Castelo de Sines / Museu de História Natural

IPA.00003451
Portugal, Setúbal, Sines, Sines
 
Arquitectura militar medieval, gótica, setecentista. Castelo de estrutura defensiva mista, com características planimétricas e estruturais medievais e bateria com parapeito e baluartes nos vértices adaptada à pirobalística; muralhas verticais, pontuadas por torres de planta quadrada e cubelos cilíndricos, torre de menagem de planta quadrada anexa à alcáçova, segundo modelo frequente nos castelos medievais portugueses, destacando-se o arco ogival no interior do piso térreo da alcáçova e a janela mainelada da torre de menagem, como elementos mais nobres de carácter gótico. As construções dos aquartelamentos, de grande austeridade e distribuição irregular dos vão nos panos de parede caiados integram-se nas tipologias populares regionais, contrastando com a alcáçova, diversas vezes remodelada mas que conserva um carácter arquitectónico mais nobre, se bem que de grande austeridade como impera na arquitectura vernacular de carácter mais aristocrático, com as suas janelas de sacada no piso nobre, enriquecida por tectos pintados segundo o gosto rococó com molduras de concheados e elementos vegetalistas, assimétricos. Exemplo único de castelo medieval construído na linha costeira, iniciando uma estratégia de defesa do litoral alentejano que irá ter o seu ponto alto durante o séc. 16. A estrutura edificada inicial corresponde aos modelos medievais, de construção pouco sofisticada, tendo ficado rapidamente desactualizada fase à evolução da pirobalística pelo que recebeu a adição de um baluarte de modelo que podemos considerar experimental, face à sua irregularidade e ao uso de contrafortes. No interior da cerca conservam-se ainda diversas construções, aquartelamentos, cavalariças e paióis, entre outros, que apesar de arruinados correspondem aos levantamentos efectuados durante o séc. 18. A alcáçova corresponde na sua feição actual a uma profunda remodelação do pós terramoto de 1755, altura em que a estrutura defensiva estava de tal obsoleta que se abriram janelas para o exterior e se enobreceram os interior com tectos pintados, conservando no piso térreo, vestígios mais significativos da construção medieval. Dos acontecimentos ocorridos destaca-se o lendário nascimento de Vasco da Gama, mas seguramente há a sublinhar o papel de seu pai, Estêvão da Gama, na remodelação da estrutura edificada e no reforço da sua segurança.
Número IPA Antigo: PT041513010002
 
Registo visualizado 3810 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Planta composta por cerca de planta trapezoidal, irregular, a que se adossa no ângulo NE. uma torre quadrada, no ângulo SO. um cubelo cilíndrico, no pano N. a torre de menagem, a meio do pano O construção que projecta um dos cunhais para o exterior. No interior da cerca a alcáçova de planta trapezoidal, irregular, adossa-se no ângulo NO., com ligação à torre de menagem, tendo junto um quintal murado que se desenvolve ao longo de todo o pano N.; encerrando parte deste quintal e paralelo ao referido pano desenvolve-se o edifícios dos aquartelamentos, de planta em " L", com coberturas diferenciadas em telhado de quatro águas, com o outro braço adossado ao pano E.; a S. da cerca adossa-se um baluarte de planta irregular, mais largo que o pano de muralha, prolongando-se para O. Alcáçova a NO., com coberturas diferenciadas em três telhados de quatro águas de tesoura. Panos de muralha verticais, coroados por merlões prismáticos; adarve circundante revestido a tijoleira e resguardado por murete baixo. Fachada principal virada a O. de remate superior recto, rasgado por seteiras; ao nível do primeiro andar, à esquerda três janelas de sacada, com molduras de cantaria, com varandas de ferro forjado, assentes em bases de cantaria; ao nível térreo rasga-se uma fresta ao baixo com moldura de cantaria sob a janela central; à direita abre-se a porta em arco de volta perfeita, com moldura de cantaria, encimado por pedra de armas reais, picada e com a coroa totalmente destruída, assente sobre uma lápide inscrita e sobrepujado por nicho em arco de volta perfeita; ligeiramente à direita eleva-se a torre do relógio municipal, com um pano de parede rebocado e pintado a branco onde se destaca o mostrador do relógio, de cantaria com numeração romana gravada e pintada a negro, ponteiros de bronze e moldura de argamassa pintada a óxido de ferro; remate superior recto encimado por campanário em espadana, olhal em arco de volta perfeita onde se suspende sino de bronze; à direita destaca-se o volume de uma construção integrada no pano de muralha, com um cunhal projectando-se para o exterior, seguido de um pano rematado à direita por um cubelo cilíndrico rematado superiormente por murete recto. Fachada S. tendo à esquerda o cubelo cilíndrico, onde se abre uma porta de verga recta, seguido por pano com troço central recto de extremidade rampante; baluarte adossado de muro ligeiramente rampeado reforçado por contrafortes. Fachada E. de um só pano rematado à direita por torre paralelepipédica mais baixa e de remate superior recto. Fachada N. com pano definido à esquerda por torre paralelepipédica e à direita pela torre de menagem, mais elevada, rematada por cinco merlões; na sua face E. rasga-se uma fresta ao nível térreo e duas janelas sobrepostas, ao nível do primeiro e segundo andares; na face N. rasga-se uma janela com moldura de cantaria ao nível do terceiro andar e na face O. rasgam-se duas janelas, uma ao nível do primeiro andar e outra ao nível do segundo; no terceiro andar abre-se uma janela mainelada, formada por dois arcos ogivais ultrapassados, com moldura de cantaria; à direita adossa-se um pano onde se rasgam uma fresta baixa com moldura de cantaria, ao nível térreo, e uma janela com moldura de cantaria, ao nível do primeiro andar. No interior da cerca situam-se diversas construções dos antigos aquartelamentos: à esquerda de quem entra, uma pequena construção térrea (antiga casa da guarda), com cunhal de cantaria, chanfrado, que corresponde à ombreira do antigo portal interior da entrada em cotovelo de que subsistem vestígios das fundações; no ângulo NO. a alcáçova de planta trapezoidal irregular, contornada por caminho de ronda pavimentado a tijoleira. Fachada principal a S. de um só pano rebocado e caiado, delimitado à direita pelo vestígios de uma torre cilíndrica, demolida; ao nível térreo rasga-se portão em arco de asa de cesto e uma porta com moldura de cantaria; à esquerda adossa-se escada de dois lanços com degraus de cantaria que conduz ao primeiro andar, resguardada por murete com capeamento de cantaria; ao nível do primeiro andar abre-se uma porta com moldura de cantaria, uma janela de sacada com moldura de cantaria e varanda de ferro forjado do tipo de barrinha, assente em base de cantaria e uma janela com moldura de cantaria. Fachada E. de um só pano, tendo à esquerda vestígios do pano cónico de uma torre, quase totalmente demolida; ao nível térreo abre-se fresta horizontal e adossa-se tanque de lavagem de roupa; à direita uma escada de um só lanço com degraus de cantaria conduz ao primeiro andar onde se abre uma porta e à esquerda uma janela com moldura de cantaria; no topo direito destaca-se o acesso murado do adarve às coberturas da alcáçova. Aquartelamentos de planta em " L "; no corpo O.; fachada principal virada a S. de um só pano rebocado e caiado, rematado superiormente por beirado, rasgado ao nível térreo por um portão e uma porta e ao nível do primeiro andar por duas janelas; a fachada O. apresenta uma porta ao nível do primeiro andar, a que se acede por uma escada exterior resguardada por murete de alvenaria; o corpo E. apresenta fachada virada a O. de um só pano rasgado por portão arruinado. INTERIOR: alcáçova dividida em dois pisos, com acesso ao piso térreo a partir a porta da fachada principal que conduz a um pequeno compartimento com seteiras rasgadas na parede O. onde se destacam igualmente três peças de cantaria lavrada e porta na parede N. que conduz a um amplo compartimento dividido ao centro por um arco de volta perfeita sob o qual se situa a boca da cisterna, entaipada; na parede S. abre-se um portão de ligação ao exterior, a O. uma porta em arco ogival com moldura de cantaria ladeada por frestas conduz a uma sala com lareira; a O. abre-se a porta de ligação ao piso térreo da torre de menagem, com um único espaço com fresta horizontal na parede E.; primeiro piso com acesso pela porta da fachada principal directamente para a sala de armas, coberta por tecto de masseira pintado com as armas reais integradas em cartela assimétrica de concheados e folhagens de acanto, no painel central e uma panóplia em cada um dos quatro painéis laterais; na parede S. à esquerda de quem entra abre-se um oratório vazio, encerrado por portas de madeira; a O. abrem-se duas janelas de sacada, a N. duas portas e a E. uma porta que conduz a uma sala coberta por tecto plano de madeira com medalhão central integrado em moldura circular, representando Marte e Diana, entre quatro painéis rectangulares, com medalhões circulares ao centro, integrados em molduras rodeadas por elementos vegetalistas; em cada um dos ângulos destaca-se uma concha de onde saem flores; nos restantes compartimentos foram removidos os tectos de madeira, permitindo ver as estruturas de madeira dos telhados, construídas com varedo de castanho; uma escada integrada no pano de muralha faz a ligação entre os pisos superiores da Torre de Menagem, cujo último piso é ocupado por uma única sala coberta por um tecto piramidal com estrutura de varedo de castanho *1.

Acessos

Largo do Poeta Bocage

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 22 737, DG, 1.ª série, n.º 140 de 24 junho 1933

Enquadramento

Urbano, isolado, elevando-se sobre a falésia sobranceira à baía, na parte histórica da vila. A O. a Igreja Matriz de São Salvador (v. PT041513010007) e o conjunto de rampas e escadarias que ligam à praia; o espaço entre estes e o Castelo corresponde ao antigo cemitério hoje ajardinado e onde se eleva a estátua de Vasco da Gama (v. PT041513010032). No terreiro a E. as ruínas de duas fábricas de salga da época romana.

Descrição Complementar

EPIGRAFIA: lápide fachada principal: SENDO GOVERNADOR / O MAJOR JGNACIO / DA CUNHA GASPA / RINHO FOI REEDIFI / CADO EM 1828.

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Cultural e recreativa: museu

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Câmara Municipal de Sines

Época Construção

Séc. 15 / 16 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ESCULTOR: António Amaral Branco de Paiva (1969)

Cronologia

1362, 24 de Novembro - D. Pedro I concede carta de foral a Sines, elevando a então aldeia do concelho de Santiago do Cacém à categoria de vila, referindo que os seus habitantes se queriam cercar, continuando um muro que já tinham começado, e porque sendo lugar costeiro sem cerca podia daí vir grande dano; 1424 - construção a rogo do procurador do Povo, Francisco Neto Chaínho Pão Alvo, para servir de refúgio aos habitantes contra as incursões dos corsários; 1469 - segundo a tradição na Torre de Menagem terá nascido Vasco da Gama; 1480 - visitação da Ordem de Santiago, sendo Alcaide Estêvão da Gama, onde se referem as obras executadas por este; 1517 - visitação efectuada por D. Jorge de Lencastre, Mestre da Ordem de Santiago, descreve muito sumariamente e imóvel e refere a não existência de armas de fogo; Séc. 16 - construção do baluarte; 1614 - vistoria por Alexandre Massay que propõe a reedificação, adaptando o castelo às novas necessidades bélicas, o que não chega a efectuar-se; já é referido o baluarte exterior; 1755 - danos causados pelo terramoto; Séc. 18, segunda metade - data provável de obras profundas de adaptação da alcáçova, com a abertura de janelas para o exterior da cerca e a cobertura do antigo pátio interior para ampliação da construção, execução das pinturas dos dois tectos das salas; 1828 - obras de reconstrução dos danos causados pelas invasões francesas, promovidas pelo governador, major Ignacio da Cunha Gasparinho; 1858, 11 de Novembro - danos causados pelo terramoto, que danificou gravemente a torre do relógio; 1859 - reedificação da torre do relógio público da vila, arrematada a 29 de Maio por Joaquim Lúcio de Santiago do Cacém, por 35 mil réis, que consistiu na reparação das paredes, execução de uma nova abóbada, arranjo do campanário do sino, sendo no final tudo rebocado e caiado, as obras estavam já concluídas a 15 de Setembro; 1969 - estragos provocados pelo sismo; contactos estabelecidos com o escultor António Amaral Branco de Paiva para a execução da estátua de Vasco da Gama, de 2,50 mts. de altura pelo valor de 150.000$00; 2000, 02 de Novembro - Concurso público para elaboração de projecto de arranjo dos espaços exteriores adjacentes, pela Câmara Municipal de Sines, publicado em Diário da República, 3ª série, nº 253; 2007, 07 fevereiro - proposta da DRÉvora de Zona Especial de Proteção conjunta do Castelo de Sines e da Igreja Matriz de São Salvador; 2008, 23 abril - parecer favorável do Conselho Consultivo do IGESPAR à proposta de fixação da Zona Especial de Proteção; 2013, 6 março - Anúncio n.º 106/2013, DR, 2.ª série, n.º 46, relativo ao projeto de decisão de fixação da Zona Especial de Proteção conjunta da Igreja Paroquial de Sines / Igreja de São Salvador e do Castelo de Sines.

Dados Técnicos

Estrutura mista

Materiais

Paredes de alvenaria de pedra e cal, em algumas construções rebocadas e caiadas; telhados de telha de canudo e telha de marselha, com estruturas de madeira; pavimentos em calçada, tijoleira e soalho; tectos de madeira; portas e caixilharias de madeira.

Bibliografia

Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1956, Lisboa, 1957; LOPES, Francisco Luiz, Breve Notícia de Sines, Pátria de Vasco da Gama, Lisboa 1850; SILVA, António de Macedo e, Annaes do Municipio de Sant`Iago de Cacem, Lisboa, 1869; MOREIA, Cor. Bastos, Monumentos de Evocação Militar - Castelo de Sines, in Diário de Notícias, Maio 1975; SOLEDADE, Arnaldo, Sines, Terra de Vasco da Gama, Sines, 1982; FALCÃO, José António, Memória Paroquial do Concelho de Sines em 1758, Santiago do Cacém, 1987; CALIXTO, Carlos Pereira, Castelo de Sines - um exemplar único, in Diário de Notícias, 27 Maio 1989; FONSECA, Luís Adão da, Vasco da Gama. O Homem, a Viagem, a Época, Lisboa, 1997; SILVA, Carlos Tavares, Para uma Arqueologia do Castelo de Sines in Da Ocidental Praia Lusitana, Vasco da Gama e o Seu Tempo, Lisboa, 1998; QUARESMA, António Martins, Sines no Trânsito da Época Medieval Para a Moderna in Da Ocidental Praia Lusitana, Vasco da Gama e o Seu Tempo, Lisboa, 1998; MONTEIRO, João Gouveia, Os Castelos Portugueses nos Finais da Idade Média, Presença, perfil, conservação, vigilância e comando, Lisboa, 1999.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML; CMS: DPU; Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército, Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar; Arquivos Nacionais, Torre do Tombo; Instituto Português de Cartografia e Cadastro; Museu da Cidade de Lisboa; Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal

Documentação Fotográfica

IHRU:DGEMN/DSID, DGEMN/DRML; CMS: DPU

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML; CMS: DPU; DGPE; Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército, Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar; Arquivos Nacionais, Torre do Tombo; Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal; Arquivo Histórico Municipal de Santiago do Cacém; Arquivo Histórico Municipal de Sines

Intervenção Realizada

DGEMN: 1956 - Obras de menor envergadura pelos Serviços dos Monumentos Nacionais; 1998 - recuperação dos interiores do piso térreo do Paço, do pavimento e fachada principal; instalação eléctrica; recuperação integral da casa da guarda para Posto de Informação; consolidação das juntas da muralha NO.; 1999 - recuperação das coberturas (estruturas, telhados e tectos) da torre e das casas do Paço dos Alcaides; DGEMN / CMS: 2001 - recuperação e consolidação das muralhas incluindo tratamento de juntas, pavimentação do adarve, reconstrução pontual de ameias e reposição de murete de protecção; CMS: 2007 - abertura de uma porta nas muralhas do castelo.

Observações

*1 - O castelo era outrora reforçado por uma torre semicircular, a meio do pano E. e por outra torre idêntica, no vértice das paredes do Paço.

Autor e Data

Isabel Mendonça 1992 / Ricardo Pereira 2001

Actualização

Ângelo Silveira 2002
 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login