Mosteiro de Nossa Senhora da Encarnação

IPA.00002535
Portugal, Lisboa, Lisboa, Arroios
 
Arquitectura religiosa, barroca. Mosteiro feminino da Ordem Militar de Avis.
Número IPA Antigo: PT031106240182
 
Registo visualizado 3994 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro feminino  

Descrição

De planta longitudinal composta, a igreja é a justaposição de um rectângulo e um quadrado (nave única com transepto inscrito e capela-mor), de que resulta uma composição de volumes articulados, com cobertura em telhados a duas águas. O alçado lateral sul, pelo qual se efectua o acesso ao interior da igreja, é ritmado por contrafortes que definem panos de muro nos quais se abrem janelas quadradas gradeadas e um portal em arco reto, ladeado por pilastras e colunas e encimado por um emblema heráldico. No exterior destaca-se ainda, num corpo perpendicular à nave da igreja, o acesso à antiga portaria conventual, através de um portal de elaborado desenho barroco. Acima da sinuosa verga da porta abre-se um óculo, ornado de rica grade de ferro, a que se sobrepõe um dossel de mármore rematado por uma simulação de cúpula. A nave, coberta por abóbada de berço, articula-se com a capela-mor (dotada de idêntica cobertura) por meio de um elevado arco triunfal. Nos muros laterais da nave abrem-se dois altares do lado da Epístola e três do lado do Evangelho - ornados de talha de Matias Roiz de Carvalho (activ. 1688 - 1704) e com frontais de azulejo branco e cor-de-vinho em xadrez em torno de uma cartela central, no enfiamento dos quais se rasgam tribunas. Azulejos azuis e brancos historiados - cenas da vida monástica - revestem a parte inferior dos muros, observando-se na parte superior pintura a óleo figurando passos da vida de São Bento e da Virgem, com molduras de talha dourada. No muro de topo, fronteiro ao altar-mor, são visíveis as grades dos coros alto e baixo. A capela-mor, bastante elevada, apresenta um lambril de embutidos de mármores polícromos nos muros laterais e no embasamento do retábulo, este de talha dourada do período joanino, com colunas pseudo-salomónicas, dossel semi-circular e trono.

Acessos

Largo do Convento da Encarnação; Calçada da Encarnação; Rua do Salema; Beco de São Luís da Pena

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56, de 6 março 1996 *1 / Incluído na Zona de Proteção do Castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa (v. IPA.00003128) e na Zona Especial de Proteção Conjunta dos Imóveis Classificados da Avenida da Liberdade e área envolvente / Parcialmente incluído na Zona de Proteção do Coliseu dos Recreios (v. IPA.00005255)

Enquadramento

Urbano, destacado, flanqueado.

Descrição Complementar

No interior do antigo complexo conventual destacam-se ainda o claustro - amplo recinto de sete por nove arcos de volta perfeita; nos quatro ângulos dos seus pilares (de secção rectangular) desenham-se pilastras toscanas que se prolongam em molduras salientes nos arcos formeiros; as galerias são cobertas por abóbadas de aresta de volta abatida; a escadaria - que se desenvolve a partir da sala da portaria e apresenta, no patamar que se sucede ao primeiro lanço, uma porta, de ombreiras rodadas encimada por entablamento e tímpano, de acesso ao coro baixo da igreja. Nos muros dos patins observam-se telas cuja temática é a vida de São Bento; o coro baixo é um compartimento arquitectonicamente notável, cujo tecto ostenta pintura ornamental em torno de um quadro central tendo por tema a Anunciação e onde se observa ainda um cadeiral de madeira exótica.

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro feminino

Utilização Actual

Religiosa: igreja / Assistencial: lar

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Centro Regional de Segurança Social de Lisboa (convento)

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADORES: Matias Rodrigues de Carvalho (1688, 1697); Miguel Francisco da Silva (1719). OURIVES: Gonçalo de Figueiredo (séc. 18); Luís Rodrigues Palma (1699); Manuel Rodrigues Palma (1699). PINTORES: André Gonçalves (atr., séc. 18); Bento Coelho da Silveira (atr., séc. 17).

Cronologia

1630 - construção de um novo edifício para abrigar as Comendadeiras da Ordem Militar de São Bento de Avis, em terrenos de D. Aleixo de Meneses, sendo fundadoras D. Luísa de Noronha e D. Antónia da Silva; séc. 17, meados - pintura de telas por Bento Coelho da Silveira (1630 - 1708): 1643 - criação da Irmandade das Escravas do Santíssimo Sacramento, sob a proteção de Nossa Senhora da Encarnação, funcionando na igreja do convento; 1688, 21 janeiro - Matias Rodrigues de Carvalho é contratado pela recolhida D. Isabel de Meneses para executar os retábulos de Santa Teresa de Ávila e de São João Evangelista e um nicho para o coro; 1697, 22 agosto - D. Isabel de Meneses na qualidade de comendadeira, encarrega Matias Rodrigues de Carvalho de fazer os caixilhos e cimalha da igreja, em madeira, para acolher as pinturas de Bento Coelho da Silveira; provável pintura do coro por Bento Coelho da Silveira (c. 1617 - 1708); 1699 - feitura do retábulo de prata, iniciado pelos ourives Manuel Rodrigues Palma e Luís Rodrigues Palma; séc. 18 - continuação da feitura do retábulo pelo ourives Gonçalo de Figueiredo; pinturas executadas por André Gonçalves; 1708 - o convento é habitado por uma comendadeira, dezassete freiras professas, dezassete moças de coro, nove seculares e trinta criadas; 1710 - testamento de Matias Rodrigues de Carvalho (1697 - 1710), referindo parte do pagamento da obra que fazia no altar de São Miguel na igreja; 1719, 14 julho - as Comendadeiras contratam o entalhador Miguel Francisco da Silva para a feitura do retábulo-mor da igreja (FERREIRA, 2009, vol. 2, pp. 522-523); 1734, 10 agosto - um incêndio no edifício obriga as religiosas a refugiarem-se no Mosteiro de Santos-o-Novo; D. João V manda construir um novo mosteiro; 1755, 01 novembro - o terramoto deixa o convento inabitável, deslocando-se as religiosas para a cerca do Convento de Santo Antão; 1758, 13 março - as religiosas regressam ao seu convento em coches da Casa Real cedidos por D. José I, após a reconstrução do edifício por iniciativa régia; 1833 - segundo Luís Gonzaga Pereira, a capela-mor tem sacrário e trono, onde se representa a Anunciação; tem três capelas laterais no lado do Evangelho e duas no lado oposto; tem pinturas a representar Nossa Senhora e São Bento; no templo, existem dois órgãos; 1889, 23 fevereiro - são transferidos para a igreja, provenientes do extinto Mosteiro da Esperança, em Lisboa (v. IPA.00034033) vários objetos, entre os quais se destacam um cofre de comunhão e um genuflexório; 1899 - realizam-se vários "reparos" nos quartos de D. Margarida d'Albuquerque do Amaral Cardoso; 1937 - 1938 - construção de anexo (para sacristia e residência do capelão) adossado à fachada sul da igreja; 1999 - abatimento parcial do telhado da igreja devido ao mau tempo; 2006, 22 agosto - parecer da DRCLisboa para definição de Zona Especial de Proteção conjunta do Castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa, Baixa Pombalina e imóveis classificados na sua área envolvente; 2008, 29 abril - um incêndio afectou a zona do antigo convento, onde se acha o lar de idosos; 2011, 10 outubro - o Conselho Nacional de Cultura propõe o arquivamento de definição de Zona Especial de Proteção; 18 outubro - Despacho do diretor do IGESPAR a concordar com o parecer e a pedir novas definições de Zona Especial de Proteção.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, cantaria de calcário, mármore, azulejos, talha.

Bibliografia

AGUIAR, José Pinto - "Uma visita ao Convento da Encarnação". Olisipo, jul. 1954, ano XVII, n.º 67; AGUIAR, José Pinto de - Recolhimentos da Capital. Lisboa, 1966, separata de Olisipo, Ano XXIX, nº 115 - 116; CASTRO, João Baptista de - Mappa de Portugal, Lisboa, 1762 - 63; ALMEIDA, D. Fernando de (coord. de) - Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa - Tomo II. Lisboa, 1975; CAEIRO, Baltazar Matos - Os Conventos de Lisboa. Lisboa, 1989; FERREIRA, Sílvia Maria Cabrita Nogueira Amaral da Silva - A Talha Barroca de Lisboa (1670-1720). Os Artistas e as Obras. Lisboa: s. n., 2009, 3 vols., dissertação de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa; FERREIRA, Sílvia, COUTINHO, Maria João Pereira - "Com toda a perfeição na forma que pede a arte: a capela do Santíssimo Sacramento da igreja de São Roque em Lisboa: a obra e os artistas". ARTIS. Lisboa: Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras de Lisboa, 2004, n.º 3, pp. 267-295; MATOS, Alfredo, PORTUGAL, Fernando - Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1974; Monumentos. Lisboa: DGEMN, 2000, n.º 12; PEREIRA, Luís Gonzaga - Monumentos Sacros de Lisboa em 1833. Lisboa: Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1927; História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa. Lisboa, 1972, vol. 2; SERRÃO, Vítor - História da Arte em Portugal. O Barroco. Barcarena: Editorial Presença, 2003; SILVA, Nuno Vassalo e - Os ourives das Ordens Militares (séculos XVII e XVIII). Lisboa: Edições Colibri / Câmara Municipal de Palmela, 1997, Separata de As Ordens Militares em Portugal e no Sul da Europa.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSARH, DGEMN/DSPI/CAM, DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DRELisboa/DIE/DRC/DEM/DP

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DESA

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa; IGESPAR: IPPAR, Pº Nº 81/3 (76); DGLAB/TT: Arquivo Histórico do Ministério das Finanças / Conventos extintos, Convento da Esperança, caixa 1957, capilha 2 e caixa 1959, capilha 10; Ministério das Obras Públicas, caixa 443, processo n.º 31.

Intervenção Realizada

1942 - reparações de pavimentos e paredes da casa n.º 37 do Recolhimento; 1946 / 1947 - reparação do tecto do coro da igreja; 1951 - construção de instalações sanitárias na casa n.º 5 do Recolhimento; 1957 - reparações diversas na igreja (soalho da nave, portadas do coro baixo, guarda-vento, restauro de tela no coro), impermeabilização da abóbada da sala capitular; 1969 - reparação de fendas nas paredes originadas pelo sismo; 1972 - reparações nas coberturas; 1985 - instalação de pára-raios e rede de combate a incêndios; 1999 / 2000 - recuperação integral do telhado da igreja e da capela-mor.

Observações

*1 - Convento da Encarnação, incluindo a igreja.

Autor e Data

Teresa Vale e Carlos Gomes 1994

Actualização

Ângelo Silveira 2001
 
 
 
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