Casa da Quinta do Outeiro / Quinta do Outeiro

IPA.00034926
Portugal, Lisboa, Loures, União das freguesias de Santo Antão e São Julião do Tojal
 
Arquitetura agrícola, seiscentista. Quinta de produção agrícola com acesso por amplo portal setecentista, tendo casa construída no séc. 17, de planta quadrangular simples, com a zona inferior destinada a lojas e funções utilitárias e a área residencial no segundo piso, com acesso por escadas exteriores, paralelas à fachada principal. As fachadas são enquadradas por fortes cunhais de cantaria, rasgadas regularmente por vãos retilíneos, os da fachada posterior, virados à quinta com janelas de sacada. Na encosta que desce para o rio, amplos campos de cereal bordejados por olival. Na base da encosta, uma grande estrutura circular de paredes duplas articula-se com uma levada sobre arcaria de pedra e tijolo.
 
Registo visualizado 1827 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa    

Descrição

Propriedade de planta irregular alongada no sentido N./S., delimitada na sua maior extensão pela EN 115 a O. e pelo rio Trancão a E.. É composta por casa, dependências anexas de apoio à atividade agrícola, campos de cultivo, olival e estruturas de captação, armazenamento e distribuição de água. O relevo é ondulado suave destacando-se o promontório onde se situam a casa e dependências anexas, sensivelmente a 45m de altitude; junto ao rio Trancão a altimetria varia entre os 26m no extremo NE. da propriedade e os 14m no extremo SE.; nos terrenos mais altos, que ladeiam a EN 115, a altimetria chega aos 67m no extremo NO.. A quinta não se apresenta murada, sendo o acesso principal à casa efetuado pelo antigo portal, que se localiza na lateral à EN 115, em frente ao acesso ao nó da CREL, e que conduz a uma azinhaga ladeada por oliveiras. CASA de planta quase quadrangular, correspondendo à repetição de três módulos idênticos, de volume único com três coberturas paralelas, em telhados de quatro águas, com telha de aba e canudo, e rematadas em beiradas simples. Evolui em dois pisos, a zona inferior correspondente à área de serviço e a superior destinada a habitação. Fachadas em alvenaria, parcialmente rebocadas, flanqueadas por cunhais robustos, em silharia de calcário e mais largos na base; são rematadas superiormente em frisos de massa, reforçados a cantaria nos cunhais, e em cornijas de perfil côncavo na parte superior e convexo na inferior. São rasgadas por vãos retilíneos, emoldurados a cantaria. Fachada principal virada a N., tendo, no piso inferior, duas portas, uma delas sob o patamar de acesso ao superior, sendo marcada, no lado direito, por escada exterior de acesso ao piso residencial, paralela à fachada e composta por degraus de grandes lajes de pedra com focinhos boleados; tem guarda de grande espessura, em alvenaria de pedra, capeada superiormente. Acede a patamar onde se rasga a porta emoldurada a cantaria de calcário, com duplo lintel e cornija saliente. Ladeada por duas janelas de peitoril. A fachada lateral esquerda tem, no piso inferior, uma porta e uma pequena janela gradeada, encimadas por duas janelas de peitoril no superior. A fachada lateral direita possui três janelas de peitoril em cada piso, os do piso térreo de menores dimensões. A fachada posterior virada à paisagem que se estende para S., tem tratamento diferenciado. No piso inferior tem apenas uma janela de sacada e dois pequenos vãos jacentes e abertos nos intervalos existentes entre os pares das sacadas do andar de cima. O piso superior ostenta seis janelas de sacada, agrupadas dois a dois, ritmo que se acorda com a divisão tripartida do telhado. Um friso em cantaria trabalhada percorre todo este alçado ao nível das bases das sacadas, prolongando-se até aos dois cunhais que o enquadram. No INTERIOR do edifício só restam as paredes-mestras. No exterior, junto à casa há dois edifícios de apoio à produção agrícola, de plantas retangulares, o do lado SO. com cobertura a duas águas e o do lado oposto, de planta mais irregular, com quatro águas. No interior da propriedade, para E., perto do rio Trancão, descobre-se uma levada sobre arcaria em alvenaria de pedra e tijolo que se dirige a uma grande estrutura circular de paredes duplas, em alvenaria de pedra.

Acessos

EN 115, com acesso pela rotunda da via de cintura da AMLN e pela CREL saída de Bucelas

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, implantado a NE. do aglomerado de São Julião do Tojal (v. IPA.00030315), em situação de encosta do complexo Vulcânico de Lisboa, com exposição dominante a E.. Tem como limites a O. a EN 115 que separa a quinta do empreendimento "Loures Business Park", a E. o rio Trancão, a N. área de matos e a S. a via de cintura da AMLN. A casa destaca-se na paisagem pela sua posição elevada na encosta, e pela configuração do volume maciço da construção, recortado no coroamento por telhados múltiplos. A propriedade é atravessada por uma linha de água, afluente do Trancão, muito expressiva no relevo ondulado da encosta e que rodeia a N. a plataforma onde se concentram as construções. Os solos de maior fertilidade diferenciam-se entre os aluviossolos, na influência da linha de água e os barros, nos terrenos da encosta onde se localiza a casa. Na encosta oposta à quinta do Outeiro, e na margem esquerda do Trancão, situa-se a Quinta da Abelheira (v. IPA.00024039 e IPA.00006305). As duas quintas estabelecem entre si uma relação visual muito direta e ampla, avistando-se quase por completo as diversas plataformas que compõem a Abelheira; no sentido S. avista-se a várzea de Loures e os campos agricultados que marginam o Trancão, assim como as costeiras da área oriental de Loures.

Descrição Complementar

Junto à estrada, o PORTAL SETECENTISTA integra-se em muro de alvenaria de pedra. O vão de vergas e lintel arqueado, com pedra de fecho em cantaria de calcário, possui remate superior em cimalha e coroamento de desenho ondulado, terminado nos ângulos superiores por pequenas volutas. Sobre a cimalha, enquadrando o coroamento central, dois pináculos de base cónica. Os panos de muro que ladeiam o portal, em ambos os lados, possuem volutas duplamente enroladas. Junto ao portal observa-se o arranque de uma estrutura em pedra que se dirige à casa e aparenta ter sido um aqueduto ou levada. ESPAÇO EXTERIOR: o aproveitamento agrícola da propriedade, que se apresenta em encosta de declive moderado, implicou a construção de socalcos em alvenaria de pedra para contenção de terras e suavização dos declives, facilitando o amanho da terra. A função de armazenamento e distribuição de água surge, por vezes, associada à estrutura dos muros através do encosto dos tanques ao socalco. Não sendo possível reconstituir o percurso da água na quinta do Outeiro sem verificação in situ, é contudo possível verificar a importância deste recurso no abastecimento da casa e exploração agrícola da propriedade dada a presença de aquedutos, poços, tanques, estruturas de condução de água e sua distribuição na envolvente próxima à casa e folhas de cultivo adjacentes. As áreas de maior declive, a N., apresentam-se cobertas por olival com alguns pinheiros a sobressair. A linha de água que atravessa a propriedade é marcada por alinhamento de oliveiras e, embora muito infestada por canas, o seu percurso é perfeitamente visível e identificável. As folhas de cultivo próximas à casa ainda são atualmente sujeitas a culturas de sequeiro e os prados naturais da quinta são utilizados como pastagem de um rebanho de ovelhas.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Criação e exploração animal: estábulo

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 (conjectural)

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1486 - emprazamento do Casal do Outeiro a um escudeiro, morador no Tojal; 1532 - emprazamento do Casal do Outeiro, propriedade do Mosteiro de Odivelas, a André Soares, fidalgo da Casa Real e Escrivão da Fazenda de D. João III, sucedendo no Prazo a seus pais; 1546 - auto de medição e demarcação do Casal do Outeiro, referindo-se que possui terra de cereal, pomares de laranjeiras e pereira, uma vinha grande, 83 oliveiras e muitas almoinhas; tem dois assentamentos de casas, onde residem dois caseiros, o primeiro constituído por casa dianteira, câmara, cozinha, palheiro e outro aposento, e o Segundo compost por outras tantas casas com seu alpendre diante da porta e um curral de gado; 1606 - possuem este Prazo, Maria de Sequeira e seu filho André Soares de Sequeira *1; séc. 18 - provável construção do portal da quinta.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paredes exteriores em alvenaria de pedra ordinária, rebocada; molduras das janelas e portas, cunhais e degraus das escadas em cantaria de calcário; cobertura inclinada com revestimento de telha lusa e beirado em telha de canudo; caixilharias em madeira; grades das janelas em ferro. ÁRVORES: oliveira (Olea europaea var. Europaea); pinheiro manso (Pinus pinea); REVESTIMENTO DO SOLO: Prado natural e culturas arvenses de sequeiro.

Bibliografia

Caldas, João Vieira - A Casa Rural dos Arredores de Lisboa no Século XVIII. Porto: Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, 1999; Câmara Municipal de Loures: Loures 10 paisagens. Loures: Câmara Municipal de Loures / DPMOT, 2012; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - A Abelheira e o Fabrico do Papel em Portugal: história de uma propriedade e de uma fábrica. Lisboa: s.n., 1935.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA; CMLoures: Arquivo Divisão de Planeamento Municipal e Ordenamento do Território

Documentação Administrativa

DGLAB/TT, Cónegos Regulares de St.º Agostinho, Mosteiro de S. Vicente de Fora, liv. 22, 1606, Mosteiro de S. Dinis de Odivelas, liv. 44, fl. 29 a fl. 34v

Intervenção Realizada

Observações

*1 - Maria de Sequeira era casada com Manuel Soares, residente na Índia, filho de André Soares, fidalgo da Casa Real e Escrivão da Fazenda de D. João III e de sua mulher Maria Botelha. Manuel Soares era primo em primeiro grau de João Álvares Soares, vedor da Fazenda, sepultado na capela do Santo Cristo Crucificado da Igreja Matriz (v. IPA.00020201) e fundador das casas nobres que deram origem à Quinta da Bandeira (v. IPA.00034919). Manuel Soares era igualmente primo em primeiro grau de Francisco Lagarto, fundador das casas nobres da Quinta de Valbom (v. IPA.00034927).

Autor e Data

Fernanda Ferreira, Frederico Pinto, Madalena Neves, Manuel Villaverde (CMLoures) 2013 (no âmbito da parceria IHRU / CMLoures)

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login