Convento de Santa Maria da Arrábida / Convento da Arrábida
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Portugal, Setúbal, Setúbal, União das freguesias de Azeitão (São Lourenço e São Simão) |
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Arquitetura religiosa, quinhentista, seiscentista e barroca. Convento franciscano capucho, inserido na tipologia geral da Ordem, segundo uma estética de despojamento de bens materiais. Apresenta planta irregular, composta por diversos corpos, articulados e dispostos na encosta da serra, sendo a igreja composta por nave e capela-mor, interiormente com abóbadas de berço abatido e iluminação axial. A sua fachada principal termina em empena, rasgada por dois arcos abatidos, o da direita criando nártex, ao fundo do qual se abre o portal, tendo a meio escultura de vulto de frade da Ordem e nicho com imagem de Nossa Senhora da Arrábida. As construções utilizam materiais intencionalmente pobres, com seixos a marcar as molduras e cunhais, cortiça a revestir as portas e embrechados a decorar os nichos. Destaca-se a capela de peregrinação do Bom Jesus, barroca, de planta centralizada, rasgada por várias portas, com quatro altares no interior, e decoração barroca na escadaria, painéis de azulejo e estatuária. Várias outras ermidas têm planta centralizada, redonda ou poligonal, gerando um espaço pluridirecional, barroco. |
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Número IPA Antigo: PT031512040018 |
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Registo visualizado 4754 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Religioso Convento / Mosteiro Convento masculino Ordem de São Francisco - Franciscanos Capuchos (Província da Arrábida)
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Descrição
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Complexo formado por dois núcleos murados: o do convento velho, com a capela da Memória e a de Santa Catarina e a pequena ermida de Jesus; e o do convento novo, de maiores proporções, integrando o aglomerado das construções conventuais, do lado O., implantadas em plataformas amparadas por muros de suporte, para N. da igreja e ainda a capela de Bom Jesus, a E., numa plataforma superior e rodeada por átrio murado com escadaria; possuindo fora do circuito murado as capelas de São João do Deserto e de São Paulo e ainda as várias ermidas alinhadas encosta abaixo, a seguir ao convento velho. CONVENTO NOVO de planta composta por vários corpos retangulares e quadrangulares articulados em plataformas ascendentes separadas por escadinhas, adossados entre si ou isolados. Volumes prismáticos, articulados ou simples, com coberturas diferenciadas em telhados de quatro e duas águas. Na plataforma inferior a igreja é antecedida por dois átrios abertos e alinhados pelo eixo da nave, (o cemitério de terra batida e sem lápides, com ciprestes, o adro empedrado) com escadas de comunicação, rodeando maciços rochosos (o da entrada com a estátua de São Pedro de Alcântara em oração, um outro com gruta escavada com a imagem de Santa Maria Madalena). A igreja tem a fachada terminada em empena, com friso e cornija, coroada por cruz latina sobre acrotério, e é rasgada por dois vãos simétricos, em arco abatido sobre pilastras, o da esquerda entaipado, e o da direita dando acesso a um endonártex; entre os vãos surge, sobre amplo globo terrestre e pisando um dragão, a imagem de vulto de um frade arrábido, de braços abertos em cruz, com um círio na mão direita e um cilício na esquerda, os olhos vendados, um cadeado na boca e uma fechadura no peito, emblema das virtudes da congregação. Superiormente, sobre os arcos existe painel de azulejos policromos, com Adoração de Custódia (esquerda), e janela de peitoril moldurada e com caixilharia de duas folhas (direita), e, ao centro, abre-se nicho, em arco de volta perfeita, sobre pilastras, albergando a imagem de Nossa Senhora da Arrábida, protegida por porta envidraçada e tendo com a porta da igreja em frente inferiormente avental volutado. Sobrepuja o nicho a inscrição "IHS" em embrechados. No endonártex dispõe-se, em frente, a porta da igreja, e um vão de acesso a um corredor escuro paralelo à igreja, terminando em nicho com a imagem de vulto de Cristo em oração no Horto (com painéis de azulejo de santos e eremitas da Ordem nas paredes). A igreja tem planta retangular composta por nave e capela-mor, a O., cobertas por abóbada a berço abatido, tendo adossado sacristia e anexo retangular a S.. A nave tem coro-alto, com guarda em tabuinhas de madeira, que comunica o resto do convento por escada íngreme, e arco triunfal abatido sobre pilastras; na capela-mor abre-se tribuna de dupla arcada, uma delas entaipada, comunicando com uma sala no patamar superior à igreja. Rasgada na rocha, sob o embasamento da capela-mor, fica a fonte da Samaritana dentro de um nicho coberto por abóbada a berço. No enfiamento da cabeceira, desenvolve-se o jardim de São Pedro de Alcântara, com a capela de Nossa Senhora da Piedade ao fundo, antecedida por nicho rasgado na rocha, comunicando com o patamar inferior, em que se alinham duas outras capelinhas e com as instalações conventuais nos patamares superiores: celas individuais, refeitório, biblioteca, sala do capítulo, cozinha, forno, instalações sanitárias, em construções de diferentes volumes, cobertas com telha vã, à exceção da biblioteca e sala do capítulo, com teto em caixotão; num dos patamares, antecedida por átrio aberto com esteios em que assentava uma pérgula, fica a casa do bispo, atualmente adaptada a auditório; três capelinhas e vários nichos escavados na rocha integram-se no complexo, em patamares diferentes. A CAPELA DO BOM JESUS implanta-se ao centro de um pátio que se prolonga para O. por escadaria, antecedida por portal de verga reta e frontão de volutas, aberto no muro circundante; na parede da plataforma que antecede a capela, surge silhar de azulejos azuis e brancos, com painéis setecentistas alusivos ao milagre de São Simão Estelita, com restos de um conjunto escultórico comemorativos do mesmo milagre na plataforma. A capela apresenta planta centralizada, quadrada, com ângulos recortados e curvos, coberta por cúpula oitavada, rematada por cupulim, revestida a azulejos enxadrezado azuis e brancos. A capela é formada por dois corpos sobrepostos, o inferior de base maior e paredes em talude, com encadeado em relevo no topo, rasgado por quatro portas de acesso a um espaço central, coberto por abóbada abatida, definindo uma cruz grega; o superior, de base menor, tem as fachadas aprumadas, definidas por pilastras, coroadas por pináculos sobre acrotérios circulares, rematadas em entablamento, e rasgadas por quatro portas de verga reta, encimadas por janelas jacentes, abrindo para uma varanda circundante, com guarda em ferro. No INTERIOR tem espaço central, percorrido por silhar de azulejos setecentistas com grinaldas, coberto por cúpula sobre trompas, e com quatro altares rodeando um trono central em talha dourada com uma maquineta no seu interior. |
Acessos
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Serra da Arrábida; EN 379-1 (Setúbal - Azeitão) |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 *1 |
Enquadramento
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Rural, a meia encosta, na vertente S. da Serra da Arrábida, sobre o mar, com uma costa entrecortada por afloramentos rochosos e praias de areia, dos dois lados da enseada do Portinho da Arrábida. Sobre a costa, no extremo O. do Portinho, defendendo a praia do Portinho e o convento, ergue-se o forte de Nossa Senhora da Arrábida (v. IPA.00010471). Integra-se no Parque Natural da Arrábida com 35 km. de comprimento, no sentido E. / NE. - O. / SO., por 6 km. de largura, 499 m. de altura máxima, com 10 820 ha., pertencentes aos concelhos de Setúbal, Palmela e Sesimbra, estendendo-se do morro de Palmela à agulha do Espichel, com três reservas botânicas e paisagísticas integrais (Mata Coberta, do Solitário e dos Vidais) e a reserva zoológica da ilhota Anicha. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Religiosa: convento masculino |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: edifício multiusos |
Propriedade
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Privada: fundação |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 13 / 16 / 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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1250 - data da construção na zona do convento de uma pequena ermida dedicada a Nossa Senhora da Arrábida, por Hildebrando, mercador inglês, em ação de graças pelo milagre que o salvou de um naufrágio; 1539 / 1542 - construção do convento, patrocinada pelo 1º Duque de Aveiro, D. João de Lencastre, que o doa a Frei Martinho de Santa Maria, frade franciscano espanhol, que aí desejava viver como eremita; séc. 16, 2ª metade / séc. 17, 1ª metade - o 2º e o 3º duques de Aveiro continuam a construção do convento, com edificação da hospedaria e estações dos Passos da Via Sacra; a nora do 3º Duque patrocina a construção das capelas de São Paulo e de São João do Deserto; 1619 - é sepultado na igreja o monge Frei Agostinho da Cruz, que habitou o convento e ficou conhecido como grande poeta da Arrábida; séc. 17, meados - o 4º Duque de Aveiro manda construir o santuário do Bom Jesus; 1670 - 1676 - edificação do forte de Nossa Senhora da Arrábida, por ordem do regente D. Pedro, para proteger o convento dos ataques dos piratas; 1729 - re-edificação da Capela do Bom Jesus; 1798 - reconstrução do forte; 1834 - extinção das Ordens Religiosas, levando os frades a abandonar o convento; 1863 - compra do convento pelos duques de Palmela; 1990 - venda do convento à Fundação Oriente. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura em cantaria e alvenaria de pedra calcária, rebocada e caiada; molduras dos vãos, cruz e outros elementos em cantaria calcária; silhares e painéis de azulejos azuis e brancos ou policromos; decoração das pilastras, nichos e outros elementos com pequenos seixos, embrechados de porcelana, pedaços de vidro e seixos; revestimentos de cortiça; portas de madeira; vidros simples; grades de ferro; cobertura de telha. |
Bibliografia
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ALBINO, José Maria da Rosa - Arrábida. Setúbal: 1956; CALLIXTO, Carlos - "O Forte de Nossa Senhora da Arrábida". In Natureza e Paisagem. Lisboa, s.d. nº 7; GIL, Júlio - As mais belas igrejas de Portugal. Lisboa: 1989, vol. 2; LEAL, Pinho - Portugal Antigo e Moderno. Lisboa: 1873, vol. 1; MENDANHA, Vítor - "Convento da Arrábida - última passagem secreta entre a terra e o céu". In Correio da Manhã. 27 setembro 1983; MOREIRA, RASTEIRO, Joaquim - "Arrábida - geologia e flora". In Guia de Portugal. Lisboa: 1924, vol. 2; NEVES, Sousa - "Convento da Arrábida mantém viva memória de antigos frades e ascetas". In A Capital. 25 novembro 1983; RODRIGUES, Renato - "Convento da Arrábida: da austeridade dos frades aos Estudos Gerais da Arrábida". In O Distrito de Setúbal. 17 setembro 1991; SALVADOR, José A. - "Arrábida: o sonho do mar e da serra". In O Jornal. 25 agosto 1989; SOUSA, Antónia de - "Arrábida: uma ponte entre a terra e o céu". In Diário de Notícias. 17 junho 1989; SOUSA, Pe. Manuel Frango de - Freguesia de São Lourenço - algumas informações. S.l.: texto policopiado, 1980. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; FG |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH |
Intervenção Realizada
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Adaptação de determinados espaços pré-existentes às novas funções. |
Observações
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*1 - DOF: Toda a zona que rodeia o Portinho da Arrábida, incluindo o Conventinho e a Mata de Carvalhos. *2 - O convento foi centro de peregrinação por altura das festas de Nossa Senhora da Arrábida, em finais de julho, tradição que remonta lendariamente ao séc. 13. |
Autor e Data
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Isabel Mendonça 1992 |
Actualização
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