Ermida de Nossa Senhora do Vale / Capela e Cruzeiro da Senhora do Vale

IPA.00005108
Portugal, Porto, Paredes, Cete
 
Capela tardo-medieval de planta retangular composta por nave, antecedida por alpendre setecentista, capela-mor e sacristia adossada ao lado direito, com coberturas interiores de madeira na nave e em abóbada de arestas na capela-mor, sendo escassamente iluminada por fresta no corpo da capela-mor da fachada lateral direita. Fachada principal rematada em empena truncada por sineira quinhentista, em arco abatido e com remate em cornija angular, tendo portal em arco apontado, formado por três arquivoltas, sustentadas por colunas e colunelos. É protegido por alpendre fechado, com acessos frontal e lateral, sustentado por colunas toscanas. Fachadas da capela-mor rematadas por cornija, sendo a fachada lateral direita rasgada por portal apontado de arestas biseladas. Interior com arco triunfal de arestas biseladas, de acesso à capela-mor, onde se verificam vestígios de pinturas murais quinhentistas. A Ermida encontra-se antecedida por antigo cruzeiro, de fuste facetado e cruz pátea. No exterior, destaca-se o portal, com três arquivoltas em toros, a exterior ornada por esferas, assente em colunelos e colunas ornadas por elementos antro e zoomórficos, revelando uma feitura tardia. No alpendre, que seria de maiores dimensões, considerando as suas antigas mísulas de suporte, surge cruzeiro e púlpito seiscentista, circular e de guarda plena. A diminuição do tamanho do alpendre, ter-se-á prendido com a necessidade de rasgar a fresta da fachada principal, claramente novecentista, proporcionado maior luminosidade ao templo. Possui estrutura retabular maneirista, talvez proveniente de outra capela local. O arco triunfal é de volta perfeita, de arestas biseladas, tendo-lhe sido introduzidos colunelos finos nas obras recentes. A capela-mor possuía cobertura em abóbada de arestas, reforçada por cunhais exteriores, dos quais subsistem três, o lateral direito em esbarro, tendo pedra de fecho ornada, que se mantém na parede da capela-mor. Ostenta pinturas murais, representando anjos músicos, que enquadrariam a imagem do orago, as quais têm afinidades com outras pinturas da autoria da oficina do pintor Arnaus, como as que realizou na Igreja de São Paio de Midões (v. PT010302480067), e na Igreja do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro (v. PT011303150001), levando a considerar que se trata de uma obra saída da mesma oficina. A Ermida de Nossa Senhora do Vale apresenta afinidades com a Igreja do Mosteiro de São Pedro de Cete, no que respeita às pedras de armas que apresentam a mesma simbologia heráldica, e à própria arquitetura, tratando-se provavelmente do mesmo encomendador que ordenou as obras do período manuelino nos dois imóveis, e os mesmos artífices a executá-las.
Número IPA Antigo: PT011310080004
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

ERMIDA de planta retangular composta por nave, antecedida por alpendre, capela-mor, e sacristia adossada ao lado direito, de volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de uma água na sacristia, duas na nave e capela-mor e de três no alpendre, rematados em beirada simples. Fachadas em cantaria de granito aparente em aparelho pseudo-isódomo, rematadas, na fachada principal e corpo da capela por cornija também de granito. Fachada principal voltada a O., em empena truncada por sineira em arco abatido, assente em impostas salientes, e remate em empena angular, com cornija saliente. Encontra-se antecedida por alpendre fechado por murete em cantaria de granito aparente, encimado por grades metálicas lanceoladas e pintadas de verde, sustentado por oito colunas toscanas, distribuídas três de cada lado, com duas delas adossadas ao muro, e duas na face frontal e por dois pilares quadrangulares nos extremos e de arestas biseladas; tem acesso por portões de ferro nas faces frontal e laterais, pintados de verde, com as folhas almofadadas, rematadas em lanças. O alpendre possui pavimento em lajeado e cobertura de madeira em masseira, possuindo elementos em cantaria de granito, no lado esquerdo púlpito cilíndrico apoiado numa coluna dórica, tendo guarda plena, em cantaria e, no lado direito, cruzeiro composto por dado e cruz latina simples. A fachada tem acesso por três degraus e portal em arco apontado, saliente, composto por três arquivoltas, a exterior com friso de esferas, sendo as demais em toro, interrompidas por carranca, assentes em impostas salientes, colunelos internos e colunas de fuste cilíndrico e capitéis ornados por carrancas e aves. Sobre o alpendre apresenta fresta retangular e duas mísulas, indiciando a existência de alpendre mais elevado. Fachada lateral esquerda cega, sendo visível a marcação de um vão com fecho saliente e ladeado por duas mísulas de cantaria; é reforçada, na zona do arco triunfal, por contraforte de esbarro. Fachada lateral direita rasgada, no corpo da nave, por porta travessa em arco apontado, com molduras formadas pelas aduelas do arco e de arestas biseladas, antecedida por degrau. A sacristia possui fresta protegida por grades e, na face O., porta de verga reta, dintelada. O corpo da capela-mor possui pequena fresta com capialço interno. Fachada posterior cega, flanqueada por dois contrafortes nos ângulos. INTERIOR com as paredes em cantaria de granito aparente, tendo pavimento em lajes de granito e, na nave, teto de madeira em masseira, assente em frisos e cornijas do mesmo material e reforçado por tirantes também de madeira. A ladear o portal axial, com perfila batido interno, pia de água benta, em cantaria. No lado do Evangelho, antigo púlpito em cantaria, quadrangular, assente em coluna de fuste liso. No lado oposto, capela retabular, dedicada a São Roque. Arco triunfal levemente apontado com duas arquivoltas em toro, a interior assente em colunelos finos, com capitéis ornados por esferas. Está ladeado por duas mísulas de cantaria e, no lado do Evangelho, órgão elétrico. Capela-mor elevada por um degrau com teto em falsa abóbada de aresta de madeira, assente em rins e mísulas de cantaria, decoradas por elementos fitomórficos. Confrontantes, duas mísulas de madeira, tendo altar-mor de madeira e, sobre supedâneo de dois degraus de madeira, um atril, credencia e assentos dos celebrantes. Na parede testeira, vestígios de pinturas murais, com tons de branco, azul e dourado, tendo figuras de anjos músicos, vislumbrando-se harpas e flautas; ao centro, nicho de volta perfeita, de arestas biseladas e com o intradorso pintado por acantos. No lado da Epístola, porta de verga reta, de acesso à sacristia, com teto de madeira e pavimento lajeado, contendo armários em madeira *1. CRUZEIRO do largo em cantaria de granito, composto por plataforma circular de três degraus, o inferior semi-embutido no pavimento, onde assenta coluna oitavada e cruz pátea.

Acessos

Largo Vitorino Leão Ramos. WGS84 (graus decimais) lat.: 41,175956; long.: -8,348325

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 37 728, DG, 1ª série, n.º 4, de 05 janeiro 1950 (Capela) / Decreto n.º 45 327, DG, 1ª série, n.º 251 de 25 outubro 1963 (Cruzeiro) / ZEP, Portaria nº 142/2014, DR, 2.ª série, n.º 142 de 25 julho 2014

Enquadramento

Urbano, isolado, em encosta sobranceira ao Rio Sousa, em zona de pendor inclinado, envolvida a E. por árvores de grande porte e grandes áreas agrícolas e a O. pelo largo de acesso, envolvido por habitações com número variado de pisos, a do lado direito, ocupada por clínica dentária. Está envolvido por vias públicas pavimentadas a cubos de granito. A estrutura ergue-se sobre afloramento granítico, bem visível na fachada lateral esquerda.

Descrição Complementar

Retábulo lateral de talha pintada de branco, azul e dourado, de planta reta e um eixo definido por duas colunas de fustes espiralados, tendo o terço inferior ornado por brutesco, assentes em plintos paralelepipédicos com a face frontal ornada por acantos e querubins. Ao centro, nicho retilíneo, contendo pintura sobre madeira representado São Roque e mísula em consola, destinada a imaginária. A estrutura remata em friso de florões e quebubim e cornija. Altar em forma de urna, ornado por folhagem. Na capela-mor, no lado do Evangelho, escudo com vieiras.

Utilização Inicial

Religiosa: ermida

Utilização Actual

Religiosa: capela *2

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese do Porto)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 15 / 16 (conjectural) / 17 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIRO: Francisco Pinto Loureiro (1954). PINTOR: Arnaus (1530-1540).

Cronologia

Séc. 15 - 16 - Construção da capela; provável feitura do cruzeiro; 1530 - 1540 - execução da pintura mural; séc. 17 - construção da galilé para acolher os romeiros que a festa em honra da Nossa Senhora do Vale atraía de vários lugares; execução do retábulo do lado da Epístola e púlpito; 1758 - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco Frei Tomé Brandão, é referida a Capela de Nossa Senhora do Vale, fora do lugar da Várzea, administrada pelo Mosteiro de São Pedro de Cete; séc. 19 - execução do coro-alto e das estruturas retabulares da nave e capela-mor; séc. 20 - construção da sacristia e escada exterior de acesso ao coro; 1967 - nesta data a igreja encontra-se em muito mau estado de conservação; é colocada a grade do alpendre; remoção das estruturas retabulares do templo; o altar da capela-mor é retirado e colocado no claustro do Mosteiro de Cete; 1979 - 1980 - obras de restauro.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de granito aparente e em madeira na cobertura; granito na parte elevada do pavimento da capela-mor; guias de granito no pavimento envolvente; lajes de ardósia no revestimento do pavimento da nave; betonilha no revestimento do pavimento do alpendre e capela-mor; madeira no forro do tectos da nave, capela-mor e alpendre, e em portas e janelas; telha de aba e canudo na cobertura; ferro forjado pintado nos portões; retábulo de talha pintada.

Bibliografia

AZEVEDO, José Correia de, Inventário Artístico Ilustrado de Portugal, Douro Litoral, Lisboa, 1991; CAPELA, José Viriato, MATOS, Henrique e BORRALHEIRO, Rogério, As freguesias do Distrito do Porto nas Memórias Paroquiais de 1758 - Memórias, História e Património, Braga, Universidade do Minho, 2000; Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, IPPAR, volume II, Lisboa, 1993; ROSAS, Lúcia Maria Cardoso (coord.), Rota do Românico do Vale do Sousa (monografia), Valsousa - Rota do Românico do Vale do Sousa, 2008.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DREMN

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/DSID, SIPA; Diocese do Porto: Secretariado Diocesano de Liturgia

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/DSMN-0324/02, DGEMN/DSARH-010/187-0009

Intervenção Realizada

DGEMN: 1953 - apeamento e nova montagem do alpendre: desmonte e reposição das colunas e pilastras de sustentação, incluindo retificação de alicerces, reconstrução dos frechais de betão armado e da armação da cobertura com telha nacional; construção e assentamento de teto de maceira; reparação ligeira dos telhados dos restantes corpos da capela; remoção do acesso à sineira; 1954 - obras várias de conservação, levadas a cabo pelo empreiteiro Francisco Pinto Loureiro; 1967 - obras de conservação geral: limpeza dos rebocos das paredes interiores e exteriores; remoção do soalho na nave e capela-mor; remoção do coro com balaustrada de madeira e escada de acesso a este; apeamento da cobertura e teto da nave e sua reconstrução com o aproveitamento das madeiras recuperáveis; execução e assentamento de cornija perfilada em cantaria a pico fino; entaipamento do vão da entrada no coro pela fachada N. da nave; apeamento e reconstrução da parede da empena posterior do telhado da nave; construção de novos telhados com telha nacional, na nave, capela-mor, galilé e anexo, incluindo rufos e vedação de zinco; 1972 - reparações dos prejuízos causados pelo temporal, como substituição de telhas partidas, construção de rufos, vedações, cumes e beirados danificados das coberturas; 1979 / 1980 - revisão dos telhados da nave e capela-mor, remoção do altar da capela-mor e transferência para o claustro do Mosteiro de Cete, colocação do altar proveniente de Gatão; CMParedes: 1998 / 2003 - trabalhos de arranjos exteriores, compreendendo a limpeza e consolidação do cruzeiro e arranjo da envolvente; DGEMN: 2004 - obras de conservação das coberturas, paramentos e vãos exteriores; reparação da estrutura, aplicação de forro e subtelha e substituição da telha; tratamento pontual de juntas, limpeza do granito dos paramentos e aplicação de Biocida; substituição das caixilharias das janelas e frestas e reparação dos madeiramentos e gradeamentos dos restantes vãos; as obras foram realizadas no âmbito do projeto da Rota do Românico do Vale do Sousa; 2006 - conservação das pinturas murais da capela-mor; 2007 - conservação dos elementos decorativos: retábulo da nave, estatuária e pintura.

Observações

*1 - antes das obras da DGEMN, a ermida tinha, na fachada lateral esquerda, corpo anexo, de que subsistem as mísulas e vestígios do vão, que era, interiormente, trilobado, construído após a remoção do altar lateral, e escadas de acesso ao coro-alto, através de porta de verga reta; deste coro-alto, acedia-se por pequena trapeira revestida a placas de xisto, à sineira. O interior tinha púlpito com guarda plena de talha pintada e com acesso por escadas de madeira no lado direito; no lado do Evangelho, embutido no muro, estrutura retabular de talha, surgindo uma segunda a ladear o arco triunal no lado da Epístola, de feição tardo-barroca; no lado oposto, pequena maquineta com imagem. O retábulo-mor era amplo, de três eixos, também de feitura tardo-barroca. O retábulo da Epístola e a capela-mor estavam protegidos por teias de madeira. A abóbada da capela-mor foi, inicialmente, de pedra com abóbada de cruzaria de ogivas, cujas nervuras se apoiavam em mísulas de recorte manuelino, mas já possuía cobertura de madeira durante as intervenções da DGEMN. *2 - a Rota do Românico do Vale do Sousa inclui 19 imóveis: Igreja de São Miguel de Entre-os-Rios (v. PT011311100010), Igreja de Gândara (v. PT011311040009), Igreja de São Gens de Boelhe (v. PT011311020008), Igreja de Abragão (v. PT011311010015), Memorial da Ermida (v. PT011311150005), Igreja de São Pedro de Ferreira (v. PT011309050001), Ponte de Espindo (v. PT011305130009), Ponte de Vilela (v. PT011305020008), Igreja de Aveleda (v. PT011305020004), Torre de Vilar (v. PT011305260005), Igreja de Santa Maria de Airães (v. PT011303020007), Igreja Matriz de Unhão (v. PT011303280004), Igreja de São Vicente de Sousa (v. PT011303260008), Igreja Velha de São Mamede de Vila Verde (v. PT011303330020), Igreja de Paço de Sousa (v. PT011311220003), Igreja de Cete (v. PT011310080001), Igreja Matriz de Meinedo (v. PT011305130002) e Mosteiro de Pombeiro (v. PT011303150001).

Autor e Data

Isabel Sereno 1994 / Ana Filipe 2010

Actualização

Paula Figueiredo 2012 (no âmbito da parceria IHRU / Diocese do Porto)
 
 
 
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