Fortaleza de Mazagão

IPA.00024406
Marrocos, Doukkala-Abda, El Jadida, El Jadida
 
Arquitectura militar, quinhentista. Fortaleza de traçado abaluartado, de planta rectangular irregular com dois baluartes e dois meios baluartes dispostos nos ângulos, todos desiguais entre si e com orelhão curvo, com paramentos em talude rematados em parapeito liso ou com merlões e canhoneiras. Foi planeada por Benedito de Ravena e construída sob as ordens de João de Castilho., possuindo inicialmente três lados defendidos por mar, no todo ou em parte, e por fosso imponente. No meio integra castelo mais antigo, manuelino, de planta quadrangular, com torres circulares nos ângulos.
Número IPA Antigo: MA910201000001
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Fortaleza    

Descrição

Planta rectangular irregular tendo nos vértices dois meios baluartes, virados a E., e dois baluartes pentagonais, virados a O., todos desiguais e com orelhão curvo, respetivamente de São Sebastião e do Anjo, de Santo António e do Santo Espírito. Estrutura rebocada e pintada ou em cantaria aparente, e escarpa exterior em talude, com remate em parapeito liso, ou em merlões e canhoneiras, tendo por vezes cordão. Interiormente, à volta da fortificação, existia a rua da Carreira, desimpedida, permitindo a livre circulação. Os baluartes interligam-se por largo adarve, acedido por amplas rampas, mas todos eles podiam ser fechados em caso de entrada do inimigo dentro da vila. Os baluartes virados a terra têm casamatas permitindo o tiro rasante sobre o campo e aberturas superiores, para a saída dos fumos. Virado a S. fica um postigo, hoje dando directamente para terra, mas inicialmente abrindo para o fosso. A SE., no flanco coberto do baluarte de São Sebastião, abre-se a porta do mar, em arco de volta perfeita, pequena e facilmente defensável, aberta num nível elevado, quase à altura do adarve, acedida por uma escada retráctel e onde se podia chegar, durante a maré alta, por pequenas embarcações. Próximo, na reentrância da calheta, abre-se grande vão, em arco de volta perfeita, mais recente, com grade. No interior da fortaleza, subsiste o castelo manuelino, de planta quadrangular e com torres circulares nos ângulos, possuindo no interior, na zona da praça de armas, a cisterna, de planta quadrangular, com 36 m de lado, toda em cantaria, com 25 pilares sustentando arcos de volta perfeita, que suportam abóbada, com um orifício central. Um sistema de canalizações subterrâneas conduzem a água de nascentes e as águas pluviais, bem como as que caiem através da vão central.

Acessos

El Jadida, Cité Portugaise, Rue Ahfir, Avenue Zerktouni

Protecção

Património Mundial - UNESCO, 2004

Enquadramento

Marítimo, adaptado à morfologia do terreno, tendo adossado várias construções. Implanta-se a pouca distância da foz do rio de Morbeia. No interior ainda conserva a Igreja de Nossa Senhora da Assunção e a de São Sebastião, no alto do baluarte com o mesmo nome.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: fortaleza

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Época Construção

Séc. 16

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Diogo Arruda (1514); João de Castilho (1529, 1541); Francisco de Arruda (1514); Miguel de Arruda (1541). ENGENHEIRO: Benedito de Ravena (1541); Francisco da Silva (1562); João de Macedo Corte-Real (1702); Manuel Borges da Fonseca (1687); Simão dos Santos (1718-1723). PEDREIRO: Diogo de Torralva (1541); Duarte Coelho (1529); Isidoro de Almeida (1562); João Ribeiro (1541); João Gonçalves (1542); Jorge Dias (1545). VEDOR DAS OBRAS: Manuel Afonso (1542).

Cronologia

1486 - Mazagão passa a protectorado da coroa portuguesa; algum tempo depois, um chefe local pede a D. Manuel I para construir uma fortificação, para proteger os seus aliados; 1506 - doação de Mazagão a Jorge de Melo, com a contrapartida de construir uma fortificação; 1513 - só depois da conquista de Azamor pelo duque de Bragança, D. Jaime, é que Mazagão foi encarada como imprescindível para a defesa da costa da fronteira entre a Enxovia e a Duquela; presume-se que ali já existiria uma pequena torre, um ribat, denominado de al-boreja, e que faria parte de uma série de vigias existentes ao longo da costa; 1514, 21 Fevereiro - a construção de um castelo em Mazagão parece ser prioridade da Coroa conforme se depreende da carta de Rui Barreto a D. Manuel I, onde diz não concordar com a decisão, pois achava que antes de se fazer qualquer coisa naquele porto, se deviam terminar os trabalhos em Azamor e Safi; 31 Março - Francisco e Diogo Arruda, que se encontravam em Azamor e foram a Mazagão orientar as obras de construção da fortificação, escrevem informando ter tudo pronto para se começarem as obras, que desejavam que ocorresse nos meses de Junho, Julho e Agosto; o castelo manuelino de Mazagão deverá pois ser dos irmãos Arruda e o antigo ribat, que teria uma configuração circular, foi transformado em construção quadrangular, com torres nos ângulos; António Leite manda gente de armas de Azamor, nomeadamente besteiros e espingardeiros, para ajudar Diogo Arruda; D. Manuel não aprovou o facto, tendo esses homens regressado a Azamor, deixando o mestre com falta de trabalhadores e impossibilitado de acabar a obra em Julho, como previra; 1517, Outubro - António Leite propôs a D. Manuel a construção de um fosso à volta do castelo, e no qual também se poderia instalar um moinho de maré, mas teve dificuldades já que D. Álvaro de Noronha, capitão de Azamor, impediu a saída de trabalhadores; 1529 - até esta data o governo de Mazagão estava associado ao de Azamor, tornando-se independente a partir de então; nesta data aqui estiveram João de Castilho e Duarte Coelho por preocupação dos capitães com as suas defesas; 1537 - Manuel de Sande pede uma avultada quantia para reforçar a estrutura, já que os mouros preparavam um ataque; Fevereiro - reconstrução da calheta, que havia sido destruída pelas ondas, reparação da barbacã situada em frente da porta da vila, retelhamento do celeiro, reparação das casas de morada do capitão, construção de estrebarias, etc; 1541 - a conquista da praça de Santa Cruz do Cabo Guer pelos árabes levou a Coroa portuguesa a uma reavaliação da presença portuguesa no território norte africano, que resultou no abandono de quatro praças, a de Safim, Azamor, Arzila e Alcácer Seguer; Mazagão esteve também para ser abandonada, mas por várias circunstâncias, quando se decidiu já era demasiado tarde, obrigando à inversão da política, fazendo que este fosse o único a conservar na costa O. do Magreg; decide-se pois construir a fortaleza de Mazagão; Francisco de Holanda faz projecto para a praça, mas não foi aceite; o rei escolhe Benedito de Ravena (c. 1485-1556) que, com Miguel de Arruda, vão para Mazagão e que ali mesmo traçou a planta da nova fortaleza; a escolha do lugar da fortificação devia ser feita com o acordo de Diogo de Torralva e com o de D. Fernando de Noronha, Fernão Peres de Andrade, Luís de Loureiro e António Leite, devendo seguir para lá, de imediato, o mestre das obras reais, João de Castilho, com os operários necessários; 16 Julho - João Álvares de Almeida assegura que faria ir João de Castilho; foi ele que fez o orçamento da obra; as obras parecem ter começado pelo baluarte do Anjo ou de Santiago, conforme atesta uma lápide encontrada na igreja espanhola de Santo António com a inscrição que D. João III mandara fazer o baluarte de Santiago em 1541; 15 Dezembro - carta de João de Castilho informando que as obras eram co-dirigidas por ele e por João Ribeiro e que o entendimento nem sempre fora fácil; queixava-se a qualidade dos homens que lhe haviam sido enviados, sem conhecimentos técnicos, insubordinados, sem préstimo nem serventia, excepto os que com ele tinham ido do Convento de Cristo de Tomar; pede a D. João III que os que lhe mandasse de novo fossem de Tomar, de Torres Novas, de Évora ou de Lisboa, gente escolhida e acostumada a andar nas obras e a pegar em armas; refere ainda que o baluarte do medano, ou banco de areia, ficava subido cerca de 6,5 m, andando muita gente a entulhá-lo; 1541, depois - adapta-se a primitiva fortaleza manuelina, de planta quadrangular, para diversos fins, fazendo-se encostada às suas muralhas e entre as torres circulares a casa da Misericórdia, virada ao largo da igreja de Nossa Senhora, os celeiros, o tronco ou prisão, e armazéns abobadados nas outras faces; na praça de armas João de Castilho construiu a cisterna abobadada, criou um acesso à parte alta do castelo, abriu janelas nos pisos intermédios e uma entrada para o pátio onde ficava a boca da cisterna; em duas das torres fizeram-se depósitos de pólvora; o castelo ficou com quatro baluartes acasamatados, e com baterias altas dotadas de ameias de corpo largo e abertas largas; existem vestígios de canhoneiras baixas; desconhece-se onde ficava a porta principal; 1542, 6 Janeiro - carta de João de Castilho referindo que na véspera do Natal o baluarte dos medanos estava com mais de 8,5 m e em alguns sítios chegava aos 10 m; tinha muita artilharia que continuava ao longo do muro, do lado do mar, até ao outro baluarte, o mesmo acontecendo com a cortina N., até ao baluarte que entra no mar, entre os baluartes do Anjo e o de São Sebastião; trazia muita gente a trabalhar na cava, mas era difícil por causa das marés; 6 Fevereiro - Luís de Loureiro dizia que João Ribeiro e João de Castilho tinham começado bastante cedo do lado do mar e que ele os avisara, como conhecedor do lugar, que deveriam esperar pelo Verão, ao que eles não acederam, entretendo-se nessa altura a emendar cantaria; 15 Julho - carta de João de Castilho referindo os problemas com o baluarte que entrava no mar e defendia a entrada, o designado da calheta; 8 Agosto - carta de João de Castilho a pedir a D João III que enviasse 150 ou 200 servidores para substituir pessoal que entretanto era indisponível, pois ele necessitava urgentemente deles para trabalho de desbravamento das terras; 28 Agosto - carta de Luís Loureiro informando que a obra estava a ponto de se fazerem as portas, a começar pela principal da vila; 15 Dezembro - carta de Luís Loureiro referindo que os muros estavam cerrados, mas que havia ainda muito material fora deles; entretanto o vedor das obras passou a ser Manuel Afonso; quando João de Castilho regressou a Portugal, ficaram em Mazagão outros pedreiros a ultimar os acabamentos dos baluartes e das reparações necessárias, sendo um deles João Gonçalves; 1545 - substituição de João Gonçalves pelo pedreiro Jorge Dias; 1548 - antes desta data já devia estar concluída a construção da cisterna por João de Castilho; 1549, 16 Fevereiro - carta do capitão Tristão de Ataíde a D. João III sugerindo que a cisterna, por ser o mais honrado edifício da vila, fosse feita igreja; 1562 - data do cerco muçulmano à praça, tendo os portugueses resistido com uma guarnição de 2.600 homens, sob o comando de Álvaro de Carvalho, tendo-se destacado Rodrigo de Souza, o "herói de Mazagão"; durante o cerco dirigiu as obras e impediu as tentativas de sapa Isidoro de Almeida, tendo estado com ele o engenheiro Francisco da Silva; data da primeira descrição da fortificação, escrita por Agostinho de Gavy de Mendonça, natural de Mazagão, que relata o cerco; refere que a cava era navegável por diversos tipos de embarcação, mesmo dotadas de artilharia, tinha comportas junto ao baluarte de São Sebastião, para conservar a água na baixa-mar, e era tão rica em peixe que os soldados costumavam pescar do alto dos muros; o perímetro rondava os 1500 passos e no exterior havia um outro muro e revelins com mais de 10 m de altura; tinha 69 bombardeiras ao redor, além das inúmeras seteiras nos parapeitos; tinha três portas, uma situada entre os baluartes de São Pedro, também chamado de São Jorge ou de D. Diogo, e de São Sebastião, que servia para recolher o gado; a porta principal, entre os baluartes de São Pedro e o do Espírito Santo, com ponte levadiça, e pela qual se fazia o trânsito normal de cavaleiros e peões quando saíam para o campo; e a terceira porta era do mar, junto ao baluarte de Santiago ou do Anjo; o autor refere ainda a existência de dois revelins, um junto à cava e outro mais afastado, havendo entre eles tranqueiras que se podiam fechar em caso de ataque; 1610 - o governador Henrique Correia dirige os trabalhos de desentulhamento da cava, que ficara cheia de entulho devido à abertura que nela se fizera anos antes, permitindo que a maré lá deixasse muita areia; 1611, Janeiro - o rei informa o governador que mandara uma caravela com cal para a obra; data de planta da fortificação que representa a porta da traição no flanco da cortina junto do orelhão poente do baluarte modernamente conhecido por Santo António e então do Jorge; 1614, Julho - os trabalhos da cava ainda não estavam acabados, sendo a principal preocupação o transporte de terra que, entretanto, ficara nos caminhos cobertos; 1616 - Descrição da Fortaleza de Mazagão por D. Jorge de Noronha, destacando, por exemplo, o circuito de tranqueiras que iam de mar a mar e que totalizavam 8096 braças; 1687 - nomeação de Manuel Borges da Fonseca como capitão-engenheiro; 1702 - nomeação de João de Macedo Corte-Real como capitão-engenheiro; 1718 - 1723, entre - aqui esteve como capitão-engenheiro Simão dos Santos; 1769 - praça sofre um cerco pesadíssimo pelos árabes e a Coroa decide abandoná-la, minando e destruindo parte da fortaleza, inclusive o baluarte da porta; 11 Março - rei ordena o embarque da população para Lisboa; 15 Setembro - as famílias decidem embarcar para o Brasil, onde fundam uma nova vila, que ficou conhecida como Vila Nova de Mazagão; das 418 famílias que sairam de Mazagão, 371 embarcaram para Belém do Pará; posteriormente procede-se à abertura de grande vão junto à porta do mar; 1769 / 1821, entre - a praça esteve abandonada, não tendo sido realizado nenhum tipo de intervenção; séc. 19, finais - só nesta data terão sido realizadas algumas intervenções, registando-se a abertura de 25 canhoneiras na face virada ao mar, aquando da instalação de uma guarnição militar; atulhamento do fosso (Matos, 2001, p. 13); 1940, década - restauro da fortaleza durante o Protectorado francês de Marrocos; 2009 - considerada uma das sete maravilhas de origem Portuguesa no mundo.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra rebocada ou em cantaria aparente.

Bibliografia

AMARAL, Augusto Ferreira do, A História de Mazagão, Lisboa, Alfa, 1989; DIAS, Pedro, Arte de Portugal no Mundo. África Oriental e Golfo Pérsico, Lisboa, Público - Comunicação Social, S.A., 2008; FARINHA, António Dias, A História de Mazagão durante o período filipino, Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1970; MATOS, João Manuel Barros, A Fortaleza de Mazagão: bases para uma proposta de recuperação e valorização, tese de mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico, Universidade de Évora, 2001; Mazagão: Património Edificado de Origem Portuguesa, Lisboa, IPPAR, 2001; MOREIRA, Rafael, A construção de Mazagão: cartas inéditas 1541-1542, Lisboa, IPPAR, 2001; SILVA, José Manuel Azevedo da, Mazagão: de Marrocos para a Amazónia in Revista de História da Sociedade e Cultura, I, 2001, pp. 81-109; VEIGA, Raul da Silva, Documentos referentes ao governo da Praça de Mazagão 1758-1796 (Cartório dos Condes da Cunha), Coimbra, Arq. da Universidade, 1982; http://pt.wikipedia.org/wiki/Mazagão_(Marrocos), Abril 2011; http://hoteismarrocos.com/Fortaleza-em-Mazagão.jpg, Abril 2011.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

EM ESTUDO. Inicialmente, na época de chuvas, colocava-se uma espécie de funil em lona no bocal central da cisterna, para condução das águas pluviais.

Autor e Data

Sofia Diniz 2006

Actualização

Manuel Freitas (Contribuinte externo) 2011
 
 
 
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