|
Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Agrícola e florestal Quinta
|
Descrição
|
Quinta de planta irregular, atravessada pela Rua Francisco Franco Cannas (antiga EM 628), que a divide em duas parcelas; uma parcela N, com uma vocação predominantemente agrícola, onde a propriedade é totalmente delimitada por muro de pedra e integra a CASA DA QUINTA (v. PT0311071448), capela e edifícios de apoio, situados na margem da referida rua, formalizando a área nobre do edificado da propriedade. Na outra parcela, a S. da via, a propriedade é composta por área florestal de sobreiros e pinheiros, a SE. por uma pequena área de prado delimitada por arvoredo e edifícios de apoio à actividade agrícola, destacados do corpo da casa da quinta. Em posição fronteira à casa da quinta, situa-se uma área de estacionamento com um pequeno jardim composto por relvado e sebe aparada. A cota mais elevada é de 48m, na área florestal S. e a cota mais baixa de 5,5m, no vale interior à área murada da propriedade. A área florestal cobre a encosta fronteira à casa. No topo, enquadrado pelos sobreiros, encontra-se um POMBAL de planta circular, paramento em alvenaria com embasamento saliente, cobertura em cúpula com quatro aberturas em forma de lucarnas salientes rematadas por verga curva, e porta com moldura em cantaria. A zona N., área nobre da propriedade, tem planta aproximadamente triangular e é estruturada funcionalmente pela topografia em duas áreas distintas. Uma, de declive suave, no terço médio da encosta, onde se localizam a casa, o jardim, a vinha e a mata. A outra, uma área plana de vale, junto à ribeira, com pomares, horta e prado. A transição entre as duas é efectuada por muro de encosto em pedra argamassada, que percorre a propriedade de N. a S. com um caminho pedonal associado. Há que destacar a presença de dois tipos de percursos, os da água e os do Homem ou caminhos. Os caminhos não apresentam uma hierarquia clara, contudo evidenciam-se duas situações distintas. Um CAMINHO FUNCIONAL, na zona de encosta, liga a fachada posterior da casa a um grande tanque de rega, próximo do extremo N. da propriedade, passando por elementos do sistema hidráulico (poço, mina de água, chafariz com templete e tanque). O outro, é um CAMINHO CONTEMPLATIVO, adossado ao muro de encosto e sensivelmente paralelo ao primeiro, percorre a propriedade de N. a S. sob uma pérgula de vinha virgem, marginando as hortas e pomares, e dando acesso ao tanque com casa de fresco a SE.. No muro encontram-se nichos para colocação de estatuária. O SISTEMA HIDRÁULICO é composto por mina em galeria subterrânea para captação, condução e distribuição de água, com duas entradas visitáveis na encosta, a O. do caminho funcional. Nesta encosta encontra-se também um poço com nora, igualmente a O. do caminho. Este sistema efectua a distribuição da água até aos dois tanques e ao chafariz com templete que se situa na encosta, a E. da vinha, na confluência do caminho funcional com o acesso ao caminho contemplativo. A propriedade murada é visualmente muito aberta à envolvente devido à implantação em encosta, à cota relativamente baixa do muro exterior da propriedade e à ausência de sebe ou cortina de vegetação. De todo o interior do espaço murado avista-se a várzea e costeiras da zona E. de Loures. Pelas mesmas razões, da envolvente é possível avistar os elementos que compõem o espaço interno. São os elementos vegetais de porte frondoso que conferem clausura ao jardim formal contíguo ao edifício de habitação. O acesso privilegiado ao interior da área nobre da quinta efectua-se através do PÁTIO central de distribuição e acesso aos edifícios, existindo mais três entradas directas para a área agrícola, uma na encosta e duas no vale, destinadas à entrada de máquinas agrícolas. O Pátio é empedrado a calcário e basalto formando mosaico de padrão geométrico, apresenta as colunas que sustentam a varanda do piso nobre da casa e a fachada da banda edificada a E. cobertas por trepadeiras vinha-virgem (Parthenocissus quinquefolia). A fachada da banda edificada que fecha o pátio a N. é revestida por quatro bougainvileas (Bougainvilleas), nesta fachada abre-se em arcada o acesso pedonal ao jardim formal e área agrícola da quinta. Transposta a arcada, acede-se ao jardim, por escadaria semicircular em pedra. O JARDIM FORMAL tem planta em semicírculo e canteiros em forma de “gomos de laranja”, delimitados por buxo talhado, no interior dos quais se encontram roseiras (Rosa sp.) e evônimos (Euonymus japónica) topiados em forma esférica. O jardim formal é contido visualmente por sebe de cupressos (Cupressus sp.), com duas aberturas em arco para a área agrícola da quinta. Na fachada posterior da capela e corpo E. da casa da quinta existe um pequeno JARDIM SECRETO de planta rectangular, contido por muro alto com fenestrações e grelha de ferro, por onde se torna visível a vinha. Acede-se através da casa, ou da quinta, através do portão que deita para a vinha. Este jardim é composto por um canteiro de forma rectangular e três circulares de buxo aparado com roseiras no interior. Contíguo à fachada posterior da casa um outro canteiro de buxo aparado contém hortênsias (Hydrangea macrophylla). Estes canteiros sobressaem sobre um pavimento em calçada de calcário branco com friso preto. A área agrícola da encosta na área murada da propriedade apresenta-se, estruturada em quatro parcelas, divididas por percursos que delimitam e circundam as diferentes áreas de produção e que simultaneamente unem os elementos recreativos e ornamentais que compõem o espaço. A produção agrícola é dominada pela vinha, que ocupa a encosta até ao muro de encosto. Na vinha encontram-se dois acessos às galerias da mina de água, que se desenvolvem no subsolo e apresentam dimensão suficiente para serem visitadas, e um poço com nora desactivada. Fronteiro ao jardim, e na confluência de três caminhos, encontra-se um CHAFARIZ COM TEMPLETE, uma estrutura de lazer associada à água, com dois bancos capeados a pedra, adossados à sua estrutura e azulejos alusivos a Santo António e ao Milagre das Bilhas, configurando uma área de descanso e contemplação. O chafariz é rodeado por 5 frondosos pinheiros mansos circundados por uma sebe de cupressus (Cupressus sp), talhados em semicírculo. A sebe tem continuidade para N., ladeando bilateralmente o caminho funcional que separa as duas parcelas de vinha e culmina no acesso ao grande tanque de rega da propriedade e sobreiral, única zona de mata no interior da zona da quinta murada. O GRANDE TANQUE DE REGA em cantaria de calcário e de planta rectangular é enquadrado em três lados por muros de suporte em alvenaria de pedra. Os acessos abrem-se em ambos os muros laterais, através de dois portais simétricos e com coroamento de volutas. Os muros laterais e o muro de topo possuem, cada um, grande e profundo nicho, marcados superiormente por plintos de alvenaria coroados com pináculos, sendo que nos dois nichos laterais os plintos são enquadrados por volutas. O muro de topo é percorrido em toda a sua extensão por banco de pedra. O muro que lhe fica fronteiro, muro de encosto, apresenta cota de coroamento inferior aos laterais, permitindo abertura de vistas para o pomar, horta e paisagem envolvente, e é adornado com floreiras e conversadeiras, configurando uma zona de estadia que desfruta da vista para o vale. A S. do chafariz em templete e na direção E., um percurso delimitado por sebe de marmeleiro enquadra a vinha da parcela intermédia e conduz a um PORTAL SETECENTISTA cujo lintel possui dois pináculos nas extremidades e coroamento com cartela central e pináculo no topo. Este portal congrega a junção dos dois caminhos principais e dos caminhos secundários do vale e é adossado ao MURO DE ENCOSTO que efectua a separação da encosta com o patamar inferior, onde se localiza a horta, os pomares de fruteiras e o prado natural. Tem forte expressão na divisão das funções da quinta, separando a área nobre da residência, jardim e vinha, da zona de vale. Do portal setecentista para N., o muro contém aduelas em pedra para suporte da PÉRGULA, parcialmente em ferro, mas com troços antigos em madeira, sendo revestida por vinha virgem (Parthenocissus quinquefolia) para ensombramento do caminho. Ao longo deste, o muro de encosto integra nichos, rematando a N., com um nicho de topo integrado no muro exterior da propriedade. No troço final deste caminho, perto do limite N. da propriedade, encontra-se um pequeno tanque de pedra, próximo mas a cota inferior ao grande tanque de rega, com duas grandes lajes inclinadas desde o bordo até à face da água, para funções de lavadouro. Junto ao muro limite da propriedade, a N., o caminho do patamar inferior une-se ao que delimita a encosta, através da pequena zona de sobreiral, passando junto ao coroamento do muro adjacente ao grande tanque de rega integrando, então, o caminho ladeado por sebe talhada até ao chafariz em templete. Para S. do portal setecentista, o muro de encosto inflecte para integrar o TANQUE EM MEIA-LUA COM CASA DE FRESCO, localizado na parte agrícola da propriedade, no encontro dos percursos principais e secundários. Para S. do tanque com casa de fresco o muro de encosto continua até ao limite S. da propriedade, onde é interrompido junto ao muro exterior, para dar acesso, através de escada, ao patamar superior, a uma pequena área de vinha contígua aos edifícios utilitários de apoio à produção agrícola. Ainda do portal para SE., apresenta-se um percurso amplo até ao limite de propriedade, que permite a entrada de máquinas agrícolas à zona de horta e prado. A S. deste percurso, a horta e um pequeno pomar de fruteiras diversas, são modelados em socalcos com muretes de pedra acompanhados de regadeira. A área do vale é plana e muito rica em água, apresentando dois poços e dois pequenos tanques de rega, dominada por um prado natural, e pontualmente por fruteiras. |
Acessos
|
Rua Francisco Franco Cannas (antiga EM 628), A-das-Lebres |
Protecção
|
Inexistente |
Enquadramento
|
Rural / urbano, implanta-se nos terços médio e inferior da encosta, incluindo um pequeno vale. Os declives são suaves e decrescem de O. para E.. Confronta com área florestal a O., e com área urbana a S.. Confina com uma linha de água afluente da Ribeira das Carrafochas a E. e N., no limite com a área urbana de A-das-Lebres. É envolvida por tecidos urbanos fragmentados, de diferentes morfologias e densidades. |
Descrição Complementar
|
O TANQUE EM MEIA-LUA COM CASA DE FRESCO, apresenta planta em forma semi-circular (meia-lua) e é enquadrado por muros de planta em U encimados por cornija e rematados superiormente por frontões contra-curvados e pináculos. O tanque articula-se com as paredes que o envolvem por meio de dois pequenos lances curvos de seis degraus em pedra que dão acesso a uma varanda protegida por guarda de ferro e balaústres de pedra. No centro da varanda rasga-se um vão rematado por arco de volta perfeita, de acesso a uma casa de fresco, cujas paredes são revestidas a azulejo azul e branco, representando cenas galantes: uma refeição e um jogo de cartas. Sob os azulejos, bancos corridos de pedra. Ao fundo deste compartimento, abre-se um arco de volta perfeita para um nicho onde se encontra uma bacia de mármore e uma carranca de onde brota a água. Para ambos os lados desta casa de fresco, dispõem-se simetricamente 4 nichos incorporando bancos de pedra. Os nichos são totalmente revestidos a azulejo azul e branco que constituem alegorias às 4 estações do ano, sendo envolvidos por cercaduras barrocas recortadas, também em azulejo. Existe ainda um lambril de azulejo de albarradas percorrendo os três lados da varanda. |
Utilização Inicial
|
Agrícola e florestal: quinta |
Utilização Actual
|
Agrícola e florestal: quinta |
Propriedade
|
Privada |
Afectação
|
Sem afetação |
Época Construção
|
Séc. 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
Desconhecido. |
Cronologia
|
1714 - Construção da casa e capela promovida por Francisco Gomes Lisboa, homem de negócios da cidade;. 1740 - colocação de azulejo no pátio e no tanque com casa de fresco e portal armoriado; séc. 18, 2.ª metade - a Quinta das Carrafouchas é adquirida por João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho, figura de destaque durante o governo do Marquês de Pombal *1; 1804, 21 dezembro, a Quinta das Carrafouchas encontrava-se para arrendar, mantendo-se na posse da mesma família; 1875 - aquisição da quinta por Quirino Luís António Lousa. |
Dados Técnicos
|
O muro de encosto, em pedra argamassada, resulta da execução do terraceamento efectuado com vista à contenção das terras e à regularização e aproveitamento da água para rega. |
Materiais
|
Inertes - muro exterior e muro de encosto em pedra calcária argamassada; muro da horta em pedra seca; pavimentos em terra batida; pérgula em ferro e madeira. Material vegetal - Árvores: cedro (Cupressus sp.); pinheiro manso (Pinus pinea); sobreiro (Quercus suber); árvores de fruto diversas; arbustos: buxo (Buxus sempervirens); roseira (Rosa.sp); Evónimo (Euonymus japonicus); hortênsias (Hydrangea macrophylla); herbácias: prado natural; trepadeiras: Buganvilea (Bougainvillea sp.); vinha virgem (Parthenocissus quinquefolia); vinha (Vitis vinifera). |
Bibliografia
|
Almeida, M. Lopes de - Subsídios para a História da Universidade de Coimbra e do seu Corpo Académico - 1801-1821. Coimbra: Imprensa de Coimbra Lda., 1966, p.15; CALDAS, João Vieira - A Casa Rural dos Arredores de Lisboa no Século XVIII. 2.ª ed. Porto: Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, 1999; Edifícios e Monumentos Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1963, vol. III; Guia de Santo Antão do Tojal. Santo Antão do Tojal: Junta de Freguesia de Santo Antão do Tojal, 2009; Jornal do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro. Rio de Janeiro: Typographia de J.E.S. Cabral, 1840. Tomo II, n.º 5, abril, 1840, pp. 118-125; STOOP, Anne de - Demeures Portugaises, Histoire et Décor. Porto: Weber Civilização, 1986. |
Documentação Gráfica
|
CMLoures: arquivo Divisão de Planeamento Municipal e Ordenamento do Território |
Documentação Fotográfica
|
CMLoures: arquivo Divisão de Planeamento Municipal e Ordenamento do Território |
Documentação Administrativa
|
|
Intervenção Realizada
|
Nada a assinalar. |
Observações
|
*1 - João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho (Rio de Janeiro 1722 - Lisboa 1799) teve papel de destaque na reforma dos estatutos e programa da Universidade de Coimbra, juntamente com seu irmão D. Francisco de Lemos Coutinho (Reitor e futuro Bispo Conde). Desempenhou várias funções na Universidade de Coimbra. Foi posteriormente desembargador da Relação do Porto, desembargador da Casa da Suplicação, Procurador da Coroa, Guarda Mor da Torre do Tombo, Desembargador do Paço, Conselheiro e, no fim da sua vida, Secretário da Princesa D. Carlota Joaquina de Bourbon. Casou, por procuração, em 1772 com D. Maria do Cardal Ramalho da Fonseca Arnaut do Rivo, senhora do morgado de Condeixa, na capela do mesmo morgado, tendo assistido como testemunha o Marquês de Pombal. O palácio dos Lemos-Ramalho em Condeixa-a-Nova (v. PT020604040006) passa, deste modo, aos descendentes desta união. |
Autor e Data
|
Madalena Neves, Manuel Cabral: (CMLoures), 2011 (No âmbito da parceria IHRU / CMLoures) |
Actualização
|
|
|
|
|
|
| |