Capela de Santa Marta

IPA.00005591
Portugal, Lisboa, Mafra, Ericeira
 
Arquitectura religiosa, barroca. Capela de planta longitudinal composta por nave e capela-mor mais estreita, com coberturas internas diferenciadas, de madeira em masseira na nave, formando caixotões simples, e em falsa abóbada de berço na capela-mor, iluminada unilateralmente por janelas rasgadas na fachada lateral direita, recebendo luz pela fachada principal, possuindo um anexo adossado à fachada lateral esquerda, de dois pisos. Esta é em empena recortada, rasgada por portal de verga recta, encimado pelo janelão do coro e ladeado por janelas em arco abatido. As fachadas têm os cunhais pintados e rematam em cornija e beirada simples, a lateral direita rasgada por porta travessa de verga recta. Interior com coro-alto de perfil convexo, assente em pilares toscanos e em mísulas, apresentando as paredes ornadas por marmoreados fingidos, com púlpito facetado no lado do Evangelho, com acesso pelo anexo. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas almofadadas e pedra de fecho saliente, que acede à capela-mor, com retábulo tardo-barroco, com decoração marmoreada, de planta convexa e um eixo, possuindo, ainda, painéis de azulejo setecentistas, com representações hagiográficas. Capela exteriormente muito simples, revelando uma ampliação do antigo imóvel, tendo, como únicos elementos mais eruditos, a empena recortada, com cornija angular no ângulo e portal de verga recta, com moldura recortada e remate em frontão sem retorno, com tímpano almofadado e lacrimais, revelando uma tentativa de introdução de dinamismo na fachada principal. Apresenta as janelas em arco abatido, revelando que foram rasgadas, certamente para permitir iluminar mais intensamente a capela, nas obras do séc. 18, data que se pode aplicar, também, à porta travessa, rasgada na fachada lateral direita. Mantém a casa da confraria adossada ao lado esquerdo, sobre a qual surge uma sineira. O interior contrasta fortemente com a simplicidade exterior, apresentando-se totalmente pintado a escaiola, formando apainelados, excepto sobre o arco triunfal, onde talvez possui-se uma estrutura de talha ou outro tipo de pintura, de carácter figurativo. Tem cobertura de madeira em masseira, dividida em caixotões, mas com decoração simples. Na capela-mor, surgem painéis de azulejo rococó, com molduras repletas de rocalhas, que enquadram cenas figurativas e símbolos marianos, correspondendo, certamente, à data de execução do retábulo, com estrutura tardo-barroca, de planta convexa e um eixo, onde predominam as pinturas em marmoreados fingidos, com a boca da tribuna rendilhada e remate em frontão interrompido por espaldar contracurvo, de inspiração borromínica.
Número IPA Antigo: PT031109060050
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta longitudinal, composta por nave e capela-mor mais estreita, com corpo adossado ao lado esquerdo, de volumetria escalonada, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na nave e capela-mor e de uma água no anexo. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com faixa e cunhais pintados de azul, rematadas em cornija e beirada simples no templo e em beirada no anexo. Fachada principal virada a E., rematada em empena recortada e volutada, terminando em cornija angular, com cruz latina metálica no vértice; os cunhais apresentam pináculos bojudos e cónicos, rebocados e pintados de branco. A fachada é rasgada por portal *1 de verga recta, com moldura de cantaria recortada e frontão semicircular sem retorno, com o tímpano almofadado, com pingentes na zona superior; encontra-se protegido por porta de madeira de duas folhas com almofadas, decoradas por motivos fitomórficos e geométricos, sendo ladeado por duas janelas em arco ligeiramente abatido, com molduras de cantaria recortadas, protegidas por portadas interiores em madeira. Sobre o portal, o janelão do coro, rectilíneo e com moldura recortada, formando falsos brincos e alteada e curva na verga, sobrepujado por painel ovalado com estrela de oito pontas. No lado esquerdo, o corpo anexo, rematado em empena em ressalto, de dois pisos, o inferior rasgado por janela de varandim, com guarda metálica e o vao com moldura saliente, pintado de cinza, encimado por janela de peitoril, com moldura de cantaria, recortada; sobre a empena, sineira de cantaria aparente, em arco de volta perfeita, assente em impostas salientes e rematado por cornija angular. Fachada lateral esquerda virada a N., marcada pelo corpo do anexo *2, de dois pisos, o inferior rasgado por duas portas de verga recta e moldura simples de cantaria e por dois óculos circulares, também emoldurados, surgindo, no piso superior, uma janela de peitoril com moldura simples, saliente e pintada de cinza e um óculo circular, semelhante aos do piso inferior. Fachada lateral direita virada a S., rasgada por porta travessa em arco em asa de cesto, com dupla moldura recortada, protegido por porta de madeira de duas folhas almofadadas, encimado por janela com moldura recortada, pintada de cinza, formando saliências nos ângulos. A capela-mor possui janela semelhante à anterior, mas de maiores dimensões e protegida por grades. Fachada posterior em empena, que se prolonga sobre o anexo, este rasgado por janela semelhante às anteriores e protegida por grades, encimada por respiradouro circular. INTERIOR com a nave de paredes pintadas, formando lambris a imitar cantaria, e com escaiola no nível superior, criando dois pisos de apainelados, formando marmoreados fingidos vermelhos, verdes e amarelos, com falsas molduras recortadas de cantaria branca, tendo cobertura de madeira, em masseira, formando caixotões pintados de várias tonalidades (verde, vermelho), com molduras brancas, assentes em friso denticulado; pavimento em soalho encerado. Coro-alto de perfil convexo, assente em dois pilares toscanos com fustes almofadados e em duas mísulas laterais, com guarda de madeira em balaústres, pintados de marmoreados fingidos, que encimam uma base ornada por rosetões e concheados. O tecto do sub-coro forma três apainelados e, na convexidade, um círculo com estrela de oito pontas, envolvido por coroa de louros. A ladear o portal axial, duas pias de água benta hemisféricas, com o interior concheado, em cantaria de calcário vermelhão. No lado do Evangelho, um confessionário em madeira encerada. No lado do Evangelho, púlpito hexagonal, assente em bacia de cantaria facetada e ornada inferiormente em campânula invertida, protegido por guarda plena em talha policroma, formando apainelados de diferentes dimensões, com fundos marmoreados fingidos e decoração dourada de rosetões e entrelaçados; tem acesso por porta de verga recta com moldura de cantaria. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas de fustes almofadados, com pedra de fecho saliente, onde subsistem vestígios de um antigo lampadário. Capela-mor com cobertura em falsa abóbada de berço, rebocada e pintada de branco, com pavimento em lajeado de calcário e as paredes revestidas por azulejo de monocromia, azul sobre fundo branco, formando silhar, com molduras policromas, recortadas internamente, formando rocalhas, asas de morcego e acantos, a representar, no lado do Evangelho, uma "Anunciação" e, no lado oposto, uma "Natividade", a qual possui um painel anexo, com um símbolo mariano, o Sol, rodeado por anjos; a ladear o arco triunfal, azulejos de enchimento, compondo uma pilastra com o fuste decorado por asas de morcego e acantos. Superiormente, as paredes possuem pinturas semelhantes às da nave. Na parede testeira, o retábulo-mor, de talha polícroma, com marmoreados fingidos, de planta convexa e um eixo formado por colunas coríntias duplas, com o terço inferior estriado de maneira distinta, que sustentam friso, cornija e frontão interrompido, que centra cartela recortada, com as iniciais "AM", encimadas por coroa real fechada, e cria uma cornija interna, contracurva, de inspiração borromínica; ao centro, tribuna em arco de volta perfeita, com o interior coberto em gamela pintada de azul e vermelho, contendo trono de três degraus, ornado por tocheiros de madeira dourada; altar paralelepipédico, com marmoreados fingidos e flanqueado por volutas, sobre o qual surge banqueta de madeira, decorado por motivos fitomórficos dourados. A estrutura foi prolongada por toda a parede testeira, sendo ladeada por dois apainelados com molduras e mísulas, em forma de ampla consola, encimadas por falsos baldaquinos, criados por um jogo de folhas de acanto; na base destes, surgem duas portas em arco de volta perfeita, de acesso à tribuna. O friso do retábulo prolongou-se para as zonas laterais, sustentando um tímpano semicircular composto por apainelados, divididos por aduelas no sentido do raio e decorados por cartelas. No lado do Evangelho, porta de verga recta, com folha almofadada, decorada por elementos dourados, de acesso à sacristia e anexos.

Acessos

Largo de Santa Marta. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,961864; long.: -9,418329

Protecção

Em estudo

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado no centro de um amplo largo, que forma um ligeiro declive, no centro de um passeio pavimentado a calçada de calcário, confinando com a via pública, pavimentada a calçada de basalto. A fachada encontra-se virada para o Oceano Atlântico e, no lado esquerdo, sobre o passeio que a envolve, formando uma pequeno adro aberto, surge um canteiro alto, rectangular, onde se ergue um pinheiro, surgindo, no lado oposto, duas pequenas árvores e alguns bancos de cantaria, rectangulares. Junto à fachada posterior, um candeeiro de iluminação pública, um contentor de serviço postal, bem como sinais de trânsito. O acesso frontal ao templo, vencendo o desnível, é efectuado por vários degraus de cantaria.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1484 - encontrava-se em construção uma primeira ermida com este orago; 11 Junho - Gomes Leite foi condenado, em audiência nos Paços do Concelho, a entregar uma pedra pertencente para o altar, que se encontrava num terreno que ele acabara de vender; 1578, 8 Maio - realiza-se uma procissão da primitiva ermida de Santa Marta até à igreja paroquial de São Pedro (onde é publicada, pelo dominicano Frei Luís de Cácegas, a bula da Santa Cruzada); 1620 - o visitador eclesiástico, Dr. João Travassos, recomenda que a Câmara da Ericeira nomeasse ermitão para a Capela, pois era da sua apresentação; 1633 - o visitador eclesiástico, António Carvalho da Parada, recomenda ao ermitão que mantenha a porta da capela fechada a partir das Avé Marias, para que ninguém possa entrar para comer ou dormir nos locais sob pena de excomunhão; 1638 - o visitador eclesiástico, Francisco Correia reitera a ordem anterior; 1649, 9 Março - a Câmara deu posse de ermitães a Silvestre Gonçalves e à esposa, Maria da Mata, que receberam as alfaias e paramentos da Ermida; 1655 - o visitador eclesiástico, Manuel Dias da Costa manda que o pároco de São Pedro ordene que se retirem as vestes e cabeleira da imagem d Santa Marta, considerados, por ele, indecentes; 1673, 20 Junho - alvará régio autorizando a feitura de uma feira anual, a 25 de Julho, no local; 1758 - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo Padre Lucas Palhan Cordovil, é referida a existência da Ermida, situada na parte S. da vila, administrada pela população; 1760 - é demolida a antiga ermida de Santa Marta, por se encontrar muito arruinada e inicia-se a construção do actual edifício, em local um pouco distinto; execução do recheio decorativo do imóvel; 1848, 19 Setembro - a Câmara decide instalar na Capela 40 camas para aí estabelecer um hospital para os que haviam sido atingidos por cólera.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista, rebocada e pintada; cunhais, cornijas, modinaturas em cantaria de calcário; decoração em escaiola e estuque; grades em ferro forjado; coberturas, guarda do coro, retábulo em madeira.

Bibliografia

FRANCO, António Bento, Santa Marta no Passado, in Boletim da Comissão de Arte e Arqueologia, Fasc. 10, Mafra, 1957; ASSUNÇÃO, Guilherme, Mafra. Efemérides do Concelho, Lisboa, 1967; SILVA, Jaime d'Oliveira Lobo e. Anais da Vila da Ericeira (registo cronológico de acontecimentos referentes à mesma vila, desde 1229 até 1943), Mafra, CMF, 1985; GORJÃO, Sérgio, Arte Sacra - Museu da Santa Casa da Misericórdia da Ericeira, Ericeira, 1994; MACHADO, João Liberata, Visitações e Pastorais de São Pedro da Ericeira (1609-1855), Ericeira, Mar de Letras Editora, 1998.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSARH

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IGESPAR: IPPAR (pº nº 81/3(91)

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20 - tratamento de pinturas e rebocos; arranjo do interior e dos elementos decorativos de talha.

Observações

*1 - o acesso ao imóvel, que tinha o portal elevado relativamente à cota da via pública, processava-se por escadaria de dois lanços convergentes para um patamar junto ao portal, possuindo guarda plena de cantaria, formando três apainelados. *2 - este tinha apenas uma porta de verga recta e uma janela de peitoril no segundo piso, com um pequeno postigo, tendo os demais vãos sido rasgados em data posterior.

Autor e Data

Teresa Vale e Maria Ferreira 1999 / Paula Figueiredo 2008

Actualização

 
 
 
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