Bairro A Força da Razão / Bairro SAAL da Manjoeira

IPA.00029728
Portugal, Lisboa, Loures, União das freguesias de Santo Antão e São Julião do Tojal
 
Conjunto arquitetónico residencial unifamiliar. Habitação económica de promoção pública estatal (FFH / Operação SAAL). Conjunto de média dimensão, composto por casas unifamiliares em banda térreas e de dois pisos. Inclui edifício de equipamento público (escola jardim-de-infância). Planimetria muito compartimentada, com circulação integrada nos compartimentos e reduzida ao mínimo.
Número IPA Antigo: PT031107140157
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico   Edifício  Residencial unifamiliar  Habitação económica  Promoção pública estatal (FFH)  SAAL

Descrição

Bairro de perímetro poligonal irregular, estruturado em função de um espaço axial central com desenvolvimento NO/SE, designado por Praceta Central. O conjunto habitacional é composto por 73 moradias unifamiliares e um jardim-de-infância. Os lotes dispõem-se de forma linear, agrupados em bandas, formando quatro alas hierarquizadas de acordo com a sua posição: duas alas centrais formadas por lotes de métrica regular, com duas frentes opostas, dispostos de forma aproximadamente simétrica em relação ao eixo ordenador e duas alas colaterais formadas por lotes com uma única frente para a via pública, que ocupam os flancos do bairro. A praceta central correspondente à faixa livre deixada entre as alas centrais; forma, em conjunto com estas, o núcleo central do bairro, que evoluiu a partir da malha inicial rudimentar resultante da ocupação espontânea do local. Este núcleo é atravessado a O. pela Rua José Carlos Ary dos Santos, a via de acesso ao bairro, que o divide em dois sectores. Para NO. desenvolve-se um sector de oito lotes, que inclui o edifício do jardim-de-infância e sete moradias de um e de dois pisos. Para SE., um sector de 41 lotes ocupados com moradias unifamiliares de um piso, alinhadas, conformando área central pavimentada em calçada, de uso exclusivamente pedonal. Duas vias locais de acesso automóvel, a Rua do Norte e a Rua do Sul, entroncam na Rua José Carlos Ary dos Santos e desenvolvem-se paralelamente ao eixo central, com passeios de ambos os lados, ladeando o sector SE. e terminando em situação de impasse. A área pedonal, de carácter vivencial, comunica com as vias de acesso automóvel por intervalos deixados entre as bandas edificadas. As construções do núcleo central evoluíram a partir de pré-existências que não possuíam as mínimas condições de conforto, desafogo e salubridade. Com base em inquéritos sócio-económicos às famílias, e atendendo às suas aspirações, foram estudados diferentes tipos de fogos que permitiram ampliar essas construções e convertê-las em fogos T1, T2, T3 e T4, segundo projectos-tipo. De um modo geral, a parte antiga foi destinada a cozinhas, despensas e casas de banho, e a parte ampliada a quartos e salas. A diferenciação funcional do interior reflecte-se no exterior através da articulação de diferentes volumes e de telhados múltiplos de uma ou duas águas. Os projectos preconizavam a uniformização de dimensões, pormenores e acabamentos das construções. Em todos os lotes foi previsto um quintal, inexistente na situação de partida. No sector NO. do núcleo central as construções, alinhadas em banda, estão implantadas em lotes de configuração irregular. Os extremos das bandas confinantes com a Rua José Carlos Ary dos Santos apresentam tratamento de excepção, baseado em composição simétrica com empena recortada, dois vãos de janela, dispositivo de ensombramento e revestimento diferenciado. No sector SE. do núcleo central os lotes têm acesso duplo em fachadas opostas, processando-se o acesso pedonal pela praceta central e o acesso viário pelas duas vias de acesso automóvel. Está ainda hoje patente a forte unidade formal do conjunto, ritmada pela repetição e alternância de volumes nos alinhamentos das frentes construídas. No topo superior, junto à Rua José Carlos Ary dos Santos, está instalado um estabelecimento de café num quiosque. No topo inferior, uma ampla abertura visual para a envolvente mais distante, permite a tomada de vistas para espaço não construído a SE. Articulando-se com a Rua do Norte, dispõem-se entre esta e o limite N/NE. do bairro, quinze lotes habitacionais que correspondem à primeira fase de expansão, em regime de auto-construção. As construções têm planta rectangular de frente larga, volume único e telhado de duas águas e apresentam fachadas de grande simplicidade, com uma porta e duas janelas. Os lotes implantam-se com afastamentos escalonados das respectivas frentes em relação ao lancil, proporcionando um generoso alargamento do passeio, que acolhe três árvores frondosas da espécie Grevillea Robusta e zona de estacionamento. Articulando-se com a Rua do Sul, dispõem-se entre esta e o limite S/SO. do bairro, nove lotes habitacionais formando banda com forte marcação dos volumes verticais. Correspondem à segunda fase de expansão em regime de auto-construção, sendo conhecidos por "casas da Caritas", por terem sido construídas com o apoio desta instituição. Todos os lotes em posição colateral possuem logradouro de traseiras e acesso único.

Acessos

Rua José Carlos Ary dos Santos

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural/periurbano, implantado em encosta de pendente suave, a uma cota altimétrica entre os 84 e os 65 metros, entre a ribeira das Barrocas e a ribeira das Carrafoxas, que integram a bacia hidrográfica do rio Trancão. Situado a N. da área metropolitana de Lisboa, as suas características naturais e climatéricas são as da subunidade de paisagem correspondente. Localiza-se a N. do aglomerado de A-das-Lebres e a S. do aglomerado da Manjoeira, ambos situados na freguesia de Santo Antão do Tojal. A NO. é delimitado pela A9 (CREL) e a SO. por área industrial. A restante envolvente compõe-se de terrenos vagos resultantes do abandono agrícola. Destacam-se na sua proximidade, a SE., o aglomerado antigo de Santo Antão do Tojal (v. PT031107140170) e a Quinta das Carrafoxas (v. PT031107140048), a SO.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Privada: Pessoas singulares

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: Francisco Pires Keil do Amaral; BRIGADA TÉCNICA: Isabel Raposo; José Manuel Fernandes; José Luís Azeitona; Júlio Lobato; Maria Warden Góis.

Cronologia

1971, Julho - processo de instalação de refugiados das cheias, vindos de Camarate, na Manjoeira; 9 Agosto - fornecimento de materiais para a construção de "barracas" na Manjoeira; 16 de Novembro - aquisição da propriedade rústica a Bernardino Matos Ferreira para instalação definitiva dos desalojados das cheias; 1974, 14 Junho - memorando camarário sobre as necessidades mais urgentes do bairro dos desalojados; 26 Junho - notícia de que ainda não existia chafariz para abastecimento de água ao bairro (Arquivo Municipal de Loures, Processo nº 8233/OM); Junho - o arquitecto Nuno Portas, então Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, apresenta, mediante despacho o "Programa de acções prioritárias a considerar pelos serviços do Fundo de Fomento da Habitação"; 31 Julho - criação do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) mediante despacho conjunto assinado pelo Ministro da Administração Interna Manuel da Costa Brás e pelo Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo Nuno Portas [Diário do Governo, nº 182, Iº série, 6 Ago. 1974]. Trata-se de "um corpo técnico especializado" integrado no âmbito do FFH. No âmbito deste programa, foram desenvolvidas soluções morfológicas e tipológicas muito diversas; 1976, 2 Fevereiro - publicação em DR dos estatutos da associação de moradores "A Força da Razão", cujo objectivo principal é a construção de casas e o melhoramento das condições de habitação dos seus associados, fazendo-se escritura notarial da associação; Agosto / Setembro - apresentação do projecto do Bairro SAAL, incluindo memórias descritivas, planta de implantação geral e proposta dos tipos de habitação, assinado pelo arquitecto Francisco Pires Keil do Amaral, em nome da equipa; aquisição das parcelas limítrofes ao bairro pré-existente; 2 Setembro - despacho de aprovação do Plano de Urbanização pelo Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo; 5 Novembro - depacho emitido pela Comissão Directiva do Fundo do Fomento da Habitação coloca fim às chamadas operações SAAL; 1977, 16 Maio - concede-se à associação de moradores "A Força da Razão" o direito de superfície para a construção do bairro social concebido no âmbito das operações SAAL, promovidas pelo FFH (obra realizada pela cooperativa UNIURBA com custo total estimado em 15.500.000 escudos); entrega, juntamente com o projecto de arquitectura, do projecto de electrificação do bairro, das redes de água e de esgotos, tudo realizado pela equipa SAAL.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes autónomas

Materiais

Paredes exteriores de alvenaria de tijolo e, em alguns casos, blocos de Ytong. Paredes interiores de alvenaria de tijolo. Paredes interiores e exteriores rebocadas a argamassa de areia. Caixilharias exteriores em madeira exótica. Cobertura inclinada com revestimento a telha de aba e canudo.

Bibliografia

BANDEIRINHA, José António - O processo SAAL e a Arquitectura no 25 de Abril de 1974. Coimbra: Imprensa da Universidade, 2007; BECKER, Annette; TOSTÕES, Ana; WANG, Wilfried (dir.), Arquitectura do Século XX. Portugal. Munique: Prestel, 1997; BERNI, Lorenzo - "Architecttura Portogallo: operazione SAAL". Panorama, [ano XVI], 620, 1978; BRANCO, Francisco - Notas sobre a experiência de Trabalho Social no SAAL. Lisboa: Instituto Superior de Serviço Social, 1979; COSTA, Rui Seco da - Conceitos e experimentação de desenho urbano em Portugal: do modernismo à revisão dos modelos, dissertação de mestrado em Arquitectura apresentada à Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2006; CUNHA, José Correia da - Habitat 76. Conferência das Nações Unidas sobre Estabelecimentos Humanos. Portugal. Relatório Nacional/ Dezembro 75 (Relatório preparado pela Comissão Nacional do Ambiente e pelo Fundo de Fomento da Habitação); DAVID, Brigitte - "Le SAAL ou l'Exception Irrationnelle du Systéme", L'Architecture d'Aujourd'hui, 185, 1976; FERREIRA, Vítor Matias - Movimentos Sociais Urbanos e Intervenção Política. A Intervenção do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local) em Lisboa. Porto: Afrontamento, 1975; "Operações SAAL", Binário, nº 205/6, Fev. 1976; GANDRA, Hernâni - "Contribuição para o estudo do problema das áreas da habitação social - Análise comparativa", gth Boletim, n.º 26, 1974; GOMES, Paulo Varela - "Arquitectura nos últimos vinte e cinco anos", in PEREIRA, Paulo (dir.) - História da Arte Portuguesa. s.l., Círculo de Leitores, 1995; COSTA, Alexandre Alves - "1974-1975 o SAAL e os Anos da Revolução"; GUERRA, Isabel - "Grupos sociais, formas de habitat e estrutura do modo de vida", Sociedade e Território, nºs 25 e 26, 1998; Livro Branco do SAAL 1974-1976. Vila Nova de Gaia: Conselho Nacional do SAAL, 1976; LOBO, Margarida Sousa - "Uma solução a encarar: o habitat evolutivo". Arquitectura, 112, 1969; Diário do Governo, nº 182, Iº série, 6 Ago. 1974; PORTAS, Nuno - "Uma nova política urbana", in Binário, nº 197, Fev. 1975; RODRIGUES, Jacinto - Urbanismo - uma prática social e política. Os mecanismos produtores da habitação no SAAL em Abril 75. Limar, Set. 1976.

Documentação Gráfica

CMLoures: processos administrativos n.º 24.404/OCP, nº 6.025/OM, nº 6.987/DOM, nº. 8.233/OM/72, nº 39.447/OM; Fundo de Fomento da Habitação: Processo nº. 2320/DSO/SAAL

Documentação Fotográfica

CMLoures: arquivo Divisão Planeamento Urbanístico

Documentação Administrativa

CMLoures: processos administrativos n.º 24.404/OCP, nº 6.025/OM, nº 6.987/DOM, nº. 8.233/OM/72, nº 39.447/OM; Fundo de Fomento da Habitação: Processo nº. 2320/DSO/SAAL

Intervenção Realizada

Observações

Autor e Data

Rute Figueiredo 2010 / Fernanda Ferreira / Frederico Pinto / Manuel Villaverde (CMLoures) 2011 (no âmbito da parceria IHRU / CMLoures)

Actualização

Anouk Costa 2014
 
 
 
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