Palácio de Xabregas / Palácio dos Marqueses de Olhão / Palácio dos Melo
| IPA.00004000 |
Portugal, Lisboa, Lisboa, Beato |
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Arquitectura residencial, setecentista. Palácio de planta em L, composto por três andares, o inferior constituído pelos vãos correspondentes aos antigos estabelecimentos comerciais, a que correspondem, no andar imediatamente superior, janelas de peitoril e, no piso nobre, janelas de sacada encimadas por cornija e com guardas de ferro forjado, aproveitando estruturas da construção quinhentista. Arquitectura discreta contrastando com a decoração interior, na qual se destacam os silhares de azulejo de temática profana ilustrando cenas galantes, batalhas e temas da mitologia. Portal principal enquadrado por pilastras e remate em frontão interrompido com o brasão dos proprietários dá acesso a uma sala de aparato, de acesso às demais salas. Pintura decorativa de linguagem eclética, datável do século 19. Andar nobre marcado exteriormente por portal brasonado. Assimetria dos vãos. Significativo conjunto de azulejos de finais do século 17, 1ºquartel do séc. 18, representando cenas galantes, batalhas e, numa das salas, episódios da mitologia greco-romana reproduzindo gravuras das "Metamorfoses" de Ovídio. |
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Número IPA Antigo: PT031106070173 |
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Registo visualizado 5324 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Residencial senhorial Casa nobre Casa nobre Tipo planta em L
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Descrição
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Planta composta em L, resultante da articulação de dois volumes paralelepipédicos, cobertos por telhados a duas águas, articulados no ângulo. A fachada principal, voltada a E., apresenta-se como uma superfície uniforme, na qual pilastras marcam três corpos regulares. No piso térreo, abrem-se treze portas, de acesso à parte baixa do palácio e a antigos estabelecimentos comerciais, a que correspondem, no andar imediatamente superior, treze janelas de peitoril e, no piso nobre, outras tantas de sacada encimadas por cornija e com guardas de ferro forjado, constituídas por barras verticais. Um corpo anexo, estreito e de altura inferior, encontra-se adossado ao topo S. da fachada principal. Na sua parte inferior, abre-se um portão, que dá acesso à rampa conducente ao pátio, encimado por uma janela de sacada sobrepujada pelas armas dos Cunhas do ramo Vasques, cuja leitura heráldica é a seguinte: nove cunhas em três palas, envolvidas por cinco escudos reais de quinas. A fachada S. (à direita da rampa de acesso ao pátio) é animado por três portas, quatro janelas de peitoril e outras tantas de sacada, respectivamente no piso térreo, primeiro andar e andar nobre. Na parede esquerda da rampa, observam-se doze placas de azulejos polícromos, com argolas de ferro ao centro. O alçado posterior ostenta um portal nobre de cantaria com um elaborado coroamento arquitectónico, no centro do qual se observa uma pedra de armas dos Cunhas. No INTERIOR, há a destacar o átrio, com pavimento de placas de mármore e silhares de azulejos seiscentistas, de padrão, polícromos, do tipo tapete; a Sala dos Retratos com tecto apainelado de madeira e silhares de azulejos de composição figurativa, azuis e brancos, de temática mitológica; Sala de Baile, ou de Música, com tecto em cúpula oval com pinturas ornamentais sobre estuque e silhares de azulejo de composição figurativa, representando cenas galantes e de caça; Sala das Batalhas ou de Jantar, coberta por tecto apainelado de estuque e silhares de azulejos de composição figurativa, azuis e brancos, representando cenas de batalha da Guerra da Restauração com cercaduras de panóplias; Biblioteca com tecto abaulado de estuque e pintura ornamental; Sala Directório possui tecto abaulado de estuque com pintura ornamental e muros com pintura a fresco; Sala de Visitas com tecto incorporando pintura a óleo sobre tela e paredes com frescos; Saleta de Estar ornamentada por pinturas murais, simulando tendas de campanha ao gosto Império; Saleta decorada com pinturas murais em "trompe l'oeil" simulando o interior de uma estufa. |
Acessos
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Rua Direita de Xabregas, n.º 22 - 40. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,727629, long.: -9,110509 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 45/93, DR, 1.ª série-B, n.º 280 de 30 novembro 1993 |
Enquadramento
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Urbano, adossado. Segue o alinhamento da via pública. A entrada principal situa-se na fachada posterior. |
Descrição Complementar
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AZULEJOS: Piso 1(andar nobre), SALA 1: Silhar de azulejos de padrão (4 x 4), policromos, 10 azulejos de altura, finais séc. 17; SALA 2 (dita Sala dos retratos): 6 painéis de composição figurativa formando silhar; monocromia: azul de cobalto em fundo branco; temática: mitologia; barra: enrolamentos vegetalistas, folhas de acanto, cornucópias, flores, pássaros, leões, figuras infantis aladas; 12 azulejos de altura; início séc. 18; SALA 3 (de Baile ou de Música): 5 painéis de azulejo de composição figurativa formando silhares; monocromia: azul de cobalto em fundo branco; temática: cenas galantes, jardins, fontes, caçadas; 12 azulejos de altura; 1º quartel séc. 18; SALA 4 (das Batalhas): painéis de azulejo de composição figurativa formando silhares; monocromia: azul de cobalto em fundo branco; temática: Batalhas (da Restauração?); 12 azulejos de altura; 1º quartel séc. 18 (este silhar era, na origem, recortado, sendo cortado no séc. 19); atr. Mestre P.M.P; CORREDOR: Azulejos de composição figurativa formando silhar; monocromia: azul de cobalto em fundo branco; temática: cenas galantes, cenas de música, cenas de dança; 12 azulejos de altura; 1º quartel séc. 18 (estes azulejos são provenientes de uma das salas, modificadas durante as obras do séc. 19; são muito semelhantes aos azulejos de Sala de Baile). |
Utilização Inicial
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Residencial: casa nobre |
Utilização Actual
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Residencial: casa |
Propriedade
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Privada: pessoa singular |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 16 / 17 / 18 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETO: Manuel Pereira (1717-1724) *2.; DECORADOR: José Maria Nepomuceno; LADRILHADORES: Bartolomeu Antunes (1728); Domingos Duarte (1728). P.M.P. (1714, atr., 1728); PEDREIRO: Domingos da Silva (1717); PINTORES: Alexandre Pereira dos Santos, António Dionísio, João Pigarra, Francisco Maria, e Manuel António Fortes. |
Cronologia
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1524 - a propriedade e as casas de Xabregas entraram na posse de Tristão da Cunha (1460-1540); 1540 - por morte de Tristão da Cunha passaram a seu filho, Nuno da Cunha, vice-rei da Índia; Finais do século - as casas entraram na posse de D. Guiomar Henriques, neta de Nuno da Cunha, casada com Manuel de Melo, monteiro-mor do reino; 1665 - pelo casamento de D. Francisca de Mendonça, filha de Francisco de Melo, com Simão da Cunha, as casas nobres entraram de novo na posse dos Cunha; 1703 - a ligação entre as duas famílias é reforçada pelo casamento de um filho do monteiro-mor com uma filha de Tristão da Cunha, governador de Angola e senhor de Valdigem, irmão de Simão da Cunha; 1713 / 1724 - Pedro da Cunha e Mendonça (1670-1731), 2º senhor de Valdigem, sobrinho e herdeiro de Simão da Cunha, realizou as obras de reconstrução que deram ao palácio a sua feição atual. Manuel Pereira, arquiteto da Congregação do Oratório, foi responsável pelo projeto. Nas obras participaram o mestre pedreiro Domingos da Silva e os mestres azulejadores Domingos Duarte e Bartolomeu Antunes; 1775 - era proprietário do palácio Pedro da Cunha de Mendonça e Meneses; 1819 / 1823 - Francisco de Melo da Cunha de Mendonça e Meneses (1741-1821), monteiro-mor do reino, 1º conde de Castro Marim e 1º marquês de Olhão, promoveu obras no palácio, com destaque para as pinturas murais realizadas por Alexandre Pereira dos Santos; 1848 / 1849 - nova campanhas de obras: pinturas decorativas realizadas por João Pigarra, Francisco Maria, António Dionísio e Manuel António Fortes; 1872 - D. Rita Valésia da Silva Correia (1827-1916), viúva do herdeiro da casa, encomendou ao arquiteto José Maria Nepomuceno novas obras de decoração; 1968, 28 de Fevereiro - A DGEMN solicita autorização superior para a transferência dos azulejos de Delft para a sala de estar da Pousada do Castelo de Estremoz (v. PT040704030001); 1970 - os azulejos provenientes do Palácio encontram-se encaixotados e prontos para partir para Estremoz (DGEMN/DSARH-010/000-0076). |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes |
Materiais
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Alvenaria mista, cantaria de calcário, ferro forjado, madeira, reboco pintado, azulejo. |
Bibliografia
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ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, fasc. 7, Lisboa, 1950; ANDRADE, Ferreira de, Palácios Reais de Lisboa, Lisboa, 1989; ARRUDA, Luísa, O Palácio de Xabregas - do legado de Tristão da Cunha às grandes obras do século XVIII, in Claro-Escuro, Revista de Estudos Barrocos, n.º 6 e 7, Lisboa, Maio / Novembro de 1991; De Tristão a Frederico da Cunha, in Clássicos e Modernos, nº12, Fev. 1992; CONSIGLIERI, Carlos, Pelas Freguesias de Lisboa. Lisboa Oriental, Lisboa, 1993; JACQUINET, Maria Luísa de Castro V.G. - «Manuel Pereira (C.O.) arquiteto. Contributos para a desconstrução de um enigma da historiagrafia da arte» in Invenire Revista de Bens Culturais da Igreja. Lisboa: Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, julho - dezembro 2013, n.º 7, pp. 14-18; O Palácio de Xabregas, in Casa e Jardim, Dezembro 1993; ARRUDA, Luísa, Caminho do Oriente, Guia do Azulejo, Livros Horizonte, Lisboa 1998; SERRÃO, Vítor, História da Arte em Portugal - o Barroco, Barcarena, Editorial Presença, 2003; CARITA, Hélder, MENDONÇA, Isabel (Coord.), “Palácio Xabregas”, A Casa Senhorial, Portugal, Rio e Goa, Anatomia dos interiores, https://acasasenhorial.org/acs/index.php/pt/casas-senhoriais/pesquisa-avancada-2/156-palacio-xabregas; 2014,; FRANÇA. J.A., Lisboa, História Física e Moral, Livros Horizonte 2008. |
Documentação Gráfica
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Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas, Desenhos D 207 C e 408 A |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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AMO; CML: Arquivo de Obras, Pº Nº 40743; IPPAR: Pº Nº 78/3 (34) |
Intervenção Realizada
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2001 / 2002 - o edifício é totalmente recuperado por José Folque, actual proprietário; o salão nobre, tranformado em várias divisões no século 19, recupera a sua estrutura de origem. |
Observações
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*2 - arquiteto das obras da Congregação do Oratório, em Lisboa. *3 - esta sala foi cortada no séc. 19 e os silhares foram readaptados às novas dimensões das paredes; alguns foram cortados alterando-se a leitura iconográfica.
"Nessa banda oriental da cidade, chãos doados por D.João III a Tristão da Cunha vieram por casamento de uma herdeira às mãos dos Melos, monteiros-mor do reino, que três gerações depois fizeram obras palaciais numa grande casa de 14 vãos na fachada que foi local, esse, de conspiração dos Restauradores de 1640, entre os quais Jorge de Melo se contou. No princípio do século XIX, veremos que por herança e marquesado de então, o palácio tomou o nome de Olhão." (FRANÇA, p.235) |
Autor e Data
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Teresa Vale e Carlos Gomes 1994 / Paula Correia 2001 |
Actualização
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Paula Correia 2002 |
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