Convento de Nossa Senhora dos Anjos / Igreja de São Francisco de Azurara / Igreja de São Donato

IPA.00005382
Portugal, Porto, Vila do Conde, Azurara
 
Arquitetura religiosa, maneirista, barroca e rococó. Convento franciscano capucho, da Província da Piedade, de planta retangular irregular, composta por uma igreja, convento no lado direito da igreja. A igreja é de estrutura maneirista, de planta retangular, com nave antecedida por nártex, transepto inscrito e capela-mor mais estreita, iluminada unilateralmente por janelas em capialço rasgadas na fachada lateral esquerda do templo, pelas janelas da fachada principal e com coberturas diferenciadas em falsas abóbadas de berço, assentes em cornija Fachada principal rematada em frontão sem retorno, em cortina, rasgada pela serliana da galilé e pelo janelão do coro, ladeado por nichos com imaginária em cantaria. No interior da galilé, uma antiga capela no lado esquerdo e o acesso à portaria no direito, com portal axial em arco abatido. Interior com coro-alto, com guarda vazada e cadeiral de uma ordem. Lateralmente, surgem confessionários embutidos nos muros e dois púlpitos com guardas em talha rococó. Presbitério marcado por teia e, no falso transepto, capela no lado do Evangelho, com retábulo de talha rococó, e porta de acesso à zona regral no oposto. Arco triunfal de volta perfeita, ladeado por retábulos colaterais de talha policroma, tardo-barrocos. Capela-mor com supedâneo de degraus centrais, onde se ergue o retábulo-mor de talha rococó. No lado da Epístola, o acesso ao CONVENTO que se desenvolve em torno de claustro quadrangular. O exterior é marcado por vãos retilíneos e abatidos, com molduras simples de cantaria. Sacristia anexa à Via Sacra, possuindo arcaz, dois móveis e retábulo de talha rococó. Convento franciscano capucho do qual se mantém a igreja, cuja fachada principal foi reformada no final do séc. 18, como se verifica no remate em frontão em cortina e, sobretudo, no remate do campanário, de inspiração borromínica. A Capela de São Donato revela uma construção tardia, com o janelão do falso transepto em leque, revelando uma construção também do final do séc. 18. No interior, o cadeiral ostenta espaldar pintado, não muito comum na ordem e retábulos de talha rococó, também eles de boa qualidade de entalhe, destacando-se o da Capela de São Donato, com relicários em toda a sua extensão. Nesta, guarda-se o corpo de São Donato, transportado de Roma no séc. 18. A zona regral, muito alterada, mantém alguns vãos primitivos e foi construída uma torre oitocentista, revivalista neo-gótica, no extremo do conjunto. Apresenta, do mesmo período, dois púlpitos confrontantes, o do Evangelho com acesso pela Capela de São Donato e o oposto pelo falso transepto.
Número IPA Antigo: PT011316040016
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos Capuchos

Descrição

Planta poligonal irregular, composta por igreja com nave, capela-mor, transepto inscrito com capela adossada, tendo vários corpos adossados, de que se destaca, no lado S., uma torre. De volumes articulados e coberturas diferenciadas em telhados de duas e três águas. A IGREJA tem as fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por socos de cantaria, flanqueadas por cunhais apilastrados e rematadas em cornijas. Fachada principal virada a O., flanqueada por cunhais encimados por pináculos em forma de balaústre, rematando em frontão sem retorno em cortina, encimado por cruz latina sobre plinto galbado, contendo nicho em abóbada de concha com a imagem da padroeira. É rasgada por serliana, de acesso à galilé, sobrepujado pelo janelão do coro-alto de perfil em arco abatido, encimado por friso e com falso avental, onde surgem as armas dos Franciscanos; o janelão está flanqueado por dois nichos em abóbada de concha, assente em mísulas e rematado por friso boleado, contendo as imagens em pedra de São Francisco e Santo António. Os vãos, protegidos por teias de madeira pintada de verde, dão acesso a galilé com pavimento em lajeado de granito e cobertura em falsa abóbada de aresta; frontal, o portal axial em arco abatido, tendo, lateralmente, dois vãos de volta perfeita, o do lado direito de acesso à zona regral. No lado direito, corpo com duas janelas quadrangulares, encimada por janela de sacada com bacia em cantaria com guarda vazada em ferro forjado, para onde abre porta-janela em arco abatido. Sobre o remate, dupla sineira de volta perfeita, rematada por frontão sem retorno, de perfil contracurvo, de inspiração borromínica, sobrepujado por cruz latina. Fachada lateral direita rasgada por janela em capialço, no corpo da nave, sendo marcada pelo corpo saliente da Capela de São Donato, rasgado por fresta na face O., tendo, sobre o corpo, janela em leque e moldura simples que ilumina o transepto; no corpo da capela-mor, uma segunda janela. Fachada lateral direita parcialmente adossada ao corpo regral. Fachada posterior em empena com cruz latina no vértice, rasgada por janela retilínea e de moldura simples. INTERIOR com as fachadas rebocadas e pintadas de branco, com cobertura em falsa abóbada de berço, também rebocada e pintada, percorrida por faixas pintadas que formam falsas lunetas e pavimento em taburnos de madeira e réguas de cantaria. As janelas estão encimadas por sanefas de talha dourada, com lambrequins. Coro-alto retilíneo, com guarda de madeira vazada e acesso por porta de verga reta no lado da Epístola. Possui uma ordem de cadeiras, formando o cadeiral do coro, com espaldar retilíneo, ornado por painéis pintados com santos. O portal axial encontra-se protegido por guarda-vento de madeira encerada e vidro, ladeado por pias de água benta hemisféricas e embutidas no muro. Confrontantes, quatro confessionário embutidos na parede, com vãos de volta perfeita; ainda confrontantes, dois púlpitos quadrangulares com bacias de cantaria e mísulas revestidas a talha dourada, com guardas plenas de talha dourada, ornadas por concheadas e acantos, com as portas de acesso encimadas por sanefas de talha com lambrequins. No lado do Evangelho, a capela de São Donato, com acesso por arco de volta perfeita, assente em pilares toscanos e capitéis ornados por folhagem, estando encimado pela janela, com a moldura profusamente decorada. Tem cobertura em falsa abóbada de berço, rebocada e pintada de branco, iluminada por duas janelas e com duas portas, todas com molduras recortadas e remates em cornijas curvas, estas últimas encimadas por estruturas em talha, tendo, no topo, retábulo e o túmulo de São Donato. No lado oposto, a porta de acesso à zona regral. A nave está seccionada por presbitério, protegido por teia e elevado, dando origem a um falso transepto com cobertura em abóbada de aresta. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, encimado por sanefão recortado e vazado, decorado por frisos contracurvos, acantos e rocalhas, tendo, ao centro, as armas dos franciscanos. Está ladeado por dois retábulos colaterais, dedicados a São Francisco (Evangelho) e Santo António (Epístola). Capela-mor, com pavimento em lajeado e cobertura em falsa abóbada de berço, decorada por enorme rosetão de talha dourada recortada. Sobre supedâneo de três degraus centrais, dois altares confrontantes, o do Evangelho dedicado ao Crucificado, este encimado por sanefa de talha dourada. Na parede testeira, o retábulo-mor, de talha dourada e planta côncava, de três eixos definidos por quatro colunas torsas, percorridas por espira fitomórfica, assentes em consolas e plintos galbados, as primeiras unidas por apainelados decorado por acantos e enrolamentos. Ao centro, tribuna em arco abatido com boca rendilhada e fundo dourado, formando um resplendor que centra o trono expositivo de três degraus. Os eixos laterais têm mísulas, enquadradas por molduras recortadas, encimadas por concheado, criando falso baldaquino, tendo, na base, portas de acesso à tribuna. A estrutura remata em amplo frontão de lanços, profusamente ornado por concheados e encimado por folhagem vazada. Fronteira, a mesa de altar, em forma de urna e de talha dourada, ornada por cartela e com ângulos salientes e com frisos contracurvos. No lado da Epístola, a porta de acesso à Via Sacra e sacristia. A primeira possui teto em estuque e a sacristia possui retábulo dedicado a Nossa Senhora da Conceição, um arcaz de madeira simples e os armários dos cálices e amitos. CONVENTO de planta irregular, composto por alguns corpos da estrutura primitiva, possuindo um pátio, correspondente ao antigo claustro. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por embasamento de cantaria e rematadas em cornija e beirada simples, com cunhais em cantaria e evoluindo em dois pisos, rasgado por janelas retilíneas, as mais antigas, e em arco abatido, revelando a reforma setecentista do edifício. Perpendicular à igreja, um corpo de dois pisos, com fachada principal virada a N., com dois registos definidos por friso de cantaria, cada um deles rasgado por três vãos em arco abatido, correspondendo, no inferior, a porta e duas janelas de peitoril, encimadas por janela de sacada em cantaria e guarda de ferro, vazada, e duas janelas de peitoril; todos os vãos têm molduras simples e remate em pequeno friso de concheados. No extremo O., a torre, em alvenaria de granito aparente, rematada em ameias decorativas, rasgada por janelas em eixo trilobuladas, sendo as do piso superior bíforas e de perfis apontados. INTERIOR não observado.

Acessos

Travessa de São Francisco. WGS84 (graus decimais) lat.: 41,341273; long.: -8,736948

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 95/78, DR, 1.ª série, n.º 210 de 12 setembro 1978 (igreja)

Enquadramento

Peri-urbano, isolado, implantado em zona plana, mas mais elevada do que Azurara, que se avista do edifício, com acesso por pequena travessa, que parte de via pública municipal, tendo, fronteiro, o Cemitério. Encontra-se rodeado por campos de cultivo e a Capela de Nossa Senhora das Neves (v. IPA.00033287).

Descrição Complementar

O CORO-ALTO tem cadeiral com assentos fixos de madeira e braços volutados, encimados por espaldares retilíneos, seccionados em painéis pintados definidos por pilastras com os fustes decorados por entrelaçados e encimado por friso com o mesmo tipo decorativo e cornija, pintadas de marmoreados fingidos verdes e dourado. Os painéis representam santos de corpo inteiro com os seus respetivos atributos, identificados por legenda pintada, figurando no lado esquerdo, a seguinte sucessão: São Sebastião, São Roque, São Pascoal, São Berardo, São Pedro, Santo Acúrsio, Adjuto, Oton, Santa Margarida de Cortona, Santa Rosa de Viterbo, São Stefano, inquisidor-mor e São João Capristano; a ladear o janelão, sucedem-se: São Bernardino de Siena, Santo António de Lisboa, a Imaculada, São Francisco e São Boaventura. No lado direito: São Pedro de Alcântara, Santa Coleta, Santa Ângela de Foligno, São Domingos, Mártires do Japão, São Ludovico, Santa Clara e Santa Isabel de Portugal. A CAPELA DE SÃO DONATO com retábulo de talha dourada, de planta ligeiramente côncava, com um eixo definido por quatro colunas salomónicas, percorridas por espiras fitomórficas, assentes em duas ordens de plintos paralelepipédicos e em consolas, surgindo, nos intercolúnios, pilastras com capitéis coríntios e possuindo um eixo de pequenas edículas circulares, formando relicários. Ao centro, nicho de perfil contracurva com moldura saliente, contendo relicários, com o fundo pintado com motivos vegetalistas, enrolamentos e concheados, contendo vários relicários; tem peanha com imagem. A estrutura remata em friso com relicários, fragmentos de frontão e espaldar flanqueado por quarteirões e florões, contendo relicários e rematando em sanefa com frontão interrompido por cartela concheada, possuindo falsos lambrequins recortados com rocalhas. Os RETÁBULOS COLATERAIS são semelhantes, de talha dourada e pintada, de planta côncava e um eixo definido por duas colunas torsas, percorridas por espira fitomórfica, assentes em plintos galbados, dispostos em ângulo. Ao centro, nicho em arco abatido e boca rendilhada, com moldura dupla, rematando em cornija curva, que enquadra espadar curvo, ornado por enrolamentos; na base, enrolamentos criam uma falsa mísula. A estrutura remata em espaldar recortado, ornado por enrolamentos e concheados, sobrepujado por sanefa de cornija recortada, tendo espaldar vazado de concheados. Altar em forma de urna com cartelas concheadas centrais e ângulos decorados por rocalhas. O retábulo da sacristia é de talha dourada e pintada, de planta reta e um eixo definido por colunas de fustes pintados em marmoreados negros fingidos, lisos e com o terço inferior marcado e decorado por folhagem, com capitéis coríntios e assentes em pequenos plintos galbados; ladeada por duas pilastras exteriores. Ao centro, painel recortado com moldura saliente, enquadrado por duas pilastras com os fustes ornados por acantos, contendo painel de tela pintado, a representar Nossa Senhora da Conceição. A estrutura remata em fragmentos de frontão, que enquadram espaldar curvo decorado por resplendor e encimado por cornija e folhagem. Altar em forma de urna decorado por cartela e festões.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese do Porto)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADORES: Inácio José de Sampaio (1760-1777); João Correia de Sampaio (1760-1777).

Cronologia

518 - já existe o convento de frades Capuchos, da Província da Piedade; no local funciona um Noviciado; 1588 - os noviços são transferidos para São Frutuoso, em Braga; 1591 - iniciam-se as obras de remodelação do edifício (NEVES, 1965, p. 52); 1674 - demolição da igreja e início da construção da mesma; 1677 - regressa o Noviciado ao local; 1702 - feitura da sacristia; 1731 - feitura do campanário e dos sinos (NEVES, 1965, p. 52); 1750-1755 - terminam as obras de remodelação da igreja, com a colocação das imagens na fachada principal e conclusão do coro-alto; 1757, 28 abril - colocação do corpo de São Donato, transportado de Roma por Frei Francisco de Azurara, em capela própria, na igreja; 1758, 19 abril - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco Tomé Lopes Negrão, é referido o Convento capucho, com a invocação de Nossa Senhora dos Anjos, sem padroeiro; 1760 - conclusão das obras na Capela de São Donato; 1760-1777 - feitura do retábulo-mor por João Correia de Sampaio, de Seide, e Inácio José de Sampaio, de Landim; séc. 18, último quartel - obra de douramento da capela-mor, sanefas, banquetas da tribuna; 1831 - no edifício existem nove padres, doze noviços e pertence à Província da Soledade; 1834 - com a extinção das Ordens Religiosas, o mosteiro é vendido a José Monteiro da Silva, que o doou a Ezequiel Carneiro Pizarro Monteiro; 1883 - execução da obra do teto de estuque da galeria de acesso ao coro-alto e sacristia, segundo inscrição no estuque; 1930 - a família Pizarro Monteiro, então proprietária do Convento de São Francisco de Azurara, vende a igreja.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de granito, rebocada e pintada; cunhais, pináculos, frisos, cornijas, modinaturas, campanário, bacia do púlpito em cantaria de granito; pavimento da nave em taburnos de madeira e réguas de cantaria; cadeiral, portas, bancos e guarda do coro-alto de madeira; teias metálicas; retábulos de talha dourada e pintada; sanefas e sanefão de talha dourada.

Bibliografia

BARBOSA, Inácio de Vilhena - As Cidades e as Vilas da Monarquia Portuguesa que teem brasão d'armas. Lisboa: Typographia do Panorama, 1962, vol. III; CAPELA, José Viriato, MATOS, Henrique e BORRALHEIRO, Rogério - As freguesias do Distrito do Porto nas Memórias Paroquiais de 1758 - Memórias, História e Património. Braga: Universidade do Minho, 2000; FERREIRA, Monsenhor José Augusto - Vila do Conde e o seu alfoz. Origens e Monumentos. Porto: 1923; FREITAS, Eugénio de Andrêa da Cunha e - «Talha e azulejos da primeira metade do século XVIII em Azurara (Vila do Conde)», in Separata da Revista Bracara Augusta. Braga: 1973, vol. XXVII, fasc. 63 (75); GONÇALVES, Flávio - A Talha no Concelho de Vila do Conde, Catálogo da Exposição Fotográfica. Vila do Conde: Câmara Municipal de Vila do Conde, 1968; Guia de Portugal Entre Douro e Minho, I, Douro Litoral. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985; Inventário Artístico e Ilustrado de Portugal - Douro Litoral. Lisboa: Nova Gesta, 1992, vol. III; NEVES, Serafim das - Azurara Vila do Conde - Breve notícia histórica e etnográfica. Vila do Conde: Gráfica Santa Clara, 1964; PEIXOTO, Rocha - «Etnografia Portuguesa. Tabulae Votivae» in Revista Portugalia. Porto: 1906, tomo II, n.º 2; PEREIRA, João Maria dos Reis - «A Procissão das Cinzas de Vila do Conde» in Boletim de Vila do Conde. Barcelos: 1963, n.º 4; SMITH, Robert - The Art of Portugal 1500-1800. London - New York: Weidenfeld and Nicolson, 1968; SOLLA, Conde de Castro e - «Notas d'um antiquário» in Ilustração Vilacondense. Vila do Conde: 1912, ano III, n.º 31; VIEIRA, José Augusto - O Minho Pitoresco. Valença: Rotary Club, 1987, tomo II.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, SIPA; Diocese do Porto: Secretariado Diocesano de Liturgia

Documentação Administrativa

IGESPAR

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1991 / 1992 - substituição do telhado; picagem e reboco da igreja; 1994 - instalação elétrica no altar-mor.

Observações

Autor e Data

Isabel Sereno 1994 / Paula Figueiredo 2012 (no âmbito da parceria IHRU / Diocese do Porto)

Actualização

 
 
 
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