Jardim do Campo Grande / Jardim Mário Soares
| IPA.00023904 |
Portugal, Lisboa, Lisboa, Alvalade |
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Espaço verde de recreio. Jardim de concepção romântica patente na composição naturalizada, no contraste claro-escuro produzido pela vegetação, nos caminhos sinuosos, na utilização de espécies exóticas e na criação de lugares pitorescos ou intimistas com tanques, lagos, coretos. O Campo Grande assumiu, ao longo da sua existência, diferentes tipologias encerrando o jardim uma forte vertente botânica, pela vasta colecção de espécies que apresenta e pelos viveiros que albergou no passado. Como jardim apresentou na sua génese uma tipologia de passeio público, conceito do séc. 19. A rara amoreira-do-papel aparece também no Campo Mártires da Pátria, em Lisboa, no Jardim da Casa de Recarei, em Leça do Bailio e no jardim da quinta de Nossa Senhora da Aurora, em Ponte-de-Lima. O Campo Grande foi marcado históricamente a vários níveis que vão desde acontecimentos militares, servindo de campo de batalha ou de treino, a acontecimentos sociais, como palco de importantes eventos ou reflexo sociedade lisbonense. A amoreira-do-papel existrentente no jardim é raramente utilizada em portugal. O Campo Grande é particulamente interessante enquanto elemento representativo das várias tipologias de jardim, devido às modicações formais e funcionais a que foi sendo sujeito. |
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Número IPA Antigo: PT031106091148 |
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Registo visualizado 6321 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Espaço verde Jardim Jardim Romântico
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Descrição
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Jardim de planta aproximadamente elipsoidal, alongada, parcialmente limitado por barreira de ferro. A NO. é perceptivel uma estrutura de eixos definidos e acompanhados por Palmeiras. Toda a restante área apresenta um desenho orgânico constituído por vários caminhos e canteiros de forma indefinida onde se insere vegetação centenária intercalada com plantações recentes. Ao longo do jardim dispoõem-se vários espaços e construções com funções recreativas específicas como é o caso do lago com barcos a remos, a piscina, o ringue de patinagem, o centro comercial, o campos de ténis, o parque infantil e o parque de merendas. Possui os bustos de D. João da Câmara (1852-1908), poeta e dramaturgo, de António Pedro (1836-1889), actor dramático e o de Luísa Todi, ambos executados em bronze, bem como a escultura de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905). .Na entrada do café, surgem dois potros em cantaria. Junto ao lago, uma escultura representando uma "Mulher vendo-se ao espelho", em cantaria. |
Acessos
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Campo Grande |
Protecção
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Parcialmente incluído na Zona de Proteção do Museu da Cidade de Lisboa (v. IPA.00004040) e na Zona de Proteção da Biblioteca Nacional de Portugal (v. IPA.00007085) |
Enquadramento
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Zona de relevo plano, limiatado a NO., pela Avenida Marechal Craveiro Lopes (Segunda Circular), a SO. pela rotunda de Entrecampos, ladeado por grandes avenidas e cortado pela Avenida do Brasil. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Recreativa: jardim |
Utilização Actual
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Recreativa: jardim |
Propriedade
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Pública: municipal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 17 / 18 / 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: Alberto J. Pessoa (1945); Francisco Caetano Keil do Amaral (1945, 1960); Hernâni Gandra (1945). ARQUITETOS PAISAGISTAS: Edgar Sampaio Fontes (1961); Gonçalo Ribeiro Telles ( 1957); Manuel Azevedo Coutinho ( 1949, 1951, 1954); Manuel Sousa da Câmara (1964). ESCULTORES: António da Rocha Correia (1946); António Duarte (1949); Costa Mota, sobrinho (1959); Martins Correia (1957); Maximiliano Alves (1952); Raul Xavier (1921). |
Cronologia
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1520, 22 Junho - carta régia determinando que não fosse aforarado a André da Silveira mais do que quatro braças de terreno no campo grande para que ficasse «formoso e despejado e não ocupado, nem dele tomando cousa que o faça ficar danificado (...)»; 1642 - consulta da Câmara permitindo aforamentos «dos baldios de toda a cidade e seu termo (...) salvo os campos de Santa Clara, Santa Bárbara e de Alvalade (...)»; 1682 - D. Francisco de Castelo Branco mandou delinear a primeira alameda no Campo Grande; 1693, 20 Janeiro - chegada de D. Catarina de Bragança, vinda de Inglaterra e recebida pelo seu irmão D. Pedro II; 1778 - início de uma feira anual conhecida por Feira do Campo Grande ou Feira das Nozes; 1801 - D. João VI ordena a D. Rodrigo de Sousa Coutinho que «mande logo por pessoas inteligentes proceder à informação de um plano, pelo qual se estabeleçam convenientes passeios públicos nos campos grande e pequeno *1, sitos nos subúrbios da cidade de Lisboa e que compreenda assim a plantação de árvores, e qualidade destas (...)». Comunicação desta resolução ao Senado da Câmara; 1813 - construção de chafariz no lado oriental em substituição de poço aí existente; 1816 - primeiras corridas de cavalos; 1836 - a administração do campo passa da Inspeção das obras Públicas para a Câmara Municipal de Lisboa; 1837 - Edital da Câmara proibindo a entrada de carros, bois ou bestas, o pasto, a caça e estender a roupa dentro do Passeio do Campo; 1839 - é criado o cargo de Feitor do Campo Grande, sujeito ao Pelouro dos Passeios; 1840 - o Feitor do Campo Grande recebe um ofício afirmando que todas as árvores saídas do viveiro do Campo Grande devem ser pagas, com exepção das amoreiras visto que a Câmara deseja «aumentar a criação do bicho da seda, e mesmo por assim lho haver recomendado o governo.»; 1856 - as árvores são oferecidas, mesmo a particulares; a Câmara resolve minimizar estas concessões; 1855 - 1856 - a Câmara despendeu com o Passeio do Campo Grande 449$375 réis; 1856 - 1857 - a Câmara despendeu com o Passeio do Campo Grande 2503$800 réis; 1863 - o jardim possuia muro a toda a volta, seis grandes portas de ferro, lagos e grandes viveiros; 1869 - início da construção do lago principal; 1888 - transformação de um edifício existente no chalé das canas; 1900 - projecto para o botequim construído no meio do lago para venda de bebidas; 1921, 20 Março - colocação da escultura de Rafael Bordalo Pinheiro, executada por Raul Xavier, inaugurada na presença do Presidente da República, António José de Almeida; 1935-1949 o jardim toma o nome de Campo 28 de maio; 1941 - o ciclone arranca muitas árvores do jardim deixando-o muito degradado; anos 40 - é aumentada a superfície do lago para cerca do dobro;1945 - início da recuperação do jardim segundo projecto do arquitecto Francisco Caetano Keil do Amaral; arranjos no jardim pelos arquitectos Alberto J. Pessoa e Hernâni Gandra; 1946 - execução dos potros para a entrada do café, por António da Rocha Correia; 1948 - conclusão das obras de recuperação; 1949 - projeto para Parque Anexo à Piscina Municipal projetada para o Campo Grande pelo arquiteto paisagista Manuel Azevedo Coutinho. Uma escultura feminina para a zona do lago, por António Duarte, executada para a Exposição 15 anos de Obras Públicas em 1947; 1951 - realização de planta do jardim e placas laterais pelo arquiteto paisagista Manuel Azevedo Coutinho; 1953, 20 Junho inauguração do busto de D. João da Câmara, executado por Maximiliano Alves, encomendado pela Câmara de Lisboa; 1954 - Projeto de um parque infantil realizado pelo arquiteto paisagista Manuel Azevedo Coutinho; 1957 - Projeto de um parque infantil realizado pelo arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles; 1957, 9 Janeiro - inauguração do busto de Luísa todi, executado por Martins Correia, por encomenda da Câmara Municipal de Lisboa; 1959, 23 Julho - inauguração do busto de António Pedro, obra de Costa Mota, sobrinho, executado pela Câmara Municipal de Lisboa; 1960 - construção da piscina do Campo Grande, conforme projecro de Francisco Caetano Keil do Amaral; 1961 - Projeto de uma escola de trânsito junto ao parque infantil realizado pelo arquiteto paisagista Edgar Sampaio Fontes; 1964 - Projeto de remodelação do parque infantil pelo arquiteto paisagista Manuel Sousa da Camara. Inauguração da piscina infantil; séc. 20, década de 80 - a Câmara de Lisboa transferiu o busto de D. João da Câmara para a praça com o seu nome, junto ao Rossio; 2012, 06 dezembro - concurso de adjudicação das obras de reabilitação das instalações de pessoal, financiado pelo programa PIPARU; 2018 - Jardim rebatizado com o nome de Mário Soares. |
Dados Técnicos
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Materiais
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Material Vegetal: amoreira-do-papel (morus papyrifera), tília (Tilia cordata), eucalipto (Eucaliptus globulus), Palmeira (Howea forsteriana), |
Bibliografia
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CARVALHO, Maria Rio, Parque do campo Grande, in Guia de Portugal Artístico, Vol. II, Jardins Parques e Tapadas de Lisboa, Lisboa Antiga e Moderna Elementos Históricos da sua Evolução, Vega, Lisboa, 1994; FERREIRA, Rafael Laborde, VIEIRA, Victor Manuel Lopes, Estatuária de Lisboa, Lisboa, Amigos do Livro, Lda., 1985; NAVES, Patrícia, Um Jardim que se Estende Entre Dois Campos, in Lisboa, Revista da Imprensa n.º 78, Câmara Municipal de Lisboa, 2002; PEDREIRINHO, José Manuel, Dicionário de arquitectos activos em Portugal do Séc. I à actualidade, Porto, Edições Afrontamento, 1994; QUADROS, Luís, As Grandes Obras Citadinas - Campo Grande, in Revista Municipal nº36, Lisboa 1948; REGO, Manuela, Um Passeio à Volta do Campo Grande, Contexto, Lisboa; Keil do Amaral, O Arquitecto e o Humanista, Câmara municipal de Lisboa, Lisboa, 1998; 15 Anos de Obras Públicas (1931-1947), Lisboa, 2º volume, Livro de Ouro, 1949, p.188; PAIVA, Ana Sofia, As vidas do Jardim do Campo, 2020, Nova FCSH Mais Lisboa; PEREIRA, Sandra Crespo, "Som e paisagem: uma etnografia sonora do Jardim do Campo Grande", 2020: FCSH da UNL; BASTOS, Margarida Almeida e ALMEIDA, Rita Fragoso, “Um “sítio muy vistoso”. Notas para uma história do Campo Grande”, in As três Vidas do Palácio Pimenta, Museu de Lisboa, 2024 [a consultar). |
Documentação Gráfica
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CML: Arquivo do Alto da Eira; Arquivo do Arco do Cego; Arquivo do Bairro da Liberdade. |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, SIPA; CML: Arquivo Fotográfico Municipal |
Documentação Administrativa
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CML: Arquivo do Alto da Eira, Arquivo do Arco do Cego. |
Intervenção Realizada
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1945 - recuperação do jardim: reagrupamento arbóreo, simplificação do traçado de arruamentos e canteiros, ampliação da área, construcção de nova ilhota com acesso por ponte, construção de dois campos de ténis. |
Observações
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EM ESTUDO. *1- O Passeio Público «É fechado com um muro baixo por todos os quatro lados, tendo seis grandes portas de ferro, duas laterais em meia distância do seu comprimento, pouco mais ou menos, e duas em cada um dos extremos, que dão ingresso para as ruas principais. Compõe-se este passeio de ruas de bosque, algumas com muita largueza para o trânsito de carruagens e cavaleiros, de diversos jardins com os seus lagos, e de grandes viveiros de árvores silvestres, dos quais tem fornecido a câmara municipal arvoredo para os passeios públicos e praças de lisboa, e para as estradas do município.»; «A dois passos da cidade, com a sua enorme extensão de terreno bastava um bocadinho de boa vontade, de bom gosto, para fazer dele o nosso "buen retiro". Entretanto o que fazer? Um quintaleco abandonado, onde as ervas crescem pelas ruas, onde os pedregulhos impedem o caminho, onde o mau tratamento inutiliza as árvores frondossímas, e de quem os miasmas doentios duma vala anacrónica fazem um deserto.» Gervásio Lobato; «Da velha data que o belo parque do Campo Grande, com as suas magníficas alamedas e possuidor de exuberante vegetação, é o lugar mais concorrido e elegante, o rendez-vous da nossa elite, no Inverno, quando às segundas e quintas feiras, à chamada hora da moda e do bom tom, das dez para as onze, ali se reunem os nossos primeiros spormen e os principais representantes da haute gomme lisbonense.» |
Autor e Data
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Pereira de Lima 2005 |
Actualização
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Teresa Camara 2016 |
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