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Edifício e estrutura Edifício Extração, produção e transformação Fábrica
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Descrição
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Espaço industrial em parcela de configuração irregular, composto por áreas de produção, embalagem e armazenamento, integrando uma reserva de água (lagoa) a N., poços, tanques e depósitos subterrâneos de armazenamento de água. O conjunto construído é formado por vários edifícios retangulares, dispostos paralela e perpendicularmente entre si, estando envolvido perimetralmente por área livre de circulação, a S. e a E., através da qual se acede a um pátio de distribuição, em posição central. Este pátio, de configuração irregular, abre do lado N. para a lagoa. O EDIFÍCIO PRINCIPAL, localizado a O., resulta de ampliações sucessivas, a partir de ocupação inicial dos séculos 17 e 18, junto ao rio, ligada a este por canais adutores a N. e de escoamento a S., cujos traçados se mantiveram até à atualidade. Constitui um volume composto por corpos de diferentes cérceas, com coberturas múltiplas, de duas águas, revestidas a telha cerâmica e a chapa metálica ondulada, possuindo lanternins de ventilação; no ângulo NO., telhado de quatro águas, rematando em beirada. Fachada virada a O. voltada para o Rio Trancão, rasgada por catorze janelas nos primeiro e segundo pisos e ainda cinco janelas no terceiro e último piso; todos os vãos são em lintel curvo e emoldurados em alvenaria de tijolo, rebocada a maça, com caixilharias fixas, em ferro; os do primeiro piso estão entaipados e, no terceiro, as janelas, sem molduras, posicionam-se a diferentes alturas mostrando que neste piso os pavimentos possuem três níveis. A fachada virada a N., evolui em dois e três pisos, apresentando maior altura no troço situado a O.. Ostenta uma varanda ao nível do terceiro piso, com guardas de ferro laterais, sugerindo uma função de descarga. Os vãos são também emoldurados a alvenaria de tijolo rebocada a massa e as caixilharias fixas, em ferro, têm, ao centro uma folha pivotante de configuração quadrada. O INTERIOR tem acesso pela fachada N., para uma grande nave cuja cobertura é suportada ao centro por colunas em ferro fundido *1. A linha de colunas, que sustentam as vigas de ferro em I, separam o local onde se localiza as máquinas de fabrico de papel; na nave mais ocidental do edifício situam-se no seu extremo S., os tanques oitocentistas destinados à lixivia para branqueamento do trapo. No piso superior observa-se ainda em laboração uma máquina oitocentista de depuração da pasta de papel, cujas pás em madeira, são mecanicamente acionadas por correias de ferro. A. E. deste edifício principal, deitando para o pátio, situa-se um CONJUNTO DE EDIFÍCIOS contíguos, destinados aos geradores de energia elétrica, à armazenagem e serviços, sendo parte em alvenaria de pedra e parte em betão armado. Para N., existem depósitos de água, poços, tanques e um edifício desativado, em betão armado, de grandes janelas envidraçadas com desenho modernista. Para S., do edifício principal, desenvolvem-se edifícios recentes, que albergam uma máquina de fabrico de papel e, ainda outras, destinadas ao corte, dobragem e embalagem. A SE.do conjunto fabril, junto à E.N., localizam-se duas moradias da fábrica, construídas no séc. 19, que se encontram devolutas. |
Acessos
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Rua Dias Coelho |
Protecção
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Inexistente |
Enquadramento
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Rural, implantado no limite N. da várzea de Loures, na margem esquerda do rio Trancão, a S. da Quinta da Abelheira (v. IPA.00024039). Do ponto de vista geomorfológicos situa-se na base da encosta do Complexo Vulcânico de Lisboa, em relevo plano, sobre formação aluvionar halocénica, correspondente ao espraiamento do Trancão, após ultrapassar um vale muito encaixado. A povoação mais próxima é São Julião do Tojal, a SO. O Mercado Abastecedor da Região de Lisboa situa-se a E., e a S. existem duas instalações de empresas transportadoras, de grande dimensão. A área da fábrica é extensa e as cotas altimétricas variam entre os 10 m na área S., junto à ponte da estrada nacional sobre o rio Trancão, e os 15m nos limites E. e N. da propriedade. A disponibilidade de água necessária para funcionamento da fábrica é garantida por captações subterrâneas que se situam nos terrenos mais baixos da Quinta da Abelheira, através de dois poços e cinco furos artesianos. Na área envolvente à propriedade e com um cariz rural encontra-se na margem oposta do rio a quinta do Outeiro (v. IPA.00034926), com rebanhos, culturas arvenses de sequeiro e olival. As áreas de armazenagem, indústria e logística dominam a envolvente mais alargada. A propriedade da fábrica é delimitada a N. e E. pela quinta da Abelheira. A E., fora dos limites da área industrial, no topo de um talude natural de pendente suave estão implantadas sete moradias construídas no séc. 20, em lotes alinhados no sentido N. - S., com acesso a partir do eixo principal da quinta. Estas moradias eram destinadas a alojamentos de técnicos da fábrica, e encontram-se abandonadas. A propriedade confronta a O. com o rio Trancão e a S. com a Rua Dias Coelho (EN 115-5) e com estacionamento público sob o viaduto da via de cintura da AML. |
Descrição Complementar
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O estabelecimento industrial utiliza energia elétrica e vapor produzidos numa central termoelétrica; usa como matéria-prima pasta de madeira e reciclagem de papel velho. Na origem, as máquinas eram acionadas por vapor obtido a partir de carvão e a matéria-prima utilizada era o trapo *2. A localização da fábrica contígua ao rio Trancão reflete a necessidade de abastecimento de água e de escoamento de produtos aquosos resultantes da laboração*3. São visíveis os canais, levadas e condutas de abastecimento aos reservatórios da fábrica (cisternas enterradas, lagoa a céu aberto e tanques), que recebem a água proveniente de dois poços e cinco furos artesianos situados nos campos da Quinta da Abelheira mais próximos ao rio. Presentemente, o escoamento de águas proveniente do processo de fabricação é integralmente direcionado, em circuito próprio, até à Estação de Tratamento de Águas Residuais Industriais (ETARI) que se localiza a E. da lagoa, sendo entregue ao rio, já tratada, no extremo SO. da propriedade junto à "porta de maré", através de um circuito de tubagem que ladeia a E. e S. a área edificada da fábrica. Anteriormente à instalação da ETARI funcionava um circuito sustentado em dois canais que ainda atravessam, em subterrâneo, a fábrica e a área S., entre esta e a EN.. Um dos canais parte da levada que abastecia a antiga central hidroelétrica e o outro, sob o edifício principal no seu topo NO., inicia-se em abertura no "paredão" que serve de barreira entre a fábrica e o rio. O canal atravessa a área de produção de papel, onde recolhia os produtos aquosos escoados das máquinas, juntava-se no exterior da antiga fábrica ao outro canal e, a céu aberto, percorria mais alguns metros até ao rio Trancão e válvula de maré. Atualmente o canal encontra-se totalmente fechado por laje, na extensão em que não está sob a área fabril. Recolhe as águas pluviais e entrega-as ao rio Trancão. A válvula de maré continua a funcionar como tamponamento à subida do Trancão sempre que os caudais são excessivos. |
Utilização Inicial
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Extração, produção e transformação: fábrica |
Utilização Actual
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Extração, produção e transformação: fábrica |
Propriedade
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Privada: pessoa coletiva |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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FORNECEDOR: Firma Bertrams Ltd. (1953). |
Cronologia
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1175 - D. Afonso Henriques doa ao Mosteiro de São Vicente de Fora, sendo Prior do convento, D. Mendo, os salgados, ribeiras de sal e terras de tojo, correspondentes, grosso modo ao território da freguesia de São Julião do Tojal, para o novo mosteiro ali fazer povoação até cem vizinhos, com jurisdição própria, civil e criminal. 1218 - D. Afonso II confirma a doação anterior, cedendo ao Mosteiro dos Cónegos de São Vicente, todas as terras do Tojal, com todas as suas águas, azenhas, moinhos e marinhas, montados, devesas, campos, olivais, vinhas, casais e casas do lugar, que poderia ter até 100 vizinhos, no qual ele teria toda a jurisdição civil e criminal; é prior D. Gonçalo Mendes; 1755, após - provável instalação na Abelheira, de um moinho para fabrico de papel, aproveitando a água do rio Trancão como força motriz; séc. 18 - séc. 19 - no local fabrica-se papel selado e de embrulho, e, posteriormente, papel de escrever, vendidos no armazém dos frades, situado na Rua da Betesga *4; séc. 19, início - a atividade produtiva da Abelheira para com as invasões francesas; 1834 - após a extinção das ordens religiosas, ocorre o primeiro leilão da propriedade da Quinta da Abelheira, incluindo o moinho de papel; na hasta pública, ninguém licitou os utensílios do engenho, que se encontrava em abandono; 1835 - compra da propriedade, em hasta pública, pelo negociante e político João Gualberto de Oliveira, futuro Barão e Conde do Tojal, por 90.100$00; põe de novo o moinho do papel a trabalhar, mas com resultados insignificantes, produzindo apenas papel de embrulho; transformação do moinho numa fábrica, mandando vir maquinaria do estrangeiro; 1838 - a Fábrica de Papel da Abelheira concorre à Exposição da Sociedade Promotora da Indústria Nacional; 1840 - a Fábrica de Papel da Abelheira concorre novamente à Exposição da Sociedade Promotora da Indústria Nacional; 1841 - a Fábrica, apetrechada com novas máquinas, produz papel de escrita e de impressão; 1851 - a Fábrica de Papel da Abelheira alcança um prémio na Exposição de Londres; 1852 - William Smith, cônsul de Inglaterra e cunhado do Conde do Tojal herda a propriedade da Quinta da Abelheira, incluindo a Fábrica de Papel, introduzindo grandes melhoramentos; 1857 - a Fábrica de Papel da Abelheira concorre à Exposição Internacional do Porto; 1862 - a Fábrica de Papel da Abelheira concorre à Exposição de Paris; 1863 - a Fábrica de Papel da Abelheira concorre novamente à Exposição da Sociedade Promotora da Indústria Nacional; 1864 - o administrador da fábrica é, nesta altura, Luís Jardim; Inácio de Vilhena Barbosa, escreve um artigo no Archivo Pittoresco, em que descreve a fábrica e o pessoal, composto por pessoal de escritório e armazém (Lisboa), um diretor técnico e um engenheiro (ambos estrangeiros), um fiscal, dois maquinistas, um chefe de "luxador", 80 operários e 72 operárias (num total de 152); produz-se papel de escrever, de impressão, e de cores, sendo apregoado por vendedores ambulantes; 1865 - construção do grande reservatório de água, designado por Lagoa; 1881 - a Fábrica da Abelheira é, neste ano, propriedade de Astley Campbell, filho do primeiro casamento de William Smith, sendo gerida por Robert French Duff, o mesmo que responde ao Inquérito Industrial realizado neste ano; possui 150 trabalhadores, 95% dos quais analfabetos, e tem, como principal matéria-prima, o trapo; a maior preocupação para manter a laboração prende-se com a falta de água no Trancão durante o Estio, a ausência de navegabilidade, a carestia do carvão que se importava de Inglaterra e das drogas, também importadas; 1899 - Astley Campbell vende a fábrica e Quinta da Abelheira à Casa Graham (firma W. Graham Jr. & Co), estabelecida em Lisboa desde 1809, sucedendo-se melhoramentos e modernização; a água do Trancão passa a usar-se apenas como acionadora de turbinas; perfuração da rocha para obtenção de água limpa; 1910, década de - o diretor geral da Casa Graham para Portugal era Henry Daft, que altera posteriormente o nome para Henry Dartford; 1914 - novo contrato estipula novos sócios para a firma Graham & J. Graham & Co. - Henry Dartford, Robert Readman, John Norris Marsden e Severs Hildebrand Williams; a fábrica tem 250 operários; 1925 - é concedido o alvará a Guilherme Graham Júnior & Co. para exploração da Fábrica de Papel em São Julião do Tojal, assinado pelo Ministro do Trabalho, Francisco Alberto da Costa Cabral; 1929, 01 abril - em comemoração do 30º aniversário da aquisição, pela Casa Graham, da Fábrica de Papel da Abelheira, realiza-se uma confraternização e a inauguração do novo refeitório; 1930, década de - são gerentes Gilbert Maxwell Graham (gerente da Guilherme Graham) e Severs Hildebrand Williams (gerente de Lisboa); 1932 - a casa Graham adquire novas máquinas e dota a Fábrica de Papel da Abelheira com maquinaria avançada; 1939 - o mestre geral da fábrica da Abelheira é J.S. Crowden e Salvador de Almeida, o chefe da secção técnica; 1952 - construção da nova central elétrica na Fábrica de Papel da Abelheira, equipada com um diesel alternador, que daria maior capacidade à nova maquinaria de fabrico de papel; 1953 - Inauguração da nova máquina n.º 4, tipo Fourdrinier, construída pela firma inglesa Bertrams Ltd.; 1957 - a Grahams Trading Company, Ltd, com sede em Glasgow é vendida à Camp Bird Ltd, uma empresa internacional de prospeção de ouro e outros metais preciosos; fim da hegemonia económica da Casa Graham; 1964 - novo grupo de acionistas austríacos; os Graham passam a deter apenas 7,5% do capital da Fábrica de Papel da Abelheira; 1965 - a fábrica passa a designar-se Graham Indústria de Papel da Abelheira, SARL; no conselho de administração já não consta ninguém de apelido Graham; 1967 - o Grupo Champalimaud controla a Graham Industria de Papel da Abelheira e a indústria de Papel do Prado; 1973 - encerramento provisório da Fábrica de Papel da Abelheira; 1973, abril - constituição de uma nova sociedade - FAPAJAL - Fábrica de Papel do Tojal, Lda., com base no pedido de um dos credores: a Companhia Portuguesa de Celulose; 1975 - a FAPAJAL passa à propriedade do Estado; 1976 - a FAPAJAL é agrupada à PORTUCEL;1997 - uma dívida à PORTUCEL força a dação dos terrenos da Quinta da Abelheira, depois vendidos a uma empresa de urbanização; 1999 - privatização da FAPAJAL com dois acionistas: Dra. Helen de Castro e Dr. Luís da Cunha (ex-administradores do grupo INAPA e Papelaria Fernandes). |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural misto / Sistema estrutural de paredes portantes reforçadas por estruturas em ferro. |
Materiais
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O EDIFÍCIO PRIMITIVO tem paredes em alvenaria de pedra ordinária e tijolo maciço, rebocadas e pintadas; estruturas de suporte das coberturas em madeira e em ferro, colunas em ferro fundido; coberturas em telhado com revestimento de telha cerâmica e chapas metálicas; caixilharias em ferro. |
Bibliografia
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BARBOSA, Ignacio de Vilhena - «Fabrica da Abelheira» in Archivo Pittoresco, Lisboa: Castro & Irmão, 1864, vol. 7, pp. 324-325; CORREIA, Fernando de Oliveira - Relatório da Visita á Fábrica de Papel da Abelheira. Lisboa: Imprensa Nacional, 1914; Graham 1809-1932. Porto: Litografia Nacional, 1932; LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho - Portugal Antigo e Moderno. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira e Companhia, 1873, vol. I; Loures 10 Paisagens. Loures: Câmara Municipal de Loures, 2012; Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Inquérito Industrial de 1881, Inquérito Indirecto - 3ª parte. Lisboa: Imprensa nacional, 1882, pp. 205-206; Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Inquérito Directo - depoimentos. Lisboa: Imprensa nacional, 1883, p. 273; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - A Abelheira e o Fabrico do Papel em Portugal: história de uma propriedade e de uma fábrica. Lisboa: s.n., 1935; Tecnicelpa - «Rota das Fábricas de Papel Antigas», in info@tecnicelpa, agosto 2012, n.º 37, pp. 15-42. |
Documentação Gráfica
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Arquivo Histórico do IGP; CMLoures: Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso |
Documentação Fotográfica
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IHRU: SIPA; CMLoures: arquivo DPMOT |
Documentação Administrativa
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DGLAB/TT: Cónegos Regulares de St.º Agostinho, Mosteiro de S. Vicente de Fora, 1606 e 1695, livros 22 e 25 |
Intervenção Realizada
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Observações
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*1- De acordo com a planta de 1905, esta sala destinava-se, no seu lado sul, às grandes prensas cilíndricas para alisar e amaciar a pasta de trapo de modo a convertê-la em papel, bem como às máquinas de enrolar. No lado N. da sala, situavam-se as máquinas Yankee ou seja os cilindros para remoção da humidade da pasta e sua secagem e a máquina de fabrico de papel n.º1, tipo Fourdrinier. Um compartimento mais pequeno servia para as máquinas de aplicação de goma ou produto impermeabilizante. Ao centro deste edifício situavam-se pequenos compartimentos para os recipientes em que o trapo já cortado e lavado era mexido numa solução de lixivia, junto a um compartimento destinado aos rolos batedores. A N. desta sala, situavam-se os mecanismos de transmissão de energia, a partir da fonte de produção, até aos vários sectores da fábrica. Na ala N. do edifício, localizavam-se os motores. No extremo S. do edifício situavam-se duas baterias de tanques de lixivia para branqueamento do trapo, com cinco tanques de cada lado. A N. dos tanques, uma ala longitudinal que se estendia para N., era destinada à trituração do trapo. *2 - Antes da industrialização existiu no local uma fábrica que produzia pelo sistema de forma. *3 - A disponibilidade de água é factor essencial para a fabricação de papel (actualmente são necessários 1000 l de água para fabricar 1 kg de papel). De igual importância é a garantia de escoamento dos produtos aquosos resultantes da laboração. *4 - o Mosteiro de São Vicente de Fora tinha todo o quarteirão limitado pelo Rossio, Praça da Figueira, Rua da Betesga e Rua do Amparo. |
Autor e Data
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Fernanda Ferreira, Madalena Neves, Frederico Pinto, Manuel Villaverde (CMLoures) 2013 (no âmbito da parceria do IHRU / CMLoures) |
Actualização
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