Convento de São Miguel

IPA.00003304
Portugal, Leiria, Óbidos, Gaeiras
 
Convento franciscano capucho maneirista, barroco e neoclássico, inserido na tipologia geral da Ordem, segundo uma estética de despojamento de bens materias. Conjunto constituido pela igreja, dependências conventuais de 2 pisos, claustro e jardim; galilé porticada assente em colunas, em verga recta, inserida na fachada principal terminada em fogaréus e empena circular. Convento semelhante a outros da mesma Ordem, seguindo o modelo corrente (Santo António da Caparica, Santo António da Lourinhã, São Pedro de Alcântara). Igreja de planta longitudinal, voltada a S. de uma nave, capela-mor com tribuna e duas sacristias.
Número IPA Antigo: PT031012080009
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos Capuchos (Província da Arrábida)

Descrição

Conjunto conventual de planta longitudinal, composto pelos volumes da Igreja, dependências, claustro e jardim (fontes e casa de fresco); cobertura diferenciada em telhados de 2 águas e em aba corrida sobre galilé do claustro. CONVENTO: Na cerca a casa de fresco de planta longitudinal, com cobertura em abóbada de berço com monogramas da Ordem, dispostos em caixotões, apresenta vestígios azulejares a meia altura nas paredes com marmoreados em sobreposição. Solo da cerca perfurado por respiradouros para ventilação da ribeira subterrânea. PORTARIA, situada na ala S. do convento dá acesso directo à galilé da igreja. Portas encimadas por mascarões. INTERIOR: com 2 vãos profundos, onde, num deles, se apresenta os vestígios da cena da Morte de São Francisco, em terracota. No corredor de acesso ao refeitório legenda e na parede fundeira deste, pintura decorativa em tons de laranja e castanho, a ladear o local onde existia uma tela. CLAUSTRO de planta quadrangular, de um único piso, com galeria aberta por grossos pilares de pedra aparelhada com pequeno talhe em bisel na parte superior externa que suportam a cobertura em abóbada de canhão; sepulturas rasas (*1). IGREJA: fachada principal voltada a S. com amplo adro murado, aberta por galilé de 3 vãos assente em 2 colunas clássicas, flanqueada por largos cunhais de cantaria em aparelho almofadado, terminando em fogaréus, e sineira disposta na perpendicular assente sobre o cunhal esquerdo, portal ladeado por 2 nichos com azulejos, figurando São João Baptista e uma alegoria à Ordem dos frades capuchos, monge mendicante com cadeado na boca, olhos vendados e fechadura no coração, com a legenda "Tipus Religiones"; sobrepujante ao janelão do coro, ladeado por 2 embutidos cerâmicos representando São Roque e São Barnabé, rasga-se um nicho com escultura setecentista do Arcanjo São Miguel; remate em frontão curvo. A fachada prolonga-se por edifício de 1 piso aberto por porta e 2 janelas ao lado direito e por edifício de 2 pisos, ao lado esquerdo, fenestrado por janelas em ritmo simétrico. Fachada E. ressalto do corpo da igreja, em empena recta; corpo reentrante de dependências. Fachada N. volumes diferenciados das dependências. Fachada O. corpo da capela-mor e claustro aberto por janelas e porta com adossamento de pequeno pátio exterior composto por fontanário em forma de pórtico com arco pleno e 2 nichos laterais circunscrevendo bancos de pedra corridos a todo o perímetro. INTERIOR: Igreja de nave única e capela-mor com tribuna; nave com cobertura em abóbada caiada e paramentos revestidos por silhar de azulejos polícromos, azuis e brancos, com representações de cenas hagiográficas e bíblicas; pintura subjacente no arco triunfal apresentando no fecho uma pedra de armas com o brasão dos padroeiros; capela-mor em abóbada de berço decorada ao centro por medalhão, apresenta retábulo-mor côncavo, de 3 eixos o central em arco de volta perfeita, com tribuna e trono, e os laterais delimitados por colunas solomónicas, com 2 mísulas sobrepostas por baldaquinos. Duas sacristias, a Maior e Menor, ambas com cobertura em abóbada de berço. A Sacristia Maior tem um retábulo em terracota de planta recta e três eixos com 3 edículas em arco de volta perfeita, sendo a central de maior dimensões, com decoração vegetalista e delimitadas por colunas salomónicas sobre as quais assenta cornija; do lado direito a imagem de Santa Clara; abóbada com pinturas murais figurando um pássaro e albarradas, localizada em medalhão central com a representação de uma coroa real fechada. Sacristia Menor com retábulo em estuque, de planta recta com 3 nichos; o central, de maior dimensões, encimado pelas armas franciscanas, dois braços cruzados e uma cruz, segurando nas mãos folhas de palma, está decorado com Maria Madalena aos pés da Cruz e pintura representando a cidade de Jerusalém. Os nichos são ladeados por quatro balaústres e emolduradas com enrolamentos que se entrelaçam nas cordas franciscanas, com nós, que rematam o conjunto.

Acessos

Gaeiras

Protecção

Em estudo

Enquadramento

Rural, isolado, implantação destacada entre os vinhedos das Gaeiras, com vista panorâmica da vertente E. da Vila de Óbidos.

Descrição Complementar

O Convento de São Miguel das Gaeiras encontra-se ocupado, em grande parte do edifício, pelo Museu Regional do Oeste. Não só a área conventual como também a zona da igreja foi musealizada. As duas sacristias da igreja estão transformadas em salas de exposição permanente. O corpo da igreja foi transformada em sala para conferências, seminários e formação. Uma biblioteca especializada na Região Oeste ocupa a cripta; a antiga cozinha do convento é ocupada por bar / refeitório. Numa das alas conventuais foi instalada uma oficina de restauro ao vivo, onde poderão ser observadas as técnicas e os produtos empregues em cada tipo de materias a restaurar. No 1º piso situa-se a galeria de exposições temporárias.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Cultural e recreativa: monumento

Propriedade

Privada: associação

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Fr. Anselmo, irmão leigo (superintendente da obra); André Reinoso (pintor) (*2)

Cronologia

1569 - é fundado pelo Infante D. Henrique o primitivo convento dos frades franciscanos arrábidos, Convento de São Miguel de Trás-do-Outeiro, junto ao Arelho; 1590 - por não se ter procedido à drenagem dos rios da Várzea da Rainha, onde se situava o convento, o local tornou-se inabitável e insalubre, "os religiosos enfermavam ali muito e pela moléstia dos mosquitos" (Crónica da Província da Arrábida), originando o seu abandono; 1602, 26 Fevereiro - morre o guardião do convento, Fr. Pedro de Santo António, tendo sido sepultado no claustro do convento de Trás do Outeiro; 20 Outubro - foi lançada a 1ª. pedra da edificação do novo templo dedicado ao Arcanjo São Miguel, na presença do provincial Fr. Rodrigo de Deus, por iniciativa do alcaide D. Dinis de Lencastre e de sua mulher D. Isabel Henriques, e continuado por seu filho D. Afonso de Lencastre, para cujo sítio havia sido adquirida uma terra na Quinta de Vale de Flores, de um microclima especialmente apropriado à agricultura, beneficiando a sua construção não só do alcaide-mor de Óbidos como do acolhimento da vizinhança que ofereceu materiais para a construção, transportes e mão-de-obra. A capacidade era de 13 frades; 1606 - as obras avançam rapidamente e nesta data já se faziam ofícios religiosos na capela-mor; falecimento de D. Dinis de Lencastre, sendo sepultado na cripta da nova igreja; 1630 - data atribuída aos quadros que existiram nos altares mor e colaterais, de autoria de André Reinoso; 1700 - sofreu obras de ampliação e restauro: "eram os dormitórios no pavimento do claustro, e se levantaram no andar do coro, as oficinas e celas se ampliaram e correu muita parte do dispêndio por conta da caridade dos devotos (...) e nele moravam ordináriamente 18 até 20 religiosos" (Crónica da Província da Arrábida). Campanha de obras em que se elevou a fachada principal da igreja - esta apresentava frontão triangular e janela de iluminação com cantaria de verga recta, mais pequena do que a actual. A igreja aumentou de dimensões e cobriram-se as paredes interiores com azulejos historiados; 1719 - o padroado passa para a posse do marquês de Gouveia; séc. 18, 1º quartel - notícia da doação testamentário de António Ferraz de Castelo Branco, relativa a umas casas para construção de uma enfermaria para os frades; 1740 (década) - D. João V vem pela última vez a Óbidos, passa pelo Convento das Gaeiras, deixa-lhe oitocentos mil réis de esmola e manda que, da sua fazenda, se acabe a obra da igreja, que se achava imperfeita, e se dourasse a tribuna, o que tudo importou em um conto de réis; colocação de azulejos; 1784, 31 Maio - data de um documento manuscrito pelos franciscanos e encontrado quando das obras de restauro; 1834 - com a extinção das ordens religiosas o convento é vendido a Faustino da Gama; 1994 - o convento foi comprado à Câmara Municipal de Óbidos pela Associação de Municípios do Oeste.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes, estrutura mista e estruturas autoportantes.

Materiais

Estruturas de alvenaria e cantaria; madeira; telha; azulejos; rebocos.

Bibliografia

Crónica da Província da Arrábida, Parte 1, Livro III, Cap. XXXVI, pág. 459, Officina de Joseph António de Sylva, MDCCXXVIII; SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Inventário Artístico de Portugal, vol. V, Lisboa, 1955; TRINDADE, João, Memórias Históricas de Óbidos, Óbidos, 1985; CÂMARA, Teresa Bettencourt da, Óbidos - Arquitectura e Urbanismo, Óbidos, 1987; PEREIRA, José Fernandes, Cidades e Vilas de Portugal: Óbidos, Lisboa, 1988; Gaeiras, in Descobrir Óbidos, 03/02/1996; BOTELHO, Joaquim da Silveira, Óbidos - Vila Museu, Óbidos, 1996; Espaços e Memórias, IV Jornadas do CEPAE, 17 Mar. - 6 Mai. 2001, Batalha, 2003; www.amo.oestedigital.pt, 16-01-2008.

Documentação Gráfica

CMO: planta cartográfica

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID; Arquivo " Mural da História "

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

AMO: 1998 / 2000 - obras de reabilitação e restauro (*3): limpeza do convento e da área envolvente; consolidação geral do edifício com um recalço das fundações em todo o perímetro e um nivelamento na parte superior, com um lintel de betão armado; construção de raíz do edifício lateral direito, devido ao seu avançado estado de degradação; restauro da cozinha, claustro e todas outras dependências conventuais, da igreja e da gramática decorativa existente, restauro do altar-mor e das pedras tumulares existentes no claustro; restauro da cripta existente no altar-mor; restauro das pinturas existentes nas duas sacristias do convento; restauro do retábulo em terracota existente na sacristia maior; consolidação dos fragmentos de um conjunto em terracota com a representação da Morte de São Francisco, em tamanho quase natural, existentes na portaria

Observações

*1: Na primeira sepultura do claustro encontram-se enterradas, numa talha vidrada, as vísceras do Infante D. Francisco, irmão de D. João V, que faleceu na Quinta das Janelas. *2: André Reinoso pintou as telas que ocuparam os altares principal e colaterais, encontrando-se, actualmente, 2 das pinturas no Museu Municipal de Óbidos. *3: No decorrer das obras de recuperação e reabilitação do Convento de São Miguel das Gaieiras foram sendo descobertos alguns objectos de cerâmica utulitários. O espólio foi classificado em dois grupos: fragmentos de faiança, principalmente do séc. 17, e fragmentos de olaria vidrada e não vidrada. Os objectos podem ser observados na exposição permanente do museu.

Autor e Data

Lurdes Perdigão 1998 / Cecília Matias 2008

Actualização

 
 
 
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