Dispensário da Assistência Nacional aos Tuberculosos da Santa Casa da Misericórdia de Bragança

IPA.00031102
Portugal, Bragança, Bragança, União das freguesias de Sé, Santa Maria e Meixedo
 
Arquitectura assistencial, do séc. 20. Dispensário de pequenas dimensões do tipo A, construído em 1938, de planta rectangular e fachadas de um piso, terminadas em cornija, com embasamento e cunhais em cantaria e rasgadas por vãos rectilíneos, sendo os das fachadas laterais bíforas. Na fachada principal rasga-se apenas um portal de verga recta, sob alpendre. No interior, possui sala de espera, laboratório, duas salas, a de consulta e a de tratamentos, e pequenas instalações sanitárias, com silhares de azulejos.
Número IPA Antigo: PT010402450351
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Saúde  Dispensário    

Descrição

Planta rectangular com alpendre semicircular saliente no extremo esquerdo da fachada principal. Massa horizontalista, de volumes articulados, com coberturas em telhados de quatro águas no corpo principal e de várias águas no alpendre, rematadas em beirada simples e integrando chaminé rectangular alta no cunhal esquerdo posterior. Fachadas de um piso, rebocadas e pintadas de amarelo, percorridas por embasamento e com cunhais em cantaria bujardada, os últimos com os silhares de dimensões e disposição irregular, e terminadas em cornija. A fachada principal surge virada a SE., com dois panos, o direito cego e o esquerdo com o alpendre semicircular assente em três colunas monolíticas, sobre soco de cantaria, de bordo saliente e formando superiormente canteiros, as quais sustentam arquitrave; sob o alpendre, com tecto de estuque, pintado de branco, abre-se portal de verga recta, moldurado e com porta de madeira envidraçada. Fachadas laterais rasgadas por uma ou duas bíforas, correspondendo a janelas de peitoril com molduras interligadas e com nembo em cantaria, e caixilharia de vidrinhos, em madeira; sob as janelas e sobre o embasamento surgem respiradouros, com grelhagem em ferro; na lateral esquerda, só com uma janela, surge ainda o corpo relevado da chaminé. Fachada posterior rasgada por portal de verga recta, janela de peitoril com caixilharia de duas folhas e, ao meio, janela rectangular estreita e mais baixa, das instalações sanitárias, sob a qual surgia pequeno corpo adossado, actualmente inexistente. INTERIOR com espaço organizado a partir da sala de espera, de onde se acede a uma sala à direita e a pequeno corredor que distribui para o laboratório, à esquerda, virado à fachada posterior, às instalações sanitárias, em frente, e, à direita, a uma sala, com porta de comunicação à fachada posterior e pia de despejos. Paredes rebocadas e pintadas de branco, com silhar de azulejos, de padrão fitomórfico na sala de espera, e monocromos nas restantes dependências, sendo branco com friso preto no laboratório e sanitários, amarelos na sala posterior e verdes na sala à direita. Pavimentos cerâmicos na sala de espera e sanitários e revestido a linóleo nas outras dependências; tectos de estuque. Na sala do laboratório conserva armário formando campânula para experiências químicas, com corpo rectangular da chaminé saliente.

Acessos

Rua Emídio Navarro, Rua do Picadeiro

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado, construído na cerca do extinto mosteiro de Santa Clara (v. PT010402450236), onde também se ergueu, no princípio do séc. 20, o hospital da Santa Casa da Misericórdia (v. PT010402450294), e junto ao qual se dispõe. Implanta-se num ponto alto da cidade, permitindo vista panorâmica sobre a zona S. da mesma, adaptando-se ao declive suave do terreno, envolvido por espaço arelvado, com alguns arbustos e possuindo frontalmente caminho pavimentado a blocos de cimento. Frontal e posteriormente, o edifício possui passeio largo em lajes de cantaria.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Assistencial: dispensário

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Privada: Miserciórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIRO: José Domingues de Almeida (1938). FISCAL: João Pereira (1938).

Cronologia

1899 - o deputado Moreira da Silva chama a atenção do Governo para a premência de actuação face ao drama social causado pela tuberculose, propondo a criação de um fundo especial que se viria a converter na Lei de 17 de Agosto de 1899; a Rainha D. Amélia convoca uma reunião na Câmara dos Deputados com o intuito de constituir as bases legais para a criação da Assistência Nacional aos Tuberculosos, avançando-se com medidas concretas para a erradicação da doença: 1º construir hospitais marítimos, "onde se modificasse o organismo das crianças que mais tarde seriam as vítimas preferidas da doença"; 2º criar sanatórios, para tratamento dos casos de tuberculose em fase inicial; 3º construir em todas as capitais de Distrito "institutos que servissem, não somente para o estudo do tratamento do físico, mas também para socorro aos doentes que precisassem de trabalhar para ocorrer às necessidades de suas famílias, socorros que deviam consistir em subsistências, aplicações terapêuticas e conselhos de higiene"; 4º construir hospitais destinados ao tratamento de tuberculosos "que permitissem evitar a sua promiscuidade com os outros doentes que entram nos hospitais ordinários para se tratarem de qualquer outra doença e que deles saem afectados de um mal terrível que em breve os mataria, depois de terem, contaminado as famílias" (Sessão parlamentar 31 Março 1950, in Diário da Câmara dos Deputados 1 Abril 1950, p. 695); 1901 - o médico e biólogo francês Albert Calmette (1863-1933) cria em França o primeiro dispensário antituberculose - Dispensaire Emile Roux -, tendo sido na mesma data aberto o de Lisboa, a que se seguiram outros; 1926 - já existia um dispensário em Bragança, sendo o seu director Alípio Albano de Abreu (v. PT010402420352); 1927, 31 Agosto - publicação do Decreto n.º 14:192 a partir do qual foram estabelecidas bases legais para o controle da difusão da tuberculose e direito à assistência entre os funcionários públicos; 1927, 26 Outubro - o Decreto n.º 14:476 aprova os princípios gerais a que deviam obedecer os diplomas a publicar neste domínio; 1928, 21 Maio - criação de uma comissão de profilaxia da tuberculose pelo Decreto n.º 15:497 com o objectivo de estudar as formas eficazes de combate à doença; 1929 - encerramento do dispensário da cidade; 1930 - data da reabertura do dispensário de Bragança na Rua Trindade Coelho; 1931, 9 Janeiro - Decreto n.º 19:217 criando uma nova comissão para elaboração de um projecto de reorganização dos serviços de combate à tuberculose, no qual era integrado um serviço de assistência particular; 1934 - Carlos Ramos vence o concurso público, lançado pela Assistência Nacional aos Tuberculosos, para a edificação de dispensários a construir em todas as sedes de distrito e de concelho, equacionando uma solução aplicável a circunstâncias regionais diversas e estabelecida a partir de critérios comuns de economia, rapidez e funcionalidade; 1935, 24 Maio - Mesa da Santa Casa da Misericórdia decide em sessão autorizar que o dispensário, dirigido pelo Dr. Francisco Inácio Teixeira Moz, funcionasse no hospital até conseguir instalação em casa própria; 25 Maio - inauguração do dispensário no hospital; 1938, 19 Março - Ministro das Obras Públicas manda conceder à DGEMN a comparticipação de 25.000$00, pelo Fundo de Desemprego, para a construção do dispensário, o qual deveria ser concluído no prazo de 6 meses; 5 Maio - portaria do Ministro das Obras Públicas e Comunicações concedendo 28.000$00 para a obra de construção do dispensário; o Ministro dispensa tal obra de concurso público e do contrato escrito; 15 Maio - Mesa autoriza a construção do dispensário dentro da área da cerca do hospital; Junho - adjudicação da obra de construção do dispensário ao empreiteiro José Domingues de Almeida por 51.860$00; 19 Julho - trabalhavam no edifício 15 pedreiros; o fiscal questiona o engenheiro Almeida Freire sobre se havia de executar o projecto, já que haviam combinado de estudar a modificação das janelas da sala de espera, a fim de aumentar um pouco o laboratório; 16 Agosto - a cornija do edifício já estava colocada, estavam a fazer-se as cantarias para o alpendre e lajeado para o pátio e previa-se começar na segunda-feira próxima a colocação do madeiramento do telhado; 4 Novembro - data do visto do Tribunal de Contas; 10 Novembro - auto de medição dos trabalhos executados, estando presente o engenheiro civil Eduardo Augusto de Almeida Freire, da DREMN e o empreiteiro José Domingues de Almeida; era fiscal da obra João Pereira; 16 Novembro - o edifício encontrava-se em fase de conclusão, já estando assente o azulejo branco no laboratório, retrete e passagem, concluídos os trabalhos de trolha por fora, todos os tectos estavam estucados e as caixilharias assentes; ainda não haviam chegado os azulejos do vestíbulo, nem para as salas de consulta e de tratamento; 8 Dezembro - auto de medição dos trabalhos executados; 1939, 11 Fevereiro - o dispensário estava em vias de conclusão, faltando só a pintura das portas e caixilhos, pedindo-se urgência para conclusão das obras; 1945, 7 Novembro - publicação do Decreto-Lei n.º 35:108 através do qual é criado o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos que absorveu a Assistência Nacional aos Tuberculosos criada pela Rainha D. Amélia; 1947, Dezembro - desde a construção até esta data, foram tratados 115 homens, 169 mulheres, deram-se 253 consultas, e fizeram-se 5 489 tratamentos; 1975, 26 Maio - Decreto-Lei 260/75 estabelece que os dispensários são integrados na Direcção-Geral de Saúde com a denominação genérica de Serviço de Luta Anti Tuberculosa (S.L.A.T.) e o seu pessoal passa a ser equiparado aos outros funcionários da mesma Direcção-Geral; posteriormente procede-se ao encerramento do dispensário.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; embasamento, colunas, arquitrave, cornijas, molduras dos vãos e cunhais em cantaria de granito; portas e caixilharia de madeira pintada; vidro simples; silhares de azulejos monocromos e bícromos; pavimentos cerâmicos e revestidos a linóleo; tectos de estuque; cobertura de telha.

Bibliografia

"A campanha Anti-tuberculosa. A obra levada a efeito pela Assistência Nacional contribuiu já para que a mortalidade pela tuberculose diminuísse de 16,5%", in Diário de Lisboa, 29/04/1936; ALVES, Casanova, Os centros de profilaxia e diagnóstico do Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, Lisboa, s.n., 1950; ANT. IANT. SLAT. História Sumária da Instituição 1899-1979, Lisboa, Oficinas da Papelaria Fernandes, 1979; Assistência Nacional aos Tuberculosos, A lucta contra a tuberculose e a obra da Assistencia Nacional aos Tuberculosos: 1899-1928, Lisboa, ANT, 1928; AAVV, Carlos Ramos. Exposição retrospectiva da sua obra, Lisboa, F.C.G., 1986; CABRAL, José, O papel do dispensário na luta contra a tuberculose, Porto, Costa Carregal, 1956; CARVALHO, Lopo, A luta contra a tuberculose em Portugal, Lisboa, ANT, 1935; CASTRO, Pe José, A Santa e Real Casa da Misericórdia de Bragança, Lisboa, tipografia da União Gráfica, 1948; CORREIA, Fernando da Silva, Portugal Sanitário, Lisboa, Ministério do Interior, 1938; COUTINHO, Bárbara dos Santos, Carlos Ramos (1897-1969): Obra, Pensamento e Acção. A procura do compromisso entre o modernismo e a tradição, dissertação Mestrado História Contemporânea, FCSH-UNL, 2001; "Discurso proferido pela Rainha D. Amélia em 11 de Junho de 1899", in L'Assistence Nationale aux Tuberculeux dans la lutte contre la tuberculose en Portugal, Lisboa, Imp. Nationalle, 1905; FOUCAULT, Michel, Naissance de la Clinique, Paris, PUF, 1963; LENCASTRE, António, O Valor dos dispensários na luta contra a tuberculose, Actas do 2º Congresso Nacional contra a tuberculose, 1902; VIEIRA, Jorge Silvério de Sousa, O papel do dispensário na luta antituberculosa (separata de O Médico, nº 601, 1963), Porto, Tip. Sequeira, 1963.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DREMN

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DREMN

Intervenção Realizada

Observações

*1 - A difusão dos dispensários e sanatórios ocorreu em toda a Europa aproximadamente no último quartel do século 19 e as características da situação exterior eram razoavelmente conhecidas em Portugal, onde o médico António Lencastre (1857-1944), colaborador da Rainha D. Amélia, desempenhou uma acção preponderante para a fixação de princípios de actuação e criação de regras gerais para a construção dos dispensários. A partir da década de 30 do século 20, o Ministério do Interior promoveu uma extensa reforma no âmbito da saúde pública que contemplou a estruturação de uma rede de equipamentos de apoio à erradicação da tuberculose, motivando a concepção de uma série de pesquisas tipológicas que contou com a intervenção directa dos arquitectos: Vasco Regaleira na concepção de projectos-tipo de sanatórios, hospitais e preventórios; e Carlos Chambers Ramos, vencedor do concurso público lançado pela Assistência Nacional aos Tuberculosos em 1934, na definição de projectos-tipo para dispensários distritais e concelhios. O modelo de actuação dos dispensários, de origem francesa e alemã, centrava-se essencialmente num trabalho de diagnóstico, rastreio e terapêutica, na assistência à população local contaminada e numa acção de propaganda activa de medidas de prevenção que contemplou a elaboração de cartazes de divulgação da autoria de Stuart Carvalhais (1887-1961). Em 1931 a rede nacional de dispensários reduzia-se a 7 estabelecimentos. Cinco anos mais tarde essa rede alargava o seu número para 63 edifícios, entre os quais 23 eram distritais e 40 concelhios. Basicamente, o dispensário funcionava como a peça fundamental do sistema de luta contra a tuberculose, permitindo, através do contacto directo com as populações, a realização de exames periódicos, o despiste de eventuais casos de doença, a identificação das fontes de contágio, o tratamento de doentes em regime ambulatório, a organização do cadastro radiológico, sistemático e periódico de antigos doentes com alta, o encaminhamento dos doentes para os recintos de internamento e a informação geral das populações locais. A acção dos dispensários era complementada pelo trabalho das brigadas móveis, no que concerne à profilaxia da doença e à investigação epidemiológica, sendo a distribuição dos estabelecimentos e a respectiva lotação estabelecida a partir da taxa de mortalidade local.

Autor e Data

Paula Noé 2011

Actualização

 
 
 
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