Palácio dos Condes de Farrobo / Palácio das Laranjeiras e Teatro Tália

IPA.00003183
Portugal, Lisboa, Lisboa, São Domingos de Benfica
 
Arquitectura residencial, romântica. Palácio oitocentista. Trata-se de um bom exemplo de palácio inserido numa quinta, caracterizado pela sobriedade de fachadas e com espaços de recreio articulados. O Teatro Tália é um raro exemplo de teatro privado em Portugal.
Número IPA Antigo: PT031106390086
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  

Descrição

Planta em E, definida pelo núcleo principal do palácio (volume paralelepipédico rectangular, com cobertura em telhado a 4 águas) e os 3 corpos avançados no alçado SO. (com cobertura a 3 águas). Apresenta 3 fachadas, sendo as mais extensas a NE. (virada à rua) e a SO. (dando sobre o jardim). A fachada NE. do palácio, delimitada lateralmente por cunhais e ritmada por pilastras de cantaria, é constituída por um só corpo, que ostenta no piso térreo 5 portas e 6 janelas de peito. Já no andar nobre são visíveis 11 janelas de sacada, sendo a do centro mais larga e guarnecida superiormente. A fachada é rematada em altura por cornija, interrompida sobre os vãos centrais por frontão triangular. Na sequência desta fachada, para o lado N., localiza-se o grande portão de ferro que dá acesso ao pátio. É desde o pátio que se avista o alçado principal do palácio (NO.), de corpo único, onde se destaca a porta principal com emolduramento de cantaria ladeada por 2 pares de janelas. A fachada SO., organiza-se em 3 corpos, sendo o central recuado, dando desse modo lugar a um terraço do qual se acede ao jardim por meio de um lanço desdobrado de escadas, guarnecidas de cortina de cantaria. A parte central do corpo intermédio avança, ostentando uma janela de sacada em arco de volta inteira e sendo coroada por frontão triangular. INTERIOR(palácio): destacam-se: o átrio (com acesso pela porta principal do alçado NO., apresenta um tecto de estuque relevado envolvendo uma pintura central de temática alegórica e silhares de azulejos de grinalda); a escadaria, à esquerda do átrio, abrindo com um arco abatido, de doid lanços, termina numa galeria cujo tecto apresenta, ao centro, pintura a óleo, uma alegoria representando "Psiché e o Amor"; algumas salas, nomeadamente as antigas Sala de Jantar, Sala de Música, Salão de Baile e quarto do conde de Farrobo, que ostentam pinturas a óleo aplicadas nos tectos e sancas - sendo algumas da autoria de António Manuel da Fonseca (1796 - 1890) -, bem como estuques (de artistas como João Paulo da Silva e do italiano Felix Salla). O TEATRO TÁLIA apresenta dois pisos, mais um sobre a cimalha; a fachada de sete vãos apresenta 4 colunas de ordem dórica sobre as quais assenta um frontão triangular de tímpano liso, sobre o qual e estátua de Érato; sobre os acrotérios duas urnas; no prolongamento das colunas, e sobre plintos que avançam do peristilo, quatro esculturas, em pedra, representando esfinges deitadas e apoiadas sobre as patas; a fachada E. apresenta corpo simples com oito vãos simples simétricos distribuidos por dois níveis e porta central. INTERIOR: encontra totalmente esvaziado (todos os elementos de arquitectura e decoração do revestimento desapareceram) apenas existindo, de pé o grande arco em alvenaria que separa o palco da plateia. ANEXOS: a S., no seguimento da fachada lateral, existem as antigas cavalariças e casas dos cocheiros constituídos por edificações de dois pisos seguidas de terreiro irregular que confina com os jardins. A N. no seguimento do Teatro Tália e anexo a este, habitação de dois pisos (antigos camarins do teatro); mais a N. e, acompanhando o muro, passando o lago junto à escadaria monumental, outro grupo de habitações antigas, com poço e pequeno pavilhão.

Acessos

Estrada das Laranjeiras, n.º 195 - 199. WGS84 (graus decimais) lat.: 38.745012, long.: -9.169330

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 735/74, DG, 1.ª série, n.º 297 de 21 dezembro 1974 *1

Enquadramento

Urbano, destacado, adossado. A fachada E. está voltada para a Estrada das Laranjeiras onde, do lado oposto da rua, se encontra implantado o chafariz das Laranjeiras (v. PT031106390352). Dentro do pátio, em posição fronteira ao alçado principal do palácio, é visível o arruinado teatro de Tália. Do lado O. estendem-se o jardim do palácio (v. PT031106390436) e todo o conjunto do Jardim Zoológico de Lisboa (v. PT031106390437).

Descrição Complementar

O interior do palácio apresenta diversos elementos decorativos de grande importância para o estudo das artes e das artes decorativas do Oitocentos; é de realcar as pinturas não só do átrio e da escadaria, bem como, das diversas salas que, quase todas apresentam, quer pinturas, quer decoração em estuque; na antiga sala de Jantar, no tecto representa-se uma pintura com alegoria à Flora e à Abundância; na sala do Baile, as paredes estão decoradas com pintura de paisagens e quatro medalhões noa ângulos da sanca, representando alegorias às artes; o grande salão, de tecto de masseira elevado, revestido com ornamentos de estuques apresenta pintura alegorica e doze medalhões que circundam a sanca. Por quase todas as dependências surgem apontamentos de decoração de estuques silhares de azulejos setecentistas. O Teatro Tália, data de 1820, e foi reedificado e iluminado a gás em 1842. Neste teatro estreou-se a peça de Almeida Garrett "Frei Luís de Sousa" e, entre 1834 e 1853, foi palco de 18 óperas dos mais importantes compositores (Jordani, António de Coppola e Ângelo Frondoni), que vieram para Lisboa quando o Conde de Farrobo era empresário do Teatro de S. Carlos (v. PT031106200042). O incêndio de 182 destruiu todo o interior que comportava 560 lugares, possuía luxuosos camarins e um salão de baile, com paredes revestidas de espelhos de veneza. Sob o tímpano ostentou em tempos a frase latina: "HIC MORES HOMINUM CASTIGANTUR" de que já não apresenta qualquer vestígio. A zona central do alçado SO. do palácio define um eixo linear a partir do qual se desenvolve a composição dos jardins (hoje truncados devido à alienação de parte da propriedade), onde se reconhecem 2 plataformas quadrangulares, com jardim de buxo organizado em torno de tanques.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Política e administrativa: ministério / Teatro

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros (em auto de cessão de 5 de Novembro de 2000, na sede da Direcção-Geral do Património )

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Padre Bartolomeu Quintela (1802); Fortunato Lodi (1842-1843); Giuseppe Luigi Cinatti (1837). ESTUCADORES: Félix Salla (1802); João Paulo da Silva (1802). PINTOR: António Manuel da Fonseca (1802).

Cronologia

1779 - o Desembargador Luís Rebelo Quintela adquire a quinta por 24 contos; 1802 - Joaquim Pedro Quintela (1º Barão de Quintela), herda a propriedade de seu tio; edificação do palácio da quinta, segundo projecto do Padre Bartolomeu Quintela (oratoriano, tio do proprietário); os tectos do palácio são então pintados por António Manuel da Fonseca (1796-1890) e estucados por João Paulo da Silva e Félix Salla; 1820 - construção do Teatro Tália (sala com cerca de 560 lugares), integrado na propriedade do conde de Farrobo, conforme projecto de Fortunato Lodi; 1833 - instalação da iluminação a gás no Teatro; 1837 - obras no imóvel, conforme projecto de Giuseppe Luigi Cinatti; 1842 / 1843 - reconstrução do Teatro segundo projecto do Arquitecto Fortunato Lodi; 1862, 9 Setembro - incêndio que destrói o Teatro; 1874 - a quinta do conde de Farrobo é vendida em hasta pública e adquirida pelo duque de Abrantes y Liñares, que a restaurou; 1877, 11 Abril - aquisição da quinta pelo comendador José Pereira Soares, o qual acrescenta a propriedade com a Mata das Águas Boas e a Quinta dos Barbacenas; 1903, 30 Junho - a antiga quinta do conde de Farrobo passa para a posse do conde de Burnay; 1905 - instalação do Jardim Zoológico nos jardins da antiga quinta dos Farrobo, permanecendo o palácio e os jardins imediatos na posse da família Burnay até 1940; 1939 - o Ministério do Ultramar adquire o palácio e os Jardins anexos; 1940 - por despacho do Ministro do Ultramar, é entregue ao Jardim Zoológico de Lisboa, a exploração e conservação dos jardins anexos ao palácio; séc. 20, década de 80 - instalação no palácio de serviços da Secretaria de Estado da Juventude; 1978 - demolição do telhado do Teatro Tália e das habitações anexas; 1993 - estão instalados no palácio vários serviços do governo como o Gabinete do Ministro Adjunto para os Assuntos Parlamentares, os serviços da Secretaria de Estado da Juventude, a Comissão Inter-ministerial Projecto Vida e o Gabinete dos Assuntos Europeus; 1998 - foi elaborado uma proposta a um projecto de recuperação do teatro realizado pela arquitecta Teresa Poole da Costa (DRMLisboa), e que prevê a criação de um equipamento constituído por: um auditório, que preencherá o espaço anteriormente ocupado pela plateia do teatro; uma sala de exposições, nascida do aproveitamento da antiga caixa de palco; e salas de formação profissional; o auditório, com cerca de 105 lugares, para além de servir as actividades inerentes à formação profissional, poderá também estar aberto a diversas actividades de carácter cultural; a área confinante com a Estrada das Laranjeiras, actualmente ocupada por habitações bastante degradadas, será devolvida ao teatro; 2000 - instalação no edifício do gabinete do Ministro da Reforma do Estado e da Administração Pública; anteprojecto de recuperação e adaptação do teatro Tália a auditório polivalente; 2002 - passa a albergar o gabinete do Ministro da Ciência e do Ensino Superior; 2004, Abril - elaboração da Carta de Risco do Teatro Tália pela DGEMN; 2010 - reabilitação do imóvel.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, cantaria de calcário, reboco pintado, ferro forjado, madeira, estuque pintado

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. 4, Lisboa, 1946; CHAVES, Luis, Chafarizes de Lisboa, Lisboa, s.d.; FERREIRA, Jorge Rodrigues, São Domingos de Benfica. Roteiro, Lisboa, 1991; Guia de Portugal, Vol. I, Lisboa, 1924; MACHADO, Cirilo Wolkmar, Collecção de Memórias Relativas às Vidas dos Pintores, e Escultores, Architectos, e Gravadores Portugueses, e dos Estrangeiros que Estiveram em Portugal, Lisboa, 1823; MESQUITA, Alfredo, Lisboa Ilustrada, Lisboa, 1903; Monumentos, n.º 9, n.º 10 e n.º 21, Lisboa, DGEMN, 1998-1999, 2004; PEDREIRINHO, José Manuel, Dicionário de arquitectos activos em Portugal do Séc. I à actualidade, Porto, Edições Afrontamento, 1994; PEREIRA, Esteves, RODRIGUES, Guilherme, Portugal Dicionário, Vols. III e IV, Lisboa, 1905 - 1911; Palácio do Farrobo : Uma História Romântica que acaba em Ruína, in O Diário, 06.04.1981; PROENÇA, Álvaro (Padre), Benfica Através dos Tempos, Lisboa, 1964; VAZ, Rodrigues, Quem Acode ao Tatro das Laranjeiras?, in Êxito, 18.07.1985; VITERBO, Francisco M. de Sousa, Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, vols. II e III, Lisboa, 1922.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco (teatro), DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DSARH, DGEMN/DRELisboa/DEM/DRC

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco (teatro), DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DSARH

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco (teatro), DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DSARH

Intervenção Realizada

1978 - trabalhos de demolição do telhado Teatro Tália; 1979 - obras diversas de beneficiação, trabalhos de conservação, alargamento do portão de acesso ao pátio; 1979 / 1980 - obras de conservação e reparação, instalação de sistema de detecção de incêndios; 1984 - obras de conservação; 1986 / 1987 / 1988 - obras de remodelação e conservação do Anexo; 1988 / 1989 / 1990 - obras de conservação da zona antiga da cozinha; 1990 - limpeza de coberturas e reparação do terraço; 1990 / 1991 - obras de demolição e consolidação; 1993 - pinturas em gabinetes; 2004 - projecto de beneficiação das instalações; conclusão da beneficiação da cobertura do edifício anexo ao palácio; projecto de beneficiação da instalação eléctrica.

Observações

*1 - DOF: "Palácio dos Condes de Farrobo, incluíndo os jardins e o chafariz localizado na Estrada de Benfica junto à Azinhaga que limite a Norte o Jardim Zoológico". Com o Decreto nº 5 de 19 de Fevereiro de 2002 foi determinada a alteração da designação passando a ter a seguinte redacção: " Palácio e Jardins do Conde de Farrobo (conjunto intramuros), no qual se encontra instalado o Jardim Zoológico, delimitado nomeadamente pela Estrada de Benfica, pela Praça do Marechal Humberto Delgado, pela Estrada das Laranjeiras, pela Travessa das Águas Boas e pela Rua de Xavier de Oliveira".

Autor e Data

Teresa Vale e Carlos Gomes 1993

Actualização

João Machado 2005
 
 
 
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