Paiol de Nossa Senhora da Conceição
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Portugal, Portalegre, Elvas, Assunção, Ajuda, Salvador e Santo Ildefonso |
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Paiol geral construído no séc. 17, por promoção régia e com projeto atribuído ao engenheiro João Pascácio Cosmander, sem ser à prova de bomba, no interior da praça, em local alto e desafogado, na gola de um baluarte, e reformado no séc. 18 / 19. Numa planta de Miguel Luiz Jacob, de 1758, surge legendado como "armazém antigo de pólvora", enquanto o de Santa Bárbara é identificado como "armazém novo", sugerindo que o da Conceição é mais antigo do que este. Apresenta planta circular, composta por armazém e corredor de ressalva, interiormente cobertos por abóbada tornejante, a qual, em vez do pilar central, tem o armazém, coberto por cúpula, com volumes escalonados, envolvido por alto muro corta-fogo poligonal. Caracteriza-se pela grande sobriedade das linhas, com fachadas terminadas em friso, ou friso e cornijas, de massa, possuindo como único elemento decorativo, uma empena alteada, rematada em cornija contracurva de inspiração borromínica, a rematar o corpo do corredor de ressalva, no enfiamento do portal do muro corta-fogo, resultante de uma reforma da 2.ª metade do séc. 18, ou inícios do 19. A janela retilínea com cornija, sob esta empena, deverá datar do mesmo período, e permite iluminar, ainda que indiretamente, o armazém central, já que sobre o portal do mesmo possuía óculo. O corredor de ressalva é rasgado regularmente por vãos abatidos e portal de verga reta, de acesso ao interior, onde é circundado por bailéu, na face interna. Sobre a porta do armazém estão colocadas as armas reais. Uma planta da década de 1930 representa dois compartimentos na zona de entrada, o precedente ao armazém mais pequeno e quadrangular, desconhecendo-se se, efetivamente, os compartimentos existiam nessa data. É possível que a porta para o armazém seja de data posterior, já que, segundo Manuel de Azevedo Fortes, as portas dos armazéns deviam ser feitas em forma de janela de peitoril e não abertas até abaixo, como a que existe atualmente. Interiormente o armazém, disposto a uma cota mais elevada, estrutura-se em amplos nichos, em arco de volta perfeita, sobre pilares, rasgados no topo por frestas de arejamento em ritmo regular, a partir dos quais se desenvolve a cobertura. Esta é coroada exteriormente por pináculo com inscrições latinas, de inspiração Cristológica, pedindo a proteção divina. |
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Número IPA Antigo: PT041207030208 |
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Registo visualizado 1556 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Armazenamento e logística Paiol
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Descrição
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Planta circular, composta por armazém e corredor de ressalva, envolvido por muro corta-fogo de planta poligonal, facetada. Volumes escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados facetados, de nove e onze águas, rematadas em beiradas simples, sendo o do armazém, mais alto, coroado por pináculo piramidal, com três inscrições em latim. O muro corta-fogo é rebocado e pintado, exteriormente de amarelo e interiormente de branco, rasgando-se a sul, numa zona onde o muro forma recorte, vão com arco em asa de cesto, contendo portão em ferro. Na face interior do muro, o vão é ladeado por guarita com cobertura facetada. O paiol tem as fachadas rebocadas e pintadas de branco, terminadas em cornija, no corredor de ressalva, e em friso e dupla cornija, no armazém. A sul e no enfiamento do vão do muro, o corredor de ressalva tem a fachada alteada e rematada em empena contracurva de inspiração borromínica, sob a qual se rasga janela retilínea, gradeada, encimada por cornija angular. A sudoeste, rasga-se portal de verga reta, com moldura pintada de branco, e, ao longo do corredor de ressalva, vários vãos de arco abatido. Junto ao edifício dispõem-se, em posição equidistante, três pilares escalonados de sustentação do para-raios. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco e pavimento cerâmico. O portal dá acesso ao corredor de ressalva, circundado na face interna por bailéu, capeado a placas cerâmicas, e com cobertura em abóbada tornejante. Um portal de verga reta, moldurado, com porta de madeira, dá acesso ao armazém, sendo encimado por lápide com as armas reais e óculo circular entaipado. Interiormente, o armazém tem pavimento sobrelevado, precedido por quatro degraus largos, e é circundado por 32 amplos alvéolos ou nichos, em arco de volta perfeita sobre pilares, com impostas retilíneas, cobertos por abóbadas de berço, a partir dos quais se desenvolve a cobertura, em cúpula, assente em cornija. Alguns nichos conservam desentaipadas as frestas de arejamento rasgadas no seu interior, em plano elevado. |
Acessos
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Assunção, Avenida 14 de janeiro. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,880723; long.: -7,168492 |
Protecção
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Incluído no Núcleo urbano da cidade de Elvas / Cidade Fronteiriça e de Guarnição de Elvas (v. IPA.00001839) e na Zona de Proteção da Fortaleza de Elvas (v. IPA.00035956) |
Enquadramento
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Urbano, isolado, no interior da praça de Elvas, na zona mais a poente da mesma, na gola do baluarte da Conceição, junto à Porta da Esquina, mas num plano sobrelevado ao caminho que a ela conduz. Confronta a norte com a cortina disposta entre os baluartes do Trem e o da Conceição e a sul com a rampa de acesso ao baluarte da Conceição, atualmente delimitado e onde existe no terrapleno depósito de água subterrâneo, para 5000 m3, de planta circular, construído por volta de 1969. Entre o paiol e o muro corta-fogo, a nascente, existe poço, de boca quadrangular. A nascente adossa-se ao muro corta-fogo o edifício do antigo Quartel do Calvário (PM n.º 82), seguido do Quartel do Trem, atual Escola Superior Agrária de Elvas (v. IPA.00026791). Nas imediações, sobre a porta da Esquina, ergue-se a Capela de Nossa Senhora da Conceição (v. IPA.00026772) e, a sudeste, o Convento de São Paulo (v. IPA.00014243). |
Descrição Complementar
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O pináculo sobre a cobertura possui três faces com inscrições latinas. Na face de frente à cidade reza: "JESUS MARIA YOSEPH, CHR ISTUS / REX GLORIAE VENIT IN PACE ET / DEUS HOMO FACTUS, EST XPUS DE / VIRGINE NACTUS EST XPUS / PER MEDIUM ILLORUM IBAT", cuja tradução é: " Jesus Maria José, Cristo / Rei de Glória, veio em paz e / fez-se Deus Homem, Cristo da / Virgem nasceu, Cristo / andava no meio deles". A face virada a poente tem a inscrição: "BEATA VISCERE MARIAE VIRGINIS / QUAE PORAAVERUNT / AETERNI PATRIS FILIUM ET / BEATA UBERA QUAE LACT / AVERUNT", cuja tradução é "Feliz o ventre da Virgem Maria que trouxe / o Filho do Eterno Pai e / felizes os seios que / [o] amamentaram". A face virada a norte e ao Forte da Graça tem a inscrição: "XPUS VIVIT XPUS VINCIT / XPUS REGNAT XPUS IMPERAT / XPUS AB OMNI FULGURAE / NOS DEFENDAT VERBUM CARO", cuja tradução é " Cristo vive Cristo vence / Cristo reina Cristo impera / Cristo Verbo incarnado defenda-nos de todo o raio" (Leitura de Morgado, p. 49). |
Utilização Inicial
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Armazenamento e logística: paiol |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: museu |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Câmara Municipal de Elvas, auto de cessão e reafetação de 04 abril 2014 |
Época Construção
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Séc. 17 / 18 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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PROJETISTA: João Pascácio Cosmander (atri. - séc. 17). |
Cronologia
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Séc. 17 - data provável da construção do paiol geral de Nossa Senhora da Conceição, com projeto atribuído ao engenheiro João Pascácio Cosmander; 1757 - planta da Praça de Elvas e seus contornos, do capitão de engenharia Miguel Luiz Jacob, na sua visita geral de 1755, assinalando o paiol da Conceição e legendando-o como "armazém antigo de pólvora"; 1758, 30 maio - segundo as Memória Paroquiais da freguesia da Sé, "junto da porta da Esquina há hum armazém para pólvora, de figura retunda Com seu Redutto. Foi feito por ordem de D. João o 4.º, e desenho do Coronel engenheiro o Pe. João Pascacio de Cosmandel da Companhia de JESUS"; séc. 18, 2.ª metade / séc. 19, inícios - obras no paiol, conforme revela a empena contracurva de inspiração borromínica no remate sul do corredor de ressalva; 1817- referência ao paiol da Conceição na Relação dos diversos Paioes e Depozitos de Polvora existentes na Praça de Elvas, de Mathias José Dias Azedo, como sendo um dos três que não são à prova de bomba e descrito como "grande Paiol redondo com corredor de ressalva"; 1825 - é também conhecido como "paiol redondo de bombas", não sendo considerado à prova de bomba; séc. 19 - colocação de para-raios no paiol, conforme projeto não datado; 1864- substituição dos cabos condutores do para-raios; 1875 - é um dos oito paióis e armazéns referidos em Relatório militar; 1885, 07 setembro - planta do paiol, assinada pelo tenente de engenharia José Dias (...); 1935, outubro - plantas do paiol assinalam o interior do corredor de ressalva com dois compartimentos na zona de entrada, um retangular e, à direita, um outro quadrangular, precedendo o armazém; 1943, 19 maio - auto de entrega do paiol ao Batalhão de Caçadores n.º 8, cuja autorização teve por base o facto de se encontrar mais próximo do respetivo quartel, passando o paiol de Santa Bárbara (v. IPA.00035787) a ser utilizado pelo Regimento de Cavalaria n.º 1; 1945, setembro - o paiol é utilizado como arrecadação de material de guerra do Batalhão de Caçadores n.º 8; 1977, 15 janeiro - ofício de Humberto N. S. Dores a manifestar interesse na cedência do paiol para abertura de um bar/pub; o imóvel está então em situação "por definir", pois previa-se a implementação do Clube Militar de Elvas no mesmo; 14 fevereiro - Despacho do Secretário de Estado da Defesa Nacional concorda com a proposta da DGIE/MND, a propor que o paiol se mantivesse em uso pelo Exército e à guarda e conservação do Regimento de Infantaria n.º 8; 26 abril - encontra-se então devoluto devido à transferência da unidade RIE, que o utilizava, para as instalações do ex RL1 ou ex-CICAE (PM79/Elvas - Quartel da Cavalaria), que passa a utilizar o paiol da Porta Velha; 1978, 24 novembro - informação do paiol estar ocupado pelo Regimento de Infantaria de Elvas como Arquivo Geral da Unidade e arrecadação do material de aquartelamento; 1994 - o paiol encontra-se devoluto; 18 abril - em reunião no Quartel General, presidida pelo general VCEME e na qual estiveram também presentes o diretor da DSE/RPATR e chefe da 4.ª REP, é ventilada a viabilidade do aproveitamento do paiol para criação do Clube Militar de Elvas; 12 julho - recebe-se no Quartel General da Região Militar do Sul o Despacho n.º 76 do Ministério de Defesa Nacional de abril, a autorizar a transferência de 15.000 contos para o fundo privativo da DSF, como comparticipação do Ministério para a implantação do Clube Militar de Elvas no imóvel, importância prometida por aquela entidade aquando da sua presença nas cerimónias comemorativas da Batalha de Atoleiros, em 6 abril 1994; entretanto, devido a reuniões entre oficiais, sargentos e praças na situação de reserva ou reforma da GME, é constituída uma comissão instaladora, que elabora o Estatuto do Clube Militar de Elvas e estabelece contactos com construtores civis, que apresentaram os respetivos orçamentos para as obras exteriores de conservação do edifício; 1997 - ainda se pensa manter o paiol em uso pelo Exército e à guarda e conservação do Regimento de Infantaria n.º 8; encontra-se então em razoável estado de conservação, embora necessite pintura e substituição de janelas e portas; 08 fevereiro - o Diretor Geral de Infraestruturas, Manuel da Cunha Rego, propõe ao Secretário de Estado da Defesa Nacional que vários prédios militares, entre os quais o Paiol da Conceição, possam ser objeto de proposta de aquisição pela Câmara Municipal de Elvas, por 300.000.000$00, valor que deveria ser pago até 2000, sem acréscimo de juros e com pagamentos anuais de 75.000.000$00, sendo o primeiro pagamento já no corrente ano; 1999, 02 julho - ofício da Câmara ao Comandante do Regimento de Infantaria n.º 8 a pedir que lhe seja transmitido "se é ou não viável transformar o vosso paiol em reservatório de água"; isto porque, por estar próximo do reservatório camarário de Nossa Senhora da Conceição, resolveria de imediato os problemas existentes, na medida que se adaptaria a um novo reservatório, que se julgava com capacidade de c. 1800m3; 2006, 08 junho - auto de mudança de utente do paiol, sendo as instalações cedidas mediante certas condições *1; 2007, 04 maio - ofício da Câmara Municipal de Elvas pedindo a ocupação temporária do paiol para uma exposição do Museu de Arte Contemporânea a estar patente entre janeiro e outubro desse ano; 2014, 04 abril - auto de cedência e aceitação pela Câmara Municipal de Elvas de vários prédios militares, entre os quais o Paiol da Conceição, nos termos do disposto na alínea I do art.º 8 da Lei n.º 23/2008, de 8 setembro e dos artigos 53 e seguintes ex VI artigo 23º do DL n.º 280/2007, de 07 de agosto, de harmonia com o Despacho n.º 14801/2013, da Ministra de Estado e Finanças e Ministro da Defesa Nacional, de 01 de novembro de 2013, publicado no DR 2.ª série, n.º 222, de 15 de novembro de 2013, proferido ao abrigo do n.º 3 do artigo 6.ª da referida Lei n.º 3/2008; os imóveis são cedidos por um período de 50 anos, sendo os prédios abatidos ao cadastro do Exército à data do referido auto. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria mista, rebocada e pintada; frisos e cornijas em massa; portas e caixilharia de madeira; vidros simples; grades e portão de ferro; pavimento cerâmico; cobertura de telha e em betão na guarita. |
Bibliografia
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BUCHO, Domingos - Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações. Lisboa: Edições Colibri; Câmara Municipal de Elvas, 2013; FORTES, Manuel de Azevedo - O Engenheiro Portuguez. Lisboa: oficina de Manoel Fernandes da Costa, M.DCC.XXIX, tomo 2; MORGADO, Amílcar F. - Elvas: Praça de Guerra, Arquitectura Militar. Elvas: Câmara Municipal de Elvas; Grupo de Apoio e Dinamização Cultural de Elvas (G.A.D.I.C.E.), 1993. |
Documentação Gráfica
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Direção de Infraestruturas do Exército: GEAEM, SIDCarta, Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 67/Elvas - Paiol da Conceição (Processo n.º 1 e 2) |
Documentação Fotográfica
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DGPC: SIPA |
Documentação Administrativa
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Arquivo Histórico Militar: 3.ª Divisão, 9.ª Secção, cx. 67, n.º 41 ("Relação dos diversos Paioes e Depozitos de Polvora existentes na Praça de Elvas, por Mathias José Dias Azedo, Tenente General Commandante, 1817), cx. 68, n.º 18 (Conta resumida do Estado prezente do Aquartelamento da Praça por Inspecção própria do Governador della e Suas Observações, Carlos Frederico de Paula, 1825), cx. 73, n.º 11 (Relatório sobre a defesa da Praça de Elvas feito pelo seu actual governador, o General de Brigada Francisco Xavier Lopes, 1875); Direção de Infraestruturas do Exército: Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 67/Elvas - Paiol da Conceição, PM n.º 86/Elvas - Quartel do Trem; Conservatória do Registo Predial de Elvas: Matriz Predial Urbana, Art. n.º 135; DGALB/TT: Memórias Paroquiais, vol. 13, n.º (E) 14, p. 71 a 106 (Sé) |
Intervenção Realizada
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1946 - reparação do corta-fogo do paiol, rebocos, reparação da abóbada, janelas, portas e exterior do edifício. |
Observações
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*1 - A cedência terminaria logo que a entidade militar com a competência para tal, o determinasse; não eram permitidas novas construções, obras de alteração das estruturas ou da compartimentação, sem a intervenção da Direção dos Serviços de Engenharia, mesmo que custeadas por fundos próprios; e a mudança de utente tornar-se-ia efetiva a partir de 1 junho 2006. |
Autor e Data
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Paula Noé 2017 |
Actualização
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