el Marques de Castel Rodrigo. Dentro de la dicha arca ha de haber un libro encuadernado en que se assiente el dinero que se fuere metiendo en ella y el que se sacare, con dia mes y año, declarando para que efectos, y para la saca y entrada de cualquier partida han de concurrir todas las dichas cuatro llaves sin que los que las tienen las puedam dar uns a otro sino fuere en caso de enfermedad ó por outro formozo y justo impedimento". *6 - O dinheiro das tércias fora aplicado "y de algun tiempo á esta parte para la compra de las naves de la India dejando cuatro ó seis mil ducados para reparos y por ser suma tan costa no se ha podido acudir con ello Á cosa ninguma; encomenda a Gerónimo de Soto e a Leonardo Turriano de duas relações do que era preciso fazer e os respectivos orçamentos; na de Gerónimo de Soto seriam necessários 490 mil ducados para pôr "en perfection las fuerzas del Reyno de Portugal" e 50 mil ducados "para acavar el castillo de Cascaes conforme la traza de Tibúrcio Espanoqui"; na de Turriano com 89 mil e 900 ducados acudia-se ao que era mais necessário e especifica-se que o seu orçamento não inclui o "castillo de Cascaes". *7 - No primeiro projeto de Nicolau de Langres, a vila seria rodeada por muralhas e baluartes até à ribeira; daí partiria outra cintura de muralhas que envolveria o forte de Santa Catarina e cobriria a este, pelo lado de terra, os arrabaldes da vila; o segundo projeto, idêntico, manteria a cidadela anteriormente projetada; e o terceiro reforçaria o Forte da Luz com um revelim e a cidadela com um fosso e dupla muralha pelo lado de terra; preconizava, ainda, a construção de uma cortina que, seguindo a linha da enseada, terminasse no forte de Santa Catarina. *8 - Segundo relatos de alguns prisioneiros, a Fortaleza da Luz era chamada de "inferninho". João Baptista da Silva Lopes relata que os presos, depois de estarem no pátio da cidadela, desciam para a fortaleza por uma escada de muitas voltas, estreita e escura; aos dezassete degraus encontravam umas casas pequenas e, continuando a descer mais, chegavam a um pátio triangular, com vinte e dois passos de lado, tendo uma cisterna próxima a um deles e cinco escadas para outros tantos cubículos, de dois andares e lojas, no total de vinte e duas casinholas, onde acomodavam duzentos e quarenta e um indivíduos, que ficavam muito apertados e sem camas ou coisa de comer nem comodidades. *9 - A servidão militar foi definida em 1897 das faces sul e este desde o meio-baluarte da bateria alta da Ribeira, ou de Santa Bárbara, com o cunhal sudoeste da Alfândega de Cascais, até à orla marítima e seguindo depois pela mesma orla, e na direita pela direção do tiro extremo segundo a linha que unia o saliente do meio-baluarte da bateria dos Artilheiros ao Forte de Santa Marta. Em 1909 os peritos militares consideram que não se deveria aplicar, de forma cega, a servidão militar da cidadela, o que implicaria a demolição de várias edificações; por isso, apela-se para um projeto de lei remetido à Secretaria da Guerra, em 11 março, em cujo art.º 35 refere a possibilidade da servidão militar ser limitada pela esplanada "tal como está hoje traçada, isto é, delimitada pela estrada pública que contorna as duas frentes terrestres da praça e pelo caminho de gola da antiga linha de fusil que existia na margem esquerda da Ribeira do Mocho"; assim, é aplicada a proposta de servidão militar proposta em 1897.

Autor e Data

Paula Noé 2015

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