Jardins e Mata do Palácio Anadia /Jardins e Mata do Solar dos Paes do Amaral

IPA.00003677
Portugal, Viseu, Mangualde, União das freguesias de Mangualde, Mesquitela e Cunha Alta
 
Espaço verde de recreio / Espaço verde de produção florestal. Vasto jardim de influências rococó e romântica e mata, atravessados por alamedas, com canteiros à francesa e construções de carácter revivalista medieval como a torre com merlões e o conventinho. Segundo Ilídio de Araújo, 1962, cap VI, a localização do jardim, afastado da casa é tradicional da região do Dão: Os jardins surgem de uma nascente ou fonte, onde quer que estas estejam e ligam-se à casa por ruas ladeadas de sebes de buxo, que por vezes chegam a formar túnel; Segundo Bowe, 1989, "Esta disposição do jardim longe da casa, ao contrário do que é corrente, obedece a uma tradição generalizada da região do Dão, onde os jardins se localizam geralmente junto de uma nascente ou fonte, em qualquer ponto da quinta que estas se situem, ligando-se à casa por uma rua ou "carreira" em geral cercada de sebes de buxo, que muitas vezes formam um verdadeiro túnel verde, de forma que da casa se pode ir ao jardim sem se sofrer os incómodos da insolação estival."; A qualidade das contruções em granito é notável, nomeadamente a Fonte Nova que é constituída por um enorme fontanário com bicas, rodeado por um banco em semicírculo, que a envolve por completo; é das poucas propriedades a nível nacional que mantém as características de origem e praticamente as mesmas dimensões, estando inserida no centro de Mangualde, onde o contágio imobiliário ameaçaram os terrenos férteis da quinta, que se manteve intacta. Segundo Valentim da Silva, "A mata, coberta na sua extensa área de rico e variado arvoredo, lembra um trecho do Buçaco em que muitas árvores são de flora exótica (...) Não faltava à mata o cantar das águas nas fontes, e um grande lago com o seu barco que tornava mais aprazível a estância.".
Número IPA Antigo: PT021806100012
 
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Registo

 
Espaço verde  Conjunto de espaços verdes        

Descrição

Adjacente à casa existe pátio, de planta rectangular, empedrado a granito e saibro e com enorme plátano centenário ao centro, que ensombra de forma ténue toda a sua área, e enquadrado por colecção de tílias, com copa em forma de coração e com tonalidades diferentes em função da direcção do vento. É definido, a S. e E., pelas cavalariças, a O., pelo muro da quinta (que limita toda a propriedade) e, a N., pelo palácio. Acesso feito pelo portão da quinta com ligação à rua ou pela casa, através de escadaria divergente em granito que envolve canteiro de forma oval. No pátio murado, há portão, do lado oposto ao de entrada neste, de acesso a jardins, quinta e mata, onde se inicia eixo principal, que estrutura formalmente a quinta, sendo cortado transversalmente por três alamedas que dirigem a diferentes zonas da propriedade. Este abre-se sobre pequena rua ladeada por casas, muro e loureiros, seguindo para o segundo portão. A quinta é murada, em encosta de declive suave, exposta a E.. A originalidade do jardim resulta do facto de ter sido construído por uma série de espaços desenhados a buxo dispersos na propriedade ligados entre si por sistema de caminhos. O espaço agrícola funde-se com o espaço de jardins, havendo mistura entre espaços de produção e espaços de recreio, da qual resulta enriquecimento estético de toda a propriedade, pois campos agrícolas aparecem tratados como canteiros, uma vez que são delimitados com sebes de buxo rigorosamente topiadas. Espaços de jardim perfeitamente encaixados entre talhões agrícolas, existindo lago naturalizado entalado entre olival e horta, rodeado por original topiária de sebes de buxo. Linguagem de jardim não se perde ao longo de todo o percurso, enriquecido por zonas de estar sempre ladeadas por fontes, bancos e varandins que dominam a paisagem. Fonte Nova constituída por enorme fontanário com bicas, rodeado por banco em semicírculo, que a envolve por completo. Em frente, em patamar inferior, desenha-se lago circular, circundado por canteiros de agapantus e sebe. Deste tem-se extensas vistas sobre a paisagem agrícola e tira-se partido da frescura da água e das sombras. Quinhentos metros distos da casa, surge jardim principal, de maiores dimensões. Está disposto em terraços: no primeiro existe tanque com fontanário pintado de rosa e, a E., a nível inferior, lago quadrado com raros exemplares de nenúfares. Num nível inferior, aparece outro tanque de maiores dimensões, coberto de musgo e rematado com enorme cortina de bambus com cerca de 8 m. de altura. Apesar da encosta aqui ter inclinação suave, o jardim de buxo está disposto em terraços, sendo o de nível inferior dominado por magnólia central rodeada de sebes de buxo, e herbáceas ornamentais. Muros que limitam lado N. e E. do jardim estão adossados bancos de granito a partir dos quais se pode usufruir de vistas. Existe ainda conjunto de camélias e azáleas e casa de fresco ladeados por duas estruturas que foram gaiolas para pássaros. Terraço superior, ao qual se acede a partir de pequena escada, possui desenho de buxo, com pirâmides talhadas, algumas árvores, num conjunto de oito canteiros quadrados dispostos segundo composição ortogonal. Neste nível superior, existe, ainda, estufa de ferro e vidro. Desnível do terraço inferior é vencido por muro com guarda de ferro coberta por trepadeiras. Nível superior do jardim desenvolve-se a mesma cota que telhado da casa de fresco. Esta zona está sobrelevada em relação aos campos agrícolas. Segue-se vinha, olival e campo de pastagem para gado ovino, sendo o limite desta desenhado por alinhamento de ciprestes (Cupressus sempervirens). Mata que envolve a propriedade segue o programa ornamental do romantismo. Formada por variada colecção de árvores de grande porte, entre carvalhos, castanheiros, sobros, medronheiros, pinheiros mansos e algumas de flora exótica, e percorrida por rede de caminhos. Desenvolve-se a O. do palácio, sendo atravessada por numerosas ruas, e ocupa terço superior da encosta, enquanto palácio, jardins e olival ocupam terço médio e campos agrícolas ocupam terço inferior.

Acessos

Estrada de Viseu para Mangualde, no extremo S. da vila, Largo Condes da Anadia

Protecção

Categoria: CIP - Conjunto de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 23/2014, DR, 2ª série, n.º 7 de 10 janeiro 2014

Enquadramento

Urbano, em terreno com suave inclinação para N. e E.. Em destaque, mas rodeado por arruamentos e algumas casas de habitação, de arquitectura marcada pela dominância do granito, dos quais está separado por meio de muro, com vários portões e janelas gradeadas, que cerca Jardins e Mata em todo o seu perímetro. No extremo da propriedade, a casa (v. IPA.00004231).

Descrição Complementar

Existem ainda outras estruturas construídas como pombal de grandes dimensões ladeado por duas casas para patos e respectivos lagos.

Utilização Inicial

Produtiva: mata / Recreativa: jardim

Utilização Actual

Produtiva: mata / Recreativa: jardim

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

CANTEIRO: António da Costa Faro (canteiro) - feitura do palácio e de elementos construídos da quinta e do jardim. MESTRE: António Mendes Coutinho (discípulo de Nicolau Nazoni) - desenho do palácio e de elementos cosntruídos da quinta e do jardim, como escadas, fontes, muros e bancos.

Cronologia

1686 - Simão Paes do Amaral, capitão-mor de Azurara da Beira, fidalgo d´El Rei D.Afonso VI e cavaleiro professo da Ordem de Cristo, compra várias casas e terrenos para construir o actual palácio; 1701/ 1713 - primeira fase da construção; 1724 - segunda fase da contrução do palácio; 1730 - a Casa de Mangualde une-se às casas de Condeixa e da Anadia e as obras sofrem grande impulso; 1740 - colocação de azulejaria em fontes e escadaria da autoria de Sousa Carvalho; 1759 - nasce Miguel Pais de Menezes, homem culto, comendador da Ordem de Malta, muito viajado, que, com D. Joaquina Teodora Sá de Meneses, sua mãe, realiza grande parte das obras de melhoramento e embelezamento da casa e da quinta; 1806- intervenções arquitectónicas e pinturas por Pellegrini; 1807 - data inscrita na Fonte Nova dos jardins; sec. 19, primeiro quartel - Miguel Pais do Amaral e Menezes executa várias obras de melhoramento nos jardins, quinta e mata, sendo a partir desta altura que a casa passa a ser conhecida por Casa da Anadia; 1831- falecimento de Miguel de Menezes; 1972, 21 novembro - proposta de classificação da Direcção-Geral dos Assuntos Culturais; 1974, 20 dezembro - parecer da Junta Nacional de Educação de classificação como Imóvel de Interesse Público; 21 dezembro - Despacho de homologação da classificação pelo Secretário de Estado da Cultura; 1978, 29 novembro - proposta da DGEMN para alargamento da classificação aos jardins, mata e quinta; 28 dezembro - parecer favorável da COISPCN; 2007, 14 dezembro - proposta da DRCoimbra de fixação de Zona Especial de Proteção; 2008, 06 fevereiro; parecer favorável; 2009, 21 dezembro - Despacho de homologação da fixação da Zona Especial de Proteção pela Ministra da Cultura.

Dados Técnicos

Muros de suporte e escadas em cantaria; Estrutura em ferro (latada); agricultura e construção dos jardins em patamares.

Materiais

INERTES: granito, ferro, alvenaria, madeira; Vegetais: árvores - tília (Tilia cordata), plátano (Platanus hybrida), oliveira (Olea europaea), zambujeiro (Olea europaea var. sylvestris), magnolia (Magnolia grandiflora), cameleira (Camellia japonica), cipreste (Cupressus sempervirens), ameixeira-dos-jardins (Prunus cerasifera), aveleira (Corylus avellana), carvalho-americano (Quercus rubra), cedro-do-buçaco (Cupressus lusitanica Mill.), cedro-do-líbano (Cedrus libani), castanheiro-da-índia (Aesculus hippocastanum), cerejeira-brava (Prunus avium), faia (Myrica silvatica),freixo (Fraxinus angustifolia), laranjeira (Citrus sinensis),, loureiro (Laurus nobilis), louro-cerejo (Prunus laurolaurocerasus), medronheiro (Arbutos unedo), pinheiro-manso (Pinus pinea), sobreiro (Quercus suber), teixo (Taxus semprevirens); arbustos - buxo (Buxus sempervirens), bambus (Bambusa vulgaris), alfazema (Lavandula officinalis), azálea (azalea sp), azevinho (Ilex aquifolium), evonio-dos-jardins (Euonymus japonicus), lantana (Lantana camara), (Lantana aurea) Nenúfar (Nymphae alba), , agapantos (Agapanthus africanus); , couves-de-nossa-senhora (Bergenia crassifolia), feto (Pteridium aquilinum, Asplenium obovatum), , grinalda-de-noiva (Spiraea cantoniensis), hortênsia (Hydrangea macrophylla), Rododendro (Rhododendron ponticum), piracanta (piracantha angustifolia), Roseira brava (Rosa canina), salvia (Salvia splendens), , videira (Vitis vinifera), vinha-japonesa (Parthenocissus tricuspidata), vinha-virgem (Parthenocissus quinquefolia), Rosa galica (Rosa gallica), árvores de fruto e horta.

Bibliografia

ALVES, Alexandre, O Palácio dos Paes de Amaral, Condes de Anadia, em Mangualde, in Beira Alta, vol. XXXI, Viseu, 1972, pp. 77-78; ARAÚJO, Ilídio de, Arte Paisagística e Arte dos Jardins em Portugal, Lisboa, 1962; BOWE, Patrick, Jardins de Portugal, Lisboa, Quetzal, 1989; CASTEL-BRANCO, Cristina, Jardins com História, Poesia atrás dos Muros, Edições INAPA, 2002; CORREIA, Alberto, Mangualde - Roteiro Turístico, Câmara Municipal de Mangualde, 1997; GIL, Júlio, Os mais belos palácios de Portugal, Editora Verbo, Lisboa, 1992; PROENÇA, Raúl, Guia de Portugal, vol. III, Lisboa, 1944; SILVA, Valentim da, Concelho de Mangualde (Antigo Concelho de Azurara da Beira), Porto, 1945; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74602 [consultado em 28 dezembro 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/Arquivo Pessoal de Ilídio de Araújo

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

A Mata, no início do século ainda possuía várias construções no meio do arvoredo: pequenas casas cobertas de cortiça e colmo, fontes, lagos, um cemitério de cães, um obelisco comemorativo da aclamação de D. João IV, um recinto para jogo da bola e uma miniatura de um convento de frades habitado por 3 autómatos em madeira que se moviam por meio de molas. Visitas diárias das 14:00 às 18:00; aos Domingos, mediante marcação prévia através do telefone 232622366.

Autor e Data

Madeira Portugal 1991 / Lina Marques 1995/ Luísa Estadão 2004

Actualização

Marta Calçada 2001
 
 
 
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