Teatro Nacional de São Carlos
| IPA.00003103 |
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior |
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Arquitectura civil cultural, neoclássica. Teatro de inspiração seiscentista, em estilo neoclássico e com algumas influências italianas, nomeadamente do teatro di San Carlo, de Nápoles (traçado em 1737 por G. A. Medrano) e do teatro dela Scalla de Milão (de Guiseppe Piermarini e construído entre 1776 - 78). A sua fachada, de grande sobriedade decorativa, inspira-se especialmente neste último. Na decoração interior do teatro de São Carlos participaram vários artistas destacando-se, por exemplo, Cirilo Volkmar Machado (tecto do vestíbulo e pano da boca de cena), o italiano Appiani (camarote real) e Manuel da Costa (tecto do salão). Construído como teatro de corte - com todas as suas características na arquitectura interna e função - para a burguesia, constituindo o primeiro teatro público, aberto a todo e qualquer cidadão pagante. A sua rápida construção, em apenas 6 meses, devido ao grande impulso do Intendente de Pina Manique, mas também ao facto de se implantar num terreno de declive e, segundo o arquitecto Luís Benavente, aproveitar um troço da muralha fernandina que ali passava. |
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Número IPA Antigo: PT031106200042 |
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Registo visualizado 3917 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Cultural e recreativo Casa de espetáculos Teatro
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Descrição
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Planta longitudinal, composta, de volumes articulados e cobertura diferenciada. Frontispício dividido em 3 corpos, 2 pisos sobrepostos por mezanino e um 3º sobre o corpo central. Este, no 1º piso, todo de aparelho rústico, desenvolve-se em loggia, formada por 3 arcos frontais e 1 lateral, em volta perfeita, encimado por terraço com balaustrada de cantaria. Aqui, as janelas, de cornija saliente e encimadas por painéis com inscrição e alto relevo, são enquadradas por parastase suportando cornija também saliente. No 3º piso este corpo tem relógio envolto em grinaldas e 2 janelas, coroado por 2 vasos e brasão. Os corpos laterais têm no 1º piso 2 portas de verga recta encimadas por janelas baixas; no 2º., 2 janelas com balaustrada de cantaria, cornija saliente e janela baixa no mezanino; enquadram-nas esquema decorativo de aparelho rústico imitando dupla pilastra, coroadas por festões, e criando entre si "painéis" de alvenaria. Interior com átrio, salões, sala de espectáculos de planta elíptica com 5 ordens de camarotes, de tipo italiano e salão nobre ao nível da 4ª ordem. |
Acessos
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Largo de São Carlos, n.º 17 - 23; Rua de Serpa Pinto, n.º 9; Largo do Picadeiro. |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 2/96, DR, 1.ª série, n.º 56 de 6 março 1996 / Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966) / Parcialmente incluído na Zona de Proteção do Aqueduto das Águas Livres (v. IPA.00006811) |
Enquadramento
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Urbano. adossado, implantação harmónica. Implanta-se no designado centro histórico do Chiado, entre prédios oitocentistas, num dos quais viveu Fernando Pessoa.Tem nas proximidades outros imóveis classificados. À fachada posterior adossam-se construções. |
Descrição Complementar
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Inscrição do frontespício: "Carlotae / Brasiliae Principi / Quod Felicem Statum Rei P. / Regia Prole Confirmarit / Theat. Auspicato Exte / Auct. Did. Ign. P. Maniq. P. P. / Ol'/ siponenses Cives /Solic. Amore et longa Fide / Erga. Domum Aug. Probati / In. Mon. Publicae Laetitiae / C / Anno MDCCXCIII". |
Utilização Inicial
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Cultural e recreativa: teatro |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: teatro |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Teatro Nacional de São Carlos |
Época Construção
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Séc. 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTOS: José da Costa e Silva (1747 - 1819); Joaquim Possidónio Narciso da Silva (1806 - 1896) (alter.); Luigi Chiari (1809-1812); Ventura Terra (remod. salão nobre - 1908); Guilherme Rebelo de Andrade (remod. 1936 a 1940); PINTORES: Cirilo Volkmar Machado (tecto do vestíbulo e pano da boca de cena),; Appiani (camarote real); Manuel da Costa (tecto do salão); Luigi Manini (pintura de cenários). |
Cronologia
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1792 - grupo de capitalistas lisboetas, impulsionados pelo Intendente de Pina Manique, propõem-se fazer novo teatro lírico; foi erguido em honra da princesa do Brasil D. Carlota Joaquina, num terreno próximo do Convento de S. Francisco e comprado ao Barão Quintela por 6.241$492; a construção importou em 165.845$196 e teve como inspector Sebastião António da Cruz Sobral; 1793 - inauguração com a ópera "La Ballerina Amante" de Cimarosa; 1794 - conclusão do salão das oratórias, actual salão nobre; 1809-1812 - obras no edifício da autoria de Luís Chiari; 1819 - substituição da iluminação de velas por azeite; 1820 - depois da Revolução Liberal, criaram-se 2 galerias na última ordem, procurando aumentar o número de lugares para os menos abastados; 1828 / 1834 - encerrado por decisão de D. Miguel; 1850 - instalação da iluminação a gás; 1854 - passa a propriedade do Estado por decreto de 19 de Agosto; 1879 - aumento do espaço da orquestra tirando 80 cm. ao palco; 1887 - instalação da iluminação eléctrica; 1888 - passa a integrar edifício contíguo, criando camarins e salas de ensaio; 1890 - colocação da cortina de ferro entre o palco e a plateia; 1908 - remodelações interiores da responsabilidade do arquitecto Ventura Terra (salão nobre, etc.); no exterior acrescenta-se um telheiro e fecham-se as arcadas por portas de ferro e vidro; 1910 - com implantação da República, o Real Teatro de São Carlos passa a chamar-se Teatro Nacional de São Carlos; o Governo provisório entregou a sua gestão ao Visconde de São Luís Braga; em Dez. a empresa declara falência e o teatro é encerrado sob forte policiamento; 1911 / 1912 / 1913 - representações esporádicas; 1918 - reabre; 1919 - decreto promulgado pelo Governo concede exploração do teatro a empresa privada; 1928, 18 Setembro - o Teatro foi classificado como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 15 962, Diário do Governo, 1.ª série n.º 214; 1933, 10 Julho - novo decreto a ampliar a classificação, mas mantendo-o como Imóvel de Interesse Público, pelo decreto n.º 7 625, publicado no Diário do Governo 153; 1935 - encerra devido degradação; 1938 / 1940 - grande intervenção feita sob projecto de Guilherme Rebelo de Andrade, criando-se 3 salas no 1º piso; 1940 - reinauguração; 1946 - passa a ser dirigido directamente pelo Estado, sendo nomeado director José de Figueiredo; 1981 - passa a empresa pública; 2004, Maio - elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN; 2006, 22 agosto - parecer da DRCLisboa para definição de Zona Especial de Proteção conjunta do castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa, Baixa Pombalina e imóveis classificados na sua área envolvente; 2011, 10 outubro - o Conselho Nacional de Cultura propõe o arquivamento de definição de Zona Especial de Proteção; 18 outubro - Despacho do diretor do IGESPAR a concordar com o parecer e a pedir novas definições de Zona Especial de Proteção; 2023, 21 junho - escolhido o projeto de arquitetura de requalificação orçado em 27,9 milhões de euros no âmbito do PPR. |
Dados Técnicos
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Estrutura de paredes autoportantes em alvenaria rebocada e cantaria. Cobertura de telha a 2 e 3 águas. |
Materiais
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Calcário, em aparelho rústico, talha, pinturas, telas, espelhos, madeiras, etc. Pavimento de madeira e lajedo. |
Bibliografia
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ALMEIDA, D. Fernando de, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, vol. 2, Lisboa, 1975; ALVES, A. Mota, Subsídio para a biografia de José Costa e Silva, Lisboa, 1936; ANACLETO, Regina, História de Arte em Portugal, vol. 10, Lisboa, 1987; BASTOS, Sousa, Dicionário do Teatro Português, Lisboa, 1908; BASTOS, Sousa, Lisboa Velha - Sessenta Anos de Recordações ( 1850 a 1910 ), Lisboa, 1947; BENEVIDES, Francisco da Fonseca, O Real Theatro de S. Carlos de Lisboa, vol. 1 e 2, Lisboa, s.d.; CARNEIRO, Luís Soares, Teatros Portugueses de Raiz Italiana, Porto, 2002 (Dissertação de Doutoramento em Arquitectura, apresentada na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, policopiado); CARVALHO, Mário Vieira de, Pensar é Morrer ou o Teatro de S. Carlos na Mudança dos Sistemas Sociocomunicativos desde os fins do Século 18 até aos nossos dias, Lisboa, 1993; COMMINS, Daniel (e outros), A recuperação acústica do Teatro de S. Carlos, in 2º ENCORE - Encontro sobre conservação e reabilitação de edifícios (LNEC), Lisboa, 1994; CRUZ, Manuel Ivo, O Teatro Nacional de S. Carlos, Porto, 1992; DGEMN, Teatro Nacional de S. Carlos, Lisboa, 1990; FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no Séc. XIX, vol. 1º, Lisboa, 1966; Monumentos, n.º 8, Lisboa, DGEMN, 1998; MOREAU, Mário, O Teatro de S. Carlos: dois séculos de história, Lisboa, 1999; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1952, Lisboa, 1953; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1953, Lisboa, 1954; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1955, Lisboa, 1956; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no Ano de 1961, 1º Vol., Lisboa, 1962; Monumentos, n.º 16, 19, 22, Lisboa, DGEMN, 2002-2003, 2005; NOÉ, Ana Paula, ANTUNES, Eva Maria, O Teatro Nacional de S. Carlos - seu papel na vida social lisboeta na primeira década do séc. XX, Lisboa, (DGEMN), 1989; PEDREIRINHO, José Manuel, Dicionário de arquitectos activos em Portugal do Séc. I à actualidade, Porto, Edições Afrontamento, 1994; TRINDADE, Artur, O Teatro de São Carlos, Lisboa, 1901; VITERBO, Sousa, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, vols. I e III;https://www.publico.pt/2024/02/06/culturaipsilon/noticia/visita-guiada-futuro-teatro-sao-carlos-foco-manter-melhorar-2079519?utm_content=manhas&utm_term=Espioes%2Btambem%2Bforam%2Baumentados.%2BSondagem%3A%2Binquiridos%2Brecusam%2Bmaioria%2Babsoluta&utm_campaign=55&utm_source=e-goi&utm_medium=email |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DRELisboa/DEM, DGEMN/DSARH; DGA/TT: Ministério dos Negócios do Reino (NR), AHMF |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; DGEMN/DRMLisboa; CML: Arquivo Fotográfico; Fundação Calouste Gulbenkian: Arquivo de Arte - Estúdio Mário Novais, CFT003.101198-101205, CFT003.106198-106206, CFT003.2479-2483, CFT003.80163-80170 |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/DSARH, DGEMN/DRMLisboa; 3ª Repartição da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos; CML: Arquivo de Obras, Procº. 4ª / I / 1273 / 50; Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas Artes (1951) - Obra nº 49, cap. IV, artº 53º, nº 2 a); Administração do 1º Bairro de Lisboa (1978) - Procº 11 / 114 |
Intervenção Realizada
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1900 - Substituição das galerias por 6 torrinhas, remodelação da instalação eléctrica; 1936 / 1940 - remodelações, sob projecto do arquitecto Guilherme Rebelo de Andrade; 1952 - Cobertura da passagem para camarins; 1953 - instalação de um ascensor; 1955 - Reparações interiores e clarabóias; 1956 - Diversas obras de reparação; 1957 - Obras urgentes; 1958 / 1959 - Diversas obras, reparação do telhado; 1960 / 1961 - Obras de conservação e beneficiação; 1962 - Pinturas interiores, dourados e trabalhos diversos; 1963 - Obras de conservação; 1964 - Obras conservação e instalação eléctrica; 1965 / 1968 - Obras de conservação e trabalhos diversos; 1969 - Reparações interiores, dourados pinturas, etc; 1970 - Restauro dos dourados do salão nobre; reparações interiores e exteriores; 1971 - Trabalhos de construção civil, obras de conservação, instalação eléctrica; 1972 - Reparações interiores, instalação eléctrica; 1973 - Reparação das cadeiras da 4ª ordem, remodelação da instalação eléctrica; 1974 - Ampliação da instalação eléctrica; 1975 - Trabalhos de construção civil, pintura e decoração; 1976 / 1977 - Benfeitorias e valorização externa; 1978 - Clarabóia da entrada dos artistas; 1979 - Valorizações interiores; Beneficiação; Trabalhos de construção civil; 1980 / 1987 - Beneficiações e valorizações diversas, tais como recuperação da cobertura, novas instalações para o camarim de orquestra, reparação da instalação eléctrica dos camarins; 1991 / 1995 - beneficiação e pintura de paredes e execução de escada metálica, remodelação das instalações sanitárias, pinturas gerais, restauro de dourados e tratamento acústico dos camarotes; 1995 - obras de beneficiação e reparação (coberturas, caixilhos, limpeza de varandas do palco); 1996 - beneficiações e reparações gerais: zonas anti-fogo, revisão do sistema de combate a incêndios; instalação eléctrica; 1997 - 2ª fase dos trabalhos do sistema de combate a incêndios; remodelação do espaço de cenografia, permitindo a expansão das zonas de trabalho e armazenamento, dispostos em U, em torno de uma zona central, para permitir a entrada de cenários; reforma dos gabinetes e instalações sanitárias; 2000 - beneficiação do saguão, salas de ensaio e cobertura; 2001 - remodelação dos 3º e 4º pisos do edifício anexo; conservação e restauro das cantarias da fachada principal; 2001 / 2002 - beneficiação das fachadas laterais; restauro da fachada principal; remodelação dos pisos superiores do anexo; 2002 - beneficiação da sala da Orquestra Sinfónica Portuguesa; 2003 / 2004 / 2005 - cbntinuação das obras de beneficiação no piso 1 (camarins, corredor de acesso, fosso da orquestra, instalações sanitárias e instalação eléctrica); conservação de clarabóias; 2004 - Beneficiação da cafetaria e bilheteiras; 2005 - remodelação dos foyers, bar e bilheteiras; aquisição de equipamento e mobiliário; remodelação das instalações sanitárias; beneficiação do sistema de aquecimento nos dois primeiros pisos; beneficiação do sistema de detecção de incêndio. |
Observações
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O teatro de São Carlos ocupou desde a sua fundação um local priveligiado no âmbito da vida social lisboeta, constituindo simultaneamente um elemento dinamizador da mesma e à volta do qual se passam a organizar todos os demais programas recreativos da corte e da alta sociedade. Muitas vezes esteve em íntimo contacto com o estado político e social do país, na medida em que aí se realizavam espectáculos líricos solenizando acontecimentos memoráveis. No final do séc. 19 tornaram-se frequentes os espectáculos de feição benemérita, animados pela presença do rei e do povo, mas com a quase completa abstenção da alta sociedade. O empresário José Paccini (a partir de 1897) procura reverter a situação, insistindo numa rigorosa selecção do público, proibindo para isso a locação dos bilhetes, reduzindo o "carácter humanitário" dos espectáculos e os poucos privilégios que as classes menos abastadas ali podiam usufruir, suprimindo por exemplo as galerias da 3ª ordem. O Conde de Farrobo conservou para si um camarote contíguo ao do da família real e a ele tinha acesso por túnel desde sua casa, numa das ruas paralelas. |
Autor e Data
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Paula Noé 1990 |
Actualização
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Luísa Cortesão 2005 |
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