Terras Fortes do Baixo Alentejo

IPA.00028270
Portugal, Beja, Beja, União das freguesias de Trigaches e São Brissos
 
Paisagem predominantemente humanizada descontínua
Número IPA Antigo: PT040205020117
 
Registo visualizado 831 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Paisagem  Unidade de Paisagem        

Descrição

CARACTERIZAÇÃO DOS FACTORES ABIÓTICOS. ELEMENTOS GEOMORFOLÓGICOS. RELEVO: A paisagem é marcadamente plana e com uma altitude média que ronda os duzentos metros. A reduzida variação de altitude, permite distinguir na paisagem alguns topos, como os que se verificam nos arredores da Vidigueira (300m) e em Beja (275m), contribuindo para alterar a monotonia orográfica. A peneplanície, característica desta unidade, reflecte um intenso desgaste originado, durante milhões de anos, pelas linhas de água. LITOLOGIA / GEOLOGIA: Esta unidade faz parte do Maciço Antigo, sendo constituída fundamentalmente por: rochas eruptivas - dioritos ou gabros, na envolvente de Beja e pórfiros quartzíferos, a N de Beja, sobretudo na parte central da unidade; rochas sedimentares - arenitos e cascalheiras dos períodos Paleogénico e Miocénio (145 a 26 MA), a O de Beja, a E de Cuba e a S de Beja e Mio/Plio-Plistocénico (26 a 1,8 MA), a O de Ferreira do Alentejo e a SE da Vidigueira; e rochas sedimentares e metamórficas - metavulcanitos datados do Pré-cambrico ao Devónico Marinho (4600 a 409MA), nos lugares de Selmes, O de Pedrógão, S de Albernoa e Aljustrel; e xisto e grauvaques do período do Silúrico e Ordocícico (510 a 439 MA), a E da unidade, arredores de Aljustrel e SO de Beja (mais recente - Carbónico Marinho ao Devónico 363 a 409 MA), muito características do Alentejo. SOLOS: A variedade de formações geológicas deu origem a solos com diferentes qualidades e aptidões. Os Vertissolos e os Luvissolos são os mais frequentes nesta unidade, sendo que os primeiros localizam-se mais no centro (entre Serpa, Beja e Ferreira do Alentejo), destacando-se pelo elevado teor em argila que contêm, geralmente superior a 30%. Os "Barros de Beja", são um exemplo disso, contendo uma elevada fertilidade. Os Luvissolos apresentam um baixo teor de matéria orgânica e grande representatividade de matéria mineral, sendo mais susceptíveis à erosão. CLIMATOLOGIA: O clima é de feição mediterrânica, com características continentais. No Verão predominam os meses quentes e secos, acentuados pela intensa insolação e evapotranspiração. Os Invernos são relativamente rigorosos, suavizando-se com a aproximação ao litoral e nas áreas com menor altitude. A temperatura média anual é de 16ºC, com uma amplitude térmica bastante elevada (14ºC). A precipitação média anual é escassa (584mm), sendo que os meses mais chuvosos se verificam no período de Outubro a Abril. A distribuição inter-anual da precipitação é irregular, oscilando entre valores mínimos de 380mm, nos anos secos, e 760mm, nos anos húmidos. HIDROGRAFIA: As linhas de água são escassas e grande parte apenas com ocorrência sazonal, destacando-se o rio Guadiana a E da unidade de paisagem, como principal colector das ribeiras da parte oriental da unidade. As principais albufeiras são as do Roxo, Odivelas, Daroeira e Grous. CARACTERIZAÇÃO DOS FACTORES BIÓTICOS. FLORA: Numa área onde domina a agricultura extensiva, subsiste o sistema de montado, constituído sobretudo por azinheira (Quercus ilex spp rotundifolia) e sobreiro (Quercus suber L.), sendo também possível encontrar a oliveira (Olea europea L.) e o zambujeiro (Olea europaea var. sylvestris). O abandono da actividade agrícola favorece o aparecimento de matos, em que predominam a esteva (Cistus monspeliensis), a roselha-grande (Cistus albidus), o lentisco-bastardo (Phyllirea angustifolia L.), a aroeira (Pistacia lentiscus), o rosmaninho e o tojo (Ulex parviflorus). Na área de Cuba, pode encontrar-se a Linaria ricardoi, planta endémica lusitana muito rara. FAUNA: A transformação da paisagem, através das práticas agrícolas, condicionou a diversidade faunística desta área, que é relativamente reduzida. As aves assumem especial importância, tendo nos últimos anos, o turismo de natureza incentivado a sua observação. Exemplos: Cegonha-branca, picanço-barreteiro, papa-figos e o melro. Maçarico-das-rochas, borrelho-pequeno-de-coleira, guarda-rios, abelharuco e rouxinol-do-mato. Cotovia-pequena, toutinegras, perdiz-comum, rola, melro-azul. CARACTERIZAÇÃO DOS FACTORES ANTRÓPICOS. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO: Predomínio da grande propriedade, ocupada pelos sistemas arvenses de sequeiro, explorados de forma intensiva e com um coberto arbóreo geralmente escasso. À medida que o relevo se torna mais movimentado, surgem os sistemas agro-florestais de montado de azinho ou, pontualmente, de sobro. No N da unidade, o regime de propriedade altera-se para pequenas parcelas de terreno ocupados com policultura e surge sobretudo a vinha, mas também os pomares, olivais e pastagens. No perímetro hidroagrícola do Roxo prevalece a agricultura intensiva de regadio. Os "Barros de Beja" são solos argilosos, que se destacam pela sua elevada fertilidade e, consequentemente, pela elevada capacidade de produção agrícola. TIPO DE POVOAMENTO: O povoamento é marcadamente concentrado, distribuído por núcleos urbanos de pequena e média dimensão. Nas últimas décadas, a crescente expansão urbana nos arredores de Beja, gerou conflitos resultantes da urbanização de áreas onde existiam solos de elevada qualidade. DADOS DEMOGRÁFICOS: As Terras Fortes do Baixo Alentejo inserem-se numa região envelhecida em termos demográficos, facto acentuado pelo êxodo das povoações rurais para Lisboa e para Beja (capital de distrito). PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO: A presença humana na região é demonstrada por vestígios materiais de sucessivas ocupações (Paleolítico, Neolítico, Idade do Bronze, Idade do Ferro, períodos Romano, Visigótico e Árabe). A presença romana foi relevante, sobretudo em Beja (durou 450 anos), onde deixou marcas visíveis como o Arco Romano de Beja (v. PT040205130003). Esta cidade foi sede de bispado visigótico e teve cinco séculos de ocupação árabe. Em termos de património, destaca-se a urbe de Beja, rica em edifícios monumentais, como o Castelo de Beja (v. PT040205130003), resultado da sua longa história como centro de importância regional. A cidade de Beja, sede de diocese, possui diversos edifícios de relevo associados a funções religiosas, destacando-se a Sé Catedral (v. PT040205130036), o Antigo Convento de São Francisco (v. PT040205090009) e a Igreja da Misericórdia (v. PT040205130006).*1 Associados à produção agrícola, os "montes" constituem conjuntos característicos da arquitectura vernacular. ORGANIZAÇÃO SOCIAL E MODOS DE VIDA: O regime latifundiário esteve na origem de um sistema produtivo característico do Alentejo, marcando profundamente o modo de vida da região e também a sua identidade. Nos últimos anos, tem havido um investimento na produção agrícola e pecuária de qualidade, mas também em projectos ligados ao turismo rural. PATRIMÓNIO INTANGÍVEL: A principal festa de Beja é a Feira de São Lourenço e de Santa Marta, que se realiza de 1 a 11 de Agosto. O artesanato local deriva das várias actividades agropecuárias, sendo constituído por produtos em cortiça, madeira, barros e pele. A Ovibeja, que decorre na Primavera, procura promover a actividade agrícola e pecuária da região. A produção de produtos certificados como "Porco Alentejano" (Denominação de Origem Protegida), "Azeite do Alentejo Interior" (Denominação de Origem Protegida), "Borrego do Baixo Alentejo" (Indicação Geográfica Protegida), "Queijo de Serpa" (Denominação de Origem Protegida) e "Mel do Alentejo" (Denominação de Origem Protegida), enriquece a gastronomia local. SISTEMA DE VISTAS: Os pontos dominantes na paisagem são sobretudo os castelos da região, a partir dos quais é possível usufruir de uma vasta bacia visual, onde se destaca o montado, as áreas de sequeiro e as albufeiras. PERCEPÇÃO DA PAISAGEM: O Alentejo é associado à vastidão da peneplanície, à cor amarela das explorações agrícolas de sequeiro e ao calor dos meses estivais, embora durante a primavera a paisagem adquira tons de verde. Pouca densidade de coberto arbóreo (exemplo: olivais dispersos). Na aparente monotonia da paisagem, destaca-se a ocupação humana, onde a cor predominante das povoações é o branco utilizado para caiar as casas, sendo os barramentos, à volta das portas e janelas, pintados de diversas cores.

Acessos

Rodoviário: IP1, IP2, IC1, EN2, EN18, EN121, EN258-1, EN 263; Ferroviário: linha do Sul, linha do Alentejo, ramal de Moura e ramal de Aljustrel.

Protecção

RN2000 - Rede Natura 2000: inclui o SIC - Sítio de Interesse Comunitário de Alvito / Cuba (Directiva Habitats 92/43/CEE); inclui a ZPE - Zona de Proteção Especial de Castro Verde (Decreto-Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro)

Enquadramento

Situada no S de Portugal Continental confina a E com o Vale do Baixo Guadiana e afluentes, a S com Campo Branco de Castro Verde e Campos de Ourique - Almodôvar - Mértola, a O com as Terras do Alto Sado e Montados da Bacia do Sado e a N com Terras de Viana - Alvito. Inclui parcialmente os concelhos de Beja, Ferreira do Alentejo, Aljustrel, Vidigueira, Cuba, Santiago do Cacém, Alvito, Ourique, Castro Verde e Odemira.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Não aplicável

Afectação

Não aplicável

Época Construção

Não aplicável

Arquitecto / Construtor / Autor

Não aplicável

Cronologia

Séc. 1 a.C - fundação da cidade romana de Pax Julia, por Júlio César ou Augusto, uma das principais cidades do Ocidente. Séc. 5 - ocupação Visigótica, Beja mantém a sua importância (centro administrativo e sede de bispado); não desaparecem as estruturas fundamentais romanas da cidade. A igreja de Santo Amaro, antiga catedral visigótica, é o testemunho mais importante deste período. Séc. 8 - Ocupação islâmica, alterações no tecido urbano, passando a forma ortogonal da malha urbana para uma configuração radial. Séc. 11 - Beja entra em declínio; Já não é centro administrativo e religioso, perdendo prestígio a favor de cidades que ganham maior importância (caso de Évora). 1200 - Beja arruinada e quase despovoada, inicia-se a sua reconstrução. Séc. 13 - reconquista cristã. Séc. 14 - entrega do Foral à cidade por D. Afonso III, com o intuito de incentivar a reconstrução e fixação da população; início da reconstrução da cidade. Séc. 15 - Fundação do Ducado de Beja, os primeiros duques, infantes de Portugal, vêm residir para Beja, construção dos principais monumentos da cidade, Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição, Igreja da Misericórdia e Hospital da Misericórdia, Palácio dos Infantes; nova dinâmica na cidade. Séc. 16 - 1521 - elevação a cidade por D. João III. Séc. 19/20 - Remodelação profunda da malha urbana através da reconversão de alguns espaços públicos; demolição de edifícios emblemáticos (Palácio dos Infantes e Igreja de Santo António); 1871 - inauguração do Jardim público, 1893 - construção da estação do caminho-de-ferro e expansão da cidade. Séc. 20 - Expansão da cidade, construção de edifícios públicos, valorização e protecção do Centro histórico; 1941 - ciclone devasta o Jardim Público, nova reestruturação; 1954 - Plano Geral de Urbanização de Beja; 1967 - Plano Geral de Urbanização de Beja; 1967 - É activada a Base Aérea de Beja; 1974 - Plano Geral de Urbanização de Beja; 1982 - Plano de Salvaguarda e Recuperação do Centro Histórico de Beja; 1986 - publicação do regulamento do Plano Parcial de Urbanização do Núcleo Central Histórico de Beja; 1992 - Plano Director Municipal de Beja; 2000 - Plano Estratégico de Beja e apresentação do programa Pólis Beja. Séc. 21 - Investimento nas acções de protecção do património e de valorização do centro histórico de Beja.

Dados Técnicos

Não aplicável

Materiais

Bibliografia

Guia de Portugal, vol. 2, Estremadura, Alentejo, Algarve, Lisboa, 1927; MOUTINHO, Mário, A arquitectura popular portuguesa, Lisboa, 1979; Plano de salvaguarda e recuperação do centro histórico de Beja, Câmara Municipal de Beja, 1980; AAVV, Arquitectura Popular em Portugal, Vol 3, Lisboa, 1988; BORGES Coelho, Portugal na Espanha Árabe, Vol 1, Lisboa, 1989, p.47; RIBEIRO, Orlando, Opúsculos Geográficos, Vol 3 e 4, Lisboa, 1989; RIBEIRO, Orlando, Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, Lisboa, 1998; CANCELA D'ABREU, Alexandre et. al., Contributos para a identificação e caracterização da paisagem em Portugal continental, Lisboa, 2004; AAVV, Beja: cidade mediterrânica (cd-rom), DGEMN, 2006

Documentação Gráfica

IA; DGOTDU; IHRU

Documentação Fotográfica

IHRU; Foto Engenho

Documentação Administrativa

IHRU

Intervenção Realizada

Observações

INSTRUMENTOS LEGAIS DE GESTÃO DO TERRITÓRIO: Plano Regional de Ordenamento do Território do Litoral Alentejano (Decreto Regulamentar 26/93; em revisão - Resolução do Conselho de Ministros n.º 4/2002); Plano Director Municipal de Beja (Resolução do Conselho de Ministros n.º 123/2000 de 7 de Outubro); Plano Director Municipal de Ferreira do Alentejo (Resolução do Conselho de Ministros n. 62/98 de 18 de Maio); Plano Director Municipal de Aljustrel (Resolução do Conselho de Ministros n.º 138/95); Plano Director Municipal de Ourique (Resolução do Conselho de Ministros n.º 35/2001); Plano Director Municipal de Cuba (Resolução do Conselho de Ministros n.º 50/93); Plano Director Municipal de Alvito (Resolução do Conselho de Ministros nº 43/93); Plano Director Municipal de Vidigueira (Resolução do Conselho de Ministros nº 39/93); Plano Director Municipal de Santiago do Cacém (Resolução do Conselho de Ministros nº 62/93). *1 - Situava-se na cidade o Mosteiro da Conceição, local onde professou e morreu Mariana Alcoforado, autora de um conjunto de cartas destinadas a um oficial francês, Noël Bouton, o que se tornaram um marco importante da literatura portuguesa (fim séc. 17).

Autor e Data

Carla Gomes, Filipa Ramalhete, Luís Marques 2006

Actualização

 
 
 
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