Capela do Espírito Santo na Quinta do Prado

IPA.00024882
Portugal, Vila Real, Vila Real, Vila Real
 
Arquitectura religiosa, barroca e revivalista. Capela de planta longitudinal simples, interiormente com tecto de madeira. Fachada principal barroca, rebocada e pintada, com cunhais apilastrados, terminada em cornija encimada por empena recortada, contendo brasão, coroada por cornija contracurvada e cruz, e rasgada por portal de verga recta de quádrupla moldura, a exterior sobreposta por motivos fitomórficos e com volutas na base. Fachadas laterais de estilo revivalista, em cantaria aparente, de dois panos diferenciados, o primeiro terminado em cornija e rasgado por janela mainelada, em arco de volta perfeita sobre duplas colunas, e o segundo cego e terminado em cornija e platibanda plena coroada por ameias decorativas. Fachada posterior terminada em cornija e platibanda plena. Interior com duas capelas laterais pouco profundas, em arco quebrado, e parede testeira com capela semelhante, mas em arco de volta perfeita. Pequena capela, várias vezes traslada e reconstruída, as últimas vezes procurando reproduzir a antiga, de que existe fotografia da 1ª metade do séc. 20. A primitiva foi construída na Idade Média adossada a albergaria. Assim, as fachadas laterais e a posterior, ainda que de carácter revivalista neoromânico, talvez reaproveitem alguns elementos antigos, nomeadamente alguns capitéis, com folhagem e rostos antropomórficos. Foi, no entanto, reformada no séc. 18, época em que se construiu a fachada principal, com empena tripartida, dinamizada por frisos sinuosos nos capitéis e molduras, volutas e elementos fitomórficos. Esta reforma estendeu-se para metade das fachadas laterais que possuem igualmente frisos sinuosos nos capitéis e têm remate em friso e cornija. Os amplos vãos laterais mainelados são bastante raros em capelas da região, mas talvez se devam por a capela inicialmente se integrar numa albergaria, onde era comum existirem tribunas para assistir ao culto.
Número IPA Antigo: PT011714090192
 
Registo visualizado 571 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta longitudinal, de massa simples com cobertura homogénea em telhados de três águas. Fachadas em cantaria aparente, de aparelho irregular, com as juntas tomadas, à excepção da principal, que é rebocada e pintada de branco; esta fachada está virada a NO., possui embasamento de cantaria, pilastras toscanas nos cunhais, com friso sinuoso na zona dos capitéis, e termina em cornija encimada por empena tripartida, com zona central alteada, recortada e decorada com volutas, rematada em cornija contracurvada, coroada por cruz latina de cantaria de braços quadrangulares, terminados em botão e faces ornadas com motivos fitomórficos; sobre os cunhais surgem pináculos piramidais galbados e ao centro da empena brasão de granito. É rasgada por portal de verga recta, com tripla moldura, envolvido por uma quarta moldura, mais larga, com pequeno recorte lateral, sobreposta por acantos e flor-de-lis relevados formando pingentes, tendo ao centro friso sinuoso e na base volutas e motivos vegetalistas; do ângulo da moldura do portal parte friso até às pilastras dos cunhais e, superiormente, friso sinuoso até à cornija da fachada. Fachadas laterais semelhantes de dois panos; o primeiro tem pilastra toscana com friso sinuoso no cunhal, termina em friso e cornija sobreposta por beirada simples e é rasgado por janela mainelada, em arco de volta perfeita, com chanfro, assentes em duplas colunas com bases próprias e de capitéis decorados com folhas relevadas e rostos antropomórficos nos ângulos do coxim. O segundo pano, de aparelho mais irregular, termina em cornija encimada por platibanda plena, alteada, coroada por quatro ameias decorativas de topo recortado. Fachada posterior semelhante ao pano anterior, terminada em platibanda plena sobre cornija, com gárgulas dispostas de ângulo. INTERIOR de paredes em cantaria aparente, com as juntas tomadas, pavimento em lajes de cantaria e tecto de madeira de quatro águas, com travejamento aparente assente em cornija ritmada com mísulas do mesmo material. As paredes laterais são semelhantes, sendo cada uma delas rasgada pelo vão rectangular da janela mainelada, com chanfro, tapado por portada de madeira, com dois lumes de vidros martelados policromos, seguido de capela pouco profunda, em arco quebrado com chanfro, assente nos pés-direitos, albergando painel pintado. No topo do lado do Evangelho, abre-se armário embutido, quadrangular, com porta de madeira. Parede testeira rasgada por capela pouco profunda, em arco de volta perfeita, de chave alteada, albergando imagem de Cristo na cruz. Sobre base rectangular de um degrau, surge frontalmente, mesa de altar assente em pés recortados decorados superiormente com bosantes.

Acessos

Folhadela, Quinta do Prado. WGS84: 41º17'18.87''N., 7º44'22.90''O.

Protecção

Categoria: IM - Interesse Municipal, Decreto nº 1/86, DR, 1.ª série, n.º 2 de 03 janeiro 1986

Enquadramento

Peri-urbano, isolado, no campus da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a cerca de 500 mm de altitude, junto ao vale do Rio Corgo. A área do campus estende-se por cerca de 95 hectares, 16 dos quais com vocação agrícola e aproveitados para ensaios dos departamentos das Ciências Agrárias, 14 revestidos com matas de carvalhos autóctones, castanheiros, pinheiros, eucaliptos e outras exóticas, em manchas predominantemente periféricas, 27 abrangendo os terraços e escarpas sobranceiras ao Rio Corgo, integradas na Reserva Ecológica Nacional, 32 de área edificada e ajardinada e 6 em situação expectante, mas também por urbanizar. Em posição central do campus surge o núcleo da Quinta de Prados, com a habitação e as instalações rurais dos antigos proprietários. A capela possui o portal precedido por dois degraus semicirculares e é parcialmente envolvida por calcetado artístico, composto por calçada à portuguesa e paralelos, formando motivos geométricos, criando átrio, a que se segue uma superfície relvada, desenvolvida em ligeiro declive, até à estrada de acesso. Ladeia a capela uma Metasequoia e afloramento rochoso, apanhado nas redondezas, onde se colocou uma placa de sinalização de madeira. Uma sebe de buxo aparada demarca este espaço da colecção ampelográfica vizinha. A capela possui ainda amplo panorama sobre a cidade.

Descrição Complementar

O brasão da fachada principal pertence aos morgados de Abaças e foi removido durante a 1ª metade do séc. 20 do presbitério da Igreja de São Domingos, do lado do Evangelho, do degrau que fazia cabeceira à sepultura privativa dos morgados, tendo depois sido depositado no átrio do Governo Civil. Representa no I quartel as armas dos Teixeiras, no II, as dos Coelhos, no III as dos Pintos e no IV as dos Melos, apelidos representando a união da Casa de São Brás dos Teixeiras Coelhos de Melo com a de Abaçãs dos Pintos da Mesquita.

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 14 - época provável da construção da capela pelos morgados de São Brás, designando-se, por isso, frequentemente, de capela do Hospital de São Brás; 1385 - carta de privilégios dada por D. João I ao Hospital e albergaria de São Brás; 1644, 10 Maio - devido a vários milagres operados com a imagem de Cristo crucificado existente na capela, ela passou a ser conhecida por Capela Bom Jesus, *1; a partir desta data, passou também a festejar-se o dia 10 de Maio com festa custeada pelo comendador de Tresminas, D. Gregório Castelo Branco; 1719 - data do falecimento do comendador de Tresminas, passando a festa dedicada ao Bom Jesus a realizar-se por devoção dos habitantes; 1721 - nas Memórias de Vila Real refere-se a existência, no fim do Campo do Tabolado, da Capela do Espírito Santo ou do Hospital, uma vez que possuía adossado um hospício para viajantes pobres, que tivessem mais de três dias de jornada; a capela era então administrada pelo morgado de São Brás, Bernardo José Teixeira Coelho de Melo Pinto, fidalgo da Casa Real e morador na vila, e possuía quatro missas semanais, feitas por dois capelães; 1758, 3 Março - referência à capela do Bom Jesus do Hospital nas Memórias Paroquiais da freguesia de São Dinis, pelo pároco José Francisco Esteves de Carvalho, como tendo casa ou albergaria para acolher passageiros e pobres que adoeciam e que não tinha quem deles tratasse; tinha ainda outra casa pegada pelo interior para um ermitão ou assistente, o qual pedia esmola pela vila e seu termo para o sustento dos doentes; era então administrador da capela Gonçalo Cristóvão Teixeira Coelho de Mello de Mesquita Pinto; séc. 19 - transferência da capela para o Pioledo; 1865, 26 Agosto - acta da sessão da Câmara refere requerimento de José António Teixeira Coelho, em que, devido à expropriação dos seus terrenos e edifícios pela Direcção das Obras Públicas, necessários para a construção da nova estrada dentro da vila, cedia o valor ou preço da expropriação que lhe era devido pela demolição da albergaria e capela do Espírito Santo, pertencentes ao seu antigo vínculo de São Brás e de que era o 29 administrador, virada ao Campo e Rua do Rego, com a condição de se reconstruir a capela no Campo do Pioledo, com o mesmo quadro e proporções que tinha; José António Teixeira Coelho requeria assim que se lavrasse contrato onde se expressasse o direito do suplicante e de seus sucessores e herdeiros de propriedade da Capela, que então já se andava a reconstruir no Campo do Pioledo à custa da dita Direcção de Obras Públicas; por unanimidade, a Câmara decide que, devido à área do solo onde a capela estava a ser reconstruída ser municipal, a Câmara confirmava a cedência do solo ou área compreendido entre as paredes da nova capela ao suplicante, mas estipulava que fora das paredes nada lhe pertenceria; 1887, 9 Julho - acta da Câmara refere que a capela servia de paiol de pólvora do Regimento de Infantaria nº 13; um vereador propôs que se mandasse pagar 9$000 (importância da renda da casa onde se achava o paiol), a D. Maria da Graça Teixeira Coelho, o que foi aprovado; 1890, Julho - a capela deixa de servir de paiol; 1891, 13 Maio - tendo em vista a abertura do 2º lanço do ramal da estrada municipal nº 15, compreendido entre os Paços do Concelho e a Carreira de Baixo, hoje Avenida Almeida Lucena, a Câmara decide propor ao proprietário da capela a sua demolição e expropriação por 100$000, de que se excluía o preço do material, pois esse ficava sendo do expropriado; 1896 - a capela ainda se erguia no Campo do Pioledo; 6 Maio - acta da Câmara refere a urgência da expropriação da capela e respectiva demolição, devendo tratar-se disso com o seu proprietário José Xavier Teixeira de Barros; posteriormente, a capela foi demolida e reconstruída na Quinta dos Prados; 1975 - a Comissão Instaladora do Instituto Politécnico de Vila Real, embrião da actual Universidade, decide adquirir uma quinta espaçosa e próxima da cidade para construir laboratórios e salas de aulas e instalar ensaios de demonstração e pesquisa para suporte dos três cursos superiores que então vigoravam: Engenharia Agrícola, Zootécnica e Florestal; pouco depois compra a quinta de Prados; 1979 - adaptação da antiga habitação e das instalações rurais dos proprietários da antiga quinta a auditórios, salas de aulas, gabinetes, laboratórios e serviços; 1980, finais - desmonte da capela para ser trasladada e reconstruída numa propriedade, em Guimarães, dos morgados de Abaçãs, antigos donos da Quinta de Prados; o interesse da Comissão Instaladora em mantê-la na UTAD, e o movimento da cidade para a sua preservação, resultou na sua classificação como Imóvel de Interesse Concelhio, seguido da sua reconstrução e restauro; 1988, Abril - plantação de uma Metasequoia glyptostroboides (Metasequoia) pelo então secretário de Estado do Ambiente, Eng. Macário Correia, oferecida pela Fundação Calouste Gulbenkian e provinda da Alemanha.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de cantaria de granito aparente; portas, janelas e estrutura de sustentação do telhado em madeira; vidros martelados policromos; pavimento em lajes de cantaria de granito; telas pintadas; cobertura de telha.

Bibliografia

AZEVEDO, Correia de, Vila Real de Trás-os-Montes, Porto, s.d.; TEIXEIRA, Júlio A. Fidalgos e Morgados de Vila Real e seu Termo, vol. 1, Vila Real, 1948; GONÇALVES, Fernando de Sousa Silva, Memórias de Vila Real, vol. 1, Vila Real, 1987; COSTA, Lourenço Camilo, Capela do Espírito Santo, Placa identificativa junto à capela, s.d.; CASTRO, Luís Fernando Torres de, Os Jardins da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Santa Maria da Feira, 2005; BORGES, Júlio António, Monografia do Concelho de Vila Real, Maia, 2006; CAPELA, José Viriato, BORRALHEIRO, Rogério, MATOS, Henrique, As Freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património, Braga, 2006

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

UTAD: 1980, década - obras de restauro.

Observações

*1 - Na igreja de São Dinis existia uma imagem antiga de Cristo crucificado que, segundo a tradição, fora oferecida pela rainha Santa Isabel, e que o Visitador mandou enterrar, por estar "carcomida". O padre Álvaro Correia Barbosa recolheu a imagem, restaurou-a e pintou-a. Depois de pronta, no dia 10 de Maio de 1644, conduziu-a de sua casa em procissão até à capela do Espírito Santo, colocando-a no trono do altar-mor e custeando missa cantada; quando se cantava a glória, entrou na capela uma mulher, do lugar de Outeiro Seco, aleijada das pernas, ao ponto de andar com o rosto quase a tocar nos joelhos. Rompendo por entre a multidão, aproximou-se do altar e invocou o Bom Jesus, inculcando a todos grande fé, restabelecendo-se de imediato os ossos das juntas, levantando-se à vista de todos "valente e composta", como se nunca tivesse doente. Divulgado o milagre, os sinos das igrejas repicaram, atraindo muita gente à capela. Na mesma manhã, ali veio um rapaz de Lordelo, aleijado de um braço e coxo de uma perna, o qual invocando o Senhor Bom Jesus, logo ficou são. À tarde, levou-se a banda com que cingia a imagem de Bom Jesus a Helena Botelho, pessoa nobre, filha de Heitor Correia da Cunha, que há muito tempo estava hidrópica, e cingindo-se ela com a banda, milagrosamente ficou curada. Desse dia em diante, a imagem operou vários milagres.

Autor e Data

Paula Noé 2008

Actualização

 
 
 
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